Duas mulheres, uma enrolada na bandeira do Brasil, a outra de vermelho na camisa e na fita de cabelo, estendem uma faixa, bloqueando por segundos a passagem de uma limusine branca que tentava atravessar a rua 41 de Manhattan.

O protesto contra o novo presidente do Brasil, Michel Temer, começou em frente ao Consulado-Geral do Brasil em Nova York, horas depois de senadores selarem o impeachment de Dilma Rousseff, nesta quarta-feira (31).

Por volta das 18h30, um grupo de 11 pessoas alinhou na calçada o dobro do número em velas. A ideia era fazer uma vigília pela democracia, que os manifestantes acreditavam ter sido golpeada com a saída da agora ex-presidente.

"Se pudéssemos acendíamos 54 milhões de velas, uma para cada voto jogado no lixo", diz uma mulher que se identificou como Wanda, um dos codinomes que Dilma usou quando lutou contra a ditadura militar brasileira, ao lado de senadores que hoje votaram a favor de sua derrubada (José Aníbal e Aloysio Nunes, ambos do PSDB-SP).

Diante do olhar curioso de americanos que passavam pelo local, a turma cobriu a entrada do consulado com cartazes que diziam "não reconhecemos o governo ilegítimo" e "o petróleo é do Brasil", entre outras mensagens. De dentro, uma faxineira observava a movimentação na entrada: a colagem de uma cartolina com os dizeres "Dilma is our true president" (Dilma é a nossa verdadeira presidente).

A professora Andrea Vizeu, veterana em protestos nova-iorquinos contra o que considera ser um golpe tramado pelo novo governo, especulava se conseguiria voltar a seu país natal sem maiores problemas. "Não entro mais no Brasil. Certeza que eu não passo pela Polícia Federal."

Ela cita à Folha trecho de "Haiti", de Caetano Veloso", para expressar seu desgosto com o desfecho do julgamento no Congresso: "Como é que pretos, pobres e mulatos/ E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados".

Para Vizeu, a gestão Temer já mostrou a que veio, cortando um programa para analfabetos adultos e orçamento para universidades. Ela acha que a líder petista acertou o tom ao não entrar em confronto direto com seus algozes no Senado. "A Dilma é uma lady. Ela não vai jogar o país numa guerra civil. Se tivesse conclamado o povo inteiro às ruas, teria acontecido isso. Mas ela conhece as dores da guerrilha."

Os manifestantes, em sua maioria brasileiros, também criticaram a imprensa nacional. Para a assistente financeira Rita Carvalho, 58, está "comprovadamente provado que as matérias são tendenciosas".

A mídia do Brasil, em sua opinião, minimizaria a participação da crise internacional na derrocada econômica do Brasil. Ela também reclama de reportagens de TV que definem como "baderneiros" aqueles que "vão para as ruas contra esta infâmia". Carvalho promete gastar sola de sapato quando Temer visitar a cidade no fim de setembro, para a Assembleia-Geral da ONU. "Teremos uma recepção esperando por ele, para dizer ao mundo o que ele é: um golpista ilegítimo."

BUENOS AIRES

Um grupo de 80 brasileiros que vivem na Argentina protestou no fim da tarde desta quarta (31) contra o impeachment na frente da embaixada do país em Buenos Aires.

Eles já articulam novos protestos para o dia 7 de setembro e para o início de outubro, caso se confirme a visita do presidente Michel Temer a Buenos Aires.

Também na Argentina, a Associação das Avós da Praça de Maio (que reúne mães de desaparecidos durante a ditadura) publicou nas redes sociais uma mensagem de incentivo à ex-presidente. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br