Pelo que sabemos, o primeiro núcleo da Ordem Terceira do Carmo surgiu em Lisboa, na Igreja de Santa Maria dos Carmelitas, em 28 de novembro de 1629, como sugere um letreiro na primitiva capela do convento. A expansão dos terceiros está intimamente ligada à entranhada devoção mariana do povo português, particularmente no que se refere ao Escapulário do Carmo.

O organizador da Ordem terceira lusitana foi frei Pedro de Melo (+1635), que publicou a primeira Regra dos Terceiros em língua portuguesa (1630), contido num devocionário destinado a eles, obra que, infelizmente, se perdeu. Provavelmente frei Pedro deixou se orientar pela Regra de Terceiros do Prior-geral da Ordem, Teodoro Straccio, oficialmente publicada somente em 1637. Interessante notar que uma das fontes do livro de Straccio foi precisamente um tratado composto por frei João Silveira (1592-1687), por ordem do provincial de Portugal. Diversas foram as Regras para Terceiros publicadas em anos posteriores. Destacamos a de frei José de Jesus Maria, no seu Tesouro Carmelitano, cuja primeira edição é de 1705. Teve grande influência em todo o território lusitano e suas colônias. Conserva os votos, mas no final da Regra, ao tratar das obrigações, não faz mais menção dos votos! Tudo que a Regra contém — diz frei José de Jesus Maria — são conselhos e diretrizes para facilitar o caminho da salvação. O texto de frei Miguel de Azevedo (+1811), editado em Lisboa, no ano de 1778, consagra uma outra concepção dos votos de Terceiros. São considerados simples propósitos que não implicam nenhuma obrigação moral. Influenciou fortemente a vida da Ordem terceira, tanto em Portugal quanto no Brasil.

Notamos, assim, uma significativa evolução da Ordem terceira do Carmo: de uma associação só para mulheres, com voto expresso de ‘castidade perfeita’, chega-se a uma associação com voto de castidade ‘segundo o próprio estado’. Por volta de 1600 vemos surgir o que será chamada depois de ‘Ordem Terceira Secular do Carmo’, isto é, uma associação de fiéis que vivem no mundo e que, sob a obediência da Ordem do Carmo e segundo o seu espírito, se esforçam por alcançar a perfeição cristã pela observância da Regra terceira. O fim principal, portanto, é ‘uma vida mais perfeita, segundo o ideal carmelitano’, ou seja, união íntima com Deus pelo espírito de oração e uma terna devoção à Virgem Puríssima do Carmo. Semelhante estilo de vida deve contribuir para promover, no próprio ambiente em que vive o terceiro, o bem da Igreja e a salvação das almas.

Foi a Ordem Terceira que, em Portugal, manteve viva a devoção de Nossa Senhora do Carmo e o culto ao Santo Condestável durante a supressão da Primeira Ordem em terras lusitanas.