"Santa Madre Teresa de Calcutá é um símbolo universal, amado pelos fiéis, não crentes e diversamente crentes. É um absurdo que sobre o seu sári branco com barras azuis, agora seja preciso pagar um imposto". É o desabafo indignado do cardeal José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos ao saber da notícia que o hábito típico das Missionárias da Caridade tornou-se uma marca registrada com direitos autorais, por decisão da Casa Geral de Calcutá. A reportagem é de Orazio La Rocca, publicada pela revista italiana Panorama, 17-07-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

Uma medida jamais adotada para os trajes de religiosos e religiosas da Igreja Católica, que agora vai obrigar o pagamento de uma taxa para aqueles que, por qualquer motivo (humanitário, fotos, filmes, livros) usarem o hábito das Missionárias da Caridade, as irmãs de Madre Teresa de Calcutá, prêmio Nobel da paz, canonizada no ano passado pelo Papa Francisco como símbolo dos pobres do Jubileu da Misericórdia.
"É a primeira vez que ouço algo assim, e não é certamente nenhuma honra à memória da Santa. Uma iniciativa comercial discutível e inoportuna que não deve, absolutamente, continuar. Mas acredito que, apesar da decisão tomada pela sede de Calcutá das Missionárias não terá um resultado prático", argumenta Saraiva Martins que, como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, foi o signatário dos decretos das virtudes heroicas que abriram as portas para a veneração de Madre Teresa.
No Vaticano, o cardeal não é o único a criticar a iniciativa. Mesmo entre os mais próximos colaboradores do Papa há decepção e irritação. Por isso, não é impossível que algum sinal de ‘pare’ logo seja emitido pelos Sagrados Palácios, para um "copyright que de fato suja a própria imagem da freira e de todas as suas irmãs", lamenta Saraiva Martins.


A operação comercial

Mas no aguardo que o Vaticano, por decisão Papa Francisco, possa intervir, o sári branco com bordas azuis características que cobre a cabeça e o corpo das Missionárias da Caridade é agora uma marca registrada protegida por royalties para qualquer forma de uso.
Um vínculo comercial que agride a opção preferencial pelos mais pobres entre os pobres feita por Madre Teresa, porque o típico hábito indiano, que as Missionárias da Caridade adotaram em todas as partes do mundo desde 1950, recebeu o reconhecimento de "propriedade intelectual" pelas autoridades indianas por solicitação da congregação fundada pela santa em Calcutá.

A notícia foi revelada por AsiaNews, agência de notícias missionária do PIME, citando as palavras de Biswajit Sarkar, representante legal das freiras, que informou que o "Registro de Marcas do Governo da Índia permitiu o registro de copyright" para o sári teresiano.
Uma decisão, esta, tomada no ano passado, em pleno Jubileu da Misericórdiamantida em segredo por razões óbvias. Mas que foi divulgada há poucos dias frente "a perpetração de abuso sobre o hábito", conforme a justificação do representante legal que, de fato, explicou que o processo de reconhecimento começou em 2013; após "um rígido exame dos procedimentos legal", foi concedido em concomitância com a canonização da "Mãe dos Pobres", ocorrida em 4 de setembro de 2016, no Vaticano.

Sarkar explicou ainda que as Missionárias não gostam de "publicidade e que por isso não tinham tornado pública a notícia. Mas uma vez que se assiste a um uso impróprio e sem escrúpulos do hábito, queremos que as pessoas saibam que é uma marca registrada”. Defesa pouco convincente de uma atitude de caráter totalmente comercial que não é agradou em nada a comitiva papal.


Os hábitos religiosos: um valor

Na Igreja jamais tinha acontecido algo similar que, ao que parece, pegou de surpresa até mesmo a Casa Geral italiana das Missionárias da Caridade, onde ninguém sabia da história do copyright sobre os seus sáris. "Não é possível taxar os hábitos religiosos" explicam às Congregações do Vaticano dos Santos e Religiosos, porque são símbolos universais abertos a todos, sobre os quais não é possível colocar restrições visando o lucro.
Desde sempre a veste das ordens religiosas ou dos eclesiásticos revestiu-se de grande importância. E a cada hábito, realizado com base em indicações religiosas próprias de cada ordem, está associado um significado. No caso de Madre Teresa, há o branco que representa a pureza e as barras azuis que lembram a cor de Nossa Senhora e os três votos de pobreza, castidade e obediência.

Mesmo a veste branca do papa tem a sua história: segundo a tradição, o primeiro a usar esse hábito foi o Papa Pio V que, ao subir ao trono papal em 1566, não quis abandonar o hábito branco de sua ordem religiosa, os dominicanos. São Francisco de Assis - relatam as fontes franciscanas - não vestiu um hábito qualquer de sarja, mas teria indicado cuidadosamente a forma do hábito dos Frades Menores, que, aberto, imita a forma de uma cruz ou um "tau".

Voltando para as irmãs, as várias ordens são reconhecíveis justamente pelo hábito ou pelo véu, como as brigidinas, cujo véu é preto com uma cruz branca costurada por cima. As carmelitas no século XVII escolheram como marca distintiva as "alpargatas", as sandálias que usavam os pobres na Espanha. Mais tarde, foram transformas pelo mundo da moda em espadrillas, vendidas hoje não só na Espanha, mas em todo o mundo. Mas isso é outra história, toda comercial com a qual as Carmelitas nada têm a ver. Agora é a vez do sári das Missionárias da Caridade que desperta os apetites de algum "devoto" desprovido de escrúpulos.

Mas o Papa Francisco não vai ficar de braços cruzados, palavra de José Saraiva Martins, o cardeal signatário das virtudes de Santa Madre Teresa de Calcutá, símbolo universal da redenção dos pobres de todo o mundo. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br