*Ulrich Kraft,

Muitos pacientes já não conseguem corresponder com tranqüilidade e facilidade às demandas do trabalho e, sobretudo, às exigências que impõem a seu próprio desempenho. Poucos, porém, conseguem se livrar de sua receita de sucesso. Os propulsores internos seguem em plena atividade e, em fases de grande pressão externa, produzem ainda mais stress. Está aí a crueldade do esgotamento profissional: os princípios e as qualidades pessoais que levaram as pessoas adiante durante tantos anos de repente se voltam contra elas não lhes permite sair da roda-vida do stress.

Por isso, a equipe de Zurique trata seus pacientes em vários planos. Em primeiro lugar, eles aprendem métodos para lidar melhor com situações estressantes, como exercícios voltados para a comunicação e técnicas de relaxamento. No treinamento individual, Schedlowski procura corrigir posturas que levaram os esgotados ao desastre. Essa "correção do plano mestre" é a parte mais difícil da terapia, que se deve ao modo de funcionamento do cérebro: aquilo que se aprendeu desde cedo e se praticou durante anos fixa-se com firmeza. "Modificar princípios e comportamentos internalizados de maneira tão intensa demanda um treinamento que, de fato, leva algum tempo", esclarece o psicólogo.

Jogadores profissionais de golfe ou tênis conhecem o problema. Seu cérebro armazenou tão bem determinados movimentos que eles os realizam de forma quase automática. Se um tenista deseja modificar seu saque, necessita de um treinador para observá-lo e corrigi-lo. E precisa treinar, treinar mais, treinar muito para que o novo movimento possa ser aplicado com segurança no jogo. Mesmo que seja sob a pressão de uma final em Wimbledon.

Para os pacientes com síndrome do esgotamento profissional, a prova de fogo acontece em pleno jogo decisivo - o do trabalho. Não são poucos os que fracassam por subestimar a gravidade da situação. Na opinião de Schedlowski, são necessários quatro meses para uma terapia comportamental externa. Ao longo desse tempo, os pacientes precisam treinar sem cessar os novos padrões de comportamento e testá-los no dia-a-dia, da mesma forma como faz o tenista. O cérebro requer esse empenho.

O tempo influi no prognóstico para o paciente. Quem, exaurido, arrasta-se por meses ou anos no trabalho, por vezes até o colapso total, prejudica as próprias chances de cura. É por essa razão que especialistas aconselham a levar a sério sinais de alarme como falta de vontade, cansaço e exaustão, sobretudo quando persistentes.

O melhor ainda seria, claro, não cair no círculo vicioso da autocobrança demasiada e da pressão interior. Os terapeutas suíços apostam na prevenção pela informação. "Na vida profissional de hoje, o stress é quase normal", afirma Schedlowski. "Quando sabemos como nos proteger das conseqüências, o risco do esgotamento é muito menor."

A regra número um é administrar com cautela nossos recursos físicos. As medidas anti-stress são simples e eficazes: alimentação saudável, exercício físico e uma boa noite de sono. Número dois: mesmo sobrecarregado, é preciso observar o equilíbrio entre tensão e relaxamento - é preciso haver equilíbrio entre trabalho e vida particular.

Cada um tem de encontrar seu próprio mecanismo de compensação do stress. Há pessoas que relaxam preparando-se para uma maratona; outras repousam curtindo música ou cuidando do jardim. O passatempo pouco importa - o que interessa é ter um. O mesmo vale para os contatos sociais. Seja entre amigos ou na família, é fato que as relações interpessoais protegem contra o esgotamento. De resto, quem se isola por causa do trabalho extenuante não terá mais ninguém a quem chamar numa emergência, quando vier a precisar de ajuda e companhia.

Schedlowski aconselha as vítimas do stress profissional a aprender uma técnica para relaxar - como ioga, meditação, treinamento autógeno ou relaxamento muscular. E a fazê-lo antes que precise dela com urgência, porque os primeiros sinais do esgotamento já se anunciam. O passo decisivo, no entanto, é dado na cabeça, constata o psicólogo: "Na vida profissional, é preciso adotar o mais cedo possível uma postura que dê à saúde e ao bem-estar psíquico no mínimo a mesma importância atribuída à ascensão na carreira".

Lauro N., com seu alto potencial, ignorou esse fato por muito tempo. Foi somente ao ver-se numa unidade de terapia intensiva, "sozinho e na pior", que uma luzinha acendeu em sua cabeça. Lauro mudou de vida. Abandonou o emprego, lutou para recuperar os amigos e realizou o sonho da juventude de fazer uma grande viagem pelo mundo. Depois disso, voltou a atuar como consultor e tem hoje um cargo até melhor que antes.

Agora tudo é muito diferente. "Pratico esporte, tenho mais tempo livre, reservo pelo menos duas horas por semana para fazer coisa nenhuma e, acima de tudo, curto a vida. Meu trabalho continua sendo importante, mas outros aspectos também têm tem prioridade." Seu balanço da nova vida: "Nunca me senti melhor!".

 *Ulrich Kraft, médico e colaborador da Gehirn&Geist, atua como jornalista científico em Berlim. - Tradução de Sergio Tellaroli