A devoção a Maria é o perfume da nossa fé, é o sorriso celestial para as almas dos fiéis, é a música alegre para os nossos corações, é o palpitar mais querido da nossa vida cristã.

            Compreende-se, portanto, que o amor a Maria, graças à sua dignidade sublime de Mãe de Deus e à sua missão de Mãe dos homens, tenha em todos os tempos arrebatado os Santos. E assim existe uma fileira imponente de Santos Padres e Doutores - e vai crescendo um século depois do outro - que têm páginas admiráveis sobre Maria e nos ensinam a verdadeira devoção a Nossa Senhora.

            O grande Bispo e Doutor Santo Afonso Maria de' Liguori foi com certeza um dos Santos mais devotos de Maria. A santidade da Virgem, a sua pureza e beleza, a devoção cheia de ternura que nutria para com Ela fizeram-lhe brotar do coração o doce canto:

 Sois pura, sois pia, sois  bela, ó Maria! Toda  alma  já sabe, que  mãe assim terna no mundo não cabe.

             À "dulcíssima Senhora", à "sua caríssima Rainha" Santo Afonso nada mais pede que amá-la sempre mais e fazê-la amada por todos. "Ficai sabendo - escreve ele na súplica colocada no início do livro das suas GLÓRIAS - que desta minha pequena homenagem eu quero uma recompensa; e esta seja que de hoje em diante eu Vos ame mais do que antes e cada um, em cujas mãos chegar esta minha pequenina obra, fique inflamado de amor por Vós".

            Difundir a devoção a Maria, falar a seu respeito, cantar as suas glórias, celebrar as suas prerrogativas, tornar conhecida a ternura do seu amor e o seu poder junto ao trono de Deus, eram os anseios do nosso Santo. "É costume - dizia - dos amantes deste mundo falar muitas vezes sobre as prerrogativas das pessoas amadas e louvá-las, para verem assim o seu amor louvado e aplaudido também pelos outros. Muito medíocre, portanto, deve supor-se o amor daqueles que se gabam de amar a Virgem Maria e, no mais, pouco pensam em falar sobre Ela e fazê-la amada também pelos outros".

            "Não agem assim os que verdadeiramente amam esta amabilíssima Senhora; gostariam eles de louvá-la por toda parte, e vê-la amada pelo mundo inteiro, e, por isso, sempre que lhes é possível ou em público ou privadamente procuram acender nos corações de todos aquelas benditas chamas, pelas quais se sentem inflamados de amor para com a sua amada Rainha". (As Glórias de Maria).

            Manter-se-á sempre fiel a este programa, e da sua iluminada inteligência correrão rios de doutrina sobre a devoção a Maria, devoção que chama os pecadores à penitência e lhes aponta o caminho da salvação. "Todos os que se salvam - escreve ele no livro citado - não se salvam senão por intermédio desta divina Mãe; por necessária conseqüência pode dizer-se que da oração a Maria e da confiança na sua intercessão depende a salvação de todos".

            Santo Afonso associava às práticas interiores da devoção à Santíssima Virgem o exercício das práticas exteriores. O santo Doutor conhecia bem quanto as tradicionais práticas de piedade, sejam úteis, desde que sejam feitas da maneira devida, e assim via nelas outros tantos eficacíssimos meios para conquistar a proteção de Maria e tornar-se merecedor do seu santo amor. Nele já desde os primeiros anos foi muito cheia de carinho a devoção ao Rosário e ao Escapulário do Carmo. De fato ele escrevia no livro "As Glórias de Maria": «Devoções assim tão piedosas foram-me queridas desde a infância». Esta terna e sincera confissão brotou espontânea do seu coração amargurado pela leviandade de um escritor seu contemporâneo que tivera a ousadia de chamar "devoçõezinhas" estas práticas de piedade, que eram para ele um estímulo constante a recorrer à divina Mãe, a invocar o seu patrocínio a cada instante.

            Sempre ligou grande importância ao santo Escapulário: nele via um sinal de destinação ao serviço da celestial Rainha, um uniforme que distingue os prediletos de Maria e os admite à sua filiação: "Como os homens têm como uma honra ter alguns o seu uniforme, assim Maria fica feliz quando os seus devotos trazem o se Escapulário como um sinal de que estão dedicados ao seu serviço e são do número dos familiares da Mãe de Deus" ("As Glórias de Maria").

            Ensina-nos Santo Afonso também que a devoção ao Escapulário se apóia sobre bases sólidas, visto que é de origem celeste. Eis o que escreve a respeito no livro citado: "Pelo ano de 1251 Maria apareceu ao Bem-Aventurado Simão Stock, inglês, e dando-lhe o seu escapulário disse-lhe que aqueles que o houvessem trazido estariam livres da eterna condenação; foram estas as suas palavras: "Recebe, filho muito querido, este escapulário da tua Ordem, sinal da minha confraternidade, privilégio para ti e todos os carmelitas; quem com ele morrer não padecerá o fogo eterno". É a Mãe de Deus que intervém para assegurar aos filhos, que se apressem em oferecer-Lhe homenagens e orações, a fim de se tornarem dignos de tão grande dom.

            Hereges e críticos que não disseram para desacreditar o uso do santo Escapulário? Mas a devoção dos fiéis tem resistido a todos os golpes sem nunca enfraquecer-se, e os Sumos Pontífices, prestando reconhecida homenagem à bondade de divina Mãe, enriqueceram esta devoção com numerosas Indulgências. É conhecido o grande bem que o sagrado Escapulário tem oferecido às almas, e por isso exclama o nosso Santo: "Oh! Quantos que hoje estão no inferno ter-se-iam salvo se tivessem perseverado nos obséquios a Maria, aos quais uma vez deram início!"

            O caminho que conduz ao céu está semeado de espinhos; inimigos traiçoeiros escondem-se de emboscada, e o viajante temeroso sente a necessidade de um guia que lhe infunda coragem e o acompanhe ao seu destino. A devoção a Maria, diz Santo Afonso, é arma poderosíssima para vencer em todos os combates: invocando o seu nome, apertando ao peito o seu Escapulário, desvanecer-se-ão as tentações e a alma conservará toda a beleza espiritual.

            O Bentinho do Carmo não é somente defesa da pureza, mas também refúgio nos perigos que ameaçam a vida na terra e despedaçam o delicado fio da existência humana. O santo Bispo aponta as virtudes singulares conferidas por Maria ao Escapulário do Carmo e, segundo o testemunho do sábio e piedoso Pe. Crasset, narra como um soldado ferido de morte, recomendando-se à Virgem Santíssima, cujo escapulário carregava, alcançou tempo para reconciliar-se com Deus e salvar-se. Conta ainda sobre um homem que, golpeado de cheio no peito por uma bala, ficou incólume, servindo-lhe o bentinho de escudo.

            A proteção de Maria não se limita à nossa vida mortal, mas se estende para além do túmulo, em favor das almas que sofrem no Purgatório: "Naquela prisão das almas esposas de Jesus Cristo, escreve Santo Afonso, Maria tem um certo domínio e autoridade plenipotenciária, tanto para aliviá-las como também para libertá-las daquelas penas". O Bentinho do Carmo dá prova disto, uma vez que a Santíssima Virgem prometeu a quem o trouxer dignamente libertá-lo do Purgatório no primeiro sábado depois da morte.

            Privilégio singular e preciosíssimo, confirmado pelos Sumos Pontífices e enriquecido de Indulgências; privilégio, graças ao qual Santo Afonso nutria uma devoção toda particular ao Escapulário, privilégio que recomendava, especialmente aos sacerdotes, na sua "Floresta de matérias a serem pregadas".

            Como todos devotos de Maria, Santo Afonso não passava um dia sem ter prestado a Nossa Senhora a ardorosa homenagem da sua veneração, com a esperança de ser acolhido na feliz eternidade. E cantava a Maria:

Concede-me ainda, ó minha Rainha, sempre te ame. até que no céu possa um dia sem véu ver a tua beleza.

            A Divina Providência conservou incólumes os sagrados restos mortais do grande Doutor da Igreja; e a Rainha do Carmelo quis manifestar quanto lhe tinha sido grata a devoção do apóstolo das suas glórias, conservando intacto o sagrado Escapulário que repousou sobre o coração de Santo Afonso, com o qual morreu e foi sepultado.

    [1]. Il Monte Carmelo  1938  p. 42-45