Dom Helder Câmara

É claro, que  o  povo  sabe  que  Nossa Senhora do Carmo é uma só. É aquela criatura  que, continuando criatura, teve o privilégio de ser convidada pelo Pai celeste para ser a mãe do seu Filho Divino, quando este se encarnou em seu seio puríssimo. E ela se tornou Mãe de Deus.

Então, toda essa variedade de inovações-Aparecida, Lurdes, Fátima, Auxiliadora... – são apenas títulos que atribuímos a Nossa Senhora. Mas ela é uma só. Entretanto, cada um tem gosto especial de chamá-la com a invocação que lhe fala mais alto: NOSSA SENHORA DO CARMO! Como este nome me é querido!

No dia de hoje, como seria bom lembrar à nossa gente, sobretudo numa hora de sofrimento como esta, porque o Brasil vive um tempo difícil para todos, é claro, que principalmente, a gente sofrida que ainda padece mais.

Eu estremeço quando ouço falar em apertar o cinto! Porque não é o cinto dos grandes que se aperta. Aperta? Pois sim! Aperta é o da nossa gente humilde, que ainda padece mais.

Eu estremeço, quando me lembro – e não me canso de lembrar – que naquele casamento em Cana, tu te preocupaste até, porque iria faltar vinho e os noivos iriam ficar encabulados! Pois bem, Mãe querida, hoje está faltando tudo! Eu nem preciso dizer que o leite para as crianças e pessoas idosas está ficando impossível.

Eu preciso dizer-te, Mãe querida, que no “País do Café”, o café está ficando impossível para os pobres? E o café não era luxo!

E o pão? Como está ficando proibitivo, Deus do céu!. Ah! Mãe querida, como seria bom que houvesse menos egoísmo! Sim, a raiz, afinal, de tudo isso é o velho egoísmo.

Mãe, há quem diga que é impossível que a humanidade chegue ao ano dois mil com sete bilhões de criaturas que povoam o mundo. Por isso, estão querendo liquidar um bilhão. E alguns chegam a dizer, cinicamente: “O ideal mesmo seria acabar com um bilhão”.

Mãe querida, ajuda-nos a entender que a verdadeira explosão, muito maior do que a explosão demográfica é a explosão do egoísmo!...