Renaldo Elesbão de Almeida, ISTA

“O ‘próximo’ não é aquele que ‘eu amo’. É todo ser que passa perto de mim”. Edith Stein

O ser humano na sua constituição enquanto pessoa é espiritual, é livre e vive permeado de vivências pessoais e interpessoais. Essa relação é de fundamental importância no que tange à totalidade da pessoa humana. O homem sendo pessoa não é um ser isolado das outras pessoas, nem totalmente preso às determinações da natureza, pois possui a possibilidade de transcendência para a sua constituição pessoal. Os intercâmbios de vivências podem favorecer, desse modo, a harmonia entre os sujeitos que, por serem vistos como tais, surgem e conferem dignidade e respeito ante o outro e a comunidade. Edith Stein percebe a necessidade de analisar os atos da pessoa numa tentativa de des crever a gênese das vivências que o homem vive nas suas experiências intersubjetivas.   A abordagem do ser humano num clima positivista das ciências que o concebia como objeto experimental é, para Stein, de suma importância.

Ela vê na empatia a possibilidade de evidenciar a dimensão espiritual da pessoa humana sem descartar a vida psicofísica  do indivíduo circundado de outros indivíduos e coisas. Nesse sentido, a autora acreditara contribuir, com sua tese de doutorado Zum Problem der Einfuhlung (Sobre o problema da empatia), para uma clarificação na pergunta antropológica tão cara à existência humana, a saber: que é o homem?

A modernidade “descobriu” e exaltou a subjetividade, mas desconheceu a necessidade do eu de sair ao encontro do alter ego gerando uma espécie de solipsismo, isto é, o eu isolado. O outro, desse modo, aparece, mas permanece ausente, pois o egoísmo é insipiente à transcendência. Para Stein, somente se pode compreender o homem se o  for considerado em unidade entre o reino natural e espiritual.

Stein analisa o conceito de liberdade quando aborda o sujeito entre as vivências no fluxo da consciência enquanto indivíduo aberto ao outro na empatia. A saída de si mesmo não coisifica nem o mescla de um não eu, mas antes implica uma nítida distinção entre os sujeitos, ou seja, pode colaborar na aquisição e correção de valores e na confirmação do sujeito na sua individualidade, formando um eu puro (conceito que será trabalhado adiante) capaz de vivenciar-se como totalidade de sentido. Assim sendo, a pessoa pode apontar para fora, captar e transformar o mundo dos objetos e das pessoas, encontrando o sentido da relação que é a objetivação compreensiva da vivência de reconhecimento mútuo.

Trata-se, de fato, de uma vivência sui generis que está na gênese dos outros atos que Stein analisa no quotidiano, como a alegria e a dor. Desse modo, a empatia, enquanto vivência que reconhece a experiência alheia, possibilita descrever as condições constitutivas da pessoa humana? Edith Stein quer, em princípio, evidenciar o que significa tomar conhecimento da experiência alheia na vida hodierna. É, por certo, uma descrição feno- menológica das vivências, como os sujeitos humanos se reconhecem como semelhantes. A implicação dessa investigação pormenorizada e peculiar, por ela realizada, da pessoa humana, é de notável magnitude na valorização e compreensão das vivências alheias na constituição da pessoa própria e da sua dignidade universal enquanto sujeito espiritual. Concebida, assim, Stein se aproxima da complexidade humana nas suas possibilidades e essas constatações o afirmam como ser único e, por isso, se afasta da concepção vigente, em seu tempo, da coisificação da esfera espiritual do homem.