Sócrates deixou a própria morte como seu maior exemplo
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Ao aceitar seu veredicto, o pensador quis dar um exemplo de desprendimento aos viventes
Mario Vargas Llosa*, O Estado de S.Paulo
20 de fevereiro de 2022 | 05h00
Um dos problemas da nossa época é que há muitos livros para ler e pouco tempo para fazê-lo. Arrasto desde os anos 80 do século passado a Vida de Sócrates, de Antônio Tovar, da Alianza Editorial, que comprei porque me disseram que era um magnífico livro. Logo me advertiram que seu autor era “um franquista” e, até esta semana, não o li.
É uma obra-prima, certamente, e, ainda que o que conta ocorreu 25 séculos atrás, contém muitos ensinamentos para este mundo que poderia despedaçar-se se a Rússia, como parece, invadir a Ucrânia e armar subitamente e sem querer a 3ª Guerra. Assim nasceram a segunda e a primeira, sem que ninguém as planejasse, e sobretudo sem que suas consequências – as milhões de mortes – fossem previstas.
Ninguém sabe exatamente o que aconteceu e por que Atenas, que desde os tempos de Sólon era uma democracia, levou Sócrates a esse julgamento. Foi acusado de perverter a juventude e de ofender os deuses, acusações que não se mantinham de pé porque esse filósofo ou homem santo, que andava pelas ruas descalço provocando discussões por todo lado, não prejudicava ninguém, salvo os invejosos e os ressentidos, roxos de animosidade sobre sua popularidade e que queriam acabar com ela.
Tovar diz que Sócrates se defendeu muito mal no julgamento, com um discurso desconexo, e a muitos juízes que o julgaram não lhes restou mais remédio que condená-lo. Passou a impressão que não lhe importava morrer e, até mesmo, buscava ser culpado dessa feroz e absurda acusação. Platão, o responsável por sua glória póstuma, não compareceu no dia de sua defesa, pois estava enfermo, e os discípulos presentes sentiram-se confusos e decepcionados pelas coisas que Sócrates disse diante do numeroso tribunal que o julgou.
Fugir era muito fácil e custava pouco dinheiro, assim que seu discípulo Críton, que era rico, lhe fez a proposta, mas Sócrates se negou. Amava demais Atenas, havia combatido nas guerras do Peloponeso contra os jônios, defendendo-a, e logo ensinado, em suas palestras na rua, que as leis da cidade são sagradas e deveriam ser respeitadas. Por outra parte, estava convencido de que as sentenças, ainda que absurdas, deveriam ser cumpridas, pois essa era a vontade dos deuses. Bebeu a cicuta com serenidade e se submeteu às orientações do verdugo – deveria, depois de banhar-se, deitar-se e distender o estômago para que o veneno agisse mais rápido – até que a morte lhe chegou.
O que se sabe dele, depois daquela morte, é vago, especulativo e, na verdade, não se conhece exatamente o que ocorreu nessa cidade onde ele nasceu e morreu, e que, quase de imediato após a sua morte, entrou em decadência sem remédio. Tanto que seus adversários naturais, os espartanos, conseguiram invadi-la.
Se não fosse por um filósofo, Platão, e um historiador, Xenofonte, e seus fiéis discípulos que guardaram e difundiram seus ensinamentos, as ideias de Sócrates teriam desaparecido. Ele não tinha apreço pelos livros – na verdade, os detestava, porque isolavam o indivíduo e faziam desaparecer o auditório. Por isso, preferia a palavra falada à escrita. A isso se deve, ainda que não esteja em debate que era um grande e respeitado pensador, não distinguirmos exatamente o que defendia ou atacava, e que reine sobre sua filosofia muita confusão, pois Platão, que recolheu com cuidado seus ensinamentos, não estava de acordo com ele em muitas coisas e é possível que, inconscientemente, tenha atenuado e até mesmo adulterado sua mensagem.
Exemplo
Mas isso não importa muita coisa, pois de Sócrates o que fica é um exemplo. Sua morte é muito mais importante que sua vida como a conhecemos. Ao que parece, sua mulher, Xântipe, era para ele mais um estorvo que uma companheira; os testemunhos de seus discípulos nos dizem que ele mal falava com ela e agia da mesma maneira com os filhos, de modo que, à companhia de sua família, preferia a de seus seguidores, que eram todos homens.
O pouco que sabemos dele é que era um grande questionador, até mesmo um provocador, que desafiava seus adversários para conseguir dirimir com eles suas diferenças, e transmitia seus ensinamentos a pequenos círculos de adeptos, evitando grandes aglomerações, pelas quais tinha desapreço.
Predicava o respeito e a adoração aos deuses e tratava a todo custo de conhecer a si mesmo, de maneira exaustiva e sem ocultar de ninguém seus defeitos; pelo contrário, exibindo-os. Graças a estas discussões públicas, fez-se popular, ainda que alguns atenienses o tomassem por doido. Ao mesmo tempo, tinha muitas dúvidas sobre si mesmo, uma grande desconfiança sobre o próprio talento, de modo que seus ensinamentos as renovavam e desmentiam de tempo em tempo. O fator realmente exemplar nele teve a ver mais com sua morte do que com sua vida. Esse é o maior exemplo que nos deixou.
Quantos contemporâneos foram capazes de imitá-lo? Muito poucos. Ou tratou-se de pobres diabos, como Hitler, que se matou quando todas as portas se fecharam para ele e se apresentou um final mais grave e delongado que o suicídio. Nem sequer Stalin e outros bandidos seguiram seu exemplo. Na longa história dos militares golpistas que arruinaram o Peru e o saquearam, quase não há suicidas, e creio que se pode dizer o mesmo do restante da América Latina. Como Batista, Somoza, Perón e o restante dos tiranetes se forraram bem de dólares que os estavam esperando na porta da cadeia, para assegurar-lhes uma velhice tranquila.
Não se pode dizer que o destino da Europa Ocidental tenha sido muito diferente. Os desastres de sua história são abundantes e quase não há suicidas entre seus dirigentes. Os que tiram a própria vida costumam ser bandidos, empresários em bancarrota, pessoas desesperadas que fogem da miséria e da fome.
Sócrates não tinha problemas econômicos; pelo contrário, seus discípulos arcavam com seus gastos e de sua família, ainda que ele comesse muito pouco e não bebesse quase nada. Tinha um amor desmedido por Atenas, sua cidade natal, e acreditava que ela e todas as cidades mais importantes do mundo desenvolviam paralelamente sua existência real, como um duplo ou fantasma, ainda mais importantes que elas mesmas, e a quem os cidadãos deviam lealdade.
Obediência
Provavelmente o grosso de suas ideias não convenceria nossos contemporâneos, mesmo que apenas porque ele acreditava nos deuses e no além, mas todo o mundo reverencia a maneira que ele morreu, resignadamente, submetendo-se a um poder que talvez desprezasse, a fim de dar um exemplo de obediência à legalidade a esses jovens que haviam abandonado tudo para segui-lo.
Que exemplo lhes deu? De que, em certos casos, a morte vale mais que a vida, sobretudo quando se trata de servir a esses deuses ocultos que dirigem a vida humana, ou de dar um exemplo de desprendimento aos viventes. E, principalmente, o da dignidade com que se conformou em respeitar leis que certamente não acreditava porque o mundo, ou, pelo menos, a cidade, deveria ter uma ordem que a fizesse funcionar, uma estrutura à que os mortais deveriam obedecer, ainda que fosse contra seus interesses pessoais, pois era a única maneira para a civilização substituir a barbárie e a humanidade ir aprendendo e superando-se a si mesma, até alcançar aquela dignidade moral que nos faria superiores.
Isso certamente não á válido hoje, pois graças às suas bombas atômicas, um punhadinho de países poderia fazer desaparecer todos os mortais e acabar com o planeta que habitamos. Sócrates, quando bebeu a cicuta, não conseguiu imaginar que, um dia, o mundo seria mais frágil e vulnerável do que aquele que, 25 séculos atrás, chamavam de civilização./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO
*É PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA
© DIREITOS DE PUBLICAÇÃO EM TODAS AS LÍNGUAS RESERVADAS PARA EDICIONES EL PAÍS S.L. 2021
Fonte: https://internacional.estadao.com.br
Petrópolis- 110 mortos até o momento: 116 desaparecidos
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Total de mortos em Petrópolis chega a 110, e desaparecidos somam 116, de acordo com a Polícia Civil
Também numa força-tarefa, MP do Rio mobiliza central de atendimento do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos para atender parentes e amigos de vítimas. Nas redes sociais, voluntários tentam ajudar
O Globo
RIO — As buscas pelas vítimas da tragédia das chuvas em Petrópolis continuam e o total de mortos já chega a 110 na tarde desta quinta-feira. Já o número de desaparecidos é ainda maior e soma, até o momento, 116 registros na Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA). A Polícia Civil montou uma força-tarefa com cerca de 200 agentes para coletar informações e percorrer pontos de apoio e abrigos na cidade para cadastro e cruzamento de dados.
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) está com uma central de atendimento para cadastrar pessoas desaparecidas durante o temporal que devastou parte do município da Região Serrana do Rio, na terça-feira. Informações devem ser enviadas pelo Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (PLID/MPRJ). Veja abaixo como fazer. O órgão ainda disponibiliza a lista com o nome e foto dos desaparecidos. Até as 17h desta quinta-feira, constavam 46 nomes de desaparecidos cadastrados. Segundo o MP, a lista chegou a ter 59 cadastros, voltando a diminuir após 13 pessoas serem encontradas, todas com vida.
Segundo a Polícia Civil, durante o trabalho da DDPA, os agentes localizaram no Colégio Estadual Rui Barbosa três pessoas que constavam como desaparecidas. Foi confirmado o óbito de 15 pessoas que inicialmente estavam com os nomes na lista.
Ate as 10h40, dos 101 corpos que estavam no Instituto Médico Legal (IML), 65 são de mulheres e 36 de homens. Desses, 13 são menores.
Em nota, a Prefeitura de Petrópolis confirma que, até o momento, 705 pessoas precisaram ser encaminhadas para os 33 pontos de apoio montados em escolas da rede pública. Nestes locais as famílias recebem atendimentos de profissionais de Assistência Social, Saúde, Educação e Agentes Comunitários. Fonte: https://oglobo.globo.com
Polícia do Rio prende, em ilha de Angra dos Reis, investidor de criptomoeda de SP por morte de traficante internacional.
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Pablo Henrique Borges estava em casa de luxo com diária de R$ 15 mil e já foi acusado, em 2018, de fazer parte de organização criminosa que aplicou golpes financeiros de cerca de R$ 400 milhões
Paolla Serra
RIO — Policiais da 38ª DP (Brás de Pina) prenderam, na manhã desta quarta-feira, dia 16, um homem acusado de ser um dos mandantes da morte do traficante internacional Anselmo Becheli Fausta, o Magrelo, em 27 de dezembro do ano passado, em São Paulo. Pablo Henrique Borges, de 28 anos, estava hospedado em uma casa de luxo em uma ilha de Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense, e já havia sido preso, em 2018, por fazer parte de uma organização criminosa que aplicou golpes financeiros de cerca de R$ 400 milhões.
De acordo com o delegado Maurício Mendonça, da 38ª DP, o criminoso vinha sendo monitorado pelo setor de inteligência da distrital. Ele estava em um imóvel com piscina, à beira mar, com diárias de R$ 15 mil. Ontem, a casa em que morava, no Morumbi, na capital paulista, já havia sido alvo de uma busca e apreensão. Lá, foram apreendidos um Porsche Taycan, além de documentos, como passaportes, dele e sua esposa, a influenciadora Marcella Portugal Borges.
— Coletamos informações no sentido de localizar e prender o Pablo. A mensagem que fica é que o Rio de Janeiro definitivamente não será um local para esconderijo de criminosos — afirmou Maurício Mendonça.
De acordo com investigação do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil de São Paulo, Pablo e um amigo, o corretor de imóveis Vinícius Lopes Gritzbach, de 36 anos, seriam os mandantes do homicídio de Anselmo, que tinha um patrimônio avaliado em cerca de R$ 500 milhões. Ele o teria ajudado a investir U$ 100 milhões do traficante, que seria membro da maior facção criminosa do estado, mas o dinheiro sumiu, o que teria motivado o crime. O agente penitenciário David Moreira da Silva teria contratado Noé Alves Shaun para executar o bandido. Segundo o inquérito, ele foi morto 20 dias depois.
Ainda estão foragidos: Danilo Lima de Oliveira, o Danilinho ou Tripa, empresário do ramo do futebol e sócio de uma agência de atletas de renome, que seria um dos responsáveis pelo sequestro de Vinícius; Robinson Granger de Moura, o Molly, dono de uma hamburgueria e investigado por ajudar a lavar o dinheiro de Anselmo; e Rafael Maeda Pires, o Japa, que realizaria serviços financeiros para o traficante.
Em 2017, Pablo e Marcella tiveram uma pré-festa e casamento no civil em que usaram coroas de diamantes e pedras preciosas e ela chegou de carruagem ao Hotel Fasano. No local, estavam 800 convidadas e foram contratadas duas duplas sertanejas, entre elas Maiara & Maraisa, donas de hits do momento. Mas o rapaz acabou sendo preso na véspera sob a acusação de ser um braço de uma organização criminosa que oferecia via WhatsApp e Facebook pagamento de qualquer tipo de boleto com “50% de desconto”.
Naquela ocasião, as investigações apontavam que as pessoas davam metade do valor da dívida para a quadrilha, e o boleto era quitado pelos bandidos a partir da invasão de contas de clientes de bancos. Na lista dos beneficiários, havia centenas de empresas e pessoas físicas interessadas em pagar menos do que deviam, fossem contas de ISS, IPVA, celular ou de TV a cabo. O rombo causado chegou a R$ 400 milhões.
O casal morava em uma mansão em um condomínio de luxo nos arredores de São Paulo, mas reformavam uma segunda moradia luxuosa no Morumbi, bairro nobre da capital. Pablo usava helicópteros para se locomover e ainda tinha na garagem duas Ferraris, um Maserati e um Lamborghini. Em 2017, alugou um iate por € 42 mil a diária para assistir ao Grande Prêmio de Fórmula 1 em Mônaco. Quando o evento acabou, seguiu até Barcelona e, de lá, a Palma de Maiorca. Em vídeos postados nas redes sociais, Marcella contou que o sacolejar do barco a fez enjoar, mas nada que não compensasse os jantares regados a vinhos de até € 18 mil (cerca de R$ 106 mil) garrafa. Fonte: https://oglobo.globo.com
Fotos de menino da Cidade de Deus lembram garota afegã da 'National Geographic' e fazem sucesso nas redes sociais
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Descoberto por acaso e revelado em um ensaio de fotos que estourou nas redes sociais, o menino Davi ganhou a chance de mudar sua trajetória tão dura
Davi, 11 anos: o garoto de família humilde está perto de fechar contrato com uma conhecida agência de modelos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
‘A menina afegã’. Capa da National Geographic, de 1985, fez fama mundial Foto: Reprodução
Flávio Trindade
RIO — Em 1985, quando foi retratada pelo fotógrafo americano Steve McCurry, a afegã Sharbat Gula tinha 12 anos e era órfã desde os 6. Refugiada no Paquistão, escapou da guerra em sua terra natal. Na imagem que correu o mundo, estampada na capa da revista National Geographic, a “Menina afegã” parecia exprimir, através de belos olhos verdes, toda a dureza de uma rotina vivida ainda na infância. O carioquinha Davi tem 11 anos, perdeu o pai, assassinado, aos 3, e, com a família, fugiu da brutalidade de um território dominado pela milícia, deixando para trás um apartamento do programa Minha Casa Minha Vida.
Além da infância tão acidentada, Davi Gonçalves da Rocha Brito tem, como Sharbat, olhos esverdeados que parecem dizer algo mais: meio por acaso, o menino, que é morador da Cidade de Deus, na Zona Oeste, cativou as redes sociais mirando as lentes do fotógrafo Wallace Lima. Seus retratos abriram um horizonte inimaginável e o garoto foi convidado para ser modelo de uma conhecida grife de roupas infantis. Deve concretizar esta semana seu primeiro contrato profissional com uma agência de modelos.
Modelo por acaso
Essa fábula urbana começou no último dia 15 de janeiro. Brincando pelas vielas da Cidade de Deus, Davi e os irmão passaram pela porta da ONG Nóiz, que realiza trabalhos sociais na comunidade. Ele ouviu a música que vinha lá de dentro e, curioso, esticou os olhos pela fresta do portão, chamando a atenção de André Melo, presidente da instituição.
— Vi aqueles olhinhos pelo buraco e corri para abrir a porta. Estávamos fazendo uma confraternização e convidei os três para entrar. De imediato, saquei o celular e pedi a ele para tirar uma foto — conta André.
Na conversa com o menino, o dirigente da ONG admirou-se com a expressão de encanto da criança, diante da festa e das atividades que estavam acontecendo. Por um instante, no entanto, ele se distraiu e David foi embora, com os irmãos, sem deixar nenhum contato:
— Eu peguei a foto dele e saí pela comunidade perguntando se alguém conhecia. Andei para lá e para cá, até que me disseram onde ele morava no Outeiro, e achei o Davi de novo.
Após o reencontro, entra em cena o fotógrafo Wallace Lima, que, com seu olhar treinado, propôs fazer um ensaio com o garoto. A produção, garantida pelo empréstimo de roupas em um brechó, resultou nas fotos que Lima publicou no Instagram. Enfeitadas por aquele olhar que, através de uma fresta, havia chamado a atenção de André Melo, as imagens viralizaram.
— Eu pensei: que beleza exótica, que olhar triste, mas lindo. No estúdio, improvisei um cenário. Sabia que teria visibilidade, mas não imaginei repercussão como esta. Acho que ninguém esperava — afirmou o fotógrafo.
Muito menos Davi. Como outros de sua geração, o filho do meio de Taiane Gonçalves, 27 anos (mãe ainda de Monique, 13, e Wallace, 10), gosta mesmo é de jogos de celular, mas também se entretém com livros, embora nas páginas de papel só reconheça as figuras. Apesar de ser aluno do terceiro ano do ensino fundamental da rede municipal de ensino, ele ainda não sabe ler.
De acordo com a família, opinião reforçada por André Melo, da ONG Nóiz, o regime de aprovação automática fez com que o menino fosse passando de ano sem o devido aprendizado.
O cenário piorou ao longo da pandemia de Covid-19. Matriculado na Escola Municipal Augusto Magne, na Cidade de Deus, David afastou-se das aulas presenciais a partir do início de 2020, mas não teve como aderir ao ensino remoto. A família, sem posses, não tem computador nem como repor com frequência os créditos no celular.
— Infelizmente, todo dinheiro que a gente consegue é para comida. Alimentação é a prioridade de quem mora na favela. Eu sei que isso afetou muito o aprendizado dele. Por ser novinho, ele não entende, mas espero que, quando cresça, entenda e me perdoe por não ter podido fazer mais — disse Taiane, a mãe de Davi.
Pai assassinado
André Melo afirma que a situação de Davi é a de muitos outros meninos e meninas na Cidade de Deus:
— Ele foi sendo aprovado sem critério de avaliação e chegou a esse estágio. Agora, pretendemos dar aulas de acompanhamento aqui para que ele possa ler. É algo que o deixa triste, porque temos livros e revistas à disposição.
O olhar melancólico, que, além do tom esverdeado, levou-o a ser comparado com a “Menina afegã”, é atribuído pela mãe ao muito por que o menino já passou. Davi nasceu na Cidade de Deus. Em 2012, no entanto, a família foi beneficiada pelo programa Minha Casa, Minha Vida, e ganhou um apartamento no condomínio Almada, no sub-bairro de Jesuítas, em Santa Cruz, também na Zona Oeste.
Após a mudança, o pai de Davi, viciado em drogas, frequentador da comunidade do Rola, também em Santa Cruz, desentendeu-se com milicianos, que haviam assumido o controle do condomínio. Suspeito de passar informações para traficantes, acabou assassinado pelo poder paralelo que comandava o lugar onde morava.Com medo, a mãe de David pegou as crianças, abandonou o imóvel com tudo dentro e voltou para a Cidade de Deus.
— Fiquei desesperada, senti um pressentimento de que fariam algo com meu marido, depois que ele não voltou mais eu vim para cá, onde minha mãe morava. Deixei a casa com tudo e soube que os milicianos tomaram para eles. Sei que o imóvel me pertence, mas não vou arriscar ir lá e ser morta também.
De volta, Taiane contou com a ajuda de vizinhos para construir um barraco de madeira na região conhecida como Outeiro, a mais pobre dentro da comunidade, e conseguir roupas para os filhos. A oportunidade que o filho tem agora é a segunda alegria recente para a jovem, que passou a receber o benefício do aluguel social, conseguiu deixar o barraco de madeira e alugou uma quitinete na comunidade. Fonte: https://oglobo.globo.com
Amor vira-lata.
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Os vira-latas são os que fazem sucesso e quanto mais esquisitos – pelos desordenados, cor de olhos indefinida, o sorriso de alívio por terem sido adotados – mais chamam a atenção.
Cachorro abandonado próximo à Rodovia Raposo Tavares, em 1999. Foto: KATHIA
TAMANAHA/AE
Marcelo Rubens Paiva, O Estado de S.Paulo
Por alguns meses, virei tutor de um vira-lata, Nestor. É o cachorro mais simpático e maluco que conheci. Passei a andar com ele pelo bairro e conhecer o universo tão particular, o de pessoas passeando com seus cachorros. Informações são trocadas, enquanto os cães se cumprimentam.
Esqueça o belo e altivo golden, que não sai de moda, ou o brincalhão labrador. Esqueça a raça do Tintin, Máscara, Asterix, Artista, Man in Black, porque é assim que algumas pessoas se referem a seus cães, aquele da raça da personagem tal. Que entram e saem de moda de acordo com Hollywood; foi assim com pastor alemão, dálmatas.
Os vira-latas são os que fazem sucesso e quanto mais esquisitos – pelos desordenados, cor de olhos indefinida, o sorriso de alívio por terem sido adotados, depois de uma infância que, com certeza, foi repleta de dificuldades, fome e perseguições – mais chamam a atenção.
O vira-lata ou híbrido é desengonçado, desproporcional, engraçado, parece mais alegre que cães normais, mais dócil e sociável. Nestor tinha mullets, olhos esbugalhados, um sorriso estampado, orelhas tortas (nunca levantava as duas) e nunca atendia pelo nome. O quadril e as pernas traseiras eram arqueados, de vaqueiro.
Nos primeiros dias, não fazia suas necessidades nas calçadas, só em casa, num tapete próprio. Tímido. Dormia enrolado no mesmo cobertor, no mesmo canto. Não latia e, incrivelmente, ficava sempre do meu lado direito no passeio, não ameaçava outros cachorros, atravessava na faixa, no mesmo ritmo que eu.
Me alertaram que sua infância num abrigo foi terrível. Como terá sido? Aos poucos, ele foi se soltando. Como tem cachorros latindo em varandas de prédios vizinhos, ele passou a latir junto, num longo papo.
Um dia, sem cerimônia, deu uma mijada de litros, só que no meio da calçada movimentada, não num poste, árvore ou matinho. Não levantou a patinha. Parou, entortou o quadril e mirou o jato para o lado. Não consegui impedir. Ele, enfim, voltou para a dona. Mas foi feliz conosco.
Vira-latas são mais saudáveis pelas necessidades da infância. Os SRD (Sem Raça Definida), ou Crand (Cachorro de Raça Não Definida), quando jovens e adultos, ficam mais resistentes. Em vários estudos, como o de G.J. Patronek e D.J. Waters (Comparative Longevity of Pet Dogs and Humans), ficou provada maior longevidade do que cães de raças definidas.
O vira-lata (ou rafeiro, rapé, ralé, cusco, pé-duro) é, antes de tudo, um forte e vive em média 1,8 ano a mais do que os de raça. No mais, nenhum vira-lata é na aparência igual ao outro. O seu será sempre único. Fonte: https://cultura.estadao.com.br
Morador do Jacarezinho é preso enquanto comprava pão; polícia formaliza pedido de soltura após apelo de familiares
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Yago Corrêa, de 21 anos, foi preso quando saiu para comprar pão Foto: Redes sociais
Yago Corrêa, de 21 anos, teria corrido ao avistar policiais, segundo a PM. Um adolescente que estava no mesmo local carregava uma bolsa com drogas e militares deduziram que eles estivessem juntos
Barbara Souza
RIO — Um jovem de 21 anos foi preso no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, depois de ter ido comprar pão na comunidade, ocupada pelo programa Cidade Integrada, conforme alega. Yago Corrêa de Souza foi abordado por policiais militares na noite do último domingo, após ter saído caminhando da padaria de volta para um churrasco. Um adolescente foi detido na mesma ação. Os dois foram levados para a 25ª DP (Engenho Novo).
A Polícia Militar informou que, no momento, uma equipe do Batalhão de Polícia de Choque que patrulhava as imediações da Travessa Amaro Rangel e vielas da comunidade do Jacarezinho se deparou com dois indivíduos que correram ao avistarem os policiais. Ainda segundo a corporação, eles foram encontrados com drogas. Mas, de acordo com os agentes da delegacia para onde Yago e o menor de idade foram levados, a bolsa com 32 pinos de cocaína, 32 papelotes de skunk e 58 papelotes de maconha estava com o adolescente. Os PMs que fizeram a abordagem deduziram que os dois estavam juntos.
Ao saber da prisão do jovem, familiares foram até a delegacia. Poucas horas depois de ouvir os pedidos e relatos dos parentes, ainda durante a madrugada, o delegado responsável pelo caso formalizou o pedido de soltura de Yago. No documento, ele afirma que “logo após o término do procedimento surgiram fatos novos relevantes que geraram uma dúvida razoável em favor da não imputação pela prática de tráfico de drogas e associação ao tráfico”.
Ainda de acordo com policiais civis da 25ª DP, depois que o adolescente que estava com as drogas foi levado para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, eles notaram que Yago ficou mais calmo e conseguiu se expressar melhor.
Yago está preso em Benfica, deve passar por audiência de custódia no início da tarde desta terça-feira e ser solto em seguida. A expectativa é de que ele responda ao processo em liberdade.
Nas redes sociais, o irmão mais velho de Yago, Vinícius Corrêa, fez um apelo pela soltura do caçula:
"Ontem ele saiu para comprar pão de alho para um churrasco de amigos que ele estava na rua Amaro Rangel, ao chegar no local teve uma correria e ele foi preso injustamente pelos policiais que estão atuando na nossa comunidade, ele está sendo acusando de associação ao tráfico de drogas e quem o conhece sabe que o Yago não é disso".
O caso vai ser um dos temas de uma reunião entre o deputado federal David Miranda (PDT) e o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, marcada para o próximo dia 15. O deputado disse que também vai levar ao encontro denúncias de abusos e tortura que, segundo relatos que ele recebeu de lideranças e moradores do Jacarezinho, estão sendo praticados com frequência na comunidade.
— É importante o papel do Estado no combate ao tráfico, mas não é assim que se faz. A grande maioria das 40 mil pessoas que moram ali não faz parte do tráfico. É preciso usar muito mais a inteligência. Mas o que está sendo usado é a truculência. Não há nenhum benefício a não ser o terrorismo do Estado — afirmou o deputado em referência às ações do programa Cidade Integrada, iniciada pelo governo fluminense no Jacarezinho. Fonte: https://oglobo.globo.com
Viralizou: Homem que não queria se vacinar é levado amarrado pela esposa a posto de saúde em Alagoas
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O Globo
RIO — Uma cena curiosa foi registrada por um espectador e viralizou nas redes sociais: em um posto de saúde em Alagoas, uma mulher levou o esposo amarrado para tomar a vacina da Covid-19, contra a própria vontade.
No vídeo que correu a internet, duas mulheres comentam a cena. "O homem veio amarrado, minha gente, para tomar a vacina, pelo amor de Deus", diz uma delas. As imagens mostram o homem sentado em uma cadeira, com os braços e tronco presos a uma corda longa, segurada pela mulher que está em pé, na frente dele. Internautas identificaram que o posto de saúde onde o fato ocorreu fica em Rio Largo, na região Metropolitana de Maceió.
A publicação feita no Tik Tok teve mais de 174 mil curtidas e 2,6 milhões de visualizações. Na legenda, há a informação de que ele se recusou a tomar o imunizante. Nos comentários, as pessoas brincam com a cômica situação. "Ele: 'não vou nem amarrado'. Ela: 'vamos ver'", diz um perfil. "Ela está apenas garantinfo o direito dela de não pegar covid e já ouviram que quem ama protege", comenta outro. "Essa mulher para presidente", pede outra internauta. Fonte: https://oglobo.globo.com
Sobe para 21 número de mortes causadas pelas chuvas no estado de São Paulo
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Última vítima confirmada foi um bebê de quatro meses que chegou a ser socorrido após um desabamento em Itapevi, na Grande São Paulo
Três pessoas morreram após deslizamento de terra em Embu das Artes: região sofre com fortes chuvas desde sábado Foto: Reprodução/Corpo de Bombeiros
O Globo
SÃO PAULO —Subiu para 21 o número de mortes causadas pelas fortes chuvas que atingiram o estado de São Paulo no último domingo. A informação foi confirmada pelo Secretário de Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, Marco Vinholi, em entrevista ao Bom Dia São Paulo, da TV GLOBO, nesta segunda.
Segundo o secretário, a 21ª vítima seria um bebê de quatro meses que chegou a ser socorrido após um desabamento em Itapevi, na Grande São Paulo.
Os óbitos foram registrados em Arujá (1), Embu das Artes (3), Itapevi (1), Ribeirão Preto (1), Jaú (1), Várzea Paulista (5), Franco da Rocha (5) e Francisco Morato (4).
O governo do estado criou uma força-tarefa com Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Polícia Militar para apoiar as dez cidades mais atingidas pelas chuvas. A estimativa é que cerca de 500 famílias tiveram que deixar suas casas. A última informação da Defesa Civil, ainda não atualizada nesta segunda, é de que há oito desaparecidos. Fonte: https://oglobo.globo.com
O imbecil privado
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Com panca de caubói, ele transfigurou-se numa usina de mentiras e insultos
A TV Escola virou alvo de polêmica ao veicular em sua programação a série 'Brasil: A Última Cruzada', que conta com a participação do escritor Olavo de Carvalho Foto: TV Escola
Sérgio Augusto, O Estado de S. Paulo
Os anticomunistas mais fanáticos e perigosos costumam ser aqueles que já militaram do outro lado, não porque íntimos das entranhas da baleia mas porque raramente se conformam com ter sido “enganados” pelos prosélitos da antiga crença. Passionais e agressivos, apelidei-os, faz tempo, de “cornos ideológicos”, tendo em mente cornudos antológicos como Carlos Lacerda, que foi um inflamado integrante da Juventude Comunista antes de se transformar no mais incendiário anticomunista do País.
Tudo no Brasil se deteriorou tanto nos últimos anos que o Lacerda que nos coube ter neste início de milênio foi o dublê de professor, “filósofo” e astrólogo Olavo de Carvalho. Se acreditasse em bruxarias, juraria que o guru do bolsonarismo acabou vítima de um canjerê coletivo. Sua morte, no início da semana, foi saudada nas redes sociais até por quem considera a empatia um dever de todos para com todos, sem exceção daqueles que a desqualificam e hostilizam.
Só o vi uma vez, de longe, na missa de sétimo dia de Paulo Francis, em fevereiro de 1997, mesmo ano em que, com outros escribas, partilhamos a seção de ensaios da revista Bravo!. Ainda nos tangenciamos como prefaciadores da reedição dos romances de Aldous Huxley.
As duas vezes em que nos falamos, por telefone, foi para colher impressões e lembranças de minha convivência com Otto Maria Carpeaux. Ele preparava uma coletânea de ensaios de Carpeaux para a Topbooks, que resultou, aliás, num belo trabalho editorial. Aí veio o novo século e nunca mais nos cruzamos.
Ainda bem. Pois seria constrangedor ter de lidar com o monstro ressentido que Olavo pôs na praça e foi lapidando. Olavo não era “polêmico”, era picareta. Sua magnum opus O Imbecil Coletivo, é um subproduto do Manual do Perfeito Idiota Latino-americano, do jornalista Carlos Alberto Montaner, guzano conspirador exilado na Espanha, que por algum tempo teve livre trânsito na imprensa daqui.
Para Gregório Duvivier, o escatológico panfletário da nossa extrema direita “não conseguiu ter razão um dia sequer”. Olavão foi “o catalisador do que de pior já se pensou e projetou para o Brasil”, lascou Paulo Roberto Pires no site da revista 451.
Tabagista militante, negacionista com ascendente em terraplanismo e fixação anal, o embusteiro com pança de caubói e caçador transfigurou-se numa usina de mentiras, insultos e idiotices (a pandemia não existe, vacinas matam, a Pepsi é fabricada com fetos abortados etc), o que explica por que o governo, rompendo seu macabro silêncio sobre milhares de outras mortes por covid, decretou luto oficial em sua homenagem. Prevaleceu a gratidão. Fonte: https://cultura.estadao.com.br
Cão de jornalista assassinada causa emoção e revolta no México
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Lourdes Maldonado, 67, foi morta a tiros quando voltava para casa, em Tijuana
O cão Chato, diante da porta da casa da jornalista Lourdes Maldonado, assassinada no último domingo, em Tijuana - Yolanda Morales/Reuters
BUENOS AIRES
Já perdi a conta de quantas vezes escrevi, neste blog e em matérias, sobre o assassinato de jornalistas no México, o país mais perigoso da América Latina para se reportar, principalmente sobre corrupção de políticos regionais, narcotráfico e... violência contra o jornalismo.
A morte de Lourdes Maldonado, 67, em Tijuana, no último dia 23, tem todos esses ingredientes. Apresentadora do programa "Brebaje", da emissora Sintoniza Sin Fronteras, Maldonado relatava o que ocorria nos bastidores da rota do narcotráfico na região de Baja California. Jornalistas que se dedicam a isso são alvo de imensas pressões, porque uma rota de tráfico não se trata apenas do trânsito dos narcotraficantes, mas da participação de boa parte da sociedade local, empresários, comerciantes, policiais e as próprias empresas de comunicação, que são compradas ou caladas a tiros para que tratem de qualquer outro assunto, menos da corrupção de autoridades e civis ante o negócio do tráfico.
Alguns dias antes de ser assassinada, Maldonado tinha justamente denunciado a morte de um colega de profissão, o fotojornalista Margarito Martínez. E propôs uma homenagem a ele. As ameaças contra a repórter voltaram a se intensificar. E Maldonado as denunciou, assim como, em 2019, foi até a coletiva de imprensa diária do presidente Andrés Manuel López Obrador, para afirmar que temia por sua vida, que vinha sendo ameaçada por uma empresa de comunicação que a contratara e que estava sendo pressionada por narco-políticos para que saísse da cidade, sem receber os salários atrasados.
AMLO, como é conhecido, respondeu-lhe com uma promessa de que ela teria proteção e segurança. Óbvio que não as deu e, com isso, Maldonado, além de entrar para a trágica cifra dos jornalistas mortos, reforça outra característica dessas execuções. Todas elas estão impunes até hoje, não há ninguém preso por matar jornalistas desde que teve início a chamada "guerra ao narcotráfico", iniciada em 2006 pelo então presidente Felipe Calderón.
Maldonado foi assassinada a tiros dentro de seu carro, enquanto ia para casa, por volta das 19h. Sua morte já é a terceira de um profissional da imprensa neste ano. Foram executados, além dela e de Martínez, ambos em Tijuana, José Luis Gamboa, em Veracruz. Enquanto Maldonado e Martínez foram mortos com armas de fogo, Gamboa foi apunhalado.
Em 2021, foram 9 jornalistas mortos no México, segundo o comitê para a proteção de jornalistas. Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, o México continua sendo um dos países mais mortíferos para o exercício da profissão do mundo e o mais perigoso na América Latina.
Se a impunidade reina nessa tragédia, uma foto comoveu a todos e viralizou nas redes. A do cachorro Chato, que esperou por mais de 24h, sem comer, a cabeça metida entre as pernas, a chegada de sua dona. Maldonado não voltou para casa, e o Chato ficou lá esperando-a, junto aos três gatos que a jornalista havia adotado nos últimos anos. Vizinhos apareceram para alimentá-los e cuidá-los, mas o olhar de Chato era de total desolação e impotência. Se tocou o coração de tantos mexicanos, seria importante que essa imagem também chegasse a comover as autoridades que prometeram proteger a ela e a seus colegas. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Fake news, influência religiosa e isolamento criam bolsões onde vacinação não avança
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Enquanto capitais aplicam dose de reforço, há municípios onde cobertura estacionou nos 20%
Ribeirinho às margens do rio Solimões, no Amazonas. Localidades de difícil acesso ainda têm cobertura vacinal reduzida Foto: BRUNO KELLY / Reuters
Bianca Gomes
SÃO PAULO — Enquanto o Brasil avança para a vacinação de crianças e dá doses de reforço aos adultos, ainda há cidades que só conseguiram completar o esquema vacinal de cerca de 20% de sua população. Entre os motivos apontados por especialistas e secretários de saúde estão a desinformação, o difícil acesso a regiões isoladas e a influência de líderes religiosos que fazem campanha contra a vacinação.
Segundo levantamento do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz (Icict/Fiocruz) com os últimos dados disponíveis, de 8 de dezembro, os bolsões de não vacinados se concentram nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e no norte de Minas Gerais e sul da Bahia.
No município de São Félix do Xingu (PA), o secretário de Saúde Raphael Antônio Souza ampliou o horário de funcionamento dos postos, levou o carro da vacina aos bairros da cidade, que tem cerca de 91 mil habitantes, sorteou celulares para os jovens se vacinarem e até ofereceu prêmio para as equipes de saúde que conseguiram imunizar mais pessoas. Mas nada disso funcionou.
— A população não acredita na imunidade da vacinação. Há muita fake news sobre os efeitos colaterais. Todas as ações foram tomadas, não tem o que fazer — disse Souza, cuja região tem cerca de 20% de vacinados.
O mesmo ocorre a quase 500 quilômetros dali, em Santa Maria das Barreiras (PA), onde o secretário de Saúde Vanderley Oliveira diz que 3 mil pessoas, de uma população de 23 mil, se recusam a tomar a vacina.
— Ouvimos da população que ainda é um experimento, que pessoas estão morrendo. E até que quem toma vacina vai para o inferno — conta ele, acrescentando que o passaporte da vacina foi a única ação exitosa.
O estudo da Icict/Fiocruz mostra que as microrregiões com vacinação mais baixa são também as com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH):
— O Brasil que está falhando na imunização é o Brasil esquecido, o das fronteiras, dos pequenos municípios — diz Christovam Barcellos, sanitarista e um dos pesquisadores do instituto. — São locais com pouca infraestrutura, sem estradas, recursos humanos escassos e orçamento pequeno. Além disso, há influência ideológica e de (líderes de) religiões (antivacina).
É o que se vê em Oiapoque (AP), município de 27 mil habitantes que faz fronteira com a Guiana Francesa. Lá, o prefeito, Bruno Almeira (PRTB), foi flagrado descumprindo medidas sanitárias em bares e baladas.
Além do mau exemplo do prefeito, que contribui para 23% de vacinados, a cidade brasileira é influenciada pelo movimento antivacina do país vizinho. Especialistas ouvidos pelo GLOBO dizem que muitos políticos da Guiana Francesa se elegeram com a pauta antivacina, o que acirrou as tensões internas no território. Profissionais da saúde foram impedidos de trabalhar e a agência regional de saúde teve sua energia cortada. Em dezembro, o país tinha 38% da população vacinada. Procurada, a prefeitura de Oiapoque disse que toda a cidade está imunizada. O levantamento da Fiocruz leva em conta outras cidades da microrregião.
Em Borba (AM), município de 35 mil habitantes da microrregião de Madeira, funcionários da prefeitura dizem que parte dos moradores que não quer se vacinar é influenciada por líderes religiosos antivacina.
— (Líderes) dizem que a vacina não é de Deus, foi uma invenção de laboratório e que já estão sob a proteção divina — diz a secretária de Saúde Ângela Barba.
O município precisa lidar ainda com os 44 mil km² de extensão. A visita a uma das comunidades leva seis dias de viagem e custa quase R$ 30 mil. Destinos onde moram comunidades ribeirinhas e indígenas só têm acesso de barco, diz Ângela:
— É pouco recurso para chegar nesses locais.
Cidades com baixa cobertura vacinal dizem que os números cresceram e que estão atrasados principalmente em função dos problemas de conectividade. Fonte: https://oglobo.globo.com
Ômicron não chegou no pico e próximas 2 semanas serão difíceis, diz especialista
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Em entrevista à CNN, epidemiologista Ethel Maciel destaca dificuldade de se fazer previsões da pandemia por causa do apagão de dados da Saúde e a falta de testes de Covid-
Elis FrancoLeonardo Lopesda CNN
Na semana em que o Brasil completa um ano do início da vacinação contra a Covid-19, especialistas ouvidos pela CNN alertam que o país deve enfrentar, nos próximos dias, o pico da onda provocada pela variante Ômicron, enquanto “corremos contra o tempo para evitar novo colapso de saúde”.
De acordo com dados divulgados pelo Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) na noite de segunda (17), o Brasil atingiu a maior média móvel de casos de Covid-19 desde junho do ano passado. Foram mais de 74 mil casos registrados e 121 mortes provocadas pelas doenças nas últimas 24 horas.
Em entrevista à CNN nesta terça-feira (18), a epidemiologista e professora Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Ethel Maciel, explicou que a piora da pandemia vista neste momento é resultado das aglomerações feitas durante as festas de fim de ano.
“Natal, Ano Novo, as festas de fim de ano no geral demoram duas semanas para que tenhamos o pico de contaminação. E a gente ainda está em um período de férias, onde muitas pessoas tendem a aglomerar”, pontuou.
A professora destaca que muito provavelmente o pico da nova variante do coronavírus ainda não foi atingido. Ela comenta que há uma dificuldade de se obter informações concretas que deem o panorama da pandemia no país por causa do apagão de dados que o Ministério da Saúde teve após um ataque cibernético em dezembro, e pela falta de testes para diagnóstico de Covid-19.
“Não sabemos exatamente os números. Muito provavelmente tem uma subnotificação grande”, disse Ethel.
A epidemiologista comenta que os dados dos efeitos da Ômicron no Reino Unido indicam que ela é cerca de duas vezes mais transmissível do que a Delta.
“Estamos seguindo os dados de outros países que fazem muitos testes, mas acredito que ainda não chegamos no nosso pico. Vamos ter duas semanas ainda difíceis aqui no Brasil”, afirmou. Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br
Discutir com idiotas
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Discutir com idiotas
A característica básica da falta de inteligência é ser cego sobre suas próprias capacidades
Leandro Karnal, Especial para o Estado
O advogado Tiago Pavinatto lançou, pela Edições 70, o livro Estética da Estupidez: A Arte da Guerra Contra o Senso Comum. O livro é muito interessante e serve para refletir o momento curioso em que nos encontramos. O autor mistura bom humor, ironia ácida, referências eruditas e lança catapultas sobre a Jerusalém de Brasília e seus Messias.
Comecei refletindo na epígrafe do livro: “Debater com um idiota é perder de maneiras distintas e combinadas. Perde-se tempo. Perde-se a paciência. E se perde o debate propriamente, porque ele só entenderá argumentos idiotas – e, nesse quesito, o imbatível é ele, não você”. (Reinaldo Azevedo).
A primeira reação ao ler o pensamento é sorrir. Ela já contém uma vaidade: se você gostou, há uma chance de não se considerar um idiota. Quem achou bom, naturalmente, imagina-se portador de cidadania plena na ilha da sabedoria e da razão e olha para os limitados com certa xenofobia. O pensamento de Azevedo termina com frase que, diria meu pai, usa de “contundência”. O termo comum para a conclusão, hoje, é “lacradora”. Sim, o adversário é imbatível porque é... idiota. Há certo consolo retórico e psicológico na conclusão.
Despontam questionamentos válidos: a) como saberei, de fato, que não sou um imbecil? A característica básica da falta de inteligência é ser cego sobre suas próprias capacidades; b) se não posso debater com idiotas e não tenho certeza sobre minha pontuação no campo da genialidade, com mais certeza terei dúvidas sobre quem é sábio ao meu redor e, por consequência, digno de debate; c) se eu perco o debate com idiota porque ele é melhor no manejo do argumento ilógico, com um sábio eu perderei porque ele é hábil no uso da razão; logo, perderei sempre?
Eu já dei este conselho em palestra, citando minha avó: “Não toque tambor para maluco dançar”. Li O Alienista de Machado algumas vezes e me dou o direito ao relativismo no campo da sanidade mental. Analisando algumas passagens da minha vida pretérita, eu teria bons motivos para ocupar ampla suíte na Casa Verde do dr. Bacamarte. Itaguaí poderia conter o universo todo.
Sim, fui louco eventual. Continuarei sendo um idiota? Claro, querida leitora e estimado leitor, já ficou claro aqui que temos idiotas insanos e idiotas perfeitamente equilibrados daquele tipo que, em época menos cuidadosa com palavras, chamaríamos de “pessoa normal”. Como é patológico nos dias atuais identificar alguém como normal, digamos que a maioria das ações e pensamentos de alguns idiotas caracteriza um comportamento médio tido por aceitável pela sociedade.
Duas questões afloram: sou um idiota? Devo discutir com idiotas? Sendo a democracia inconciliável com a censura, estaríamos condenados (como pensou Umberto Eco) à fala onipresente do “idiota da aldeia”? A figura descrita por Eco tem base literária: anda, maltrapilho, incomodando pessoas com frases e gestos, todavia todos o tomam por inofensivo. Aliás, o “idiota da aldeia” tem profunda função social: serve para classificar todo o resto da comunidade como inteligente. É fundamental existir, no grupo, o tipo limitado: a sombra da escassez cerebral dele ilumina a inteligência dos outros.
Nos tempos que despertam desejo daquele meteoro devastador como redenção possível, existe a categoria que Pierre Bourdieu chamou de “meio-cientistas”, chave conceitual analisada por Pavinatto na página 175. Fazem eco a algum tema tratado por pesquisadores, misturam a outros, somam certo senso comum com linguagem elaborada e, le voilà, surge um post devastador contra vacinas... O meio-cientista reúne o pior de dois mundos e causa danos aos idiotas da aldeia e aos sábios.
Que futuro terá nossa sociedade se conseguirmos classificar com quem se pode e com quem não se pode debater? Teremos uma Berlim reconstruída com um muro ao meio? Uma nova Guerra Fria?
Eu tenho alguns princípios para tentar conversa séria. O primeiro é concordância sobre ética e lei. Não discuto com racistas ou defensores da violência contra a mulher, por exemplo. É uma derivação do paradoxo de Karl Popper: não tolerar intolerantes: “A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância”, segundo o austro-britânico.
Há mais condições propícias: a pessoa ouve e fala. A condição de um diálogo é a alternância entre ouvir e falar. Mais uma: existe uma vontade de análise sem fígado, adjetivos, fulanização ou violência verbal. Por fim, os dois lados reconhecem que não são donos absolutos da verdade e o outro tem direito à existência, mesmo que com argumentos contrários.
Na minha concepção, nunca saberemos se somos idiotas ou inteligentes. Porém, o debate com alguns princípios prévios aperfeiçoa meu raciocínio oferecendo o contraditório. Também aumenta minha visão e, eventualmente, muda minha ideia ou a do meu debatedor. Não existem as condições dadas? Melhor ficar de um lado de Berlim que lhe agrade lamentando o limite das pessoas do outro lado do muro. Enquanto isso, leia o livro de Pavinatto e seja feliz. No ano de 2022, os muros serão erguidos a alturas inimagináveis. Esperança média de bons debates... Fonte: https://cultura.estadao.com.br
Juiz condena homem com covid-19 a pagar R$ 3 mil por não se isolar e sair às ruas sem máscara no interior de São Paulo.
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Magistrado da Comarca de Adamantina, a mais de 500 quilômetros da capital paulista, atribui ao réu 'grave ataque à saúde coletiva', mesmo tendo sido orientado a permanecer em isolamento entre os dias 5 e 17 de março de 2021
Pepita Ortega
O juiz Carlos Gustavo Urquiza Scarazzato, da 2ª Vara de Adamantina – cidade localizada a mais de 500 quilômetros da capital paulista -, condenou um homem a pagar indenização por danos morais de R$ 3 mil por não cumprir isolamento social após ser diagnosticado com covid-19, sendo flagrado em locais públicos sem máscara de proteção. O magistrado destacou que houve ‘concreta exposição de pessoas a risco ilícito’ e atribui ao homem ‘grave ataque à saúde coletiva da população’. Cabe recurso da sentença.
O despacho foi assinado na última sexta-feira, 14, a pedido do Ministério Público do Estado. A Promotoria relatou que o homem foi orientado a permanecer em isolamento entre 5 e 17 de março de 2021, sendo que, após ele ser flagrado descumprindo a quarentena, foi lavrado auto de infração e registrado de boletim de ocorrência.
Em sua defesa, o homem reconheceu ter sido diagnosticado com covid-19 e orientado a ficar isolado entre as datas mencionadas pela Promotoria, mas, no dia 13, “não percebendo quaisquer sintomas, decidiu sair de sua residência por estar sentindo-se sufocado e ansioso”.
O réu alegou que, naquele dia, se deslocou até um local, para prática esportiva, onde parou para assistir a uma partida de futebol. Já no dia 14 de março de 2021, relatou que “estava em um corredor de passagem para outros locais, pelo que havia mais pessoas no mesmo espaço”.
O homem se disse arrependido, argumentando que já foi penalizado administrativamente, e classificando a multa solicitada pelo MP, no valor de R$ 15 mil, como ‘excessiva’, com punição ‘demasiada’.
Ao analisar o caso, o juiz Carlos Gustavo Urquiza Scarazzato apontou que a conduta do réu se enquadra na lei que trata das medidas de enfrentamento da pandemia – dentre elas a quarentena e o isolamento social, e a responsabilização em caso de não cumprimento das medidas impostas, com atitudes que aumentem o risco de contágio para a população.
“O incremento deste risco configura lesão jurídica indenizável ao direito difuso ao ambiente com padrões sanitários que decorrem da opção normativa de nossa sociedade”, frisou o magistrado.
Segundo o juiz, no caso há ‘inegável dano social’, justificando o pagamento de indenização. O magistrado destacou que a conduta do réu agravou ‘os nada insignificantes’ riscos de disseminação do Sars-Cov-2, eis que flagrado na via pública sem o uso de mascara facial, mesmo tendo total conhecimento de que estava infectado pelo vírus.
“Esta conduta tem aptidão concreta para expor a coletividade a riscos decorrentes do comportamento individual irresponsável. Efetivamente, o contexto pandêmico evidência a relevância de direitos difusos, cujos titulares são indefinidos, mas que nem por isso são menos relevantes e podem sofrer menoscabo em razão da conduta irresponsável”, escreveu.
Para o juiz, a conduta ‘repercutiu de forma grave sobre o direito difuso à preservação de ambiente minimamente saudável e que atenda a parâmetros socialmente toleráveis de risco’. “Portanto, o incremento deste risco configura lesão jurídica indenizável ao direito difuso ao ambiente com padrões sanitários que decorrem da opção normativa de nossa sociedade”. Fonte: https://politica.estadao.com.br
BBB 22: Cearense já tem mais de 3,1 milhões de seguidores no Instagram
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Vinícius nasceu em Juazeiro do Norte, mas morava no Crato antes de entrar no reality show
Por Redação
Mesmo antes de sua estreia do BBB 22, o cearense que integra o elenco deste ano, Vinícius, já contava com mais de 2,7 milhões de seguidores somente no Instagram. Agora, após os primeiros dias que o programa começou a ser transmitido, Vyni, como o participante é conhecido na rede social, já conta com uma marca superior a 3 milhões. O cearense, nasceu em Juazeiro do Norte, mas foi criado na cidade do Crato. Na internet, ficou conhecido como “Influencer baixa renda”.
Vinícius é o integrante do grupo Pipoca com mais seguidores no Instagram. Logo atrás dele está Eslovênia, também nordestina, com mais de 900 mil seguidores. Até o apresentador Marcos Mion comentou sobre o grande número de seguidores de Vyni.
“Vyni já ter mais de 2M de seguidores sem nem as pessoas conhecerem ele de fato é resultado do efeito fenômeno Gil do Vigor + Juliette! A expectativa já tá alta em cima dele e ainda nem começou! Isso pode ser bom ou ruim…o que vc acha?”
No domingo (16), a equipe que está administrado as redes sociais de Vinícius comemorou o feito.
“Não, minha gente, pelo amoooor de Deus! Como lidar com isso? Como?? Lampiões são os melhores e tá aí a prova pra quem quiser ver! 2M no Instagram em tempo recorde! Não estamos sabendo lidar, socooooooorro”. Fonte: https://marciatravessoni.com.br
Racismo religioso: uma conversa urgente!
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Tentativa de destruição das religiões de matriz africana é mais uma face do racismo
Pessoas participam da 12º Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro. - Ricardo Borges/Folhapress
Lucas Obalera
Homem negro de Candomblé. Cientista social pela PUC-Rio e mestrando de filosofia na UFRRJ. Pesquisador-ativista na área de relações raciais. Como escritor e poeta, desenvolve trabalhos autorais sobre racismo religioso e também que buscam afirmar e difundir a beleza e os valores político filosóficos das religiões de matriz africana. Em 2019, publicou o ebook “Por uma perspectiva afro religiosa: estratégias de enfrentamento ao racismo religioso”
Iniciamos esse texto fazendo um convite a você leitor (a): consegue imaginar igrejas cristãs indo ao STF (Supremo Tribunal Federal) defender a constitucionalidade de seus rituais? Ou o Conselho Tutelar, junto à polícia, retirando da mãe a guarda de uma criança por ela fazer catequese? Ou mesmo igrejas sendo invadidas, apedrejadas e incendiadas?
Se os valores, práticas culturais e religiosas dos europeus fossem criminalizados, demonizados, perseguidos e destruídos na história do Brasil, a resposta seria sim. Mas o fato é que essas indagações baseiam-se em casos reais que aconteceram recentemente com afrorreligiosos e terreiros.
Estamos falando de agressões verbais, simbólicas, físicas, psicológicas e patrimoniais que encontram no racismo e no aprimoramento da lógica colonial-moderna brasileira uma terra fértil para sua legitimação e perpetuação.
Essas provocações buscam chamar a atenção para as dinâmicas raciais implícitas ao processo de perseguição e tentativa de destruição das religiões de matriz africana e, portanto, tratar desse cenário de violência como mais uma face do racismo.
Apresentar o debate nesses termos, isto é, assumir racismo religioso como uma categoria, nesta presente reflexão, tem o intuito de visibilizar o quanto do processo dessa violência está relacionado com um projeto de poder branco-cristão ocidental. Projeto que tem na demonização aos terreiros uma ferramenta de ruptura entre pessoas negras de diversas denominações religiosas e que também afasta-nos de nossa ancestralidade, história, memória e das nossas potencialidades culturais oriundas de nosso paradigma cultural negroafricano.
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Esse entendimento dialoga com as reflexões de Frantz Fanon sobre o sistema colonial. Para ele, o "opressor devido à sua autoridade impõe ao sujeito colonizado novas maneiras de ver e, de uma forma singular, um juízo pejorativo acerca das suas formas originais de existir".
Percebem como há uma espécie de continuidade, um processo sistemático de destruição de um modo de vida negroafricano?
Uns ainda podem estar se perguntando o que isso tem a ver com os terreiros? Tudo! Diante de toda tentativa de esfacelamento cultural, espiritual, psicológico, territorial, social, familiar e político provocado pelo Estado e igrejas cristãs no Brasil, foram os terreiros um dos espaços de subversão aos efeitos perversos impostos aos africanos e seus descendentes.
Foi a reorganização negra nos terreiros um dos acontecimentos fundamentais à preservação e continuidade de nossos modos de vida, pensamento e de percepção sobre o mundo negroafricano e, consequentemente, de nossas vidas.
Os valores civilizatórios do povo negro que foram preservados dentro dos terreiros expressam a pluralidade da nossa existência, a diversidade religiosa na nossa história e o nosso encontro com uma forma negra de pensar o sagrado, que sempre significou um perigo para uma lógica de domínio que tenta se colocar como universal e que se encarna em uma produção religiosa que gera morte, não somente física, mas também social.
Estamos falando de um contexto religioso que opera no limite da existência humana, no qual nossa humanidade é violentada e armas são apontadas em direção aos nossos corpos.
É nessa conjuntura de uma teologia necrosada que banaliza a vida e tenta paralisar o povo negro e sua afro-religiosidade, que uma necroteologia se move através das estruturas de morte construídas contra as comunidades de terreiro no país. Essa lógica de morte que está presente no racismo religioso tem servido de ferramenta de inimizade e separação do povo negro com a sua identidade.
O racismo religioso não somente usa do instrumento da religião e da construção teológica para demonizar todo um povo, ele também organiza as diversas violências contra as comunidades de terreiro dentro do pensamento religioso.
Vivemos um momento único na história brasileira, nunca tivemos tantas pessoas evangélicas e isso nos aponta uma transição religiosa que vem se organizando politicamente.
Junto com isso também estamos presenciando o aumento da violência contra os terreiros. Mas é importante pontuar que 59% dos evangélicos brasileiros são negros, portanto o nosso desafio enquanto comunidade negra é urgente.
O racismo continua usando nossos corpos para operar violências e a sua face religiosa contribui intencionalmente para uma fragilização da comunidade negra em torno de um projeto político de enfrentamento a essa realidade de morte que tenta apagar nossa história, religiosidade e ancestralidade.
A comunidade negra cristã para dar conta das causas e consequências do racismo religioso, precisa enfrentar as teologias de morte que se levantam contra os povos de terreiro, pois são essas teologias de herança colonial que constroem a ideia de um deus branco-ocidental que autoriza a nossa escravização, demoniza as religiões tradicionais de matriz africana e transforma as nossas vidas em propriedades do Estado, que pode nos prender, nos fuzilar e relativizar as violências que as religiões de matriz africana sofrem.
É preciso aprender, dialogar e construir com o povo de terreiro alternativas revolucionárias à realidade de morte produzida por essa religiosidade de morte. Afinal, quando enfrentamos o racismo religioso fortalecemos um projeto político e civilizatório de todo o povo negro.
Sonhar, planejar, projetar, articular e atuar na direção de realização de outros mundos possíveis a partir de nossos referenciais culturais negroafricanos, é preciso! Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Casos de síndrome respiratória aguda grave crescem 135% no Brasil, aponta Fiocruz
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O novo boletim Infogripe, da Fiocruz, mostra que houve um aumento de 135% casos de síndrome respiratória aguda grave entre novembro e as três últimas semanas. O número passou de 5,6 mil casos para 13 mil. Os dados, divulgados neste sábado, apontam que esse aumento foi consequência tanto da epidemia de gripe quanto da retomada do crescimento de casos de Covid-19. O estudo indica, ainda, que apenas o Rio e Roraima não apresentam tendência de alta no longo prazo. Fonte: https://cbn.globoradio.globo.com
Lancha “Jesus” foi a mais atingida por rocha que desabou em Capitólio
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Segundo os bombeiros, todos os mortos na tragédia eram passageiros da embarcação. Como a sabedoria cristã explica tragédias como esta?
Alancha “Jesus” foi a mais atingida pelo paredão de rocha que desabou no Lago de Furnas, em Capitólio, MG.
De acordo com o porta-voz do Corpo de Bombeiros, Pedro Aihara, a lancha “Jesus” levava dez turistas. Todos morreram no impacto do paredão.
Ainda de acordo com os bombeiros, pelo menos outras outras três pequenas embarcações estavam próximas ao paredão no momento em que a rocha desabou. Alguns turistas tiveram ferimentos leves e ao menos dois foram hospitalizados.
Segundo a imprensa local, os dez mortos que estavam na lancha “Jesus” são da mesma família. Entre eles, uma criança.
A tragédia com a lancha “Jesus”
Depois que o nome da embarcação mais impactada foi divulgado, muita gente começou a questionar o “paradoxo” de uma lancha com o nome de Jesus ter sido duramente atingida nesta tragédia. “Onde estava Jesus naquela hora?”, perguntam.
Alguns até se lembraram da parte do Evangelho de Marcos, que narra o episódio em que Jesus estava na barca com os discípulos quando um forte vendaval enche a embarcação de água, mas Ele acalma a tempestade e todos sobrevivem.
É claro que este trecho da Bíblia – assim como muitos outros – não pode ser interpretado de forma literal. Não se pode, tampouco, tentar usá-lo para questionar o motivo pelo qual Jesus não teria salvado da morte os passageiros de uma lancha com seu nome. O trecho, na verdade, é mais um ensinamento sobre a fé.
Mas por que Deus permite tragédias naturais?
Há muito dos desígnios de Deus que a nossa condição humana não permite compreender. Porque ele permitiria que o um cânion caísse sobre uma lancha com o nome de Seu filho e matasse outros dez filhos seus?
A resposta pode ser difícil, mas a certeza é que Deus não é indiferente ao nosso sofrimento.
Não podemos dizer que as tragédias sejam “obras de Deus”. Pelo menos não no sentido de serem desejadas por Ele como tais. Inclusive nestas situações de desastre, o sofrimento de Cristo está unido ao das pessoas envolvidas, porque Jesus tenta levar todos até Ele.
Deus castiga?
João Paulo II recorre ao exemplo de Jó para ilustrar que as catástrofes não podem ser consideradas castigos de Deus. A vida de Jó, de fato, foi repleta de sofrimentos. Seus amigos até diziam que ele teria feito algo ruim para merecer tanta dor. Mas João Paulo II adverte:
“Se é verdade que o sofrimento tem um sentido como castigo, quando ligado à culpa, já não é verdade que todo o sofrimento seja consequência da culpa e tenha caráter de castigo. A figura do justo Jó é disso prova convincente no Antigo Testamento. A revelação, palavra do próprio Deus, põe o problema do sofrimento do homem inocente com toda a clareza: o sofrimento sem culpa. Jó não foi castigado; não havia razão para lhe ser infligida uma pena, não obstante ter sido submetido a uma duríssima prova.”
Enfim, não podemos dizer que Deus castiga, que nos envia tragédias naturais e a morte para nos provar. Mas podemos afirmar que, através da nossa dor, nos convida a nos aproximar Dele, nos aproximar de um Deus que não poupou nem seu Filho do sofrimento. Fonte: https://pt.aleteia.org
Perdida durante conexão da Gol, cadela Pandora segue desaparecida
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O caso, que ocorreu em Guarulhos, entra para a série de polêmicas envolvendo viagens de avião com animais
O garçom Reinaldo Junior e a cadela Pandora (Foto: @reinaldojuniorpandora/ Instagram/ Reprodução)
POR YARA GUERRA
No dia 15 de dezembro de 2021, o garçom Reinaldo Junior, de 39 anos, viajava com a sua cadela Pandora à cidade de Navegantes (SC), quando um pesadelo se iniciou. Durante uma conexão do voo da Gol no aeroporto de Guarulhos (SP), o animal fugiu da caixa de transporte e desapareceu.
Desde então, o tutor – que havia embarcado em Recife (PE) – distribui panfletos pelos bairros da cidade e pede ajuda através das redes sociais em busca de sua “filha”, como a chama.
Para embarcar Pandora, Reinaldo pagou uma passagem de R$ 850, além dos R$ 650 obrigatórios pela caixa de transporte. Apesar de afirmar que este não era o perfil de sua cadela, Reinaldo foi informado que ela corroeu a caixa e, em seguida, fugiu.
Em nota, a Gol anunciou: "Na manhã da quarta-feira (15/12), a cadela Pandora, animal de estimação de Cliente proveniente de Recife (REC), que faria conexão em Guarulhos (GRU) com destino a Navegantes (NVT) escapou da caixa de transporte durante processo de conexão em GRU. Pelas câmeras de segurança, foi possível apurar que ela fugiu pelo pátio, invadiu o Terminal de Cargas do aeroporto, seguiu sentido a rodovia Hélio Smidt, mas depois não foi mais vista.
A Companhia lamenta muito o incidente e está agindo de todas as formas para encontrar Pandora e devolvê-la ao dono. Para isso, contratou a “Busca Pet”, empresa especializada que conta com cães farejadores. Os trabalhos foram feitos ao longo da quarta, quinta e sexta-feira, mas devido às chuvas, as pistas sensoriais que poderiam ser usadas pelos cães da empresa foram perdidas. A empresa segue apoiando nas buscas neste final de semana.
No entanto, a companhia aérea encerrou o pagamento do hotel onde Reinaldo estava hospedado nesta segunda-feira, dia 3 de janeiro.
Desde o início das buscas, o garçom solicitou à Gol e ao GRU Airport as imagens das câmeras de segurança para conferir se encontrava o animal. No dia 3, o tutor obteve as filmagens através da polícia, que mostram Pandora perdida no aeroporto de Guarulhos.
São as mesmas imagens às quais a Gol se refere na nota publicada. Nelas, funcionários do aeroporto percebem a presença da cadela correndo pelo terminal de cargas, mas nada fazem para resgatá-la. Às 9h59, a câmera registra Pandora passando pelo gramado perto de uma das guaritas. É o último registro que se tem do animal.
Reinaldo continua panfletando em busca de Pandora e diz descartar a apresentação no trabalho em um restaurante na Suíça, com salário de quase R$ 5 mil, no próximo dia 25, se ela não for encontrada até a data.
Desde o dia 4 de janeiro de 2022, o garçom conta com o auxílio da advogada Antilia Reis para a defesa do caso. Em publicação no Instagram, Reinaldo escreveu:
"A advogada ativista Antilia Reis está defendendo Pandora e minha família desde ontem e está tomando todas as medidas cabíveis judiciais, cíveis e criminal contra a Gol e os responsáveis pelo desaparecimento da Pandora".
No vídeo, Reinaldo diz que, devido à cessão do pagamento do hotel pela Gol, está indo dormir no guichê da companhia aérea, no aeroporto de Guarulhos, junto à sua mãe. Ele também mostra a suposta caixa de transporte utilizada por Pandora durante o voo, intacta.
Hoje, dia 6 de janeiro de 2022, Reinaldo compartilhou em suas redes que os advogados de sua defesa conseguiram uma liminar que obriga a Gol a não apenas custear a sua hospedagem e alimentação, como também empreender esforços para procurar a cadela.
Abaixo assinado e outros casos
Reinaldo também organizou um abaixo-assinado para pedir condições mais dignas de transporte para os animais. Afinal, não é a primeira vez que polêmicas sobre o tema surgem.
Em setembro de 2021, um filhote da raça Golden Retriever chamado Zion morreu após um voo da Latam entre São Paulo e Rio de Janeiro.
De acordo com a sua tutora, o voo em que o cachorro foi transportado chegou no Aeroporto do Galeão, no Rio, às 13h50. Mas o cão só foi lhe entregue às 15h30 e estava quase morto. Ela diz que o Zion ficou muito tempo no calor e, poucas horas depois, morreu.
Na ocasião, a Latam informou que seguiu todos os procedimentos de aceitação e transporte, e que atende rigorosamente aos regulamentos das autoridades nacionais e internacionais.
Já em outubro, o cachorro Weiser, da raça American Bully, embarcou em Guarulhos, também num voo da Latam, com destino a Aracajú (SE). Ao chegar à capital sergipana, o animal, com pouco mais de quatro anos, estava morto.
Segundo a Latam, o laudo veterinário apontou que cachorro morreu por asfixia depois de roer parte da caixa de madeira em que era transportado. A companhia reforçou que seguiu todos os procedimentos requeridos no transporte de animais. Fonte: https://oglobo.globo.com
Voo fretado que partiu da Itália tem 125 passageiros diagnosticados com Covid-19 ao pousar na Índia.
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Aeroporto de Amritsar teve fila de ambulâncias para levar os infectados ao local onde farão quarentena; autoridades locais temem avanço da variante Ômicron no país
AMRITSAR, ÍNDIA — Um voo fretado que partiu da Itália com destino à Índia teve, na quarta-feira, 125 passageiros com teste positivo para Covid-19 assim que desembarcaram na cidade de Amritsar. Os diagnosticados com a doença foram colocados em isolamento, segundo as autoridades locais.
Ao todo, a aeronave que decolou em Milão tinha 179 passageiros. Destes, 19 ficaram isentos da testagem por serem crianças ou bebês. As informações são da BBC.
Redes de televisão indianas registraram ambulâncias enfileiradas do lado de fora do Aeroporto Internacional Sri Guru Ram Dass Jee, em Amritsar, para levar os infectados. As imagens também mostram centenas de pessoas do lado de fora dos portões de entrada.
A Índia registrou até agora mais de 35 milhões de casos de Covid e cerca de 482.000 mortes pelo vírus. Nas últimas 24 horas, o país teve 325 mortes confirmadas, mas apenas uma ligada à Ômicron.
Autoridades de saúde indianas afirmam que a variante Ômicron está predominante no país e recomenda que aglomerações sejam evitadas. Fonte: https://oglobo.globo.com
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