Frei Pedro Jansen, O Carm. In Memoriam

Em tempos idos, mais que hoje, o complexo do Carmo era ponto de referência para toda e qualquer embarcação que tivesse o centro de Angra dos Reis como destino. A fachada formada pela frente do convento e das duas igrejas, apontava como uma indicação segura, inconfundível. A igreja do convento passou por uma ampla restauração nos anos noventa e a Irmandade da Ordem Terceira do Carmo tem zelado, com capricho, pelo seu patrimônio cultural e histórico.

O Convento do Carmo foi construído com a finalidade de abrigar um certo número, entre seis e dez, de frades carmelitas. Como referência para o início das obras de construção do convento pode-se aceitar o ano de 1630. Há indícios de que o convento foi construído em partes, apresentando-se a ala que dá para o mar como a mais velha.

A partir do convento os frades se locomoviam, por canoas e trilhas, para exercer o ministério apostólico. Anunciavam nas fazendas e vilas a mensagem cristã. Visitavam com regularidade capelas e oratórios que foram sendo erguidos. Os frades empenhavam-se na administração de suas propriedades, normalmente recebidas por doações ou legados, e produziam, pelo trabalho servil, os recursos para manter as missões e conservar convento e igreja.

Devemos imaginar que o Carmo acabou sendo a maior construção junto do mar no centro de Angra dos Reis. De suas janelas se avista a Ilha Grande e via-se, antes da construção do silo do porto, o canal para o oceano. Beleza facilmente acaba sendo cobiçada. Corsários, aventureiros e piratas tornaram-se flagelo para a população. O convento tornou-se refúgio, abrigo, verdadeira fortaleza de resistência e de revide. Particularidades na posição das janelas ilustram que a maioria é de data recente. A fachada do convento tinha aspecto de muralha.

Mesmo no período em que as Ordens Religiosas foram penalizadas por leis restritivas, o Convento do Carmo de Angra dos Reis teve em frei Inácio da Conceição Silva a continuidade da vida religiosa. E mesmo quando a administração das fontes de seus recursos foram transferidas para a administração diocesana, o convento foi conservado para a sua finalidade primordial de ser um centro de vida de fé e de fraternidade. E antes que a estirpe religiosa se extinguisse, já favorecida a decisão pelas leis republicanas, frades carmelitas da Espanha e da Holanda vieram em socorro de frei Inácio. Reformaram o convento de Angra e aumentaram a sua capacidade residencial. Em 1905 a comunidade carmelita ostentava renovação e aumento de número de frades. Em janeiro do ano seguinte o bispo diocesano de Niterói confiou aos frades carmelitas as seis paróquias que existiam no município de Angra dos Reis. Com esta decisão o convento que já vinha sendo um centro de irradiação de vida espiritual, tornou-se a Casa Paroquial de todo o município. Missas, missões, casamentos, enterros e batizados, novenas e festas, bênçãos e procissões, encontros e reuniões, todos estes assuntos eram tratados e aconteciam no convento. Assim a comunidade católica de Angra dos Reis tem no Convento do Carmo o seu espaço próprio e funcional. Pela sua localização central e de fácil acesso, constantemente espaços do convento são solicitados para atividades culturais e públicas, inclusive pela própria Prefeitura Municipal.

Com a concentração da administração paroquial no Carmo, o convento herdou e conserva todo o arquivo religioso do município. São mais de duzentos volumes com registros a partir de 1731. Principalmente historiadores e cientistas sociais tem demonstrado grande interesse pelo arquivo paroquial e as solicitações por acesso para pesquisas são constantes. Não se entende a história de Angra sem a história do Carmo. Infelizmente não se pode expor o arquivo por motivo de falta de segurança para sua conservação.

Na área que se pode chamar de centro histórico de Angra há uma concentração de monumentos religiosos que sustentam um enorme volume de valor histórico, cultural e religioso. Sua importância vai além do sentido de fé e devoção. E seria injusto colocar na responsabilidade dos fiéis o ônus da conservação destes monumentos que tem grande significado público.

A Ordem do Carmo tem se empenhado para manter no Carmo de Angra a residência de seus frades para assim garantir o funcionamento no convento com todas as atividades que fazem dele a casa da comunidade, do povo. Lugar onde a vida é convivida e valorizada.

Iniciativas foram tomadas para facilitar a aplicação de recursos por leis de incentivo fiscal. Está aberto o caminho para preservar o patrimônio mais significativo de Angra dos Reis. Se, e Deus nos livre disso, o convento venha a tombar vai se sepultar para sempre o espírito de vida que há quatro séculos circula entre os arcos de seu claustro.