Adolescente de 17 anos foi agredido com mangueira e morreu após 11 dias. Polícia de MS pediu prisão preventiva de dono de lava-jato e funcionário.

"Ele falou assim: 'mãe, eu perdoo, mas não quero eles perto de mim.' Eu, como mãe, fiquei olhando para ele, tanto amor dentro do coração que ele perdoou e pediu justiça. Falei: meu filho, você vai ter a justiça".

O relato emocionado foi feito nesta quinta-feira (16) pela dona de casa Marasilva Moreira da Silva, mãe de Wesner Moreira da Silva, de 17 anos. O adolescente morreu depois de ser agredido com uma mangueira em um lava-jato de Campo Grande. Ele foi enterrado na tarde de quarta-feira (15).

O garoto ficou 11 dias internado na Santa Casa da capital sul-mato-grossense antes de morrer. Ele teve uma mangueira de compressão colocada perto do ânus durante uma suposta brincadeira do dono do lava-jato e um funcionário do local, que era amigo da família. O jato de ar causou diversas lesões e fez o garoto perder parte do intestino.

Durante os dias no hospital, ele contou para a família detalhes sobre a agressão que sofreu e pediu que os suspeitos fossem presos. O delegado Paulo Sérgio Lauretto, que investiga o caso, pediu a prisão preventiva do dono do lava-jato, Thiago Demarco Sena, de 26 anos, e do funcionário Willian Henrique Larrea, de 30, e aguarda decisão da Justiça.

O advogado dos suspeitos, Francisco Guedes Neto, disse ao G1 na quarta-feira (15) que tem conhecimento do pedido de prisão, mas afirmou que, por enquanto, não vai se pronunciar a respeito.

"Ele falou até com a advogada, falou 'cuida do meu caso, eu quero que eles paguem pelo que fizeram comigo'. Então, não é um pedido só meu ou só do pai dele, foi um pedido dele mesmo", recordou a mãe de Wesner.

Despedida
Emocionada, a mãe lembra do menino sonhador, que estava confiante na recuperação e contando os dias para voltar para casa, onde o quarto que ele divide com o irmão estava sendo reformado.

"Ele perguntava: 'mãe, já pintou meu quarto, que o médico vai me dar alta já'. A pressa dele era vir embora pra casa. A tinta tava toda ali, guardadinha, a gente ia pintar no domingo, mas deixamos pra segunda e ele morreu na terça. No último dia, ele tinha vomitado sangue de manhã e estava muito debilitado, foi entubado de novo e teve a preocupação de pedir pra minha irmã me ligar e avisar pra eu não assustar de ver ele entubado de novo. 'Eu conheço minha mãe, fala para ela ficar firme' ele disse pra minha irmã", lembrou Marasilva.

"Suspirei para não chorar na frente dele. Entrei firme ainda brinquei com ele, fiz um coraçãozinho para ele com a mão e falei: 'filho, a mãe te ama' e ele fez assim [sinal de jóia] com a mãozinha. Eu falei 'quer uma massagem' e ele fez que queria, peguei o creme, olhei o pé dele, estava muito amarelinho, meio branco já, e comecei a passar o creme no pé dele, beijei o pé dele", lamentou a mãe.

O pai Valdecir Ferraz da Silva lamenta a perda do filho e também do amigo de todas as horas. "Para mim ele não morreu. É muito difícil, sabe, eu chegar em casa e saber que ele não vai estar, a qualquer momento ele estava brincando comigo, ele gostava muito de mim. Nós éramos grandes amigos", contou emocionado.

Agressão
O caso aconteceu por volta das 10h do dia 3 de fevereiro. A família da vítima disse para a polícia que recebeu uma ligação do dono do lava-jato falando que havia acontecido "uns negócios" com o adolescente e que ele precisava ser levado para o hospital.

Na unidade de saúde, os familiares foram informados que a vítima brincava no local de trabalho com os suspeitos quando o funcionário o segurou e o dono do local inseriu uma mangueira de compressão de ar em direção ao ânus do garoto.

O garoto chegou ao hospital em estado grave e passou por cirurgias. Ele perdeu parte do intestino. A pressão do ar foi tão intensa que estourou o intestino grosso e comprimiu os pulmões, trancando as válvulas respiratórias.

Inicialmente o adolescente ficou na área vermelha, depois foi transferido para a área amarela e foi para a enfermaria. Ele chegou a ficar fora de risco de morte.

Segundo a assessoria do hospital, o garoto voltou à ala vermelha na terça-feira de manhã por causa de uma complicação no esôfago, que ocasionou perda de líquido e sangue. No início da tarde, ele sofreu uma parada cardíaca e os médicos tentaram reanimá-lo por 45 minutos.

Investigação
Dias antes de morrer, o adolescente negou que a agressão tenha sido uma brincadeira entre ele, o dono do local e um colega. Os suspeitos e uma criança de 11 anos, que testemunhou o crime, disseram à polícia que as brincadeiras entre os três eram comuns no local de trabalho.

Os suspeitos podem ser indiciados por lesão corporal grave seguida de morte ou por homicídio doloso. A tipificação final será definida pela Depca na conclusão do inquérito, segundo Lauretto. O delegado ainda esclareceu que, a princípio, o caso não foi registrado como abuso porque não ficou evidente a conotação sexual.

Thiago Demarco Sena e Willian Henrique Larrea não tinham ficha criminal. Este último era amigo da família da vítima.

Fonte: http://g1.globo.com