A população e a rua.
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A população e a rua
Políticas públicas são pífias por cercear autonomia
Padre Julio Lancellotti
Vigário episcopal para a população de rua da Arquidiocese de São Paulo
A população em situação de rua cresce em todo o Brasil e nas grandes cidades do mundo. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não faz o censo dos que sobrevivem nas ruas por considerá-los sem domicílio. Já o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta que há 220 mil pessoas pelas ruas das cidades do país.
A população em situação de rua é heterogênea e necessita de propostas que comtemplem a diversidade humana. Respostas únicas, como centros de acolhida, não respondem mais às reais necessidades. Precisamos ampliar respostas que priorizem a autonomia, a não burocratização e a não institucionalização. Nesse sentido, a locação social e o acesso às políticas de moradia são fundamentais. O binômio moradia e trabalho são inseparáveis.
As respostas das chamadas políticas públicas têm sido ineficazes e pífias por serem insuficientes e cerceadoras da autonomia. É comum ouvir dos administradores públicos: “Há vagas sobrando!”. As autoridades esquecem que quem precisa de vagas são carros. Pessoas precisam de lugar! Lugar com significado, pertencimento e autonomia.
As cidades são muitas vezes governadas pela especulação imobiliária. As pessoas são expulsas das regiões centrais, invisibilizadas, reprimidas e tratadas com repressão e violência. A propriedade e a especulação ferem e matam.
Conviver com a população em situação de rua é resistência e denúncia da opressão e da banalização da miséria a que são submetidos. A vida, em todas as dimensões, é negada e reprimida. Não se levam em conta os sentimentos, as emoções. A sexualidade é negada, e a diversidade, reprimida e moralizada.
Respostas humanizadoras são prementes! Não aceitamos a zeladoria urbana que considera as pessoas como lixo, que furta seus poucos pertences. Não aceitamos segurança pública racista que sempre os trata como suspeitos. A população em situação de rua não é toda dependente de álcool e de outras drogas. Muitos padecem de sofrimento mental, são pessoas que perderam quase tudo na vida e esperam resistir e superar desafios imensos.
Todos os dias me pedem trabalho, querem ser reconhecidos. Precisam ser reconhecidos e tratados com respeito e humanidade.
Refugiados urbanos, expulsos e indesejáveis. Dizem sempre: “Leve para casa!” Queria que fossem para uma casa. A casa deles, onde tivessem a chave, a cama, a mesa e os alimentos. As pessoas que sobrevivem, que sofrem e morrem pelas ruas nos questionam a construir uma cidade mais humana, que tenha lugar para todos.
Não podemos idealizar nem demonizar, mas humanizar. Nem flores nem bombas. Mas, sim, respostas humanas e dignas! Neste tempo de pandemia, precisamos refletir e nos comprometer a olhar com compaixão o sofrimento dos descartados, que não têm sequer onde lavar as mãos, onde dormir com privacidade e proteção e praticar o isolamento social.
Não são as pessoas em situação de rua que adulteraram álcool em gel nem superfaturaram respiradores durante a pandemia. Muitos ficaram abandonados pelas ruas e praças à espera de socorro —que, em vários lugares, tardou a chegar. As redes hoteleiras poderiam ter sido mais solidárias e acolhedoras.
Os consultórios de rua deram exemplo e testemunho de presença, como na cidade de São Paulo. Aqui, é comum dizerem: “Há mais casa sem gente do que gente sem casa”.
As ruas não são lugares para ninguém viver —e muito menos para morrer! Que os sofrimentos, ameaças e ataques destes tempos nos ajudem a lutar para sermos fiéis e não desanimarmos na busca de mais fraternidade e partilha.
A renda mínima será uma boa resposta em todo o país, mas que poderia ser iniciada em nível municipal para que as desigualdades desapareçam e as pessoas em situação de rua cresçam em esperança e possibilidades.
Reprimir e criminalizar é pouco eficiente, além de desumano, e não dignifica ninguém. A coragem de considerar fraternalmente a população em situação de rua é um desafio para todos e todas que se consideram humanos e dignos de credibilidade. Fonte: www1.folha.uol.com.br
O dilema das redes sociais
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Em sua bolha, o indivíduo tem a sensação de tudo entender pelas teorias conspiratórias
Acabo de assistir ao documentário sobre as redes “The Social Dilemma”. É assustador mesmo para mim, que tenho tratado do tema, sobretudo pelo ângulo das fake news e teorias conspiratórias que impulsionam o tecnopopulismo de direita.
Uma das razões para ampliar minha abordagem do tema é contar com depoimentos de insiders, pessoas de dentro do universo tecnológico que trabalharam e ajudaram a construir plataformas como Twitter, Facebook, Instagram e YouTube.
A maior parte da crítica disponível até então era de observadores de fora desse universo. Outra limitação de meu enfoque era observar apenas as consequências negativas das redes sociais no universo político, gerando uma atmosfera de ódio e mentiras.
Ao ver o documentário, fica claro para mim que as consequências políticas foram apenas um subproduto diante da tarefa central: usar a insegurança e a ansiedade das pessoas para torná-las dependentes do uso das redes e, com o acúmulo dos seus dados, impulsionar vendas.
Isso não chega a ser uma descoberta. O interessante é ouvir de alguém que encontrou o Facebook nos seus primórdios e teve como tarefa descobrir uma forma de fazer dinheiro com aquilo.
Quase todos os talentos contratados no início viam nas redes sociais algumas de suas inegáveis qualidades: unir famílias, ampliar o conhecimento coletivo, facilitar a solidariedade.
O caminho para financiar era a publicidade. Ela seria mais eficaz quanto maior o tempo de permanência do usuário, e muito mais eficaz também, na medida em que, conhecendo sua personalidade, às vezes mais profundamente do que ele próprio, fosse possível ampliar seu consumo.
Essa é a matriz que acabou produzindo as aberrações político-sociais que vivemos hoje. A radicalização política é necessária para prender a atenção das pessoas. As fake news são atraentes diante de uma realidade tediosa.
Isolado em sua bolha, o indivíduo tem a sensação de tudo compreender pelas teorias conspiratórias. Se alguém diz que pedófilos se reúnem no porão de uma pizzaria, ele tenta invadi-la armado de um fuzil, apesar de a pizzaria nem ter porão.
Se alguém acredita que a Terra é plana, será alimentado com inúmeras interpretações que fortalecem essa ilusão. Na busca do Google, dependendo da região, o aquecimento global aparece como uma fraude ou uma tese científica.
O problema central é que, ao contrário da TV ou do cinema, a inteligência artificial tende a se modificar num ritmo cada vez mais alucinante. Alguns dos participantes do documentário preveem que o processo deve acentuar polarizações e produzir guerras civis. Mas é evidente que algo pode ser feito para atenuar esses imensos efeitos negativos do avanço tecnológico.
Certamente não é criando comissão da verdade, como queriam alguns parlamentares brasileiros. Apesar de assustador, ou por causa disso, o documentário nos estimula a buscar soluções.
Às vezes invejamos a intimidade das crianças com essas novas linguagens, um mundo fantástico se desenrolando com o simples toque de seus dedinhos. Mas nossa geração intermediária talvez possa contribuir com suas lembranças do mundo real. Outro dia, falando sobre o tema, lembrei-me de que muitos de nós foram influenciados pela filosofia do Pós-Guerra, o existencialismo. Uma de suas frases lapidares, de Jean-Paul Sartre, talvez fosse de utilidade para os jovens: o inferno são os outros.
Assim como é preciso estimular o estudo de ideias conflitantes, talvez compense retirar do armário o antigo conceito de autenticidade, que estimula a pessoa ser ela mesma, independente de likes, dislikes e ofensas grosseiras.
Voltando ao plano político, uma das questões básicas é achar o caminho para limitar o acúmulo de informações sobre as pessoas. Um dos entrevistados chegou a falar de impostos para reduzir o intenso consumo de dados pessoais pelas empresas. Não sei se é por aí.
Alguém no documentário lembrou que essas gigantes tecnológicas e a indústria das drogas são as únicas que chamam seus clientes de usuários. É um pouco exagerado, mas depois de ver “The Social Dilemma”, creio que todo mundo vai se perguntar até que ponto está viciado nas redes sociais e quais os caminhos da libertação. Fonte: https://oglobo.globo.com
Batida frontal entre caminhão e van deixa 12 mortos e 1 ferido na BR-365, em Patos de Minas
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Acidente foi registrado na madrugada deste domingo (20), próximo ao trecho conhecido como 'Curva dos Moreiras'.
Por Nathália Alves e Paulo Barbosa, G1 Triângulo e Alto Paranaíba
Uma batida frontal entre um caminhão e uma van na BR-365 deixou 12 mortos e 1 ferido em Patos de Minas (MG), na madrugada deste domingo (20).
Segundo o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, os mortos são 11 passageiros que estavam na van, que seguia para Patrocínio (MG), e o motorista do caminhão, que tem placa de Itabaiana (SE).
Um passageiro da van de 26 anos foi socorrido para o Hospital Regional de Patos de Minas em estado grave, com ferimentos na cabeça, no abdome e no joelho.
Os corpos foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Patos de Minas, que ainda não divulgou a identidade de todas das vítimas, apenas uma foi identificada.
O corpo do motorista da van, de 27 anos, e dos passageiros que morreram serão levados para as cidades de São João de Minas, Varzelândia, Brasília de Minas e Januária, todas no norte de Minas. Já o corpo do condutor do caminhão, de 31 anos, será encaminhado para Itabaiana, no Sergipe.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a suspeita é que o motorista da van tentou desviar de uma árvore que caiu na pista por conta de uma queimada e atingiu o caminhão que estava no sentido contrário.
"A árvore na estrada pode ter sido o resultado de uma queimada às margens da rodovia. A base da árvore estava queimada, danificada pelo fogo. Ela caiu e bloqueou metade da pista de rolamento", explicou o PRF João Alvarenga.
O acidente ocorreu no km 373 da rodovia, num trecho conhecido como Curva dos Moreiras. Os bombeiros informaram que a van seguia para Patrocínio. O trânsito foi totalmente interditado até as 5h30 e a pista foi totalmente liberada às 8h, segundo a PRF.
Na tarde deste domingo, o Corpo de Bombeiros afirmou que a van transportava trabalhadores rurais do norte de Minas, da região de São João da Ponte, e estavam em Patrocínio para a colheita do café.
Além do corte dos galhos da árvore que estavam na pista, os militares também realizaram a supressão da mesma, pois o tronco estava comprometido.
Os bombeiros disseram ainda que foram acionados, neste sábado (19), para atuação em vários incêndios de grandes proporções em fazendas. Contudo, a corporação afirma não teve como precisar se a localização do acidente foi consequência de uma das queimadas registradas no dia anterior.
Segundo acidente
De acordo com a PRF, cinco minutos após a pista ter sido totalmente liberada, um segundo acidente foi registrado.
Batida traseira entre dois caminhões em Patos de Minas (MG) — Foto: Paulo Barbosa/G1
A PRF informou que por pressa e falta de atenção, um caminhão bateu na traseira do outro, espalhando a carga pelo local.
Já o Corpo de Bombeiro disse que um dos veículos teve uma pane elétrica assim que a rodovia foi liberada e não conseguiu sair do local. Com o fluxo do trânsito em andamento, um segundo caminhão não conseguiu desviar e bateu no outro que estava parado na pista.
Um dos condutores ficou preso na cabine e precisou ser retirado pelos bombeiros. Ele estava consciente, sem ferimentos aparentes e recusou atendimento pré-hospitalar e encaminhamento para uma unidade.
Com o impacto da batida, um dos caminhões rodou nas duas pistas e ocupou os dois sentidos. A pista novamente teve que ser interditada e, até o momento, funciona em sistema pare e siga. O trecho será totalmente liberado após a remoção dos caminhões. Fonte: https://g1.globo.com
*25º Domingo do Tempo Comum - Ano A: Um Olhar
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A liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir um Deus cujos caminhos e cujos pensamentos estão acima dos caminhos e dos pensamentos dos homens, quanto o céu está acima da terra. Sugere-nos, em consequência, a renúncia aos esquemas do mundo e a conversão aos esquemas de Deus.
A primeira leitura pede aos crentes que voltem para Deus. "Voltar para Deus" é um movimento que exige uma transformação radical do homem, de forma a que os seus pensamentos e ações reflitam a lógica, as perspectivas e os valores de Deus.
O Evangelho diz-nos que Deus chama à salvação todos os homens, sem considerar a antiguidade na fé, os créditos, as qualidades ou os comportamentos anteriormente assumidos. A Deus interessa apenas a forma como se acolhe o seu convite. Pede-nos uma transformação da nossa mentalidade, de forma a que a nossa relação com Deus não seja marcada pelo interesse, mas pelo amor e pela gratuidade.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de um cristão (Paulo) que abraçou, de forma exemplar, a lógica de Deus. Renunciou aos interesses pessoais e aos esquemas de egoísmo e de comodismo, e colocou no centro da sua existência Cristo, os seus valores, o seu projeto.
EVANGELHO - Mt 20,1-16ª: Atualização.
Antes de mais, o nosso texto deixa claro que o Reino de Deus (esse mundo novo de salvação e de vida plena) é para todos sem exceção. Para Deus não há marginalizados, excluídos, indignos, desclassificados... Para Deus, há homens e mulheres - todos seus filhos, independentemente da cor da pele, da nacionalidade, da classe social - a quem Ele ama, a quem Ele quer oferecer a salvação e a quem Ele convida para trabalhar na sua vinha. A única coisa verdadeiramente decisiva é se os interpelados aceitam ou não trabalhar na vinha de Deus. Fazer parte da Igreja de Jesus é fazer uma experiência radical de comunhão universal.
Todos têm lugar na Igreja de Jesus... Mas todos terão a mesma dignidade e importância? Jesus garante que sim. Não há trabalhadores mais importantes do que os outros, não há trabalhadores de primeira e de segunda classe. O que há é homens e mulheres que aceitaram o convite do Senhor - tarde ou cedo, não interessa - e foram trabalhar para a sua vinha. Dentro desta lógica, que sentido é que fazem certas atitudes de quem se sente dono da comunidade porque "estou aqui há mais tempo do que os outros", ou porque "tenho contribuído para a comunidade mais do que os outros"? Na comunidade de Jesus, a idade, o tempo de serviço, a cor da pele, a posição social, a posição hierárquica, não servem para fundamentar qualquer tipo de privilégios ou qualquer superioridade sobre os outros irmãos. Embora com funções diversas, todos são iguais em dignidade e todos devem ser acolhidos, amados e considerados de igual forma.
O nosso texto denuncia ainda essa concepção de Deus como um "negociante", que contabiliza os créditos dos homens e lhes paga em consequência. Deus não faz negócio com os homens: Ele não precisa da mercadoria que temos para Lhe oferecer. O Deus que Jesus anuncia é o Pai que quer ver os seus filhos livres e felizes e que, por isso, derrama o seu amor, de forma gratuita e incondicional, sobre todos eles. Sendo assim, que sentido fazem certas expressões da vivência religiosa que são autênticas negociatas com Deus ("se tu me fizeres isto, prometo-te aquilo"; "se tu me deres isto, pago-te com aquilo")?
Entender que Deus não é um negociante, mas um Pai cheio de amor pelos seus filhos, significa também renunciar a uma lógica interesseira no nosso relacionamento com ele. O cristão não faz as coisas por interesse, ou de olhos postos numa recompensa (o céu, a "sorte" na vida, a eliminação da doença, o adivinhar a chave da lotaria), mas porque está convicto de que esse comportamento que Deus lhe propõe é o caminho para a verdadeira vida. Quem segue o caminho certo, é feliz, encontra a paz e a serenidade e colhe, logo aí, a sua recompensa.
Com alguma frequência encontramos cristãos que não entendem por que é que Deus ama e aceita na sua família, em pé de igualdade com os filhos da primeira hora, esses que só tardiamente responderam ao apelo do Reino. Sentem-se injustiçados, incompreendidos, ciumentos, invejosos e condenam, mais ou menos veladamente, essa lógica de misericórdia que, à luz dos critérios humanos, lhes parece muito injusta. Na sua perspectiva, a fidelidade a Deus e aos seus mandamentos merece uma recompensa e esta deve ser tanto maior quanto maior a antiguidade e a qualidade dos "serviços" prestados a Deus. Que sentido faz esta lógica à luz dos ensinamentos de Jesus?
Fazer justiça aos últimos: Um Olhar social do Evangelho.
Pe. José Bortolini
Enquanto pautamos nossa vida pelos critérios dos operários da primeira hora jamais alcançaremos a justiça do Reino.
Quais são os últimos da nossa sociedade? Como fazer-lhes justiça? A título de sugestão: Mostrar quanto ganham os políticos e o que sobra para os operários, empregadas domésticas, professores do ensino básico, etc. Onde está a justiça do Reino? Por que há tantos desempregados em nosso país? O neoliberalismo é o melhor caminho para se chegar à justiça do Reino?
*Leia a reflexão na íntegra. Clique no link ao lado- Evangelho do dia.
O mistério da tristeza
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O mistério da tristeza
Depressão é a principal causa do suicídio, mas quem tem não quer morrer: quer se livrar da dor
Já na infância, me acontecia com frequência o que, por falta de vocabulário, eu chamava de “a onda”. Vinha sem aviso, me inundava e me arrastava a um abismo de onde eu não via como escapar. “A onda” era imprevisível. E aterradora.
Eu encontrava conforto num dos volumes d’“O mundo da criança”, mais especificamente na fotografia do que hoje sei tratar-se de um depósito de gás, esférico, de cujo topo emergia uma escadinha helicoidal. Meu sonho infantil não era ser médico, como meu tio, ou advogado, como meu pai — mas encontrar aquela escada e escapar do mundo. Para estar a salvo da “onda”.
Me ensinaram a ler, e li compulsivamente. Nos livros, encontrei onde me proteger do desamparo. Ninguém se deu conta dos sinais — o isolamento, a falta de amigos, de energia (pais sempre têm mais com o que se ocupar, professores têm provas a corrigir). O sofrimento era mudo, incomunicável. Invisível.
Na adolescência, conheci a canção de Paulo César Pinheiro e Dori Caymmi: “Era uma criança tão singela / Só que Deus pôs dentro dela / O mistério da tristeza”. Ainda sem conhecer a palavra “depressão” — e ainda acreditando em Deus — me vi ali, e passei a recorrer a “o mistério da tristeza” quando queria tentar me explicar o inexplicável, entender o ininteligível.
Não aprendi, até hoje, a conviver com a depressão, mas a sobreviver a ela. Descobri que não é incompatível com as responsabilidades que assumi, com o humor que cultivo. Intuí que tem cura — só é preciso corrigir a química cerebral para entender como funciona a linha de montagem dessa angústia aguda e prolongada, mas não infinita. Me permiti conversar com a ideia de suicídio, com o alívio de saber que, se tudo o mais falhasse, sempre haveria a escadinha helicoidal para me pôr a salvo das ondas e tristezas cuja origem era um mistério.
Tornei-me atento aos gatilhos da engrenagem que faz “a onda” se erguer. E aos presságios que antecedem o tsunami: irritabilidade, insônia crônica, sonolência incessante, apatia. O mundo perder a graça, extinguirem-se o apetite, o tesão.
A cada setembro, aparecem os laços amarelos da campanha de prevenção ao suicídio. E me ocorre que a melhor prevenção seja desmitificar essa palavra, desatá-la do seu estigma. E acolher sem julgamento. Compreender que depressão não é falta de fé ou de força. Que não é preciso estar prostrado ou descuidado da higiene para merecer apoio — o mal costuma estar silencioso, encoberto. Que, além da morte física, há a psíquica. Que nada substitui a compaixão, essa intangível capacidade de sentir o que outro sente.
A depressão é uma doença à qual ninguém é invulnerável. Por traços genéticos ou pelas circunstâncias, somos todos suscetíveis a seu assédio. Ela é a principal causa do suicídio, mas quem tem depressão não quer morrer: quer se livrar da dor. E pode chegar o momento em que dor e vida se confundam de tal forma que a vida se torne o preço a pagar para que cesse o sofrimento.
Não há romantização possível para o suicídio, seja ele o desespero de quem se atira do edifício ou o ato longamente amadurecido de deixar autorizada a ortotanásia no testamento vital. Tampouco deve ser tabu. É preciso falar dele, ouvir a voz dos que sucumbiram, como Robin Williams e toda a sociedade dos poetas suicidas — Sá-Carneiro, Sylvia Plath, Torquato Neto, Florbela Espanca, Ana Cristina César. Pensar que talvez seu desconsolo não fosse uma sina, que o desfecho que deram à sua dor não era inevitável.
Não, não sou depressivo. A depressão não me define. Ela me afeta, me limita. Me obriga a estar atento aos gatilhos, a buscar (e aceitar) ajuda. Confere um peso à minha vida, que é compensado com um olhar mais leve, irônico, de quem sabe que viver só faz sentido enquanto valer a pena. Que a qualquer momento uma onda pode vir e levar tudo, e que a felicidade — assim como a tristeza sem fundo, esse demônio do meio-dia — nunca vai deixar de ser um mistério.
Setembro pode ser um bom momento para exercitar a parresia, a coragem da fala franca e da escuta verdadeira. Falar abertamente sobre as emoções; permitir-se ouvir. E estreitar os laços oferecidos pelo setembroamarelo.org.br. Fonte: https://oglobo.globo.com
Professora morre de Covid-19 na frente de alunos durante aula virtual
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Paola de Simone desmaiou enquanto lecionava Relações Internacionais pelo Zoom
Paola de Simone, uma professora de 46 anos, morreu vítima da Covid-19 enquanto lecionava uma aula virtual no curso de Relações Internacionais. Ela estava em sua casa quando desmaiou na frente dos alunos durante a transmissão pelo aplicativo Zoom.
Paola era docente da Universidad Argentina de la Empresa e estava lutando contra a doença havia várias semanas. O caso aconteceu na última quarta-feira (02.09).
De acordo com o jornal "Clarín", a professora começou a passar mal durante a aula, deixando seus alunos preocupados. Eles chegaram a pedir seu endereço para oferecer ajuda, mas ela teria dito que não poderia informar. Foi quando desmaiou e morreu.
Imagens do incidente chegaram a ser compartilhadas na internet, causando indignação nas redes sociais.
Antes de morrer, a professora relatou em seu perfil no Twitter que os sintomas da Covid-19 não davam sinais de melhora conforme o passar dos dias. Ela estava doente há cerca de um mês.
Paola teria sido encontrada já sem vida pelo marido em sua casa. Ele, que é médico e tem uma filha pequena com a professora, não estava na residência na hora da morte.
A universidade onde a professora trabalhava publicou uma nota de pesar nas redes sociais lamentando o incidente.
"Paola foi uma professora apaixonada e dedicada, excelente profissional e uma grande pessoa, com mais de 15 anos de trajetória na UADE", diz o comunicado. Fonte: https://vogue.globo.com
120 anos da morte de Nietzsche, o profeta da morte de Deus
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A condenação do cristianismo
Há um tema central em sua vida e obra que não pode ser esquecido neste 120º aniversário de sua morte: o cristianismo. Nietzsche foi um dos filósofos modernos que mais refletiu sobre ele, e talvez de uma forma mais iconoclasta, como evidenciado em sua obra emblemática “O Anticristo. Maldição sobre o Cristianismo”, onde podemos ler o seguinte julgamento sumário: “Condeno o Cristianismo, levanto contra a Igreja Cristã a mais terrível de todas as acusações que qualquer acusador já teve na boca. Ela é para mim a maior de todas as corrupções imagináveis ... Eu chamo o Cristianismo de a única grande maldição, a única grande corrupção íntima, o único grande instinto de vingança, para o qual nenhum meio é tão venenoso, furtivo, subterrâneo, pequeno – eu o chamo de a única mancha imortal desonrosa da humanidade...”.
Esse julgamento foi registrado na imaginação coletiva de crentes e não crentes. Os primeiros a usaram para anatematizar o filósofo da morte de Deus; os segundos, para reafirmar suas atitudes críticas em relação à religião cristã. A ortodoxia cristã se encarregou de divulgá-lo – às vezes tirando-o do contexto – para ser acusado de razão ao apresentar Nietzsche como o símbolo de um mundo sem Deus e um dos mais ferrenhos inimigos do cristianismo de todos os tempos.
Sem negar a natureza radical de sua posição sobre o cristianismo, acredito que é mais matizado e complexo do que uma leitura rasa de Nietzsche pode nos levar a acreditar. Vou tentar contextualizar.
Desmascaramento da cultura ocidental
A crítica nietzschiana ao cristianismo se enquadra no desmascaramento que faz da tradição ocidental configurada por três fatores: a lógica socrática, o platonismo e o próprio cristianismo, que define como “platonismo para o povo”. Todos os três convergem, em sua opinião, na negação do instinto de vida. A esse respeito, concordo com Eugen Fink, um dos maiores especialistas de Nieztsche, que, para Nietzsche, o cristianismo é “apenas a manifestação mais poderosa na história universal de uma perda de instintos sofrida pelo homem europeu”. Perda que consiste em desvalorizar o mundo verdadeiro, a terra, e em inventar um transmundo ideal, o celestial.
Cristianismo alheio à realidade e inimigo da razão
O cristianismo é alheio à realidade, afirma Nietzsche. Suas causas são puramente imaginárias: a alma, o espírito. Seus efeitos também: graça, pecado, punição, redenção, perdão dos pecados. Opera com uma psicologia imaginária: arrependimento, remorso de consciência. A teologia pela qual é governado mostra o mesmo defeito, pois fala do juízo final, da vida eterna, do reino dos céus. Os seres a que se refere também são imaginários: Deus, espíritos, almas. O cristianismo é, em suma, “uma forma de inimizade mortal, até então insuperável, com a realidade”, lemos no Anticristo.
O Cristianismo é contrário à razão e à dúvida. É mais uma de suas críticas, que deve ser inserida no quadro da crítica geral à moral da resignação. O cristão mergulha na fé e renuncia à razão. Nada na fé “como no elemento mais claro e inequívoco” e afoga a razão nas ondas da credulidade. A dúvida, o simples olhar para um terreno sólido, já é um pecado. Até mesmo o próprio fundamento da fé e a reflexão sobre sua origem são considerados pecaminosos. Dogmas são, portanto, imunizados de todas as críticas.
A religião do ressentimento
O cristianismo é, em resumo, a religião do ressentimento e da compaixão. Nietzsche considera a compaixão um afeto doentio, um instinto depressivo, fraco e contagioso, que gera melancolia, obstrui as leis naturais da evolução e espalha o sofrimento pelo mundo. Precisamente o excesso de compaixão constitui uma das causas da morte de Deus, como o mostra o diálogo de Zaratustra com o último papa, já aposentado. “Você sabe como (Deus) morreu?” “É verdade... que foi a compaixão que o estrangulou?”, pergunta Zaratustra. Ao que o papa aposentado, depois de narrar a evolução de Deus, responde: “Um dia se sufocou com sua excessiva compaixão”.
Jesus, o “bom mensageiro” e Paulo, o “desangelista”
A crítica mais severa recai sobre Paulo de Tarso, a quem ele chama de “desangelista” – em contraposição ao “bom mensageiro” que Jesus era. Nietzsche considera Paulo o verdadeiro fundador, o inventor do Cristianismo, acima do sacerdote, que ele diz ser “a espécie mais viscosa do homem”, cuja missão é ensinar a contra-natureza, e sobre a teologia, “o máximo de propagação da falsidade”.
Da crítica salva Jesus de Nazaré – embora apenas em parte, como veremos em breve –, a quem define como um “espírito livre”, que não obedece a leis ou dogmas; um rebelde que se levanta contra a Igreja Judaica, os padres, os teólogos e a hierarquia dessa sociedade; um “santo anarquista”, que incita os excluídos a se rebelarem contra a classe dominante; um “criminoso político”: por isso foi crucificado; um “grande simbolista”, que só toma as realidades interiores como verdades, concebe o natural e o histórico como ocasião de parábola e o reino de Deus como estado do coração; um “bom mensageiro”, que morreu como viveu e de acordo com o que ensinou. Mas, imediatamente depois, ele o chama de “idiota”, no sentido de uma pessoa iludida, ingênua, sem noção de realidade, que permaneceu na puberdade e não desenvolveu instintos masculinos.
Do choque “corpo a corpo” ao diálogo com Nietzsche
A atitude mais frequente de um setor da teologia contra Nietzsche foi o corpo a corpo, a condenação total de sua filosofia, a rejeição de suas críticas ao cristianismo, qualificando-as como panfletárias e inconsistentes e acusando o filósofo do mesmo ressentimento que ele atribui ao cristianismo. Segundo os teólogos empenhados em salvaguardar a ortodoxia, a morte de Deus anunciada por Nietzsche afunda a humanidade na barbárie e na escuridão, e leva diretamente à morte do ser humano.
Eu creio que é preciso renunciar ao corpo a corpo com Nietzsche e optar pelo diálogo sincero e exigente. Nesse diálogo deve se conceder uma parte não pequena de razão ao filósofo, sobretudo em sua crítica a alguns modelos do cristianismo ainda vigentes hoje: o cristianismo idealista, que estabelece a separação entre a transcendência inteligível e a imanência sensível e apela apressadamente aos valores; o cristianismo caracterizado pelo desprezo do corpo, a negação do eu, o fomento dos instintos de morte e a repressão do instinto de vida; o cristianismo fideísta sem fundamento na razão, o cristianismo estritamente racionalista, que renuncia à narração, à parábola e ao símbolo.
No entanto, tenho que discordar de Nietzsche em aspectos fundamentais da sua teoria do cristianismo. Não posso compartilhar de sua crítica à compaixão. Esta é, para mim, uma dimensão fundamental do ser humano e a opção ética do Deus do êxodo e dos profetas de Israel/Palestina e de Jesus de Nazaré. Em ambos os casos se trata de uma práxis tendente a aliviar o sofrimento humano e a se solidarizar com as pessoas que vivem em situações sub-humanas. E isso não tem nada de fraqueza ou ressentimento, de negação da vida ou de renúncia ao prazer, mas sim todo o contrário: é força da libertação dos oprimidos, caminhos de solidariedade com as vítimas e defesa da vida dos que sofrem e morrem antes do tempo.
No caso de Paulo, é verdade que ele não segue a radicalidade da mensagem e da vida de Jesus de Nazaré e inicia o processo de espiritualização do cristianismo. Mas ele não o inventa. O que ele faz é libertá-lo da estreita estrutura judaica, abri-lo para o contexto cultural helenístico, dando-lhe uma orientação universalista e enfatizando a liberdade e a libertação que Jesus carrega:
“Para sermos livres, Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem sujeitar novamente ao jugo da escravidão... Já não há distinção entre judeu e gentio, entre escravo e livre, entre homem e mulher, porque todos vocês são um em Cristo” (Carta de Paulo de Tarso aos Gálatas 5, 1.3.28).
Por fim, tenho sérias dificuldades em aceitar o termo “idiota”, no sentido de ingênuo, aplicado a Jesus. O profeta galileu não é uma utopia ingênua. Ele tem uma consciência clara da realidade e um senso crítico da história. E isso o leva a entrar em conflito com os poderes religiosos, políticos e econômicos, com a sociedade patriarcal e com o próprio Deus, e a propor uma alternativa humanística de religião e sociedade.
Espero que esta breve abordagem dialética de Nietzsche contribua a escapar dos estereótipos, preconceitos e deformações com as quais, não poucos, pensadores cristãos abordaram o filósofo alemão para condená-lo de forma densa, reconhecer o sucesso de não poucas de suas críticas ao Cristianismo e distanciarem suas avaliações iconoclastas da ética libertadora de Jesus de Nazaré.
Para mergulhar na atitude de Nietzsche em relação ao cristianismo e à figura de Jesus de Nazaré, remeto ao meu livro Imagens de Jesus (Trotta, Madrid). Nele, analiso a imagem muito sugestiva e pouco conhecida de Jesus por Nietzsche. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
AO VIVO- ANGRA DOS REIS. Quarta-feira, dia 19.
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# Tempodecuidar
Cáritas Brasileira/ CNBB- Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Angra dos Reis/RJ-Diocese de Itaguaí.
No mês vocacional continuamos com a nossa campanha #tempodecuidar. Todos os dias, entre 20 e 30 famílias batem à porta do Convento do Carmo com a esperança de ganhar um pouco de alimento. Infelizmente nem sempre podemos ajudar diante da grande demanda neste tempo de pandemia.
Até o momento já doamos mais de 2.000 cestas básicas graças ao apoio da comunidade paroquial e amigos e amigas até mesmo de outros estados e países.
Nós Frades Carmelitas; Petrônio e Marcelo, agradecemos a caridade de todos e todas.
#Tempo de cuidar: Ajude os pobres de Angra dos Reis em tempos de pandemia (Contatos para doação: Convento do Carmo; 3367-3412 (Frei Petrônio). Meu Whatsapp- (21) 982917139. Whatsapp da Conceição Fonseca: 97404-1826)
Jovem de 23 anos torturada até à morte. Dentes foram arrancados à força
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Lizbeth Flores terá viajado para a cidade mexicana de Matamoros para visitar o namorado.
Uma mulher norte-americana foi encontrada morta, sem os dentes, no México, um dia após o seu desaparecimento.
Em entrevista ao jornal Mirror, a mãe de Lizbeth Flores afirma que viu a filha pela última vez a 9 de agosto, momento em que a mulher terá viajado para a cidade mexicana de Matamoros. A mãe de dois meninos teria ido ao México para visitar o namorado.
María Rubio acabou por contactar no dia seguinte o Departamento de Polícia de Brownsville, no Texas.
O corpo de Flores, de 23 anos, foi descoberto a 11 de agosto. Segundo o jornal britânico que cita a polícia de Matamoros, o cadáver apresentava vários ferimentos na cabeça, provocados por uma pedra encontrada no local do crime. As autoridades referiram ainda que os dentes da jovem foram "arrancados à força".
"Estou muito triste pelo que fizeram à minha filha. Custa-me muito a dor pela qual a minha filha passou", afirmou a mãe ao jornal.
O FBI está a investigar o caso, visto tratar-se de uma cidadã norte-americana. Fonte: https://www.cmjornal.pt
Os vivos e os mortos
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Os vivos e os mortos
Convivemos com o horror esterilizado em estatísticas
Mais de cem mil mortos. Como uma bomba atômica, em Hiroshima. Não são mera estatística. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas, dizem os médicos. Não se trata então de mortes, e sim de crimes. Há responsáveis que um dia terão que responder por elas. Eles sabem o que fizeram. Ninguém fala pelos mortos, eles falam por si. Resta saber quem vai ouvi-los.
Convivemos com o horror esterilizado em estatísticas diárias, mesmo se a mídia combate a epidemia com informação e mantém viva a indignação. Todos perdemos a existência real, não só os mortos transformados em números e enterrados em covas rasas. Também os sobreviventes, uma população incorpórea, bustos que se encontram no zoom encenando uma falsa normalidade. Essa vida imaterial cria uma distância entre nós e a realidade, improviso de sobrevivência que, por um lado, nos salva, uma salvação precária que logo se esfuma, por outro, amplia a dor da perda do convívio e a nostalgia do momento em que, passado o perigo, reencarnados, cairemos nos braços uns dos outros.
O preço da sobrevivência será nunca mais escamotear a existência da morte, assim como a urgência e o valor da vida. Ninguém sairá ileso desse mundo virado pelo avesso. Cem mil mortos marcam para sempre a história de um país como a sua maior tragédia e, como uma cicatriz, as gerações que estão vivendo esse pesadelo. A menos que tenhamos nos transformados todos em robôs de nós mesmos.
Não podemos mais ser quem éramos e, ainda não podendo ser outra pessoa, hoje habitamos uma terra de ninguém. Vai passar, sairemos desse território psíquico inóspito.
No fim do túnel brilha uma vacina. Essa promessa pede resiliência e cuidados redobrados. É o mínimo que devemos aos cientistas. Não vamos morrer na praia. A ciência, ao contrário das religiões que se apoiam em dogmas e certezas, trabalha com autocorreção, ensaio e erro — exceto, é claro, na Rússia que faz milagres — e assim progride. Seus tempos não são os das nossas urgências. Que sejam então os das nossas esperanças. Fonte: https://oglobo.globo.com
AO VIVO- ANGRA DOS REIS: Domingo, 16
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Rússia registra primeira vacina do mundo contra covid-19
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Se a vacina der certo, como foi o anúncio feito por Putin, a Rússia ganhará a nova guerra fria em busca de uma proteção contra o novo coronavírus
Por Tamires Vitorio
A Rússia registrou nesta terça-feira, 11, a primeira vacina do mundo contra o novo coronavírus. Na última semana, as autoridades russas afirmaram que a proteção foi capaz de criar uma resposta imune nos voluntários que participaram da segunda (e penúltima) fase de testes clínicos.
“Esta manhã, pela primeira vez no mundo, uma vacina contra o novo coronavírus foi registrada”, disse o presidente da Rússia, Vladimir Putin. “Sei que é bastante eficaz, que proporciona imunidade duradoura”, acrescentou. O presidente também informou que uma de suas filhas foi vacinada contra a covid-19.
“Uma de minhas filhas foi vacinada, tendo participado da fase de testes. Após a primeira vacinação, ficou com 38 graus de temperatura, no dia seguinte tinha 37 graus e pouco. E é tudo”, afirmou Putin.
Se a vacina der certo, a Rússia ganhará a nova guerra fria em busca de uma proteção contra a covid-19. Estudos sobre a eficácia dela devem ser publicados já no final deste mês.
Além de aliviar a crise de saúde mundial, que já matou mais de 730 mil pessoas, seria um golpe nos Estados Unidos e no Reino Unido, que recentemente acusaram o país de hackear seus sistemas para derrubar pesquisas sobre vacinas contra a covid-19.
No sábado, 1, a Rússia informou que promoverá uma vacinação em massa contra o novo coronavírus já em outubro deste ano. A vacina usada seria desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, um projeto que tem causado controvérsia na comunidade científica pela falta da divulgação de dados em relação à efetividade ou não dela para proteger o organismo humano da infecção viral.
É por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, a morte celular, e, então, partir para a próxima vítima.
Especialistas em saúde pública seguem prevendo as vacinas para meados de 2021.
De acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) do dia 31 de julho, 26 vacinas estão em fase de testes e outras 139 estão em desenvolvimento. Das 26 em testes clínicos, 6 estão na última fase. A vacina da Rússia não está presente no relatório da OMS.
A corrida pela cura
Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.
Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.
Nenhum medicamento ou vacina contra a covid-19 foi aprovado até o momento para uso regular, de modo que todos os tratamentos são considerados experimentais. Fonte: https://exame.com
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