Frei Carlos Mesters, O. Carm

  1. O Contexto

Elias parecia forte e invencível no confronto com os profetas de Baal (1Rs 18,20-40). Mas diante da ameaça de Jezabel, ele aparece como é na realidade: fraco e vulnerável, "igual a nós" (Tg 5,17). Com medo de ser morto, foge do país, vai o deserto (1Rs 19,1-3). Como no êxodo e no Karit, Elias é alimentado por Deus, mas ele não percebe a mão de Deus e só quer comer, beber, dormir e ficar longe de tudo (1Rs 19,5). Deus não desiste. O anjo volta uma segunda vez (1Rs 19,7). Finalmente, Elias desperta e, alimentado por Deus, reencontra sua força. Caminha quarenta dias e quarenta noites até a Montanha de Deus (1Rs 19,8).

Elias busca reen­contrar Deus no mesmo deserto onde, séculos antes, tinha nascido o povo no encontro com Deus. Mas a sua busca parece não estar bem orientada. Chegando no Monte Horeb e interrogado por Deus, ele afirma por duas vezes ter muito zelo, mas, na realidade, está fugindo com medo de morrer (1Rs 19,10.14). Ele parece não enxergar bem as coisas, pois diz que ficou sozinho, enquanto havia sete mil que não tinham dobrado os joelhos diante de Baal (1Rs 19,18). Deus o manda sair da gruta e ficar na entrada, pois "Deus vai passar" (1Rs 19,11). Elias sai da gruta, mas a gruta não sai dele. Ele continua com a mesma visão limitada, achando que é ele quem defende a Deus! (1Rs 19,14)

  1. A experiência de Deus: A desintegração de um mundo

Deus vai passar! A nova experiência de Deus desintegra o mundo de Elias. Primeiro, um furacão! Depois, um terremoto! Depois, o fogo! No passado, ao concluir a Aliança com o povo naquela mesma Montanha Horeb ou Sinai, Deus tinha se manifestado no furacão, no tremor da montanha e nos raios de fogo (Ex 19,16). Eram os sinais tradicionais da presença atuante de Deus no meio do povo. Eram estes os critérios que orientavam a Elias na sua busca de Deus. Ele mesmo tinha experimentado a presença de Deus no fogo quando enfrentou os profetas de Baal.

Elias estava fazendo uma coisa certa. Ele buscava Deus voltando às origens do povo. Ele voltou à experiência de Deus no Êxodo. Mas os critérios da sua busca estavam desatualizados. Ele vivia no passado. Encerrou Deus dentro dos critérios! Queria obrigar Deus a ser como ele, Elias, o imaginava e desejava. Por isso acontece o inesperado, a surpresa total: Deus nao estava mais no furacão, nem no terremoto, nem mesmo no fogo que tinha sido sinal da presença de Deus, pouco antes, no Monte Carmelo!

É a desintegração do mundo de Elias. A crise mais violenta e mais dolorosa que se possa imaginar! Cai tudo! Pois se Deus não está aqui nestes sinais de sempre, então Ele não está em canto nenhum! É o silêncio de todas as vozes! Por isso mesmo, abre-se para Elias um novo horizonte

  1. A experiência de Deus: A reconstrução de um novo mundo

Este silêncio total, a língua hebraica expressa-o dizendo: “voz de calmaria suave”, (qôl demamáh daqqáh). As traduções costumam dizer: “Murmúrio de uma brisa suave” A palavra hebraica, demamáh, usada para indicar a calmaria, vem da raiz DMH que significa parar, ficar imóvel, emudecer. A brisa suave indica algo, uma experiência, que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar. “Vacare Deo”! Esvazia a pessoa, para que Deus possa entrar e ocupar o lugar. Ou melhor, Deus entrando provoca o vazio e o silêncio. Silêncio sonoro, solidão povoada!

Elias cobriu o rosto com o manto (1Rs 19,13). Sinal de que ele tinha experimentado a presença de Deus exatamente naquilo que parecia ser a ausência total de Deus! A escuridão se iluminou por dentro e a noite ficou mais clara que o dia. Não é ele, Elias, que defende a Deus, mas é Deus que defende a Elias. É a libertação de Elias. Reencon­trando-se com Deus, ele se reencontra consigo mesmo. A experiência de Deus reconstroi a pessoa e lhe revela a sua missão (1Rs 19,15-18)!

Refeito pelo encontro com Deus, Elias redescobre sua missão (1Rs 19,15-18) e se preocupa em dar-lhe continuidade, indicando Eliseu como sucessor (Rs 19,19-21). Antes, ele queria morrer. Já não via mais sentido no que fazia. Agora, a nova experiência de Deus mudou tudo. Ele volta para o lugar onde queriam matá-lo. Já não tem mais medo. Em vez de querer morrer, quer que sobreviva a sua missão. Sinal de que novamente crê no que faz e deve fazer.

   

Prova-se também com a autoridade da Sagrada Escritura que Elias Tesbita, o primeiro fundador desta religião, usou como veste a capa. Com este hábito cobriu seu rosto no monte Horeb quando Deus passou diante dele. Pôs esta capa sobre Eliseu quando o recebeu por discípulo.

Esta capa ou manto era uma veste redonda que cobria o corpo por cima da outra veste e descia do pescoço até a metade das pernas; era aberta na frente e fechada ao redor; era estreita em cima e amplamente aberta em baixo.

Quando Elias se separou de Eliseu para ir ao paraíso de delícias lhe jogou esta capa.   Com esta capa Elias ensinou que os monges que abraçam esta religião devem levar por cima do hábito a capa branca da maneira que o Senhor lhe mostrou em profecia; vestidos a Sabac (à maneira de Sabac), pai de Elias. Pois antes que lhe nascesse seu filho Elias Sabac viu em sonhos que uns homens vestidos de branco o saudavam.

Com esta visão foi-lhe anunciado como se vestiriam os imitadores que seu filho teria na vida monástica. Vendo Sabac aqueles varões vestidos de branco, conheceu em espírito os religiosos que seu filho havia de fundar. E os viu vestidos de branco porque seriam imitadores de Elias que era o modelo da forma de viver da vida monástica e o imitariam, não só na íntegra brancura da alma, vivendo uma íntima pureza, mas também na brancura do hábito que usavam por cima da veste que cobria seu corpo.

Levar a capa branca significa que os monges que abraçaram esta profissão devem guardar a pureza de seus pensamentos e desejos junto com a pureza do corpo, segundo o mandamento do Apóstolo ao dizer: “Purifiquemo-nos de tudo que mancha a carne e o espírito, aperfeiçoando nossa santificação com o temor de Deus” (Cor 7, 1), “porque Deus não nos chamou para a imundície, mas para a santificação”(Tes 4,7).

Elias que foi o primeiro que introduziu entre os monges o uso desta capa branca quis simbolizar com ela que o monge, vestido com sua capa branca, deve conservar intacta a pureza, não só de sua alma, mas também de seu corpo.

Desta veste disse Jó ao Senhor: “me vestiste de pele e de carne” (Jó 10, 11), guarde-a, pois, o monge sempre limpa pela pureza, como está escrito: “em todo o tempo estejam teus vestidos limpos e brancos” (Ecl 9, 8).

* Livro da Instituição dos Primeiros Monges Fundados no Antigo Testamento e que perseveram no Novo.

Por Juan Nepote Silvano, Bispo XLIV de Jerusalém.

Por Dom Frei Wilmar SantinO.Carm.

 

Na Bíblia

O ciclo de Eliseu (2Rs 2-9.13,1-10) está ligado com o de Elias. A vocação de Eliseu está colocada após a teofania do Horeb (1Rs 19,16-21). Segundo a ordem divina, ele é aquele que deve suceder ao Tesbita. Por isso torna-se seu servidor e discípulo (2Rs 2,1-18). Pelo fato de acompanhar e ser testemunha do rapto de Elias, Eliseu herda o duplo espírito do Tesbita (2Rs 2,1-18). O carro e os cavalos que raptaram Elias constituem a escolta invisível de Eliseu (2Rs 6,17). Numerosos milagres e prodígios exaltam “o homem de Deus”, o taumaturgo a serviço dos pobres e que intervém na política. Morto, o seu cadáver ressuscita um morto (2Rs 13,20-21). No livro do Eclesiástico, o seu elogio segue o do seu mestre (Eclo 48,12-14) e recorda o dom do espírito de Elias que recebeu durante o rapto. Entre as suas obras maravilhosas é indicada a ressurreição de um morto após a sua morte. A cura de Naamã, o Sírio, é recordada no Evangelho (Lc 4,27), também depois de recordar Elias.

 

Por duas vezes a Bíblia menciona a estada de Eliseu no Monte Carmelo: para lá ele se retira após o episódio dos meninos devorados pelos ursos (2Rs 2,25) e ali a sunamita vai encontrá-lo para suplicar-lhe que devolva a vida ao seu filho (2Rs 4,25). Uma gruta com dois patamares era considerada como a “casa de Eliseu”, aquela onde ele recebeu a visita da sunamita. Ali foi construída uma laura (cenóbio) bizantina conhecida como Mosteiro de S. Eliseu.

 

Nascimento de Eliseu

O provincial carmelita da Catalunha, Felipe Ribot (+ 1392), recorda o prodígio que acompanhou o nascimento de Eliseu, assim como foi contado por Isidoro de Sevilha e Pedro Comestor: “ao nascimento de Eliseu um dos novilhos de ouro adorados pelos filhos de Israel mugiu atravessando o jardim de Eliseu. Um sacerdote do Senhor o escutou em Jerusalém e, inspirado por Deus, proclamou: ‘nasceu em Israel um profeta que destruirá todos os ídolos esculpidos e fundidos”. Só João de Hornby, carmelita inglês do século XIV, indica que Eliseu era descendente de Arão, como Elias, enquanto que a Vitae Prophetarum e Isidoro mencionam “a tribo de Rubem”.

 

 

Eliseu, figura de Cristo

Como Elias, Eliseu é apresentado pelos Padres da Igreja como figura de Cristo enquanto taumaturgo. Já Orígenes chamava Cristo “o Eliseu espiritual que purifica no mistério batismal os homens cobertos pela sujeira da lepra” (Hom. sobre Lucas 33,5). Eliseu estendendo-se sobre o menino anuncia a Encarnação de Cristo que se faz pequeno para salvar-nos. O vaso novo lançado com sal na água (episódio amplamente desenvolvido pelos Padres Latinos), o sal que purifica as águas, o machado recuperado, são figuras de Cristo. Multiplicando os pães de cevada para cem pessoas, iluminando os olhos do seu servo e cegando os de seus inimigos, curando Naamã com o banho no rio Jordão, Eliseu é ainda figura do Messias. A ressurreição de um morto ao contato com os seus ossos prefigura da descida de Cristo aos infernos para dar vida aos mortos. No sermão 128 de Cesário, a viúva libertada da sua indigência, graças ao milagre operado por Eliseu, prefigura a Igreja libertada do pecado à vinda do Salvador; a sunamita estéril, que concebe pela oração de Eliseu, é também figura da Igreja estéril antes da vinda de Cristo. Igualmente João Baconthorp (+ 1348) faz o paralelo entre os milagres de Elias e de Eliseu com os de Jesus (Speculum 2).

 

Eliseu, modelo do monge

Numerosos Padres da Igreja atestam a virgindade de Eliseu seguindo a de Elias. Para São Jerônimo “na Lei antiga, a fecundidade era objeto de bênção. Mas pouco a pouco entretanto, na medida em que a messe se torna mais abundante, foi enviado um ceifador: Elias que foi virgem. Eliseu também o foi, como do mesmo modo os filhos dos profetas” (Ep. 22). Os carmelitas medievais reproduziram estas linhas insistindo sobre o fato que Elias e Eliseu foram os primeiros a consagrarem-se a Deus na virgindade. Pe. Daniel da Virgem (+ 1678) explica que o celibato honra e imita por antecipação a Virgem Maria: “Eliseu conheceu antecipadamente e imitou a pureza da Virgem Mãe de Deus” (Vida de Santo Eliseu, pref.).

A oração tem um papel primordial na vida de Eliseu: é a fonte dos milagres que o Senhor faz através dele. No texto bíblico, isto é expresso explicitamente através da ressurreição do filho da sunamita, por isto o Senhor abre os olhos do seu servo para cegar os arameus. Os Padres da Igreja acentuam ainda mais o papel da oração: ele obtém um filho para a sunamita, faz submergir o machado caído na água do rio Jordão. Assim através de Eliseu os carmelitas fazem jorrar o seu apostolado pelo colóquio com Deus.

A renúncia inicial de Eliseu, que sacrifica os bois e o arado antes de seguir Elias, é um exemplo de exortação para se afastar das preocupações mundanas (Jerônimo, Ep. 71,3). A recusa dos presentes de Naamã fornece aos Padres um belo exemplo de afastamento dos bens. Para Cassiano, Eliseu é um dos fundadores do monaquismo e, de modo especial, um mestre da pobreza (Inst. 7, 14,2).

Amona (século IV), discípulo de Antonio o Grande, canta todos aqueles que obedeceram aos seus pais, cumprindo a sua vontade com a obediência perfeita em tudo. Eliseu é um dele (Ep. 18). Isaías de Scete (+ 491) exorta à obediência com o exemplo de Eliseu (Asceticon 7). A homilia bizantina mais freqüentemente indicada para a festa de Santo Elias é um comentário sobre o Profeta Elias, o Tesbita, atribuída a São João Damasceno, sem dúvida provém do ambiente monástico. A menção de Eliseu põe em relevo a sua ligação total a Elias: “Tendo deixado tudo, casa, campos, bois, ele o segue, servindo-lhe em tudo e totalmente ligado à sua pessoa. Elias, que viveu dali em diante com Eliseu a quem havia também consagrado profeta segundo um oráculo divino, estava dia após dias reunido com ele sob o mesmo teto, compartilhando o mesmo estilo de vida, absolutamente inseparáveis”.

Atanásio de Alexandria, na vida de Antão, mostra que Eliseu via Giezi distante e as forças que o protegiam porque o seu coração era puro, escopo de toda ascensão monástica. João Baconthorp considera em Eliseu o carmelita aplicado à contemplação que “vê” Deus, destinado a trazer no seu coração a chama ardente e irradiante e a palavra de vida, como Maria, e a imitação de Elias e de Eliseu que viveram a vida contemplativa no Carmelo (Laus 2,2). Pe. Daniel da Virgem na suaVida do Santo Profeta Eliseu reassume os papéis respectivos de Elias e de Eliseu: “Inaugurando a vida religiosa, monástica e eremita, Elias a plantou, Eliseu depois a irriga e grandemente a divulga”.

 

Eliseu, discípulo de Elias

Nas Antiguidades Judaicas de Flávio Josefo e em numerosos escritos patrísticos seja do Oriente como do Ocidente, Eliseu está constantemente presente como discípulo de Elias, seu filho espiritual, seu herdeiro. Jacques de Saroug (449-521), autor de sete discursos em métrica que representam longamente a figura de Eliseu e a sua mensagem, utiliza diversos epítetos. Igualmente Máximo de Torino (+ 408/423), de quem duas homilias se referem a Eliseu: “Porque se admirar que os anjos, que levaram o mestre, levam o discípulo (…)? De fato ele mesmo é o filho espiritual de Elias, herdeiro da sua santidade” (Sermão 84). Os Diálogos do Papa Gregório Magno muitas fazem eco às façanhas de Eliseu. Se a “rubrica prima” das Constituições de 1289 se contenta de justapor Elias e Eliseu, João de Cheminot, depois João de Venette especificam que Eliseu é “discípulo” de Elias. Porém as Constituições de 1357 foram assim modificadas: “A partir do Profeta Elias e de Eliseu, seu discípulo”.

 

Eliseu, o discípulo por excelência

Eliseu não é discípulo de Elias somente. Seguindo a tradição hebraica que se encontra nas Vitae prophetarum, na introdução de São Jerônimo em seu Comentário ao livro de Jonas e algum outro escrito patrístico, Jonas seria o filho da viúva de Sarepta, ressuscitado pelo profeta e que se tornou discípulo de Elias: “Jonas, depois da sua morte, foi ressuscitado pelo profeta Elias: o seguiu, sofreu com ele e, por sua obediência ao profeta, mereceu receber do dom da profecia” (Sinassário árabe jacobita de 22 de setembro). João Baconthorp conhecia esta tradição que provém de São Jerônimo. João de Cheminot, seguindo Felipe Ribot, indica como primeiro discípulo o servo que Elias deixou em Bersabéia, quando fugia de Jesabel (1Rs 19, 3). Este servo é aquele que Elias enviou ao cume do Monte Carmelo para observar a chegada da chuva (1Rs 18, 43).

Segundo as Vitae prophetarum, Abdias, o intendente de Acab que escondeu os cem profetas em grupos de cinqüenta, enviado por Acazias, (1Rs 18, 3-4) tornou-se discípulo de Elias. Teodoro Bar-Koni, autor nestoriano do século VIII, especifica que ele recebeu o dom da profecia após ter seguido Elias. Os carmelitas medievais enumeram Abdias entre os grandes discípulos de Elias.

Felipe Ribot é o único carmelita do século XIV a mencionar o profeta Miquéias como discípulo de Elias.

Para Cheminot e Ribot, Eliseu ocupa o primeiro lugar no grupo dos discípulos do Profeta Elias.

 

O duplo espírito de Elias

Eliseu é o sucessor de Elias que recebeu o seu duplo espírito, quando viu seu rapto (2Rs 2, 9-13). De acordo com uma tradição hebraica, Eliseu realizou 16 milagres, enquanto que Elias havia feito 8. A partir do século XII, Ruperto de Deutz fez o mesmo cálculo (A Vitória do Verbo de Deus). Para São Jerônimo, o duplo espírito se manifesta com os milagres maiores. Para Felipe Ribot, o duplo espírito é o dom da profecia que consente prever o futuro e o dom dos milagres: «Eis porque lhe dá a direção do magistério espiritual de todos os religiosos que tinha instituído.Como sinal disto, ele deu a Eliseu o seu hábito como sinal distintivo do seu instituto, deixando-lhe o seu manto, quando foi levado ao céu» (nº 149). A partir do século XVI, outros – como Pedro da Mãe de Deus, carmelita descalço holandês – vêem no duplo espírito o espírito da contemplação e da ação: «Os discípulos do Carmelo (…) estão obrigados por vocação a pedir sempre a Deus o duplo espírito de Elias (…), isto é, o espírito de oração e de ação, o verdadeiro espírito do Carmelo» (As Flores do Carmelo).

Santa Teresa de Ávila evoca juntos Elias e Eliseu numa poesia: «Seguindo o Pai Elias, nós combatemos a nós mesmas, com a sua coragem e o seu zelo, ó Monjas do Carmelo. Após ter renunciado a nosso prazer, busquemos o forte Espírito de Eliseu, ó Monjas do Carmelo» (Caminho para o céu). Notemos que na sua correspondência ou nas Relações, Santa Teresa designa frequentemente com o nome de Eliseu o seu caro filho, Pe. Jerônimo Gracián.

Em Lisieux, Santa Teresa do Menino Jesus, que morava na cela Santo Eliseu do dormitório Santo Elias, muito naturalmente alude ao duplo do espírito: «Recordando-me da oração de Eliseu ao seu pai Elias, quando ele ousou pedir-lhe o dobro do seu espírito, me apresentei diante dos Anjos e dos santos, e lhe disse (…) ouso pedir-lhes que me concedam o dobro do vosso amor» (Ms B 4r).

 

Prior dos filhos dos profetas

O apologista São Justino se refere ao episódio do ferro do machado caído na água que Eliseu fez boiar com um pedaço de madeira (2Rs 6, 1-7). Onde o texto bíblico diz simplesmente que os filhos dos profetas queriam construir um lugar de moradia, Justino precisa que estes estavam cortando a madeira destinada pra construir «a casa para aqueles que queriam repetir e meditar a lei e os preceitos de Deus» (Diálogo com Trifão, 86). Esta paráfrase se tornará no século XIII o coração da Regra dos carmelitas que se consideram os sucessores dos filhos dos profetas para «meditar dia e noite na lei do Senhor».

Gerado à vida pelo Espírito de Elias, Eliseu pode por sua vez gerar filhos, chamados na Bíblia de «filhos dos profetas». Teodoreto de Ciro apresenta Eliseu à testa do «coro» dos profetas que o consideravam como «prior» deles (Quaest4 Re 6, 19).

Felipe Ribot mostra como Eliseu é reconhecido «pai» dos filhos dos profetas: «Vendo Eliseu revestido do hábito de Elias, reconheciam que estava repleto do espírito de Elias e o receberam imediatamente como pai deles e mestre no lugar de Elias» (nº 149). Ele ensina aos filhos dos profetas, dá a eles ordens, organiza a comunidade religiosa instituída por Elias. Igualmente para João Soreth, após a ascensão de Elias, os filhos dos profetas «o veneraram, como superior deles, porque substituía Elias no governo dos eremitas».

 

Os caçoadores de Eliseu

Segundo a Haggadah, os caçoadores de Eliseu não são meninos, mas adultos que se comportam como meninos tolos. O número de pessoas devoradas pelos dois ursos corresponde então aos 42 sacrifícios ofertados por Balac (Nm 23). Os Padres Latinos não se referiram a esta tradição e dão uma interpretação anti-hebraica: Vespasiano e Tito – os dois ursos – aniquilaram Jerusalém 42 anos após a Paixão de Cristo, escarnecido pelos hebreus. Por outro lado o grito «sobe, careca» é um insulto a Elias para transformar em chacota o seu rapto. João Baconthorppensa nos detratores da Ordem: Eliseu ensina o respeito devido à antiguidade da Ordem como para cada forma de velhice (Laus 2, 1).

 

A sepultura de Eliseu

Um tradição hebraica tardia, bem atestada na Patrística (Jerônimo, Egéria, Anônimo de Piacenza, Isidoro de Sevilha, Beda o Venerável), localiza a tumba de Eliseu em Sebaste na Samaria, com as tumbas de Abdias e de João Batista. Os carmelitas da Idade Média (João de Cheminot, Speculum 1; João de Hildesheim,Diálogo) conheciam esta tradição. A sepultura de Eliseu foi violada por Juliano o Apóstata no século IV. Parte dos ossos foi transferida para Alexandria e para Constantinopla, e dali para Ravenna em 718 e colocada na igreja de São Lourenço. No Capítulo Geral de 1369, autorizou-se a Ordem a fazer investimento econômico para obter as relíquias de Eliseu. A igreja foi destruída em 1603 e se ignora a sorte das relíquias, entretanto se mostra na igreja de Santo Apolinário a cabeça de Santo Eliseu.

Culto litúrgico

O primeiro decreto oficial aprovando a festa de Santo Eliseu para o dia 14 de junho, data na qual o profeta é festejado no rito bizantino, se encontra nas Constituições de 1369. Foi promulgada no Capítulo Geral de Florença de 1399. Em 1564 se adicionou uma oitava à celebração da festa. No calendário da Reforma Teresiana, em 1609, a memória de Eliseu recebe a categoria de festa de primeira classe, mas em 1617 foi reduzida à condição de segunda classe, com oitava, e depois abandonada em 1909. As Constituições O. Carm. de 1971 determinavam: “Com oportuna solenidade sejam celebradas as festas dos pais da Ordem Elias e Eliseu, do protetor S. José e dos nossos santos” (nº 72). Mas na reforma litúrgica de 1972, Eliseu foi excluído do calendário dos dois ramos do Carmelo. Por solicitação dos Carmelitas da Antiga Observância, a re-introdução da memória de Santo Eliseu foi aceita pela Sagrada Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos em 1992.

 

Conclusão

Elias e Eliseu são considerados o ponto de partida de uma sucessão ininterrupta de monges no Antigo Testamento e depois no Novo Testamento, antes de serem mais simplesmente os inspiradores dos Carmelitas dos quais estes querem ser seus imitadores e ainda mais seus filhos. A devoção ao profeta Eliseu conheceu um eclipse de uns 30 anos após o Concílio Vaticano II: a reforma litúrgica do Próprio do Carmelo não conservou a sua festa, as Constituições O. Carm. (1971) e as dos Carmelitas Descalços (1991) nomeiam o profeta Elias somente quando se referem à tradição bíblica da Ordem. Por sorte, diversos estudos o recolocaram no seu lugar (Carmel 1994/1). As Constituições O. Carm. de 1995 dizem: “O Carmelo celebra, com especial devoção, os seus Santos, colhendo neles a expressão mais viva e genuína do carisma e da espiritualidade da Ordem ao longo dos séculos. Com particular solenidade, sejam celebradas a festividade de Santo Elias Profeta, a memória de S. Eliseu Profeta e as festas dos protectores da Ordem, a saber, S. José, S. Joaquim e Santa Ana” (nº 88).

De fato o Carmelo reconhece como seus inspiradores, não só o Tesbita, mas juntos Elias e Eliseu, porque nesta mesma relação se manifesta o carisma do Carmelo.

 

Segunda-feira, 5 de maio-2025. Com pesar, comunicamos o falecimento da priora, Sra. Valéria Maria Pinto, da Venerável Ordem Terceira do Carmo de São João Del Rei/MG. O sepultamento será amanhã com missa de Corpo Presente, às 9h, na Igreja do Carmo.

 

O Santo Padre aceitou a renúncia ao cuidado pastoral da Arquidiocese Metropolitana de Pisa (Itália), apresentada por Sua Excelência Monsenhor Giovanni Paolo Benotto.

O Santo Padre nomeou Arcebispo Metropolitano de Pisa (Itália) o Rev. Padre Saverio Cannistrà, OCD, ex-Superior Geral dos Carmelitas Descalços e até agora Vigário Paroquial de San Pancrazio, em Roma.

 

Curriculum vitae

Sua Excelência Monsenhor Saverio Cannistrà, OCD, nasceu em Catanzaro em 3 de outubro de 1958. Depois de se formar em Filologia Românica na  Scuola Normale Superiore  em Pisa, ele teve experiência de trabalho como editor em uma editora. Em 17 de setembro de 1985, ingressou no noviciado da Província Italiana da Toscana da Ordem dos Carmelitas Descalços e emitiu sua profissão perpétua em 14 de setembro de 1990. Em 24 de outubro de 1992, foi ordenado sacerdote.

Ocupou os seguintes cargos e realizou estudos posteriores: Doutorado em Teologia Dogmática na  Pontifícia Universidade Gregoriana  de Roma (1998); Professor de Teologia Trinitária na Pontifícia Faculdade Teológica e Instituto de Espiritualidade “ Teresianum ” em Roma (1995-2003); Professor de Cristologia e Antropologia Teológica na  Faculdade Teológica da Itália Central  em Florença (2003-2009). Em 2007 foi eleito membro do Conselho Presidencial da Associação Teológica Italiana.

Na Província Toscana dos Carmelitas Descalços foi: Conselheiro Provincial (1996-2002); Mestre de Postulantes e Estudantes (1999-2008); Provincial (desde 2008). Foi também Reitor Geral da Ordem dos Carmelitas Descalços (2009-2021). Ele é membro do Conselho Presbiteral da Arquidiocese Metropolitana de Florença e atualmente é Vigário Paroquial na Igreja de San Pancrazio, em Roma.

 

Carta à Igreja de Pisa por SE Padre Saverio Cannistrà OCD

Excelência, irmãos no sacerdócio, caríssimos irmãos e irmãs,

O Papa Francisco me pediu para me colocar a serviço do povo de Deus em Pisa. Aceitei com espírito de fé e obediência, ciente das minhas muitas limitações. Tentarei realizar esta bela e grandiosa tarefa da única maneira que conheço: rezando, meditando e ouvindo a Palavra de Deus, nas muitas formas e modos em que ela nos chega diariamente. Desejo de todo o coração anunciar, celebrar e testemunhar o que eu mesmo recebi. Sei que nesta tarefa, que está além das capacidades de um homem só, não estarei sozinho. Lembro-me de uma frase de Santa Teresa de Jesus, minha mãe no Carmelo, que dizia: "A obediência dá força". Creio que muitos de nós já experimentamos isso: a graça não abandona aqueles que se colocam a serviço do plano de Deus. Pelo contrário, ela transborda, preenche e nos capacita a realizar o que nem a inteligência pode entender nem a capacidade humana de realizar.

Não sei, no entanto, o que exatamente me espera. Não tenho planos nem agendas. Precisarei de tempo para ver, ouvir e aprender. Por enquanto só tenho meu pequeno "aqui estou" para apresentar ao Senhor e a vocês, irmãos e irmãs. Mas estou feliz por ter sido enviado para Pisa, uma cidade que amo, onde estudei, descobri minha vocação religiosa e fui ordenado padre. Com alegria me preparo para caminhar com vocês pelos caminhos desta história e desta terra que o Senhor agora me deu como minha. E desde já agradeço a vossa benevolente e indulgente acolhida: agradeço a Monsenhor. João Paulo, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, os leigos e leigas e todos os homens e mulheres de boa vontade desta diocese. Peço que rezem por mim. Confiai-me em particular à intercessão de São Ranieri, nosso padroeiro.

Dirijo-vos estas poucas palavras que o meu coração me dita neste momento, do lugar onde vivi, trabalhei e, sobretudo, amei durante os últimos dois anos e meio, isto é, a igreja e a comunidade de São Pancrácio, em Roma. Agradeço ao Senhor por este tempo que ele me deu. Encontrei muitos irmãos e irmãs que me testemunharam sua vida de fé, seu amor a Jesus e à Igreja, seu compromisso concreto com os mais pobres e necessitados.

Agradeço a Deus pela comunidade carmelita na qual tive o privilégio de passar estes anos, em particular pelo dom inestimável dos meus irmãos mais novos, que me foram confiados como formadores. Deixar tudo isso, deixar esses amigos, irmãos e filhos não é um sacrifício pequeno, mesmo sabendo que na realidade não os estou deixando, mas entregando-os àqueles que os confiaram a mim apenas por um tempo. Parece-me que agora entendo que o Senhor queria me fazer crescer na experiência da paternidade, para que eu pudesse exercê-la mais amplamente em relação a todo o povo de Deus.

Falo com vocês de um lugar sagrado e rico em história, onde um jovem chamado Pancrácio deu sua vida por Cristo há 17 séculos. Deste lugar também um grande pastor e doutor da Igreja, São Gregório Magno, pregou sobre a caridade fraterna, que é dar a vida pelos amigos. Coloco essas memórias da história pessoal e coletiva na bagagem que carrego comigo. Espero que não esteja muito bagunçado porque preciso de bastante espaço vazio para acomodar a riqueza que me espera em minha nova terra natal. Mas a bagagem que você carrega no coração não pesa nem ocupa espaço. O tamanho do coração é proporcional à caridade que nele habita. E é isso que peço ao Senhor para mim e para você. Unamo-nos nesta oração: Abre os nossos corações, Senhor, renova-os e fortalece-os com o sopro do teu Espírito. Amém Fonte: https://diocesidipisa.it

 

Renúncia e nomeação, 06.02.202

Renúncia e nomeação do Arcebispo Metropolitano de Pisa (Itália)

O Santo Padre aceitou a renúncia ao governo pastoral da Arquidiocese Metropolitana de Pisa (Itália), apresentada por Sua Excelência Monsenhor Giovanni Paolo Benotto.

O Santo Padre nomeou como Arcebispo de Pisa (Itália) o Rev. Pe. Saverio Cannistrà, OCD, como Superior Geral dos Carmelitas Scalzi e último Vigário Paroquial de San Pancrazio, em Roma. Fonte: https://infovaticana.com

 

Com procedimento de canonização equipolente, o Papa Francisco decidiu estender à Igreja inteira o culto das 16 carmelitas descalças de Compiègne guilhotinadas durante a Revolução Francesa.

 

Bernadette Mary Reis

Percorrendo os anais da história, vemos que há momentos em que as religiosas desempenharam um papel importante no curso dos eventos humanos. É o caso, por exemplo, das mártires carmelitas descalças de Compiègne. Muitos já ouviram falar delas, mas talvez não saibam que o seu sacrifício ajudou a pôr fim ao Regime do terror.

Tudo começa com um sonho. Em 1693, uma mulher deficiente de 29 anos que vivia no Carmelo de Compiègne sonhou com Jesus em companhia da sua Mãe, de Santa Teresa de Ávila e de duas carmelitas que tinham vivido no mesmo mosteiro. Depois de receber instruções sobre a própria vocação, teve uma visão na qual vê várias religiosas carmelitas escolhidas para “seguir o Cordeiro”. Um salto no tempo, para 1786: madre Teresa de Santo Agostinho, nova priora eleita do mesmo mosteiro, encontra um relato da visão que a irmã Elisabeth Baptiste teve antes de emitir os seus votos como irmã carmelita. Madre Teresa tem um pressentimento de que este sonho seja uma profecia relativa à sua comunidade.

Alguns anos mais tarde, a revolução eclodiu na França, o que desencadeou então o Regime do terror. Em fevereiro de 1790, ratificou-se a suspensão provisória dos votos religiosos. A 4 de agosto, os bens da comunidade carmelita foram inventariados; no dia seguinte, todas as religiosas foram interrogadas e foi-lhes oferecida a oportunidade de renunciarem aos votos. Para grande pesar dos líderes revolucionários, todas as religiosas expressaram a sua firme determinação em permanecerem fiéis aos próprios votos até à morte. Páscoa de 1792: a 6 de abril, tornou-se ilegal usar o hábito religioso; dois dias depois, o sonho da irmã Elisabeth Baptiste foi contado às irmãs da comunidade. Os acontecimentos precipitam: em agosto, os mosteiros femininos foram fechados e despejados e os bens das religiosas foram apreendidos.

 

Ato de salvação das irmãs pela salvação da França

As 20 irmãs carmelitas de Compiègne deixaram o seu mosteiro a 14 de setembro, festa da Exaltação da Cruz. Com a ajuda de amigos, encontraram refúgio em quatro localidades diferentes e conseguiram comprar um hábito civil para cada uma: não tinham dinheiro suficiente para comprar sequer uma troca de roupa e o seu pedido de apoio ao governo não foi atendido. Pouco tempo depois, madre Teresa de Santo Agostinho consultou as quatro religiosas do coro, as mais idosas, sobre a proposta a fazer a toda a comunidade para oferecerem a própria vida pela salvação da França: a sua proposta enraizava-se no próprio desejo de Santa Teresa de Ávila de reformar o Carmelo. Compreensivelmente, ela encontrou resistência: quem se submeteria voluntariamente à decapitação por meio da guilhotina recém-inventada?

Estranhamente, contudo, em poucas horas as duas religiosas mais idosas pediram perdão à priora pela falta de coragem: isto preparou o caminho para a madre Teresa, que propôs um ato de doação da vida aos outros membros da comunidade. A partir de 27 de novembro, todas as religiosas recitavam um “ato de doação de si” pela salvação da França, escrito pela priora. Mais tarde, foi acrescentada uma intenção para que cada vez menos pessoas fossem executadas com a guilhotina, e pela libertação das pessoas presas.

A 21 de junho de 1794, os soldados revistaram os aposentos das religiosas. No dia seguinte foram presas com base em provas que surgiram durante a busca, usadas para provar que continuavam a viver uma vida consagrada e que simpatizavam com a monarquia. A comunidade carmelita, que naquele momento contava 16 religiosas, foi para a prisão no ex-convento da Visitação com 17 irmãs beneditinas inglesas. A 12 de julho, o presidente da câmara municipal de Compiègne entrou no convento com os soldados, surpreendido ao encontrar as mulheres vestidas com os seus hábitos religiosos: o único hábito civil que possuíam estava completamente encharcado. Neste ponto, a partida para Paris, onde as espera o julgamento, é inevitável. A 17 de julho, as 16 irmãs carmelitas, com outros 24 prisioneiros, foram consideradas culpadas de serem “inimigas do povo” — entre outras acusações — e condenadas à morte. As religiosas prepararam-se para a realização do sonho profético: em breve seguiriam o Cordeiro.

 

A beatificação das mártires

Naquela mesma noite, ecoou em Paris a voz das religiosas que cantaram o Ofício divino enquanto atravessavam as ruas da cidade; o carrasco permitiu-lhes terminar as orações pelos moribundos, incluindo o canto do Te Deum, seguido pelo Veni Creator e a renovação dos seus votos. Ao subir para o patíbulo, receberam a última bênção da priora, beijaram a imagem de Nossa Senhora e seguiram o Cordeiro sacrificial.

Robespierre foi detido dez dias mais tarde e executado no dia seguinte. O Regime do terror terminou, deixando pouco espaço para dúvidas de que o Senhor tinha aceite o sacrifício da vida das religiosas. As mártires de Compiègne foram beatificadas por Pio X em 1909. 

Durante a audiência concedida, na quarta-feira (18/12), ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, o Papa Francisco aprovou os votos favoráveis da Sessão Ordinária dos Cardeais e Bispos, Membros do Dicastério, e decidiu estender a toda a Igreja o culto à Beata Teresa de Santo Agostinho, no século, Maria Madalena Claudia Lidoine, e as 15 companheiras da Ordem das Carmelitas Descalças de Compiègne, mártires, mortas por ódio à fé durante a Revolução Francesa, em 17 de julho de 1794, em Paris, França, inscrevendo-as no catálogo dos Santos, Canonização Equipolente, uma prática iniciada por Bento XIV com a qual o Papa estende o culto de um servo de Deus ainda não canonizado a toda a Igreja por meio de um decreto. A Beata Teresa de Santo Agostinho e suas companheiras são agora santas. Fonte: https://www.vaticannews.va

Com procedimento de canonização equipolente, o Papa Francisco decidiu estender à Igreja inteira o culto das 16 carmelitas descalças de Compiègne guilhotinadas durante a Revolução Francesa. Serão beatos dois mártires: um do comunismo, o arcebispo Eduardo Profittlich, e um do nazismo, o sacerdote Elia Comini. Tornam-se veneráveis os servos de Deus Áron Márton, bispo, Giuseppe Maria Leone, sacerdote, e Pietro Goursat, leigo francês.

 

Vatican News

Durante a audiência concedida, nesta quarta-feira (18/12), ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, o Papa Francisco aprovou os votos favoráveis da Sessão Ordinária dos Cardeais e Bispos, Membros do Dicastério, e decidiu estender a toda a Igreja o culto à Beata Teresa de Santo Agostinho, no século, Maria Madalena Claudia Lidoine, e 15 companheiras da Ordem das Carmelitas Descalças de Compiègne, mártires, mortas por ódio à fé durante a Revolução Francesa, em 17 de julho de 1794, em Paris, França, inscrevendo-as no catálogo dos Santos, Canonização Equipolente, uma prática iniciada por Bento XIV com a qual o Papa estende o culto de um servo de Deus ainda não canonizado a toda a Igreja por meio de um decreto. A Beata Teresa de Santo Agostinho e suas companheiras são agora santas.

A Comunidade de Compiègne foi a quinquagésima terceira fundação da ordem na França, que ocorreu após a chegada ao país da Beata Ana de Jesus, discípula de Santa Teresa de Ávila. Com a eclosão da Revolução, membros do Comitê de Saúde Pública local foram ao convento para induzir as religiosas a abandonar a vida religiosa. Elas se recusaram e, quando - entre junho e setembro de 1792 - os episódios de violência aumentaram, seguindo a inspiração da priora, irmã Teresa de Santo Agostinho, todas se ofereceram ao Senhor como um sacrifício para que a Igreja e o Estado pudessem encontrar a paz.

Expulsas do mosteiro, separadas e vestidas com roupas civis, elas continuaram sua vida de oração e penitência, embora divididas em quatro grupos em várias partes de Compiègne, mas unidas por correspondência, sob a direção da superiora. Descobertas e denunciadas, em 24 de junho de 1794, foram transferidas para Paris e encarceradas na prisão Conciergerie, onde também estavam detidos muitos sacerdotes, religiosos e religiosas condenados à morte.

As religiosas carmelitas também foram exemplares em sua prisão. Em 17 de julho, no dia seguinte à festa de Nossa Senhora do Carmo, que elas tinham celebrado na prisão entoando hinos de júbilo, as dezesseis foram condenadas à morte pelo tribunal revolucionário por, entre outros motivos, “fanatismo” relacionado à sua fervorosa devoção aos Sagrados Corações de Jesus e Maria.

Distribuídas em duas carroças, enquanto eram conduzidas para a execução, cantaram os Salmos e, quando chegaram ao pé da guilhotina, entoavam o Veni creator, renovando seus votos uma após a outra. Seus corpos foram enterrados numa vala comum, junto com os de outros condenados, no local que se tornou o atual cemitério de Picpus, onde uma placa recorda seu martírio. Elas foram beatificadas na Basílica de São Pedro por São Pio X em 27 de maio de 1906.

 

Beato Eduardo Profittlich, mártir durante o comunismo

Durante a mesma audiência, Francisco também autorizou o Dicastério a promulgar o decreto relativo ao martírio do servo de Deus Eduardo Profittlich, da Companhia de Jesus, arcebispo titular de Adrianópolis e administrador apostólico da Estônia. Nascido em 11 de setembro de 1890 em Birresdorf, Alemanha, faleceu em 22 de fevereiro de 1942 ex aerumnis ordinis (devido ao sofrimento sofrido na prisão) em Kirov (Rússia).

Criado no seio de uma numerosa família camponesa, depois de concluir os estudos clássicos, em 1912, ingressou no seminário de Trier, mas no ano seguinte, atraído pela espiritualidade dos jesuítas, foi aceito no noviciado em Heerenberg, na Holanda. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, ele foi chamado de volta ao exército alemão e designado para o serviço de saúde. Depois da guerra, retomou os estudos de Filosofia e Teologia, tornando-se sacerdote em 27 de agosto de 1922. Enviado para a Polônia, obteve o doutorado em filosofia e o doutorado em Teologia na Universidade Jaguelônica de Cracóvia; mais tarde foi enviado para a Estônia como parte da Missão Oriental da Companhia de Jesus e a paróquia dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo em Tallinn foi confiada aos seus cuidados pastorais. Em 11 de maio de 1931, Pio XI nomeou-o administrador apostólico da Estônia, onde Profittlich apoiou significativamente o desenvolvimento da comunidade cristã local com seu trabalho. Em novembro de 1936, foi nomeado arcebispo titular de Adrianópolis por Pio XI e recebeu a consagração em dezembro seguinte. Após a invasão soviética da Estônia, em 17 de junho de 1940, quase todos os sacerdotes foram presos: Profittlich poderia ter regressado a casa, mas optou por permanecer na Estônia, com os seus fiéis. Em 27 de junho de 1941 foi preso e deportado para Kirpov, na Rússia, onde foi submetido a várias torturas, às quais respondeu declarando que a sua única missão tinha sido destinada à educação religiosa dos fiéis que lhe foram confiados. Condenado à morte, faleceu antes da execução da pena devido ao sofrimento da prisão.

 

Beato Elia Comini, mártir do nazismo

Outro decreto relativo a um mártir é o do servo de Deus Elia Comini, sacerdote salesiano nascido em Calvenzano di Vergato (Itália) em 7 de maio de 1910 e assassinado in odium fidei, em 1º de outubro de 1944, em Pioppe di Salvaro (Itália).

Nascido numa família modesta, Comini frequentou a escola dos herdeiros de Dom Bosco em Finale Emilia, onde se amadureceu a sua vocação. Em 1926, depois do noviciado, fez a primeira profissão e foi enviado para completar os estudos em Turim Valsalice e na Universidade Estadual de Milão. Em 16 de março de 1935 foi ordenado sacerdote e dedicou-se à educação dos jovens nas escolas salesianas de Chiari e Treviglio, onde também se tornou diretor.

Todos os anos passava um período de férias com a sua mãe idosa e ajudava o pároco de Salvaro, onde vivia a sua família de origem, no serviço pastoral da aldeia. Mesmo no verão de 1944, o servo de Deus foi para lá, embora aquela área estivesse no centro dos combates envolvendo soldados alemães, aliados e grupos de guerrilheiros.

Naquele contexto de guerra, pe. Elia, juntamente com o pároco, organizou o acolhimento de várias famílias deslocadas que encontraram refúgio na paróquia de San Michele in Salvaro. Colaborou com eles um jovem sacerdote dehoniano, padre Martino Capelli, com quem pe. Elia estabeleceu um bom entendimento.

Quando os soldados nazistas se espalharam pela zona de Monte Sole, pe. Comini prestou ajuda à população, enterrando os mortos e escondendo cerca de setenta pessoas numa sala adjacente à sacristia. A pedido de um grupo de guerrilheiros, ele celebrou uma missa em memória de alguns de seus caídos em batalha. No dia 29 de setembro de 1944, depois do massacre perpetrado pelos nazistas na cidade vizinha chamada “Creda”, o servo de Deus, junto com o padre Cappelli, correu para levar conforto aos moribundos. Ao chegar, acusado por um informante de ser espião dos guerrilheiros, foi preso e obrigado a transportar munições. Foi levado com o padre Cappelli e mais cem presos, incluindo outros três sacerdotes, para um estábulo em Pioppe di Salvaro, onde testemunhou os numerosos atos de violência perpetrados pelos invasores, sempre pronto a confortar, ajudar e proporcionar o ministério da Confissão.

Fracassadas as tentativas de mediação com que várias partes tentaram salvá-lo, na noite de 1° de outubro de 1944 o servo de Deus foi assassinado junto com o padre Cappelli e um grupo de outras pessoas consideradas “inaptas para o trabalho”, apesar de gozarem de boa forma física. Durante a execução de cerca de quarenta pessoas metralhadas, o corpo do pe. Comini protegeu um dos três sobreviventes do que ficou conhecido como massacre de Pioppe di Salvaro. O sobrevivente, testemunha decisiva destes fatos, contribuiu para dar a conhecer o martírio do servo de Deus, cujo corpo, como o das outras vítimas, se tinha perdido nas águas do Rio Reno.

 

Os veneráveis ​​Áron Márton, Giuseppe Maria Leone e Pietro Goursat

Quanto aos servos de Deus que se tornam veneráveis, são Áron Márton, bispo de Alba Julia, nascido em 28 de agosto de 1896, em Csíkszentdomokos (atual Romênia) e falecido em 29 de setembro de 1980 em Alba Iulia (Romênia); Giuseppe Maria Leone, sacerdote professo da Congregação do Santíssimo Redentor, nascido em 23 de maio de 1829 em Casaltrinità (atual Trinitapoli, Itália) e falecido em Angri (Itália) em 9 de agosto de 1902; e Pietro Goursat, fiel leigo, nascido em 15 de agosto de 1914 em Paris (França) e ali falecido em 25 de março de 1991.

Áron Márton lutou na Primeira Guerra Mundial antes de se tornar sacerdote, dedicando-se também ao ensino. Como bispo de Alba Julia, dedicou-se a fortalecer os laços entre o clero, dividido pela guerra e pelo ódio racial. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, ele se posicionou abertamente contra as leis raciais nazistas e cuidou de refugiados, exilados e judeus. No pós-guerra, a sua ação pastoral visava salvaguardar a fé contra o ataque dos comunistas romenos que oprimiam a minoria húngara na Transilvânia. Preso em 1949, foi julgado e condenado a duras prisões e trabalhos forçados. Ele também sofreu muito fisicamente e, depois de deixar a liderança de sua diocese, em 2 de abril de 1980, por estar doente com câncer, morreu poucos meses depois.

Giuseppe Maria Leone estudou no seminário apesar da oposição do pai e, após o noviciado com os Redentoristas, fez a profissão religiosa em 1851. Depois de ter estado em Vallo della Lucania e Angri, quando, em 1860, as ordens religiosas foram suprimidas, regressou à sua cidade natal realizando um fecundo apostolado em colaboração com o clero local. Tornou-se pregador e confessor, mantendo-se próximo das famílias afetadas pela epidemia de cólera que se espalhou pela população em 1867. Em 1880, quando foi possível retomar a vida religiosa, regressou na comunidade redentorista de Angri e assumiu diversas funções, dedicando-se também à publicação e reedição de algumas das suas obras de caráter ascético e espiritual. Distinguiu-se como confessor, diretor espiritual e pregador de exercícios espirituais a sacerdotes, seminaristas e religiosas, contribuindo significativamente para a renovação da vida religiosa e também para o crescimento espiritual dos fiéis leigos. De saúde muito debilitada, seu estado piorou no início de 1902 e ele faleceu poucos meses depois.

Pietro Goursat viveu uma infância difícil devido a um pai com problemas mentais que abandonou a família. Leigo consagrado, desenvolveu intensa atividade no meio cultural francês e, ao se reaproximar do pai, desenvolveu um interesse crescente pelos pobres e pelas pessoas com dificuldades físicas e mentais, dedicando-se sobretudo aos jovens ameaçados pelas drogas e pela delinquência, tanto que acolheu alguns deles na casa-barco Péniche. Iniciou alguns grupos de oração que chamou de “Emanuel”, organizando sessões de formação para eles no Santuário do Sagrado Coração de Jesus em Paray-Le-Monial. O bispo local confiou o cuidado deste santuário à Comunidade Emanuel, que o tornou um importante centro de espiritualidade. Depois de sofrer um infarto, em 1985, decidiu retirar-se do governo da Comunidade, passando a última parte de sua vida escondido e em oração, numa atitude de confiante abandono a Deus. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

OLHAR CARMELITANO. 114 Anos! Na Solenidade da Imaculada Conceição, a Venerável Ordem Terceira do Carmo- Sodalício da Lapa- Rio de Janeiro, celebrou os 114 Anos de presença Carmelitana através dos leigos na cidade do Rio. Também nesta mesma data, o jovem Anderson, iniciou a sua caminhada no noviciado. Na oportunidade, foi lida a saudação do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta O. Cist, aos irmãos e irmãs do Carmo da OTC. Parabéns!

Imagens do Congresso Internacional do Laicato Carmelita que aconteceu em Sassone, Roma-Itália, de 15-19 de setembro de 2024. O Congresso teve a participação de 200 Carmelitas provenientes de 30 países. Do Brasil se fez presente a Província Carmelitana Fluminense, com 16 carmelitas e a Província Carmelitana Pernambucana, com 2. A temática voltou o olhar para a Igreja Sinodal a partir do tema; Carmelitas Leigos: Chamados a iluminar o mundo. Além da participação do Superior Geral da Ordem do Carmo, Frei Miceál O´Neill, O. Carm, tivemos também a participação do Vice- Geral, Frei Benny Phang, O. Carm e a participação de vários leigos do mundo que relataram as suas experiências carmelitanas nas diferentes culturas a partir do tema proposto pelo responsável do Congresso, Frei Luis José Maza Subero, O. Carm, Conselheiro Geral da Ordem do Carmo para as Américas e da sua equipe. No vídeo, a conferência do Vice- Geral, Frei Benny Phang, O. Carm (4ª Parte)

Carmo do Rio de Janeiro, 25 de setembro-2024. Imagens: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm (Olhar Jornalístico)  www.instagram.com/freipetronio

Imagens do Congresso Internacional do Laicato Carmelita que aconteceu em Sassone, Roma-Itália, de 15-19 de setembro de 2024. O Congresso teve a participação de 200 Carmelitas provenientes de 30 países. Do Brasil se fez presente a Província Carmelitana Fluminense, com 16 carmelitas e a Província Carmelitana Pernambucana, com 2. A temática voltou o olhar para a Igreja Sinodal a partir do tema; Carmelitas Leigos: Chamados a iluminar o mundo. Além da participação do Superior Geral da Ordem do Carmo, Frei Miceál O´Neill, O. Carm, tivemos também a participação do Vice- Geral, Frei Benny Phang, O. Carm e a participação de vários leigos do mundo que relataram as suas experiências carmelitanas nas diferentes culturas a partir do tema proposto pelo responsável do Congresso, Frei Luis José Maza Subero, O. Carm, Conselheiro Geral da Ordem do Carmo para as Américas e da sua equipe. No vídeo, a conferência do Vice- Geral, Frei Benny Phang, O. Carm (1ª Parte)

Carmo do Rio de Janeiro, 24 de setembro-2024. Edição do vídeo e imagens: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm (Olhar Jornalístico)

No último final de semana- Dias 24 e 25 de agosto- em Jacareí, São Paulo. Tivemos o Retiro na Casa das irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus.

( https://carmeldcj.org/ ). No Domingo 25, além da Eleição da nova mesa administrativa, tivemos a entrada no Noviciado, Votos Temporários e Votos Perpétuos. www.olharjornalistico.com.br www.instagram.com/freipetronio

 

 

NOSSO SUPERIOR GERAL Padre Frei MIGUEL DE MARIA MARQUEZ RUA, OCD.

O P. Miguel Marquez Calle (de Maria) nasceu em 1965 em Plasencia (Cáceres). Ingressou na Ordem da Carmen Descalço em 1983 emitindo sua profissão religiosa em 1985. Foi ordenado padre em Medina del Campo em 1990. O P. Miguel Márquez é bacharel em Teologia Dogmática pela Universidade Pontifícia de Aspas de Madrid, com uma tese de licenciatura sobre “A Imagem de Deus no Magníficat”.

Desempenhou inúmeros cargos de responsabilidade e governo na vida da Província dos Carmelitas de Castela, como Conselheiro Provincial de 1999 a 2002 e Vigário Provincial de 2002 a 2005, cargo para o qual foi eleito novamente no capítulo provincial de 2008 e depois como Provincial. Além disso, exerceu como formador, como professor de estudantes durante seis anos na comunidade de Salamanca. Em fevereiro de 2015 foi eleito primeiro provincial da nova província ibérica de Santa Teresa de Jesus, nascida da união das províncias da Andaluzia, Aragão e Valência, Burgos, Castela, Catalunha e Baleares, no capítulo provincial extraordinário convocado para o efeito. Foi reeleito para o mesmo serviço no I capítulo provincial ordinário em abril de 2017 até julho de 2020 em que o capítulo provincial pôde voltar a ser celebrado.

O P. Miguel Márquez é autor de numerosas publicações de carácter teológico e espiritual, como de numerosos artigos (é colaborador habitual em revistas como “Teresa de Jesus” e “Revista de Espiritualidade”). Foi professor de mística e mariologia no CITES de Ávila, professor de mariologia nos cursos de renovação carmelitana no Monte Carmelo, professor de pastoral no Instituto de Espiritualidade de São Domingo.

Igualmente destaca sua atividade como animador da vida espiritual com palestras, retiros, exercícios e sua ajuda a numerosos grupos de oração. Igualmente dedicou muito tempo e esforço à direção espiritual e acompanhamento de muitas pessoas, incluindo padres, religiosos, freiras e seglares.

Miguel Márquez era uma promessa do futebol extremo – jogava no Plasencia – quando o Carmelo Descalço se cruzou com ele. Ficou impressionado com a felicidade das freiras do convento onde era acólito. "Aqui está algo forte para descobrir", disse-se. Então, no mosteiro das Batuecas ficou chocado e começou a ler Santa Teresa de Jesus. No final, desistiu da competição por contemplação. Até chegar a superior geral.

 

Talvez não seja a melhor altura para ser general.

O que você tem para viver é quase sempre o mais adequado. Estamos em um momento delicado e a Igreja está na mira do nosso testemunho. Na noite escura e nos tempos mais difíceis surgem os santos mais lúcidos. Os piores momentos do carmelo foram os mais fecundos. As páginas mais bonitas do carmelo foram escritas nos dias mais difíceis. Não podemos negar o presente, mesmo que seja complicado.

 

O Papa avisou-os sobre a tentação da sobrevivência.

Não queremos ser pessoas que protejam o seu prédio ou a sua segurança. Queremos proteger um carisma. É hora de voltar à origem, recomeçar e reviver o que Teresa de Jesus viveu. Nós temos santos que são uma maravilha, e sua vida foi fecunda porque eles passaram à noite, pela crise, por sentir que podiam fracassar. Fé consiste em passar pela dúvida e deixar Deus se fazer presente como Ele quer.

 

A vida religiosa vive uma noite escura?

Estamos procurando nosso lugar no mundo. É uma época de crise, de deserto, e podemos ter a tentação de pensar que isto não está no bom caminho e de procurar, a nível espiritual, seguranças rápidas e concretas e respostas claras e nítidas. É um perigo buscar espiritualidades que respondem com muita clareza, porque os místicos foram encontrando Deus deixando Deus se fazer presente.

 

Qual é a situação do mandado?

A ordem está crescendo muito na África e na Ásia. Na América, discretamente. Na Europa, o número cai significativamente. O rosto da ordem está ganhando um carácter asiático e africano. No total, somos 4.000 frades. Crescer não garante que a ordem cresça suficientemente forte. Por isso, o desafio é a formação e o acompanhamento das vocações, que as pessoas interiorizem o que significa a vida religiosa.

 

O que traz o carisma carmelitano?

Amizade com Deus e contemplação, da qual brotam a fraternidade e a missão. Em um mundo onde a dignidade da pessoa humana está em questão, a contemplação significa reconhecer a pessoa como filha de Deus e sentir-se habitado.

 

Antes de agir, contemplar.

Nós estamos tentados pelo ativismo, de pensar que somos nós que vamos salvar o mundo. Não somos nós, depende de como deixamos Deus entrar. Deus faz coisas inimagináveis com pessoas que se sentem fracas A graça da Igreja não está nas suas estruturas.

 

Liderou a união de várias províncias carmelitas na Espanha. É o futuro?

Somos chamados a unir esforços, a um diálogo sobre como aproveitar as diferenças para construir.

 

Quais serão as suas prioridades?

A primeira é a interculturalidade, que cada região não viva como uma realidade isolada. Outra é a formação dos jovens que nos chegam: discernimento é fundamental, pois nem todos são válidos para a vida religiosa ou as motivações nem sempre são claras. É importante também cuidar do tempo após a formação, quando um padre é lançado em uma comunidade. E a pastoral juvenil e vocacional: é preciso dar alto-falante aos jovens religiosos e leigos.

 

Ainda há sede espiritual?

Mesmo vivendo nossa noite escura, as pessoas se perguntam onde está Deus.

 

Conseguiu verificar?

Nos piores momentos da pandemia estive ajudando os capelães do hospital Gregorio Marañón e do hotel Miguel Ângelo [foi medicalizado]. Entrava nos quartos para ouvir, não para passar receitas. E as pessoas não falavam de mágoas, mas de milagres, das coisas que tinham descoberto. Fiquei impressionado ao entrar no quarto de uma pessoa transexual. Eu rezei, dei-lhe a bênção e ele disse-me para ir mais vezes. Na segunda entrevista ela me contou sua história e nesse dia foi ela que me pediu para rezar. Foi impressionante ver essa necessidade. A pandemia fez-nos pensar onde está Deus e eu tenho a sensação de que, se alguém ouvir bem o que está acontecendo, aí está. Fonte: Facebook (Francisco Armida Ternero)

Edith Stein, Co-padroeira da Europa. “Uma eminente filha de Israel e filha fiel da Igreja” (S. João Paulo II).

 

Vatican News

A Igreja celebra, neste dia 9 de agosto, a festa de Santa Teresa Benedita da Cruz, conhecida como Edith Stein, virgem e mártir Carmelita e Padroeira da Europa. Celebra-se também os 80 anos de sua morte.

Edith nasceu em Breslávia, na Baixa Silésia, Polônia, em 1891. Era a décima primeira filha de um casal de judeus muito fervoroso. Destacou-se, logo, por sua inteligência brilhante e o juvenil desapego da religião.

Ouça e compartilhe

Foi assistente do filósofo Husserl na Universidade de Freiburg, com quem aprofundou o tema da empatia e da fenomenologia. Mas, mediante a leitura dos Exercícios de Santo Inácio de Loyola e a vida de Santa Teresa de Ávila contribuíram para suscitar sua conversão ao cristianismo.

 

Segunda Guerra Mundial

Durante a I Guerra Mundial, ao chegar ao ápice de um longo percurso interior, Edith Stein interrompeu seus estudos de Filosofia para prestar socorro aos soldados, como enfermeira da Cruz Vermelha, e se dedicar à promoção humana, social e religiosa das mulheres, e à vida contemplativa.

Através de seus conhecimentos, estudos e aprofundamento dos textos de Santo Tomás de Aquino e de Santo Agostinho, Edith conseguiu encontrar a Verdade de Cristo. Por isso, recebeu o Batismo e a Crisma, em 1922, contra a vontade de seus pais, sem jamais renegar às suas raízes judaicas.

Durante os anos das perseguições, tornou-se professora e Irmã Carmelita, em Colônia, Alemanha, em 1934, recebendo o nome de Teresa Benedita da Cruz. Assim, abraçou o sofrimento do seu povo, em sintonia com o sacrifício de Cristo.

Devido às violências da "Noite dos Cristais", foi transferida para a Holanda, país neutro, onde, no Carmelo de Echt, colocou por escrito seu desejo de se oferecer em "sacrifício de expiação pela verdadeira paz e a derrota do reino do Anticristo".

 

Edith é presa

Dois anos após a invasão nazista na Holanda, em 1940, foi presa, junto com outros 244 judeus católicos, como ato de represália contra os Bispos holandeses, que se opuseram publicamente às perseguições. Foi levada para o Campo de Extermínio de Auschwitz, na Polônia, onde transmitiu a mensagem evangélica aos presos, dedicando-se, sobretudo, à assistência das crianças encarceradas, que, depois, as acompanhou, com compaixão, até ao patíbulo.

Sua irmã Rosa, que também havia se convertido ao catolicismo, estava presa com ela em Auschwitz. No momento extremo do seu martírio, disse: "Venha, vamos pelo bem do nosso povo". Com o olhar fixo nos braços abertos de Cristo na cruz, única esperança, Edith Stein recebeu a palma do martírio nas câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau, no tórrido mês de agosto de 1942.

Em 1998, ao presidir o rito de sua Canonização, São João Paulo II a definiu: "Uma eminente filha de Israel e filha fiel da Igreja. Proclamar Santa Edith Stein co-padroeira da Europa significa cravar no horizonte do Velho Continente um estandarte de respeito, tolerância, aceitação". Fonte: https://www.vaticannews.va 

 

Frei Tito Brandsma, O. Carm

Retiro espiritual de 10 dias, constando de meditações sobre a vida de Maria, a fim de alcançar a intimidade com Jesus. Neste escrito do Beato Frei Tito Brandsma, transparecem, ao mesmo tempo, sua profunda piedade e simplicidade carmelitanas.

 

Introdução

Como Irmão de Nossa Senhora do Carmo, quisera conduzir à terra bendita do Carmelo todos quantos comigo amam e veneram a Maria qual Mãe, a fim de que pelas mãos da “Mãe e Esplendor do Carmelo” cheguem à mais íntima união com Deus, união esta que é a finalidade da vida contemplativa no Carmelo. “Induxi vos in terram Carmeli, ut comederetis fructum ejus et optima illius”. (Eu vos introduzi na terra do Carmelo, para que saboreásseis os seus frutos e os seus bens).

Outrora - há quase mil anos - partiam rumo à Terra Santa os cruzados com o fito de reconquistá-la para Jesus Cristo, de restaurar o culto e de recuperar para a Igreja os Lugares Santos, cercando-os novamente do primitivo brilho e esplendor.

 

Cruzados somos nós também!

Também nós queremos reconquistar para Cristo Jesus a Terra Santa, que no passado lhe pertenciam, não a Terra que se acha além-mar, mas a terra santa de nossa alma, o jardim do nosso coração, que uma vez foi consagrado a Cristo e é sua propriedade, mas por causa da nossa frieza, foi invadido por um sem-número de inimigos da Cruz de Cristo, sufocado por ervas daninhas, de modo a não ser já o recanto privilegiado em que o Senhor põe sua complacência. Oxalá nos anime o mesmo entusiasmo que animava os cruzados, pondo-os inteiramente ao serviço do seu ideal, após abandonarem tudo!

Esqueçamo-nos, por uns dias de tudo, a fim de empreendermos a cruzada santa em vista de reconquistar para Jesus a terra abençoada de nossa alma para Deus, a quem ela pertence de direito e que nela deseja ser servido. Apartemo-nos, por uns dias, de nossas ocupações habituais para empreender esta cruzada espiritual e repitamos com os cruzados de antigamente: “Deus o quer”!

Na sua história das Cruzadas, Jacques de Vítry conta-nos que alguns cruzados retiraram-se para o Carmelo, passando a viver em grutas e cavernas e, quais abelhas, hauriam mel da meditação dos mistérios outrora consumados na Terra Santa pela nossa redenção. Agrupavam-se ao redor da capela de Nossa Senhora, em silenciosa contemplação das verdades sublimes, que al nos foram reveladas.

Seguindo-lhes o exemplo, retiremo-nos, também para a solidão do Carmelo, a fim de editar as verdades eternas da nossa fé e refletir, por uns dias, sobre o seu significado para a nossa vida. Juntemo-nos também em torno do santuário de Maria, a Mãe e Esplendor do Carmelo, para sorver, por nossa vez, o mel da meditação daquilo que se nos depara do alto dessa montanha sagrada. Dali vemos aos nossos pés: Nazaré, Jerusalém e Belém. Deparamos com o caminho do Egito, pelo qual Jesus deve ter voltado para Nazaré. Surgem diante dos nossos olhos a montanha santa do Horeb, o Calvário e o monte das Oliveiras. Para onde quer que se volte o nosso olhar, vemos reviver diante de nós os cenários da vida de Jesus e de Maria. Ao entrarmos na Terra Santa, não poderíamos escolher lugar melhor para descortinar toda a regia o santificada por Deus.

Com Maria, que sob a guarda de São José reconduziu seu Jesus do Egito pelo Carmelo para Nazaré - onde o concebera - podemos repousar um pouco no Carmelo. De Maria está escrito que meditava em seu coração tudo quanto ouvira dizer do seu Jesus e tudo que escutara dos seus lábios. “Conservabat omnia verba haec, conferens in corde suo”.

Queremos aproximar-nos de Maria e verificar tudo que lhe vai no coração. Com ela queremos considerar a vida de Jesus, contemplando a sua própria vida, tão intimamente unida a do seu filho.

Na Igreja primitiva - ainda em seu berço - encontramos um tocante exemplo de um retiro de dez dias na mais estreita união com Maria, que foi coroado pela vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, os quais por sua vez foram convertidos em homens novos. Nada mais desejável do que sermos também repletos do Espírito de Deus durante este retiro, para retornarmos à nossa vida como homens novos.

Unindo a nossa prece a de Maria, invocamos o Divino Espírito:

 

Veni, Creator Spiritus,                                                 (Vem, Espirito Criador

Mentes tuorum visita:                                                visita as mentes dos teus:

Imple superna gratia,                                                Enche da suprema graça

Quae tu creasti pectora.                                           Os peitos que criaste.)

 

Como os apóstolos, queremos perseverar unanimemente na oração com Maria, a Mãe de Jesus, confiados que, por sua intercessão, descerá sobre nós o Espírito renovador, incendiando os nossos corações gelados. Maria será nossa Guia!

Filhos de Maria que somos, sabemos que ela - chamada “Speculum Justitiae” - é o mais acabado modelo de união e familiaridade com Deus, que ninguém lhe foi mais semelhante do que aquela que escolheu como Mãe. Nossa união com ela, a imitação de sua vida, é o penhor mais seguro de nosso vinculo com Jesus, da nossa imitação de Cristo, seu Filho.

Sentimo-nos atraídos por Maria por encontrar junto dela Jesus: seus braços no-lo entregam, a fim de o amarmos do seu jeito. Jesus veio até nós por seu intermédio. Vamos, pois, até Maria, e certamente encontraremos Jesus!

Queremos dedicar estes dez dias à meditação da vida de Maria, porque assim estaremos em união com Deus e, a todo momento, o nosso olhar estará fito em Cristo, seu Filho.

Eis a finalidade deste retiro: chegar à mais íntima união com Deus. Procuraremos alcançá-la guiados pelas mãos de Maria: por ela nos deixaremos conduzir.

Ó Maria, a vossa imagem se nos apresenta cheia de brilho e majestade. Estes esplendores, porém, derivam por sua vez do Menino Jesus, que tendes nos braços e é o bendito fruto do vosso ventre. Dai-nos o Divino Menino. Nós nos estendemos as mãos, a fim de acolhe-lo e estreitá-lo ao nosso coração.

Pomos este retiro sob a vossa proteção para chegarmos a Jesus guiados por vós, unindo novamente o nosso coração a ele, assim como estávamos unidos a ele nos mais belos dias da nossa vida, quando a ele vos consagramos por meio dos nossos votos.

 

Oração preparatória para as meditações

Ponhamo-nos na santa e adorável presença de Deus. Ele está conosco no Santíssimo Sacramento do Altar. “Onde houver dois ou três reunidos em meu nome, lá estarei no meio deles”. Ele está sempre conosco. Enche com a sua presença o céu e a terra. Tudo foi por ele criado. Tudo o que existe ele o conserva. Em tudo opera. Em tudo habita. A tudo atinge com o seu poder. Mora também no meu coração: nele atua, nele fala. Pede que se prestem ouvidos.

O Jesus, nós vos saudamos, vos adoramos. Falai, Senhor, que o vosso servo escuta.

Saudemos também à sua santa Mãe. Os Magos do Oriente encontraram o Menino com sua Mãe. Quando procurarmos, quando acharmos, quando saudarmos Jesus, vejamos também a sua Mãe. Vejamo-la ao seu lado. Vejamos Jesus nos braços de Maria. Saudemos Maria com o que se é mais grato: as palavras do anjo Gabriel, ao anunciar a boa nova na casa de Nazaré:

“Ave, Maria...”

 

SEGUNDO DIA - PRIMEIRA MEDITAÇÃO

 Episódio: O Santo Profeta Elias no Monte Carmelo

 

Diante dele o povo eleito de Israel. No meio deles, o rei Acaz e os sacerdotes de Baal. “Usquequo claudicatis in duas partes? Si Dominus est Deus, sequimini eum”. (Até quando claudicareis dos dois pés? Se o Senhor é Deus, segui-o). Um sinal do céu: Deus responde por meio do fogo. Água sobre o sacrifício. Fogo do céu devora-o. Morte dos falsos profetas. Pediu o auxilio de Deus por sete vezes. Nuvenzinha por sobre o mar, sinal de chuva que virá trazer a salvação. Acaz vai com Elias para Jerusalém.

 

Lições contidas no episódio

1 - Elias nos pergunta até quando continuaremos a mancar para dois lados. Temos que nos definir...

2 - Sinal dado por Deus. É ele o Deus que responde por meio do fogo. Pela revelação sabemos que ele veio trazer fogo à terra e não quer senão que este fogo arda. Sua graça é este fogo.

3 - Água sobre o sacrifício. Significa que tudo devemos esperar da graça de Deus e que devemos dispor-nos para recebe-la. Não confiar em aptidões e talentos. Entregar-nos a Deus: “Scio cui credidí” (Sei em quem acredito).

4 - Morte dos falsos profetas. Morte: a luta mais radical contra tudo quanto possa afastar-nos de Deus ou ocupar o lugar dele em nós. Conhecer os nossos inimigos. Disse Deus: “Quem não está comigo, é contra mim”. O que poderá levar-nos para mais perto de Deus?

5 - Pedir a chuva. Pedir a graça de Deus. Rezar sempre, sem nunca desfalecer. “Domine, doce nos orare” (Senhor, ensinai-nos a orar).

6 - A nuvenzinha sobre o mar. Maria como arauto, prenúncio da nossa predestinação. Deus quer dar-nos as graças por intermédio de Maria.

7 - Vamos a Jerusalém, a fim de oferecer o nosso sacrifício a Deus, no lugar por ele indicado, o sacrifício de nós mesmos. Amanhã, à hora do Santo Sacrifício, oferecer-nos a Deus, em união com o Sacrifício de Jesus.

 

Colóquio com Santo Elias

Ouvir as palavras. Formar ao seu lado. Transplantar no coração o seu zelo e o seu amor. Santa competição com respeito à sua confiança em Deus. Esperar tudo dele. Água sobre a lenha. Convencer-nos de que a nossa salvação é dom exclusivo de Deus, ainda que tenhamos de merecê-la. Considerar tudo à luz da Providência e da predestinação divinas. Fortes com Santo Elias pela força que vem de Deus, à luta contra tudo que nos afaste de Deus. E, depois de abominarmos tudo isso, ajoelhar-nos com Santo Elias para rezar, para perseverar na oração. Com Santo Elias, que nos é apontado com São Tiago como modelo de perseverança na oração e como garantia de que nossa oração será ouvida. Alegrar-nos com Santo Elias pelo fato de ter aparecido uma nuvenzinha sobre o mar. Levantar-nos com ele para irmos a Jerusalém.

 

Colóquio com Maria Santíssima

Na nossa aridez e secura, Maria é a nuvem luminosa, portadora de nossa redenção. Saudar Maria. Confiar nela. Com a sua intercessão, estamos seguros da graça de Deus. Nuvem que é, desfaça-se e nós em copiosa chuva. Imensamente grande é a graça de Deus, maior do que nós merecemos. Somos comparáveis ao povo israelita. E Maria é a Mãe da misericórdia. “Salve Regina. Et Jesum post hoc exsilium ostende”. (Salve Rainha. E mostrai-nos Jesus após este exílio). Exílio é a nossa vida sem Deus ou, em todo caso, sem íntima união com ele. Deste exílio vamos libertar-nos agora, durante o retiro. Vamos voltar para Deus. “Jesum ostende” (Mostrai-nos Jesus). Que ela nos faça fixar sempre os olhos em Jesus.

 

Resoluções

Conversão. Olhar fixo em Deus. Não servir a dois senhores. Nenhuma duplicidade. Entregar-nos a Deus, cheios de alegria e gratidão, e fazer o que nos compete, no seu serviço, para cumprir a sua santa vontade em tudo. Representar-nos muitas vezes a Maria como a nuvenzinha que trouxe a salvação a Israel e que também sobre nós virá trazer a chuva da graça divina.

Padroeiro do 1º dia: Santo Elias, o homem com o facho aceso que nos inflama com a sua palavra e nos lidera na luta.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado:

1º - “ Até quando claudicareis para os dois lados?”

2º - “Ecce nubecula parva - et facta est pluvia grandis” (Eis uma pequena nuvem - e caiu uma chuva torrencial).

 

SEGUNDO DIA - SEGUNDA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Elias no deserto

Elias, ao se ver abandonado, fugiu para o deserto e, desanimado, jaz prostrado por terra. Aparece-lhe um anjo que lhe ordena comer um pão assado sob cinzas, pão que o próprio anjo lhe dá. Come e recobra as forças. Por indicação do anjo, prossegue a caminhada pelo deserto até a montanha santa do Horeb. A Deus se lhe manifesta no sussurro de uma brisa suave. Agora se sabe unido a Deus, vê a Deus diante de si. “Deus vive -  exclama - e estou em sua santa presença”. Na confortadora certeza da presença divina, na convicção de estar diante de Deus, põe-se a executar a tarefa que Deus lhe confiara. Quando esta missão lhe permite uma breve trégua, volta a. solidão do Carmelo, a fim de confirmar e fortalecer a sua união com o Senhor, nesse retiro.

 

Lições contidas no episódio

1 - Ao vermos nossa miséria e fraqueza, também nós nos sentimos amiúde desanimados. O mesmo acontece quando vemos a nossa vida aparentemente tão inútil e infrutífera para nós mesmos e para os outros. Mas o anjo de Deus, o anjo da guarda, virá então consolar-nos e encorajar-nos com as suas inspirações salutares.

2 - O pão que o anjo deu de comer a Santo Elias é figura do Pão Celestial da Eucaristia, que nos foi preparado por Jesus na Sagrada Paixão. “Piscis assus Christus est passus” (Peixe assado é Cristo padecido). “Vinde a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”.

3 - Unidos a Jesus, poderemos também nós atravessar o deserto da vida com Santo Elias, até chegarmos ao monte santo da visão beatífica. “Per aspera ad astra” (Pelas asperezas até os astros).

4 - Os sussurro da brisa, no silêncio, símbolo da humildade e da mansidão, representa a voz de Jesus a nos dizer: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e achareis repouso para as vossas almas”.

5 - Como Santo Elias, devemos ter sempre diante dos olhos o Deus Vivo, crer-nos sempre na sua santa presença e assim executar a nossa tarefa.

6 - A fim de guardar e consolidar esta crença - sempre que as nossas atividades o permitirem - devemos refugiar-nos na solidão e no silêncio do Carmelo.

 

Colóquio com Santo Elias

Alegrar-nos com ele pelo fato de que Deus nos manda o seu anjo, nas horas de dificuldades e desânimo, a fim de indicar-nos o caminho da contemplação divina e a fim de mostrar-nos, no Pão celeste, o alimento capaz de revigorar-nos para andar sem desfalecimento no caminho do deserto. Pedir-lhe que nos alcance a forca necessária para levantar-nos, à palavra do anjo, para comermos o Pão do céu e nos pormos a caminho. Deve alegrar-nos sobremodo o fato de avistarmos no horizonte a montanha sagrada, a perspectiva do céu. Sentir como Santo Elias o antegozo do paraíso. Predispor-nos para o exercício da presença de Deus no silêncio do nosso coração. Compenetrar-nos profundamente desta santa presença e viver nela.

 

Colóquio com o anjo da guarda

Anjo de Deus, vem em nosso auxilio. São espíritos que nos auxiliam por ordem de Deus. Assim como ajudaram a Santo Elias, nos oferecerão também os seus préstimos. Quantos serviços não ofereceu São Rafael a Tobias! Estão diante do trono de Deus. Unir-nos espiritualmente com eles para servi-lo dia e noite. Vários santos viram o anjo da guarda ao seu lado. Tamanha graça não pedimos: basta-nos a fé. E preciso estarmos sempre lembrados da sua presença, para que possa conservar-nos unidos a Deus, principalmente por meio da sagrada comunhão; então, mais do que nunca, deve o anjo da guarda dispor-nos para recebermos as graças correspondentes. Que ele represente muitas vezes aos nossos olhos perspectiva do céu, a fim de que à esta luz enveredemos pelo caminho certo.

 

Resoluções

Na nossa fraqueza, procurar auxílio junto de Deus, de preferência na sagrada comunhão. Nela buscar força para esse único dia: “Panem nostrum cotidianum da nobis hodie” (O pão nosso de cada dia nos dai hoje).

Considerar a vida como caminhada através de um deserto em demanda do Horeb, onde veremos a Deus. A futura contemplação de Deus é capaz de dar novo aspecto à nossa vida.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1º - “Surge, comede, grandis enim tibi restat via” (Levanta-te, come, ainda há um grande caminho a percorrer).

2º - “Vivit Dominus, in cuius conspectu sto” (Vive o Senhor, em cuja presença me encontro).

 

SEGUNDO DIA - TERCEIRA MEDITACÁO

 

Episódio

A Santíssima Trindade, o Amor Infinito, querendo que os outros seres participassem da sua felicidade, criou os anjos e os homens, o céu e a terra. Deus, porém, vê que o homem - criado à sua imagem e semelhança - o renegará, mas apesar disso não quer desistir da criação e, se é verdade que em um só homem todos pecam, conservará ele em um só Homem a sua união com a natureza humana, e esta criatura - objeto de sua singular complacência e seu amor - ele saberá transformá-la em instrumento de uma união mais íntima com a natureza humana pela encarnação do seu próprio Filho. Neste plano eterno entra a Imaculada Conceição da Virgem, a futura Mãe do Redentor. O homem caiu, mas conservou a esperança, a perspectiva da Redenção.

O período de estiagem em Israel. O profeta Elias reza por sete vezes. Aparece, então, no céu a nuvenzinha, símbolo de Maria que nos traz o Salvador, qual aurora que precede o nascer do sol, estrela da manhã a prenunciar o astro-rei. Contudo, neste plano eterno, está prevista também a nossa eleição. Como filhos de Maria, ansiamos ardorosamente pela sua vinda ao mundo. Ela é nossa Mãe; nós somos seus filhos. Ela é a Medianeira da encarnação e, por 1550 mesmo, de toda a ordem da graça. Nela fomos escolhidos e chamados. Na festa da sua Natividade, celebramos ao mesmo tempo a nossa vocação para o reino da graça.

 

Lições contidas no episódio

1 - Deus amou-nos desde toda a eternidade, dando-nos Maria como

Medianeira, a fim de que continuássemos unidos a ele.

2 - A união com Maria é a garantia da nossa união com Deus, desde que este quis vir até nós por Maria.

3 - Alegrar-nos com os anjos e santos e com toda a Igreja por causa da eleição de Maria, sua Imaculada Conceição e Natividade.

4 - Como filhos de Maria - reunidos no Carmelo - alegrar-nos de modo especial pela nossa eleição, convencidos de que devemos tornar-nos dignos de tal escolha, pela nossa correspondência a essa graça e pela nossa fidelidade à nossa boa Mãe.

5 - Ver, multas vezes, nas nuvens, na aurora, na estrela da manhã outros símbolos ou imagens de Maria, a fim de melhor nos lembrarmos da sua eleição sobrenatural.

 

Colóquio com a Santíssima Trindade

Louvar e agradecer a Deus pela criação do céu e da terra e, particularmente, pela nossa própria criação e eleição. Pedir que tenhamos sempre diante dos olhos a finalidade da nossa criação: de sermos eternamente felizes com Deus. Compenetrar-nos de nossa culpa pessoal e de toda a humanidade. Pedir perdão e misericórdia. Louvar e agradecer a Deus por ele ter colocado Maria como sinal de redenção e misericórdia e por haver confirmado nela a nossa eterna felicidade. Louvar e agradecer sobretudo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, por haver escolhido Maria como Mãe. Agrupar-nos em torno da Santíssima Trindade com os anjos e santos do céu para louvá-la e agradecer-lhe a Imaculada Conceição de Maria, determinada por ele desde toda a eternidade.

 

Colóquio com Maria Santíssima

Saudar a Maria como objeto de singular complacência do Amor Divino, em sua Imaculada Conceição, isto é: a eterna preservação do pecado. Alegrar-nos pela sua indefectível união com Deus que jamais foi interrompida. Saudar nela a nossa redenção, ver como surge com ela a luz para nós. “Causa nostrae laetitiae” (Causa da nossa alegria) - motivo de eterna alegria. Toda uma série de invocações da ladainha lauretana dizem respeito a isto.

 

Resoluções

Lembrar-nos, muitas vezes, de que Deus nos amou “ab aeterno” (desde de toda a eternidade), de que resolveu criar-nos e, para assegurar a nossa eterna salvação, quis “ab aeterno” a Imaculada Conceição da Virgem. Ver-nos unidos a Maria nos decretos eternos de Deus.

Humilhar-nos, amiúde, diante de Deus, por termos desprezado o seu amor. Invocar e louvar a misericórdia divina.

Regozijar-nos por causa da Imaculada Conceição e Natividade de Maria, como prenúncios da nossa redenção e eterna salvação.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Deus amou-nos desde toda a eternidade e quis a nossa perene felicidade.

2 - A imaculada Conceição trouxe alegria ao universo.

 

TERCEIRO DIA - PREMEIRA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Apresentação de Nossa Senhora no Templo

Desde a infância, foi consagrada a Deus, como outrora o fora Samuel, desde o momento em que pode dispensar os cuidados maternos. Pintores célebres perpetuam a cena em telas famosas. São Joaquim e Sant'Ana levam-na ao Templo. Imagem de nossa vocação... Lembrar-nos da casa paterna, das preocupações cuidados de nossos pais, de como nos dedicaram a Deus por intermédio da Virgem. Fomos escolhidos a dedo... O nosso primeiro entusiasmo e ideais... A vocação não é algo instantâneo, assim como não o é a própria criação. Deus continua a criação, conservando tudo no ser. Assim também continua a chamar-nos. “Sto ad ostium et pulso” (Estou diante da porta e bato).

Ver Maria no Templo: suas ocupações, sua formação, sua oração e seu exemplo. Recordar-nos dos nossos primeiros anos de vida religiosa. Compará-los com a nossa vida atual. Somos filhos de Maria: parecemo-nos de algum modo com ela?

 

Lições contidas no episódio

1 - Como pode ser simples e cândida, sincera e real a nossa consagração a Deus se o amarmos verdadeiramente! Ver como Maria se consagrou totalmente a Deus.

2 - Gratidão para com Deus e reconhecimento para com nossos pais, instrumentos em sua mão para dirigir os nossos passos ao santuário. Rememorar as circunstâncias de que a Divina Providência se serviu para conduzir-nos ao Carmelo e louvar os seus admiráveis desígnios.

3 - Lembrar-nos, muitas vezes, de que Deus nos chamou e continua a nos chamar sempre para o servirmos de todo o nosso coração e nos consagrarmos a ele. Não considerar a vocação como fato histórico que se deu no passado. Começar todos os dias de novo: “Haec dixi: nunc coepi” (Eu disse estas coisas: agora começo). Iniciar o dia com Maria. Imitar o seu modo de servir a Deus.

4 - Nas ocupações mais comuns e simples, recordar-nos dos trabalhos de Maria no Templo: ver como obedecia ás ordens dadas até nas menores coisas; como em tudo - vestuário, alimento, bebida e horas de lazer - acomodava-se ás outras.

 

Colóquio com Maria Santíssima

Que alegria para ela ser admitida no Templo desde criança, ao serviço do Santuário! Que entusiasmo deve ter sido o seu, que ideais magníficos caracterizaram seus anos de infância! De que dedicação e piedade deve ter dado mostras. Oxalá tivéssemos nós entrado para o Carmelo com disposições semelhantes; tivesse a vida religiosa prosseguido como nosso ideal mais alto; tivéssemos procurado sempre servir a Deus em qualquer trabalho determinado pelos Superiores!

Em nossos trabalhos diários queremos pensar, muitas vezes, em Maria. Que ela nos ajude a seguir o seu exemplo.

 

Colóquio com São Joaquim e Sant'Ana

Ditosos pais, exemplos de piedade, tão bem recompensados pelo sacrifício feito a Deus, quando cederam sua bem-amada filha ao serviço do Senhor. Que eles nos ensinem a desistir de tudo, mesmo daquilo que mais estimamos, quando se tratar da glória de Deus, ou quando pudermos fazer algo para promover o seu culto. Não retomar nada do sacrifício que lhe fizemos ao entrar para o Carmelo. Ainda que não nos tornemos de todo semelhantes a Maria, é inegável que Deus tem os seus desígnios para a nossa vocação. Que eles se realizem em nós, sem que em nada o impeçamos a sua realização, recuperando algo do sacrifício feito.

 

Resoluções

Prostrar-nos diante do altar e consagrar-nos novamente, de todo o coração, a Deus com o mesmo zelo, não, com amor mais ardente ainda, por sabermos agora o que significa dar-nos a Deus em união com Maria.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Maria Santíssima consagrou-se incondicionalmente a Deus.

2 - Pudesse eu consagrar-me assim a Deus na vida religiosa!

 

TERCEIRO DÍA - SEGUNDA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Desponsórios de Maria com São José

Singular disposição da Divina Providência: Maria Santíssima destinada a ser Mãe de Deus, a Virgem das Virgens, é dada em casamento a São José! “A fim de ocultar a Satanás e seus sequazes a sua milagrosa Maternidade”, diz Santo Inácio. Aos seus eleitos Deus manifesta os seus segredos. Exige, porém, ás vezes, que guardem ociosamente o segredo. “Secretum meum mihi” (Reservo-me o meu segredo). São José torna-se assim protetor de Maria e pai adotivo do Filho de Deus. Jesus mesmo quis ser tido como filho de José, o carpinteiro. Deus manifesta os seus segredos a seu tempo: é o que vemos na vida oculta de Jesus e de Maria. José quer abandonar a sua santa esposa: eis então o anjo a revelar-lhe o mistério divino. Aos olhos de outros continuará escondido. Eles talvez desprezassem Maria. Contemplar a humildade da Virgem. A sua confiança em Deus. Ela suporta o que, aparentemente, é vergonhoso e caía-se! São Joaquim e Sant'Ana confiam-na a José. Com nossa Mãe devemos colocar-nos sob o patrocínio de São José.

Ao lado de São José vemos o arcanjo São Gabriel, como protetor de Maria a arauto da graça divina. Estes santos são também os protetores da Ordem do Carmo.

 

Lições contidas no episódio

1 - Admirar a humildade de Maria e a sua ilimitada confiança em Deus.

2 - Admirar a eleição de São José que, em tudo, se submetia ás ordens divinas e continuou ao lado de Maria, a fim de que nela se cumprissem os desígnios da Providência. Com Maria ponhamo-nos sob o seu patrocínio.

3 - Não fazer questão da nossa honra e estima. Agradecer a Deus os dons recebidos, mas empregá-los unicamente em seu serviço.

4 - “Ama nesciri et pro nihilo reputari” (Estima ser desconhecido e ser tido por nada). Amar a vida escondida. Alguns santos deram-nos exemplos heroicos neste particular. Maria Santíssima, porém, é o exemplo por excelência.

5 - Não desculpar-nos quando acusados, a não ser que a honra de Deus o exija expressamente. “Sofre e caía”.

 

Colóquio com São Joaquim e Sant'Ana

Alimentaram extraordinária confiança em Deus. Conhecem, certamente, o voto de virgindade feito por Maria,, conhecem a santidade de sua filha; confiam-na, no entanto, a São José. E o caminho que a lei lhes indica. São José haveria de proteger a sua virgindade e a virtude de Maria permaneceria oculta.

 

Colóquio com São José

Contemplar sua decepção, depois da grande confiança que depositara em Maria e da grande estima que lhe dedicara. Sua luta interior. Mas, eis que Deus intervém, manifestando-lhe os seus segredos por meio do anjo. Não teria sido o arcanjo São Gabriel? São José respeita o segredo divino e o mantém oculto ao mundo ate o momento em que Deus decida revela-lo. Permite que os outros falem e julguem Ensina nos assim a não nos escandalizar da pseudo sabedoria do mundo quando faz os seus juízos a respeito de Deus e dos seus mistérios Ensina nos a deixar o julgamento a Deus, sem nos afligirmos demasiadamente quando o mundo forma opinião errada a respeito de nos da igreja ou dos sacramentos A seu tempo Deus enviará ao mundo os arautos de sua revelação. Não devemos aparecer onde não fomos chamados, mas rezar em silêncio para que Deus envie operários à sua vinha. Nesse ínterim, manter-nos sempre preparados para intervir quando for da vontade de Deus. Confiar que, no momento adequado, Deus nos dê a eloquência que for necessária. Seguir com São José a orientação da Providência. Deixar tudo ao critério daqueles que nos forem dados como guias.

 

Resoluções

Contentar-nos com a situação em que Deus nos colocou, sem procurar a estima dos homens com referência aos nossos talentos ou vocação. Em casos de desprezo ou juízos injustos, sofrer e calar, confiando em Deus.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Aos olhos do mundo, a Mãe de Deus deve aparecer como mulher de um simples operário.

2 – “Ama nesciri et pro nihilo reputari” (Estima ser ignorado e ser tido por nada).

 

TERCEIRO DIA - TERCEIRA MEDITAÇÃO

 

Episódio: A Anunciação do anjo a Maria e a encarnação do Filho de Deus no seio da Santíssima Virgem

Recolhida e silenciosa reencontra a Virgem na casa de Nazaré. O trabalho só é interrompido pela oração. São José trabalha na oficina. Repentinamente, luz vivíssima refulge no aposento: aparece o arcanjo Gabriel.

Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum” (Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco). Maria Santíssima perturba-se e põe-se em guarda. Os olhos da alma fitos em Deus. O anjo a tranquiliza e revela-lhe o segredo de Deus. Maria lembra-lhe a sua virgindade, prometida e consagrada a Deus. O anjo explica-lhe. então, as intenções divinas. Ressoa a magnífica palavra da Virgem: “Ecce ancilla Domini” (Eis aqui a escrava do Senhor). E a força do Altíssimo lhe lança sombra e ela concebe do Espírito Santo. Mistério impenetrável: o Filho de Deus se fez homem. Os teólogos procuram explicar melhor, mas o mistério permanece profundo. Nós cremos...

 

Lições contidas no episódio

1 - Em que condições veio o anjo encontrar Maria? Estamos nós sempre em condições de receber a visita de um anjo? Estamos sempre suficientemente dispostos a receber as graças especiais de Deus? Pode o anjo entrar a qualquer momento em nossa cela? Lembrar-nos da presença do ano da guarda.

2 - Pode o anjo dizer-nos também que estamos cheios das graças que Deus quis dispensar-nos? Está o Senhor sempre conosco, isto é, estamos continuamente convencidos de que Deus está conosco? Temo-lo sempre diante dos olhos de nossa alma? Ou o nosso espírito vaga longe dele, ocupado em outras coisas completamente diferentes, onde não há lugar para ele?

3 - Manifestar, muitas vezes, a Deus o nosso estado de alma, a fim de que ele nos indique o caminho. Suplicar a luz divina nas trevas que envolvem o caminho da nossa vida.

4 - Dizer também o nosso “'Ecce ancilla Domini” (Eis aqui a escrava do Senhor), prontos para tudo que Deus possa exigir de nós. Generosidade... Jamais poderemos vencer a Deus em generosidade. Confiança ilimitada na Sabedoria, no Poder e na Bondade divina...

 

Colóquio com Jesus

Alegria inefável pelo seu incompreensível amor, por se ter feito homem, ele o Deus eterno, homem em tudo igual a nós, completamente dependente das criaturas, tão pequeno, tão insignificante e desprovido de tudo que nós mal conseguimos imaginar... “Deus absconditus” (Deus escondido). Admirar a Sabedoria divina. Que contraste com o nosso desejo de fama e glória! Ajoelhar-nos em adoração ao Verbo. Ato de fé... Desejar uma compreensão cada vez mais profunda do sublime mistério. A união de Deus com a natureza humana: imagem do nosso progresso na vida espiritual, que é a união cada vez mais íntima com a Divindade. Considerar a encarnação com imagem de inabitação divina em nós. É preciso que ele nasça, cresça em nós... “Vivo, iam non ego, vivit vero in me Christus” (Já não sou eu mais quem vive, mas é Cristo que vive em mim)...

 

Colóquio com Maria Santíssima

Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus et benedictus fructus ventris tui” (Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre). Dizemo-lo tantas vezes, mas nem sempre conscientes plenamente do seu sentido. Ao menos desta vez o digamos cheios de fé, juntamente com o arcanjo, unindo as nossas palavras ás suas. Queremos unir-nos sempre com o anjo, quando rezamos: “Angelus Domini nuntiavit Mariae”, (O anjo do Senhor anunciou a Maria).

Pensar neste mistério, quando ouvirmos tocarem os sinos. Maria Madalena de Pazzi tocava os sinos para anunciar aos homens: “amor non amatur” (o amor não é amado).

Lembrar-nos das descrições dos literatos e das telas dos grandes mestres... A luz passa através do vidro sem lesá-lo. E preciso, porém, que o vidro esteja bem limpo. O nosso vidro é, tantas vezes, tão opaco, tão pouco transparente! Onde está a nossa pureza, entendida no sentido positivo de consagração absoluta a Deus, de pertencermos única e inteiramente a ele, tão só preocupados em amá-lo? Não é de admirar que não haja mais abundância de luz em nós. Que Maria Santíssima nos purifique cada vez mais, tornando-nos mais dispostos a acolher a graça divina. Que ela faca ressoar aos ouvidos de nossa alma a palavra: ',Ecoe ancilla Domini, que repetiremos frequentemente com ela.

 

Resoluções

Considerar sempre a anunciação do anjo a Maria como a realização do maior mistério da revelação divina, o mistério da esperança e das promessas.

Rezar com maior devoção o “Angelus Domini”, três vezes ao dia. Não omiti-lo nunca, para podermos viver sempre lembrados deste grande mistério.

Dispor-nos a receber a graça divina.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - “Et concepitd de Spiritu Sancto”(E concebeu do Espírito Santo).

2 - Emanuel - Deus conosco.

 

QUARTO DIA - PRIMEIRA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Visita de Maria Santíssima à sua prima Isabel

Nexo admirável entre a anunciação a Maria e a divulgação do estado de Isabel, que pediu auxilio de Maria. Mal se havia encarnado no seio puríssimo da Virgem, Jesus a impele a uma obra de caridade. “Maria abiit in montanam cum festinatione” (Maria dirigiu-se ás pressas até as montanhas). Não recua diante das dificuldades da viagem. Não a retém sua novel e altíssima dignidade. Pelo contrário: “Quem dentre vós quiser ser o maior, seja o menor, o servo de todos”.

Saudação entre Isabel e Maria. A resposta de Maria é o “Magnificat”, cântico incomparável, inesquecível. Palavra por palavra é de sentido belíssimo. E Maria servia, ajudava Isabel. Nasce, então, o Precursor do Messias.

O “Benedictus” de Zacarias... Maria Santíssima carrega em seus braços o pequeno João e dedica-lhe os primeiros cuidados. Regressa depois a Nazaré...

 

Lições contidas no episódio

1 - Pela nossa caridade devemos mostrar que Deus habita realmente em nós.

2 - O mistério da inabitação divina em nós deve impelir-nos a atos positivos de caridade.

3 - Jamais considerar-nos superiores ou elevados demais para obra de caridade, qualquer que seja ela.

4 - Não deixar transparecer, nessas obras, que estamos prestando um favor ao fazer isto ou aquilo. Acabaria por esvaziar nossa obra de sua maior beleza e merecimento.

5 - Alegrar-nos por podermos, com as nossas obras de caridade, preparar o caminho do Senhor ou prestar serviços aqueles que prepararam esse caminho. Gostar de uma obra oculta e indireta e alegrar-nos com as boas ações dos outros...

 

Colóquio com Santa Isabel

Que alegria para ela a visita de Maria, a Mãe do Senhor, para confirmar-lhe a fé, ajudá-la nas suas dificuldades. Participar da sua alegria e considerar a sua escolha.

Em companhia de Cristo, Maria Santíssima visita-nos também. Possamos receber a sua visita com humildade e sincera alegria, como Santa Isabel. “Unde hoc mihi ut veniat Mater domini mei ad me?” (Donde me vem essa honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?).

Como terá cuidado de João, o Precursor, depois de ter visto o exemplo de Maria! Como terá sido agradecida a Maria Santíssima! Que ela nos alcance os mesmos sentimentos...

 

Colóquio com Maria Santíssima

Agradecer-lhe o exemplo dado. Admirá-la em sua generosidade e disposição para servir. Pedir-lhe que visite também a nós, para auxiliar-nos, principalmente em nossas obras de apostolado, quando for a nossa vez de sermos precursores de Jesus”. Sua intercessão é penhor seguro da graça divina. Repetir o “Magnificat” e fazer nossos os sentimentos al expressos. Rezar sempre com especial atenção este cântico e meditá-lo. A igreja o prescreve diariamente na Liturgia das Horas. Conhecemo-lo de cor, mas como o ternos rezado displicentemente!

Excitar em nós sincera alegria pela nossa eleição, mesmo em meio a trabalhos que talvez nos decepcionem, oferecendo-nos pouco consolo humano. Então, mais do nunca: “Magnificat”!

Maria foi visitar sua prima para executar os mais simples serviços caseiros e, no entanto, os fez com o mais alegre espírito de sacrifício. Que ela nos alcance as mesmas disposições, quando tivermos de fazer algo que pouco entusiasmo desperta em nós...

 

Resoluções

Lembrar-nos sempre que a divina inabitação em nós deve levar-nos a atos de caridade, para manifestar que Deus vive realmente em nós e que nós vivemos dele.

Lembrar-nos de Maria Mãe e exemplo. Não nos considerarmos importantes demais para prestarmos pequenos obséquios. Alegrar-nos pelo fato de que Deus nos encarregou de uma obra, que irradia amor. Considerá-lo como privilégio, penhor de bênção, eleição honrosa...

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Maria depois de se ter tornado Mãe de Deus, vai visitar Santa Isabel.

2 - As obras de caridade devem manifestar que Deus vive em nós.

 

QUARTO DIA - SEGUNDA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Nossa Senhora e São José procuram alojamento em Belém

Édito de César Augusto. Singular disposição da Providência, a fim de que Jesus nascesse em Belém. Assim o devem ter considerado Maria Santíssima e São José. Para Maria, tal disposição era particularmente difícil, mas não obstante põe-se alegremente a caminho.

“Non erat locus in diversorio” (Não havia lugar para eles na hospedaria). Vão de casa em casa, mas para essa pobre gente não há lugar... Diferença de classes. Como são recebidos os pobres?

Maria e José refugiam-se numa estrebaria, que começam a preparar para o nascimento do Rei do Mundo. Vejamo-los a trabalhar... Terão vindo os anjos para servi-los, ajudá-los, como mais tarde no deserto?

 

Lições contidas no episódio

1 - Jesus procura ocasiões para vir até nós... O retiro... Ás vezes, para nós, é difícil ir até ele, ao seu encontro, em meio ás atividades diárias: temos tanta coisa a fazer! “Sto ad ostium et pulso” (Estou diante da porta e bato).

2 - Temos nós lugar para Jesus? Totalmente ocupados com outras coisas... Não há lugar nem tempo para pensarmos em Deus!...

3 - E o nosso coração alguma coisa mais do que o presépio de Belém? Quantos corações há mais dispostos do que o nosso! Ver os santos... Preparação para a sagrada comunhão, para a santa missa... Preparar-nos para a recepção da graça. Ouvir as inspirações divinas. Ir à mesa sagrada, ao altar com Maria. Com os santos. Também aqui tem aplicação a “Comunhão dos santos”.

4 - A preparação do coração. “De doctrina cordis” (Sobre a doutrina do coração). “Praepara animam tuam” (Prepara a tua alma). “Praeparate corda vestra” (preparai os vossos corações). implorar o auxilio de Maria e de José, dos anjos e dos santos. A ornamentação da nossa morada interior.

 

Colóquio com Maria Santíssima e São José

 

Que alegre expectativa Como são admiráveis os desígnios da Providência! Como sabem adaptar-se ás circunstâncias

Confiança em Deus. Conformidade.

Tristeza pela grosseria e dureza dos habitantes de Belém.

Si scires donum Dei” (Se conhecesses o dom de Deus). Não sabem o que fazem.

Entrada triunfante na estrebaria. Cuidados em prepará-los.

Jesus deve nascer em nós também. Que venham Maria e José preparar-nos para a vinda de Jesus, para ornamentar-nos o coração e torná-lo, de algum modo, digno. Não há necessidade de grandes palavras, mas de pequenas ações. Minúsculos presentes vão mantendo a amizade!

 

Colóquio com Jesus

Ir ao seu encontro. Saudá-lo. Pedir desculpas pela estalagem pouco digna que lhe oferecemos. Só o nosso amor poderá compensar as falhas. Jesus não pode mais; sabe que não somos capazes de mais: “Fili, praebe mihi cor tuum” (Filho, dá-me o teu coração).

Oferecer generosamente tudo quanto amamos e possuímos. Tudo deve pertencer inteiramente a ele, que é o Senhor, o Rei do nosso coração.

Profunda convicção da nossa pobreza, mas, ao mesmo tempo, da extrema simplicidade do nosso Hóspede.

Admirar o seu amor em querer vir até nós. É incompreensível e jamais poderemos agradecer-lhes o bastante.

 

Resoluções

Pensar mais no dever de preparar-nos para a visita de Jesus. Não sejamos como os habitantes de Belém, como se não tivéssemos tempo nem lugar para Jesus. Dispor do tempo necessário para o que há de mais santo em nossa vida, o momento mais importante do nosso dia... Convencer-nos vivamente disto...

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Jesus procura um lugar para nascer, e encontra apenas uma estrebaria.

2 - O que encontra Jesus em nós?

 

QUARTO DIA - TERCEIRA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Nascimento de Jesus em Belém

Um mar de luz invade, de repente, a região das sombras da morte; Jesus faz sua entrada no mundo. Mais tarde, à hora de sua morte, trevas envolverão a face da terra, em pleno dia; agora, ele vem iluminar as trevas da noite. Maria Santíssima milagrosamente preservada das dores que o nascimento acarreta, em virtude do pecado.

Semelhança com a Ressurreição: sem desvencilhar-se dos lençóis, sairá do túmulo. Jesus vem ao mundo sem lesar a virgindade de sua Mãe.

Maria e José mostram-se surpresos: de repente, Jesus está no meio deles. Assim nos aparece também frequentemente: Jesus está conosco! Adorá-lo, quando, de súbito, o percebemos em nosso coração. Exclamar com Maria e José: “Deus está aqui”.

Entretanto, eis que agora Jesus quer ser servido. Nasceu como pobre criança, necessitada de tudo. Não podemos estar sempre ajoelhados em oração.

Jesus chora, pedindo socorro. Maria e José erguem-se: Maria o estreita ao peito, alimenta-o, envolve-o em faixas e reclina-o no presépio, na manjedoura, arrumada por José de modo a poder acolhe-lo, como se fosse um berço. Dois animais, o boi e o burro, estão à pequena distância, sem poderem tocar a manjedoura, que agora pertence ao Senhor. O calor de seus corpos aquece a gruta, o seu bafo acalenta o recém-nascido. “Cognovit bos possessorem suum et asinus presepe Domini sui” (O boi conheceu o seu proprietário e o burro, a manjedoura do seu Senhor). Na vida de Santo Antônio conta-se que um burro ajoelhou-se diante do Santíssimo Sacramento. Não se teria ajoelhado o do presépio?

Também nós estamos à pequena distância, vendo tudo com o maior respeito.

 

Lições contidas no episódio

1 - Gostar de considerar o Menino Deus sob a forma de uma luz que resplandece nas trevas, mas que as trevas não souberam entender. . “Lucerna pedibus meis” (Luz para os meus pés).

2 - Não basta adorar e admirar a Jesus; é preciso servi-lo e mostrar-lhe amor efetivo: toda a nossa vida, os nossos dias todos, todas as horas devem ser-lhe dedicadas. Jesus chora, pedindo o nosso auxilio. “Dei enim sumus adjutores” (Somos ajudantes de Deus). “Sitio” (Tenho sede). Ele não precisa de nós, quer no entanto que o auxiliemos.

3 - Não nos deixar empolgar demasiado pelas atividades exteriores; continuar a reconhece-lo e adorá-lo em meio aos afazeres. Viver convencidos que Jesus continua a nascer em nosso coração. “Maria optimam partem elegit”, (Maria escolheu a melhor parte). à seu tempo, devemos fazer o papel de Marta, sem nos esquecermos de fazer o de Maria.

4 - Passar a considerar, cada vez mais, a criação ao serviço de Deus:

“CoeIi enarrant gloriam Dei” (Os céus narram a glória de Deus). Tudo foi feito com ordem e medida, para poder manifestar as intenções divinas: “Omnia serviunttibi” (Todas as coisas vos servem). E nós?

 

Colóquio com São José e Maria Santíssima

Horas venturosas depois das decepções da véspera. Jesus está diante dos seus olhos, chorando para implorar os seus cuidados e desvelos. Que alegria para eles poderem servir o Menino Deus Que prontidão em atende-lo, dispensar-lhe os seus cuidados Com quanto respeito o fazem! Satisfeitos, conformam-se com a sua pobreza. Nenhuma censura aos seus semelhantes, mas unicamente atentos aos seus deveres e privilégios. A má vontade dos outros em nada lhes diminuí o zelo, pelo contrário: estimula-lhes mais o respeito e a prontidão. Jamais pensam: os outros nada fazem, por que eu teria de fazer tudo sozinho? Não. O que devemos fazer é demonstrar santo zelo, a fim de que o nosso amor não possa ser superado por ninguém.

 

Colóquio com Jesus

Saudá-lo à sua entrada no mundo. Agradecer-lhe a vinda. O sol nasceu; a luz apareceu. Andar à claridade dessa luz e procurar compreende-la. Não querer pertencer ao número daqueles que são seus, mas que não quiseram compreendê-lo. Ouvir a palavra de São João: “Quotquot autem receperunt eum, dedit eis potestatem filios Dei fieri”. (A todos aqueles que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus). Procurar a união com Jesus: aqui estamos. Fazei de nós filhos de Deus, crianças como ele. “Nisi efficiamini sicut parvuli, non intrabitis in regnum Dei” (Se não vos fizerdes crianças, não podereis entrar no Reino de Deus). “Adveniat regnum tuum” (Venha a nós o vosso reino). Ser pequenos com o pequeno Jesus. Fora as honras e glórias do mundo. Com Jesus numa pobre estrebaria.

 

Resoluções

Considerar, muitas vezes, o nosso coração como a manjedoura da estrebaria de Belém. Convencer-nos que não recebemos dignamente Jesus, ainda que, por vezes, pensemos prestar-lhe grandes serviços, ainda que o recebamos todos os dias na sagrada comunhão. Pobres coitados que somos! Arrumar a manjedoura e prepará-la da melhor maneira possível. Pedir a Maria e José que nos ajudem nesta tarefa.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Jesus jaz chorando numa manjedoura.

2 - Jesus jaz chorando em nosso coração.

 

QUINTO DIA - PRIMEIRA MEDITAÇÃO

 

Episódio: A adoração dos pastores

Os campos de Belém envolvidos nas trevas da noite. Os pastores vigiam, guardando os rebanhos. Gente simples, iletrada. Ninguém os considera; os anjos do céu, no entanto, os observam... Uma luz intensa resplandece; um cântico celestial e acordes festivos ressoam. Surpreendem-se os pastores. O que será? Eis que um anjo lhe aparece: “Annuntio vobis gaudium magnum quod omni populo” (Anuncio-vos uma boa nova que será alegria para todo povo). Fostes escolhidos para conhecer a mensagem primeiro do que todos. “Natus est vobis hodie Salvador” (Hoje vos nasceu um Salvador). “Invenietis infantem pannis involutum, et positum in presepio” (Encontrareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura).

É posta à prova a sua fé: será o Salvador prometido?

Creem os pastores: “Transeamus usque Bethleem, et videamus hoc verbum quod factum este, quod apparuit nobis” (Vamos até Belém, e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou).

Eis que se aproximam do presépio. Ajoelham-se e contam o que viram e ouviram. Maria e José alegram-se com a revelação do mistério. Não sabiam como deviam fazer; esperavam que Deus providenciasse. E eis que sua esperança já se realizou: “Gloria in excelsis Deo” (Glória a Deus nas alturas). Contraste singular: o grande mistério revelado a tão poucos!

Um dia, em nossa infância, se nos revelou também a nós este mistério: vamos também a Belém. Exultemos e alegremo-nos por ter nascido o Salvador. Adoremo-lo com os pastores. Qual o presente que lhe oferecemos? O nosso amor...

 

Lições contidas no episódio

1 - Entre outros que não conhecem a revelação divina e dormem nas trevas do erro, fomos escolhidos para ouvir a mensagem do anjo, a boa nova. Compenetramo-nos bem dela?

2 - Só a lembrança de nossa escolha deve encher-nos de alegria:

“Annuntio vobis gaudium magnum” (Eu vos anuncio uma grande alegria). Como somos frios!

3 - Devemos levantar-nos e ir a Belém. Ficamos dormindo, deixando outros irem. Deixamos para depois. “Jam hora est nos de somno surgere” (Já está na hora de despertarmos do sono). Romper com tudo. Deus nos fala pelo anjo, pela Igreja. Quantos convites recebemos! Mostrar maior entusiasmo quando recebemos uma boa inspiração.

 

Colóquio com São José e Maria Santíssima

Que alegria devem ter sentido ao verem a gruta invadida pelos pastores! Com eles se alegram pela revelação do segredo. Confirma-se a sua fé. E recompensada a sua confiança. Como se apressam em mostrar-lhes o divino Menino, feito homem, em tudo igual a nós. Como estão compenetrados do inefável mistério! Estímulo para nós conhecermos cada vez melhor o sentido do mistério da encarnação.

As belezas do corpo humano desaparecem diante da tremenda humilhação e da beleza divina. E, mesmo esta beleza relativa, desaparecerá mais tarde, à hora da morte na cruz. A beleza consiste na união com a divindade, é reflexo desta união... Não prestemos atenção demasiada ao exterior, mas sim ao mistério impenetrável, sem no entanto deixar despercebida a realidade da natureza humana. Com Maria Santíssima e São José sublimar, enobrecer os sentimentos para com o Menino Jesus; ficar no meio dos pastores, a fim de que Maria e José nos mostrem o Menino.

 

Colóquio com os pastores

Felizes pastores! Eleitos de Deus! Invejar-lhes a felicidade, mas também sua correspondência a graça. Que o seu exemplo nos ensine a irmos a Belém. Participar do seu júbilo e contentamento. Fazer nossa a sua surpresa. Ouvir com eles o .Gloria in excelsis Deo.' e a mensagem dos anjos que se destina a todo o povo, a nós também.

Ver como causam satisfação a Maria e José com a sua simplicidade e as suas demonstrações de respeito. Aprender deles a causar satisfação e contentamento a Nossa Senhora e São José com a nossa fé e respeito...

 

Resoluções

Romper, afinal, com a nossa rotina e sonolência. Levantar-nos e ir a Jesus em sua humilhação. Suportar que alguém se ria ou faça pouco de nossa fé ou das nossas manifestações de piedade e respeito.

Magister adest et vocat te” (O Mestre está aí e te chama). Jesus está acima de tudo: o que ele pede, devemos fazer sem respeito humano.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - As primeiras testemunhas da Natividade foram alguns pobres pastores.

2 - Porque a boa-nova não é capaz de levar-me a uma união cada vez mais íntima com o pobre Jesus?

 

QUINTO DIA - SEGUNDA MEDITAÇÃO

 

Episódio: A adoração dos Magos

Escolhe Jesus a imagem de uma estrela para chamar os Magos ao presépio. Sim, porque ele é a Luz do mundo. A doutrina da igreja continua a ser sempre uma estrela entre as trevas da noite a brilhar, para mostrar onde está Jesus. Os Magos compreendem o sinal e empreendem a longa viagem. “Vidimus stellam eius” (Vimos a sua estrela).

O que é que nós vemos? Os nosso olhos estão vendados e nós nada fazemos para desvendá-los. Não queremos ver o contraste entre as trevas e procuramos a luz, onde só há escuridão. Não erguemos o olhar para as estrelas, que Deus acendeu para ¡luminar nosso roteiro. Procuramos acomodar-nos ao mundo, agradar-lhe, como se ele fosse capaz de iluminar-nos o caminho.

Só aos poucos é que os Magos vão compreendendo quem é Jesus. Procuram-no junto de Herodes, não entendendo ainda que aí não pode ser encontrado. Consultam a revelação divina - a estrela - e, imediatamente, se põem a caminho para segui-la.

Et invenerunt Puerum cum Maria Matre Eius”... “Et obtulerunt ei munera: aurum, thus et myrram” (E encontraram o Menino com Maria sua Mãe... E lhe ofereceram ouro, incenso e mirra). Reconhecem Jesus como Rei, como Sumo-Sacerdote e como Homem.

Per aliam viam regressi sunt in regionem suam”.. (E voltaram para sua terra por um outro caminho).

 

Lições contidas no episódio

1 - Atender, sempre mais, à luz da revelação e orientar-nos por ela. “Signum magni Regis est”' (É sinal do grande Rei).

2 - Não confiar demasiadamente nas próprias luzes, mas deixar-nos guiar. A direção é necessária. O mundo engana-se a si mesmo e está cheio de ilusões.

3 - Procurar aperfeiçoar em nós a imagem de Jesus. Buscamo-lo, frequentemente, aonde ele não se encontra. A revelação indica-nos o caminho certo... Belém, a cidade insignificante: “nequaquam minima es...” (nem por isso és a menor).

4 - Em companhia de Cristo, devemos encontrar Maria também. Virá sempre até nós, guiado pela mão de sua Mãe.

5 - Ver em Jesus o nosso Rei, o Rei da nossa casa, do nosso coração.

6 - Ver nele o Sumo-Sacerdote, que quis ensinar-nos o modo verdadeiro de prestar culto ao Pai.

7 - Ver nele o Homem, homem conosco no sofrimento e nas dificuldades, obediente até à morte. “Ecce Homo” (Eis o homem).

 

Colóquio com os Magos

Admirar sua generosidade, sua prontidão em obedecer ao chamado divino. Pudéssemos nós levantar-nos tão generosamente para deixarmos a região das trevas e das sombras da morte e irmos para a terra iluminada pela estrela da Luz Eterna. Com eles queremos pôr-nos a caminho a fim de procurarmos Jesus. Nas decepções e contrariedades, buscar o nosso Diretor, ouvir dos seus lábios a Palavra de Deus para procurarmos Jesus, procurá-lo mesmo aonde, aparentemente não se encontra

Ser dóceis e humildes, conscientes da fraqueza das nossas próprias luzes. Até mesmo num estábulo ver Jesus como Rei; ou numa pessoa que nos inspira repugnância.

Oferecer-lhe o nosso ouro. Com Jesus, nosso Sumo Sacerdote, glorificar e louvar o Pai Eterno.

Adorar Jesus em sua natureza humana, o Mártir heroico desde o presépio até a cruz...

 

Colóquio com o Menino Jesus

Alegrar-nos com ele pela vinda dos Magos do Oriente, imagem da nossa vinda ao presépio. Ver como nos estende as mãozinhas para dar-nos as boas-vindas. Dar largas à nossa alegria por termos sido chamados por Jesus.

Oferecer-lhe as nossas dádivas com os Magos: homenageá-lo como nosso Rei, oferecer com ele, todos os dias, ao Pai Eterno, o nosso sacrifício, unir-nos à sua Sagrada Paixão, desde o primeiro momento de sua vida terrestre.

 

Resoluções

Devemos procurar Jesus. Trevas nos envolvem de tal forma, que precisamos da luz de sua estrela. Afastar-nos do que não está unido a Jesus pelo amor, do que pretende matar Jesus em nós.

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Ir a Jesus, guiados pela luz que ele faz resplandecer diante de nós.

2 - Encontrar a Jesus significa ir por um outro caminho: “per aliam viam”.

 

QUINTO DIA - TERCEIRA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Oferecimento do Menino Jesus no Templo

Jesus faz-se resgatar do serviço do Templo, reservado aos levitas. Veio para servir os homens; não veio para ser servido, mas para servir. E resgatado com o sacrifício dos pobres. Rei escondido, acompanhado de dois pobres também escondidos: Maria e José. Deus, porém, revela seus segredos a Simeão e Ana. Estes viviam de tal forma unidos a Deus, que mereciam vê-lo. Pelo Espírito de Deus foram impedidos ao Templo para verem Jesus. O “Nunc dimittis” de Simeão pela revelação divina... Alegria logo temperada pela profecia de Simeão a respeito de Maria: posto como sinal de contradição e para ruína de muitos em Israel. Uma espada de dor virá traspassar o seu coração imaculado. Jesus é Rei, mas Rei do sofrimento...

Maria conservabat omnia verba haec conferens in corde suo”... (Maria conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração).

 

Lições contidas no episódio

1 - Admirar a humanidade de Jesus. “Venit ad templum suum Dominator Dominus” (Vem ao seu templo o grande Senhor). Mesmo na Casa de seu Pai apresenta-se como a menor das criaturas e vem resgatar-se de privilégios reservados aos levitas.

2 - Como Jesus recompensa a fidelidade de Simeão e Ana, revelando-se a eles Veremos também a Jesus? Somos impedidos pelo Espírito de Deus a ver Jesus?

3 - Alegrar-nos com Simeão e cantar o nosso “Nunc dimittis”. Compenetrar-nos, cada vez mais, de nossa eleição e alegrar-nos com ela.

4 - Compreender que a união com Jesus significa sofrimento. Como filhos de Maria, participar de sua alegria, mas também de sua tristeza.

5 - Preparar-nos para sofrer. Estava longe a Paixão de Jesus, mas Simeão já a ele se refere...

 

Colóquio com Simeão e Ana

Proclamá-los felizes. Recebem a recompensa pela sua fidelidade, pela sua esperança. Pedir a sua intercessão para sentirmos também um grande anseio por Jesus, recebendo igual recompensa.

Considerar a união com Deus como a coisa mais importante em nossa vida. Sem Jesus a vida nada vale. Alimentar o desejo de morrer, um dia, na contemplação de Deus. Pedir uma boa e santa morte.

Tomar Jesus em nosso braços, como Simeão e Ana, e oferece-lo a Deus. Comungar sempre com a intenção de oferecer Jesus ao Pai Eterno como sacrifício de adoração, ação de graças, reparação e súplica.

 

Colóquio com Maria Santíssima

Admirar a sua humilde: vai ao Templo como mulher do povo. O seu sacrifício é dos pobres

Que alegria deve ter sentido ao ver que Deus se revelava, levantando uma ponta do véu que ela bem quisera ver erguido inteiramente, a fim de que todos adorassem a Jesus e, por Ele, todos fossem reconduzidos a Deus...

Como era dura para ela a profecia de Simeão: “Para a ruína de muitos... e sinal de contradição”

Como teria gostado de ver todos aos pés de Jesus Uma espada de dor no longínquo futuro Imperscrutáveis desígnios divinos

Maria inclina a cabeça e absorta em pensamentos deixa o Templo Seguimo-la. Queremos servir me e consola-la ajuda-la a carregar o Menino, unir-nos com Jesus apesar da profecia de Simeão

Com Jesus e Maria preparar nos para sofrer

 

Resoluções

Esperar o Messias cheios de confiança, certos de vê-lo quando vier ao seu Templo. Considerar a união com Cristo como o maior bem. Se a conseguirmos, será o bastante. Lembrar-nos de que essa união traz sofrimento...

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Simeão teve a felicidade de compreender o que significa: ver Jesus.

2 - Por causa de sua união mais íntima com Cristo, maior sofrimento é reservado para Maria.

 

SEXTO DIA - PRIMEIRA MEDITAÇÃO

 

Episódio: A fuga para o Egito

Apenas acaba de nascer, já começa a realizar-se em Jesus a profecia de Simeão: ele seria um sinal de contradição. Herodes ameaça-lhe a vida. E obrigado a fugir do meio do seu povo, ele, o Rei dos judeus, fugir para o Egito, país de pagãos. Aí deverá ficar até que o anjo lhe venha dizer que pode voltar. E, realmente, depois de algum tempo, o anjo vem avisá-lo de que pode retornar para junto do seu povo. Mas agora Arquelau o constrange a não ir para Belém ou Jerusalém, mas a esconder-se na cidadezinha desprezível de Nazaré, da qual mais tarde se dirá: “Daí pode, por acaso, sair algo de bom? E tudo isso não é determinado por Jesus, nem revelado a Maria, mas unicamente a José...

 

Lições contidas no episódio

1 - Pouco depois de estarem com Jesus, Maria e José são obrigados a fugir com Ele para uma terra estranha e inóspita, longe dos amigos e conhecidos.

2 - Jesus quer dar, desde logo, exemplo de obediência e de Maria pede também um ato de obediência que o Anjo ordena a São José.

3 - A nossa vocação para a intimidade com Jesus pode obrigar-nos também a irmos para lugares, para onde não gostamos de ir, a despedir-nos de todos e de tudo que nos é caro.

4 - Quando nos sentimos sós, devemos pensar na fuga de Jesus para o Egito com Maria e José, sabendo-nos em sua companhia.

5 - Gostar de ir com Jesus para Nazaré, passando de largo Belém e Jerusalém. Não ligar importância ao lugar.

 

Colóquio com Jesus

Ele é a Luz do Mundo. Se, com Simeão, nos rejubilamos de que, com o aparecimento de Jesus, nos surgiu a Luz para revelação dos gentios, devemos segui-lo também “quocumque ierit” (para onde for), mesmo quando nos chamar para lugares inóspitos e desagradáveis, lugares onde não se nos oferece ocasião para mostrar os nossos talentos, onde só morar equivale a uma condenação. Resignar-se a morar onde ninguém nos conheça, como Ele vivia no Egito.

Com Ele, entregar-nos confiantemente aqueles que nos foram dados como guias, aos nossos Superiores.

Saudá-Lo como a grande Força, em virtude da qual Maria e José puderam suportar as agruras do exílio. Com Jesus tudo é leve. Pedir-lhe que nos assista nas horas difíceis, transferências, nomeações, eleições, para podermos fugir com Ele.

 

Colóquio com Maria Santíssima

Exemplo de obediência. Obedece ás ordens de São José, toma em seus braços o Divino Menino e, com Ele, vai ao encontro das privações e sofrimentos. Despede-se de quantos a conheciam em Belém, aos quais mostra o Menino Jesus, por lhe terem dado provas de respeito e amor. Maria vai ao encontro de um futuro incerto, sem saber para quanto tempo. Vai com Ele, primeiramente, ao Egito, mas tarde para Nazaré, resignada e cheia de confiança, para dar-nos exemplo de desprendimento e obediência, Jesus é a sua Força. Que, nas horas difíceis, ela nos lembre de Jesus, nos guie e nos proteja.

 

Resoluções

Nas horas amargas lembrar-nos da fuga de Jesus para o Egito. Representar-nos Maria e José que sofrem, por serem os prediletos de Jesus.

Com Ele, obedecer ás disposições da Divina Providência, cheios de coragem e de confiança.

Considerar a Jesus como o Tesouro que compensa todas as amarguras e sofrimentos.

Alimentar o desejo de ter de fugir, um dia, com Jesus, para ver o que isto representa. Para tanto pedir a força necessária...

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Desde logo, Jesus obriga seus pais a fugir.

2 - Procurar a nossa força junto de Jesus, Maria e José, nas horas de difíceis transferências.

 

SEXTO DIA - SEGUNDA MEDITAÇÃO

Episódio: Encontro de Jesus no Templo. depois de três dias

Surpresa para Maria e José. O que é que Nosso Senhor quer deles, agora? Desapareceu Jesus, o Menino que fora confiado aos seus cuidados... Como pode Ele fazer tal coisa?

Tristeza: “Dolentes quaerebamus te” ( “sofrendo, Te procurávamos”). Estão sem Jesus, seu único tesouro... Procuravam-No como deviam. Conformidade, sujeição, confiança... “Quaerite et invenietis” (“Buscai e encontrareis”).

Veem a sua confiança recompensada: tornam a encontrar Jesus. Que alegria De braços abertos, vão ao seu encontro.

Dizem-lhe que não podem passar sem Ele.

Encontram-No na Casa de seu Pai. Aí O procuravam. Não sabemos se começaram aí por procurá-Lo, mas o certo é que foi aí que O encontraram.

Viver com Jesus quer dizer que, vez por outra, sentiremos sua ausência, vendo-nos abandonados. Aparentemente, estaremos entregues ás nossas próprias forças. Onde está Jesus? perguntamos também nós, impacientes. Entretanto, Ele está no Templo. Sua aparente ausência é, multas vezes, uma lição para nós.

Admirar sua Sabedoria e Providência. Confiança ilimitada.

Descendit cum eis” (Desceu com eles). Sentem-se felizes. Passou-se a tristeza, mas Maria lhe conserva a lembrança no Coração, refletindo sobre a lição que Jesus acaba de dar-lhe. Prepara-se já para novas separações...

 

Lições contidas no episódio

1 - Jesus, por vezes, some-se da nossa vista. No entanto, Ele está sempre conosco, em todos os nossos trabalhos e penas...

Não estava Ele sumido, quando viemos para o retiro?...

2 - Agora parece estar mais perto: tornamos a encontrá-Lo. Motivo de alegria. Havíamos de encontrá-lo, seguramente, no seu Santuário...

3 - Quando Jesus não estiver conosco, quando estivermos áridos e frios na oração e nos exercícios de piedade, examinar-nos a ver se foi Ele que nos abandonou - aparentemente - ou se fomos nós que O abandonamos... Se nós formos culpados, abandonar o erro e tornar mais íntima a nossa união com Ele.

Se for provação de Deus, confiar em que havemos de encontrá-lo

4 - Sentir-nos felizes na presença de Deus. Exercitar-nos, muitas vezes, nela. Procurar a Jesus com Maria e José. Eles souberam encontrá-lo, poderão indicar-nos o caminho...

5 - Libertar a nossa piedade do sentimentalismo: viver da fé. Deus está conosco. Deus nos procura. A visão intuitiva só na Pátria. Neste mundo apenas o antegozo do Paraíso...

 

Colóquio com Maria e José

Participar de sua surpresa e decepção pelo desaparecimento de Jesus. Participar da sua confiança e ansiosa procura. Pedir-Lhes, que nos façam procurá-Lo também incontinente, quando tiver desaparecido da nossa vida; que nos indiquem o caminho. Com eles, encontramos a Jesus.

Participar de sua alegria e demonstrações de amor.

Não O deixar mais... Seguir o Cordeiro... “quocumque ierit”... (para onde for...)

Obedientes em tudo, sem recuar diante de qualquer sacrifício. E a imitação de Cristo... Jesus é a Luz “Qui sequitur Me, non ambulat in tenebris...” (“Quem Me segue, não anda nas trevas...”).

 

Colóquio com Jesus

“Jesus, onde estás?”, pergunta Santa Maria Madalena de Pazzi, depois de dez anos de aridez. “Eu estava dentro do teu coração”, foi a resposta. Jesus brinca de esconde-esconde conosco; mas, havemos de encontrá-lo, se formos fiéis, e perseverantes...

Ele quer ser procurado... “Sed quid invenientibus?” (Mas o que ele é por quem o encontra?).

Alegria no encontro: “Ostende faciem tuam, et salvi erimus” (Mostra a tua face, e seremos salvos).

 

Resoluções

Esforçar-nos por viver compenetrados da presença de Deus. Lembrar-nos sempre dos fundamentos desse exercício, não só os da fé, mas também os da razão.

Procurar a Jesus nas boas obras, feitas por seu amor, na oração... “Onde houver dois ou três reunidos em meu Nome, estarei no meio deles”.

Pôr a nossa piedade acima dos sentimentos...

 

Dois pensamentos para reler o assunto meditado

1 - Maria e José procuraram a Jesus e encontraram-No.

2 - Viver na presença de Deus.

SEXTO DIA - TERCEIRA MEDITAÇÃO

 

Episódio: A vida na casa de Nazaré

Deus absconditus”...( Deus oculto...) Oculto durante 30 dos 33 anos... Envergonha a nossa impaciência... O povo judeu estava esperando o Messias, e Ele não aparece... Está no meio deles, sem que eles O vejam... Falam Dele, e Ele caía-Se... Encontra as mais erradas opiniões a respeito de sua Pessoa e seu modo de proceder mas Ele espera a sua hora.

Adorar os desígnios de Deus incompreensíveis para nós

Et erat subditus illis” (E submetia Se a eles). Maria e José, suas próprias criaturas, com inteligências limitadas Submete Se a eles, apesar de ser a Sabedoria eterna Por indicação deles faz coisas menos oportunas ordenadas por eles com boa intenção

Não os entristece não os corrige O que faz pouco lhe importa com tanto que possa obedecer E o essencial E secundário saber qual é materialmente, a ação ordenada.

José e Maria compreendem que Jesus assim o quer, conformam-se e vão dando ordens.

Lendas e evangelhos apócrifos: não passam de imaginação. Talvez, de quando em quando, um raio de luz para Maria e José, assim como agora ilumina os Santos e lhes aparece. Mas isto só de passagem. A situação habitual é indicada pelas palavras: “et erat subditus illis” (E submetia-Se a eles).

Crescebat et confortabatur sapientia et gratia coram Deo et hominibus”... (Crescia e fortalecia-se em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens...)

Jesus oculta-se quer ser homem como os outros, semelhante a nós em tudo, exceto o pecado. Suas virtudes, seu amor, sua justiça é que O tornaram encantador aos olhos dos homens. Tornou-se, assim nosso exemplo em tornar amável a pratica da virtude.

 

Lições contidas no episódio

1 - Aprender com Jesus a vivermos escondidos, sob os olhos de Deus, sem procurar os elogios dos outros e sem nos deixar afastar do cumprimento do dever, por causa deles.

2 - Conservar a confiança na Providência Divina, apesar de não lhe compreendermos os desígnios. Excitar tal confiança também nos outros...

3 - Com Jesus, obedecer aqueles que estão colocados acima de nós. Não perguntar quem ordena ou o que se ordena, ver a Deus nos Superiores e crer que é Ele quem ordena. Isto é essencial. Impor silêncio aos nossos raciocínios, quando se tratar de obedecer. Não argumentar, mas fazer...

4 - Tornar amável a prática da virtude, não para agradar aos homens, mas a fim de arrastá-los à mesma prática. Sentir-nos alegres e satisfeitos na prática das virtudes. Não servir a Deus com gemidos...

 

Colóquio com Jesus

Admirar sua obediência. Desejá-la para nós. Ocultar-nos com Ele e subtrair-nos ás honras do mundo. Compreender que Deus assim o quer. Lembrar-nos da palavra de Jesus a São João Batista, quando quis ser batizado por ele.

Deixar a Deus a revelação do bem. A seu tempo, Deus manifestará quem lhe serviu, ainda que tenhamos de esperar até o fim do mundo. Ouvir a palavra de Jesus: “Pater vester coelestis, qui videt in abscondito, reddet tibi” (O vosso Pai Celeste, que vê no íntimo, te recompensará).

Jesus foi obediente até a morte: “mortem autem Crucis” (E morte de Cruz). E por isso, saiu Vencedor. “Nonne opertuit Christum haec omnia pali, et ita intrare in gloriam suam?” (Porventura não convinha que Cristo padecesse essas coisas, e assim, entrasse na glória?)

 

Colóquio com São José e Maria Santíssima

Que honra para eles exercer autoridade sobre Jesus! Mas que estímulo, ao mesmo tempo, no sentido de nada ordenarem que não fosse conveniente para Jesus.

Jesus, exemplo de obediência; José e Maria SSma., exemplos de autoridade prudente, que ordenavam com Deus diante dos olhos.

Considerar seu acanhamento diante de tamanha honra, sua conformidade com o que Deus assim dispunha. No que ordenavam a Jesus, procuravam simplesmente e do melhor modo possível acomodar-se à Vontade Divina.

Pedir-lhes que nos façam ordenar também assim, quando tivermos de dar alguma ordem. Participar da sua alegria pela obediência de Jesus, que nos serviu de exemplo. Deles também se exigia obediência extraordinária, mas Jesus era seu exemplo em tudo. Aprendamos também a ver assim em Jesus nosso modelo.

 

Resoluções

Ver a Deus nos Superiores. Não raciocinar sobre aquilo que nos compete fazer, mas executar o que nos foi imposto. Propor, muitas vezes, a Jesus como modelo de obediência.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado:

1 - Jesus esconde-se durante 30 anos.

2 - “Erat subditus illis”, submetia-Se a eles, a fim de ser nosso modelo.

 

SEXTO DIA - QUARTA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Jesus e Maria nas bodas de Caná

Jesus começa a sua vida pública com um milagre devido à intercessão de sua santa Mãe. Fora convidado a umas bodas. Traz consigo sua Mãe e seus primeiros apóstolos. aos quais pedira que O seguissem. Ao chamá-los, dissera a Felipe e Natanael que veriam grandes coisas. Agora iriam ver o seu primeiro sinal e, por meio dele, seriam ligados a Jesus por uma fé sempre crescente, cada vez mais firme e fiel. Este sinal Jesus o queria dar a pedido de Maria. Nesse primeiro sinal dado aos Apóstolos, Ela aparece como a Medianeira das graças. Alegres e santas bodas devem ter sido essas, já que Jesus e Maria delas quiseram participar. Que as nossas festas sejam sempre assim, assistidas por Jesus e Maria!

Vinum non habent” (Não têm vinho), diz Maria a Jesus. E, confiante, dirige-se aos criados: “Fazei tudo que Ele vos disser”. Jesus responde que sua hora não chegou. Mas Ele a faz depender da oração de Maria. Já que ela o pede, não lhe recusará o sinal. Maria reza pelos esposos, mais ainda pelos Apóstolos, para que o primeiro sinal de Jesus venha confirmar-lhes a fé.

Maria vê o que nos está faltando neste momento,. Tantas coisas nos faltam. Manifestemo-las a Maria, a fim de que ela o diga a Jesus. Ouvi, porém, que ela recomenda: “Fazei tudo que Ele vos disser”.

Fé, confiança...

 

Lições contidas no episódio

1 - Ver Maria como Medianeira das graças, especialmente da graça da fé.

2 - Nas festas, manter a nossa alegria tão elevada e tão nobre que Jesus e Maria possam ficar conosco até o fim da festa. As nossas festas devem ser uma confirmação da nossa fé e do nosso amor a Deus.

3 - Convencer-nos de que muito nos falta. Reconhecer que precisamos da intercessão de Maria, afim de preencher o que nos falta. Pedir a Maria que nos obtenha de Jesus aquilo que mais nos está faltando.

4 - Não deixar de fazer aquilo que Jesus quer de nós, afim de que Ele nos dê aquilo que Maria lhe pede.

Cooperar com a graça: Jesus pede tão pouco. “Sarcina levis” (Fardo leve).

 

Colóquio com os Apóstolos

Que revelação para eles o primeiro sinal de Jesus! Que respeito por Maria deve ter inspirado a eles tal milagre. Confirma-se a sua fé.

Que alegria pela sua eleição. Com que sentimentos profundos devem ter deixado esta festa.

Resolvem ser fiéis a Jesus, a não deixá-lo jamais. E nós queremos ficar com eles!

 

Colóquio com Maria Santíssima

Está aqui representado o cuidado que Maria nos dispensa. Recomendar-nos aos seus cuidados.

Considerar sua confiança e sua fé. Sua alegria pelo primeiro milagre de seu Filho. Viu sua glória: agora pode retirar-se sossegada, tranquila.

Os Apóstolos estão confirmados na fé. Tomarão o lugar de Maria junto de Jesus: “Omnis qui fecerit voluntatem Patris mei qui in coelis est, hic erit meus frater, mater, soror” (Todo aquele que fizer a vontade do meu Pai que estás nos céus, este será meu irmão, minha mãe, minha irmã).

Maria voltará à hora da dor, da Paixão. Admirar sua heroicidade, seu desprendimento de tudo. Aprender com ela a desprezar as honrarias.

 

Resoluções

In omni tribulatione et angustia” Em toda tribulação e angústia), refugiar-nos junto de Maria. Tornar-nos devotos de Maria Medianeira das graças, e aprofundar-nos no verdadeiro sentido desta devoção. Ver Maria como mãe e rainha dos apóstolos e colocar o nosso apostolado sob a sua proteção.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Jesus começa a sua vida pública por milagre impetrado por Maria.

2 - Maria: vinum non habeo (Não tenho vinho). Que Jesus me transforme.

 

SÉTIMO DIA - PRIMEIRA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Maria vai ao encontro de Jesus na “Via Crucis” (Via Sacra)

Depois da prisão de Jesus, João leva Pedro ao átrio do Sumo Sacerdote e, em seguida, corre para junto de Maria, dizendo-lhe que prenderam Jesus.. Será condenado? Irá morrer? João fala da agonia de Jesus no horto e de suas predições sombrias. Será crucificado? Não, não pode ser.

Maria: mulier fortis” (Mulher forte). Lembra-se da profecia de Simeão e do que Jesus lhe disse, e compreende. Instrui João, confirmando-lhe a fé e o amor. Maria lhe diz tudo quanto vai suceder a Jesus. João envergonha-se da sua fuga. Guiado pela mão de Maria, quer voltar para junto de Jesus. Maria toma João pela mão a fim de reconduzi-lo a Jesus.

Não conseguem chegar perto Dele. Está rodeado de soldados e de gente amotinada.

Assistem à sua flagelação e condenação. “Vidit suum dulcem natum...flagellis subditum” (Vê o seu doce filho... sujeito a flagelos).

Ecce homo” (Eis o homem). O “crucifige” (crucifica) ressoa aos seus ouvidos.

Por umas ruas laterais chegam a um ponto, por onde deverá passar o cortejo. Ver o encontro entre Jesus e Maria.

Considerar a Verônica e as mulheres que choram e lamentam. Ver as quedas de Jesus, assim como as viu e contemplou Maria SSma.

Finalmente chegam ao Gólgota. Jesus é despido... crucificado... Maria contempla. União no amor, - união no sofrimento. A espada de dor: “para ressurreição de muitos em Israel”.

 

Lições contidas no episódio

1 - Quando não compreendemos Jesus, quando não compreendemos o sofrimento, correr com São João para junto de Maria, a fim de chorarmos as nossas mágoas e procurarmos refúgio.

2 - Ver Maria SSma. como a Mulher forte, preparada para o sofrimento por longos anos de meditação sobre quanto Jesus lhe predissera: considerar como não se surpreende com o que São João lhe relata, mas como se ergue imediatamente para ir repartir a dor e reconduzir a João para junto do Mestre, por ser o discípulo predileto.

3 - Com Maria não hesitar em participar do desprezo de Jesus, com ele presenciar a condenação, a flagelação, a coroação de espinhos e a “Vía Crucís”. Suportar tudo, se a honra de Jesus o exigir.

4 - Com Maria ir ao encontro de Jesus na “Via Crucis” e dizer-Lhe do nosso amor e compaixão, da nossa fidelidade e apego. Ir com Ele até o cume do Gólgota.

 

Colóquio com São João

Unir-nos com o apóstolo “quem diligebat Jesus” (Que Jesus amava). Jesus também nos ama. Como João, somos capazes de fugir, quando Jesus for ludibriado. Com ele devemos ir para junto de Maria, a fim de manifestar-lhe toda a nossa mágoa e dificuldades, a fim de com ele desabafarmos. Maria reconduzir-nos-á a Jesus, far-nos-á compreender melhor os sofrimentos, pôr-se-á a caminho conosco. Guiados por ele, encontraremos Jesus e poderemos testemunhar-Lhe o nosso amor. Só assim seremos capazes de segui-Lo no caminho sangrento.

 

Colóquio com Maria Santíssima

Participar da sua grande dor (“Videte si est dolor sicut dolor meus”) (Vede se há dor como a minha dor), que ela suporta, é verdade, fortalecida por Deus como mulher forte e Rainha dos mártires, mas com o coração trespassado por espada mais penetrante e aguda de que jamais pôde imaginar. O menosprezo, os maus tratos, os golpes dos flagelos, os espinhos da coroa atingem-lhe a alma. Mais do que tudo isto, porém, a ferem a insensibilidade, a dureza dos homens, que desprezam o seu amor. “Quae utilitas in sanguine Eius?” (Que utilidade em derramar o sangue Dele?) Como recebemos mal o seu amor! Com os apóstolos, procuramos fugir do sofrimento. Que ela nos reconduza a Jesus, fazendo-nos compreender o sofrimento e seguir-Lhe as pegadas.

 

Resoluções

Não fugir do sofrimento, suportar o menosprezo, que nos une a Jesus e nos faz compreender o sentido do sofrimento. Com Maria ir ao encontro de Jesus na “Via Crucis”, no sofrimento unir-nos a Maria, espelhar a nossa vida na sua, a fim de participar da sua generosidade.

Aproveitar as ocasiões que se apresentarem para meditar a Paixão de Nosso Senhor, e para fazer a Via-Sacra; dar destaque ao crucifixo na cela e nos lugares onde trabalhamos.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Com São João para junto de Maria, com Maria para junto de Jesus.

2 - Quem ama a Jesus deve subir ao Calvário.

 

SÉTIMO DIA - SEGUNDA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Maria SS ma, debaixo da Cruz - Descimento - Enterro.

Por três horas debaixo da Cruz em que Jesus agonizava entre dores indizíveis. Com Maria ver e ouvir a Jesus. “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de Coração”.

As sete palavras: como Jesus nos perdoa, como tem sede do nosso amor. Palavras dirigidas a Maria e a João. Maria nossa Mãe - nós seus filhos. Confirmação do que foi feito quando, em Maria, Jesus assumiu a natureza humana: agora di-lo claramente. O testamento de Jesus: sublime herança. Amar a Maria para mostrar o nosso amor a Jesus. Com Maria oferecer Jesus a seu Pai, celestial. Dizer com Jesus: “Pater, in manus tuas commendo spiritum meum” (Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito). Morrer com Jesus. Oferecer-nos juntamente com Ele. Renovação do sacrifício da Cruz na Santa Missa.

Jesus é descido da Cruz e depositado nos braços de sua Mãe. Maria limpa-Lhe as feridas, tira da fronte a coroa de espinhos e contempla o quanto sofreu. Contemplemo-lo com Ela, a mãe das dores e da compaixão. Gravemos profundamente em nossa memória a imagem da Sagrada Paixão.

O enterro de Jesus. Silenciosa, Maria acompanha o séquito. Nós estamos em sua companhia. Finalmente, Jesus é enterrado - desaparece. Humilhação profunda! A opinião do mundo Judeu: sua missão fracassou. Os apóstolos medrosos e hesitantes. Maria imperturbada. Sua confiança. Ele disse que haveria de ressuscitar.

Maria crê. Jesus no tabernáculo como num túmulo. Crer e confiar com Maria.

 

Lições contidas no episódio

1 - A morte de Jesus, última e suprema manifestação do seu amor. Com Maria e João estar, muitas vezes, debaixo da Cruz para meditar a Sagrada Paixão. Jesus nos chama: “Ego, si exaltatus fuero a terra, omnia traham ad meipsum” (Eu, se for elevado da terra, atrairei tudo para mim).

2 - Unir-nos com Jesus na morte. Unir a nossa morte à sua, unir o nosso sacrifício com o seu: “In manus tuas commendo spiritum meum” (Em tuas mãos entrego meu espirito).

3 - Com Maria e João ouvir as sete palavras e aprofundar-lhes o sentido. Colocar-nos debaixo da proteção de Maria.

4 - Com Maria contemplar as chagas de Jesus e excitar em nós a compaixão.

4 - Ver o Sacrário como símbolo do túmulo de Jesus e da sua profunda humilhação. Visitá-Lo muitas vezes. Fé e confiança.

 

Colóquio com Maria Santíssima

Mãe das dores, com ela torna-se fecunda compaixão com seu divino Filho. Unir-nos com ela na contemplação da Paixão e com ela oferecê-la a Deus. Considerar as chagas do Salvador como outras tantas rosas abertas na roseira do amor. Considerar, especialmente, a chaga do seu lado, a fim de esconder-nos nela e encontrar o caminho para o seu Coração. Que lugar nele ocupava Maria! Que lugar aí existe para nós!

Com Maria enterrar Jesus num túmulo novo, túmulo renovado do nosso coração e aí mantê-lo oculto, até que Ele nos peça ações para manifestar a sua vida em nós.

 

Colóquio com Jesus

Crucificado: os braços estendidos para nos acolher. Que nos atraia a Si e que, finalmente, compreendamos o seu amor, agora que o vemos morrer por nós. Com Maria e João escolher o nosso lugar debaixo da Cruz.

Descê-lo da cruz da vergonha, a fim de estreitá-Lo ao nosso coração e manifestar-lhe o nosso amor, honrá-lo e exaltá-lo. Pedir-Lhe que nos mostre a chaga do seu lado a fim de encontrarmos o caminho para o seu Coração: esconder-nos nela e acalentar-nos ao fogo do seu amor, que não morreu. Sepultá-lo em nosso coração, completamente renovado pela contemplação de sua Paixão e Morte. Queremos sepultá-lo nesse sepulcro novo: “et erit sepulcrum eius gloriosum” (e seu sepulcro será glorioso).

 

Resoluções

Com Maria e João postar-nos debaixo da Cruz, afim de compreender o amor. Recomendar-nos ás mãos do nosso Deus, na vida e na morte. Com Maria contemplar as chagas de Jesus, especialmente a do seu lado, e nela esconder-nos. Renovar o nosso coração, tornando-o sepulcro glorioso para Jesus.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Jesus morre, a fim de abrir-nos o seu Coração.

2 - Jesus sepultado em nosso coração reformado.

 

SÉTIMO DIA - TERCEIRA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Ressurreição de Jesus. Aparição a Maria

Maria, solitária e triste, mas cheia de fé e de confiança. Consola João e consola os apóstolos, dizendo que ressuscitará. Espera o terceiro dia: hoje ressuscitará! Mas como? Maria espera tranquilamente. A aurora vem encontrá-la vigilante, em oração, unida com Jesus. Será somente ás três horas? Deverá esperar até da tarde, até à noite?

De repente, luz vivíssima refulge em seu aposento escuro. Jesus está diante dela, radiante de luz e de glória. Maria levanta-se e estreita-O ao coração.

Ao mesmo tempo, desce um anjo do céu. Os guardas ficam aterrados com a luz repentina. A pedra é afastada da boca do túmulo. Os guarda veem o sepulcro vazio. Fogem espavoridos, aterrados, mas procuram esconder o segredo, dizendo que o Corpo foi roubado, enquanto dormiam.

Chegam as mulheres para embalsamar o Corpo. Ele está vivo, não está mais entre os mortos. O anjo anuncia ás mulheres o mistério glorioso e envia-as aos apóstolos. Entretanto, Maria SSma. já enviou João a Pedro. Pedro e João dirigem-se ao sepulcro.

Jesus aparece, sucessivamente, a Pedro, aos apóstolos, aos discípulos de Emaús, a Maria Madalena. Alegria geral. Todos para a Galileia. Aí Se lhes manifestará melhor.

Nonne haec oporluit pati Christum et ita intrare in gloriam suam?” (Porventura, não foi preciso Cristo padecer e assim entrar na glória?).

Maria vai com os apóstolos para a Galileia.

 

Lições contidas no episódio

1 - Considerar como, nos planos da Providência, a Paixão de Cristo era condição essencial para a sua glorificação. “Ego, si exaltatus fuero”... (Eu, se for elevado...)

2 - Quem participa mais intimamente no seu sofrimento, será o primeiro a participar na alegria de sua Ressurreição.

3 - Admirar a Sabedoria e Onipotência de Deus, que triunfa sobre a morte morrendo pelos mortos, a fim de que com Ele possam reviver.

4 - Jesus deixa Jerusalém. Rasgou-se o véu do Santo dos Santos. Chama os seus discípulos para a Galileia, para a terra de Samaria, desprezada pelos judeus. Jerusalém desprezou o dom de Deus. Da Cidade Santa vai para a terra e o povo que os judeus desprezavam. “Si scires donum Dei” (Se conhecesses o dom de Deus). Temos nós reconhecido o dom de Deus, ou obrigamo-Lhe também a afastar-Se de nós?

 

Colóquio com Maria Santíssima

Alegrar-se com ela pela Ressurreição de Jesus. Ouvir com ela a história das aparições. Participar na alegria dos amigos de Jesus. Maria está no meio deles. Impõe-se-nos agora uma compreensão melhor do sofrimento de Jesus. Confirmação de nossa fé, outrora tão fraca.

Maior generosidade em seguir a Jesus. Preparar-nos com Maria para o menosprezo. Sabemos agora que, apesar de tudo e de todos, Ele triunfa e nos conduz à vitória.

 

Colóquio com Jesus

Dar as boas-vindas ao Salvador ressuscitado. Professar-Lhe a nossa fé. Pedir-Lhe que a confirme sempre mais pela continua lembrança da Ressurreição.

Contemplar seu Corpo glorificado. Ver suas chagas gloriosas. Esconder-nos em seu Coração.

Ouvir as palavras dirigidas aos discípulos de Emaús: “Nonne haec oportuit pati Christum?” (Porventura não convinha a Cristo padecer essas coisas?)

Perguntar a nós mesmos: “Nonne ardens erat cor nostrum?” (Porventura não ardia o nosso coração? Arde, realmente, o nosso coração? Estamos preparados para sofrer com Ele, a ir com ele “quocumque ierit” (Para onde for), certos da vitória?

 

Resoluções

Confiar na promessa de Jesus de nos ressuscitar com Ele. “Creio na Ressurreição da carne”. Lembrar-nos, muitas vezes, de como o sofrimento conduz à vitória, a morte à vida, a humilhação à exaltação aos olhos de Deus.

Com Jesus começar nova vida. Não permitir que nos abandone, como abandonou Jerusalém. Reconhecer como Deus foi bom conosco, e continua a sê-lo sempre.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - “In ressurrectione tua, Christe, coeli et terra laetentur” (Céus e terra alegram-se na tua ressurreição, ó Cristo).

2 - Com Jesus começar nova vida, glorificada por Deus.

 

OITAVO DIA - PRIMEIRA MEDITAÇÃO

 

 

 Episodio: A Ascensão de Nosso Senhor

Os apóstolos com Maria e muitos discípulos no Monte das Oliveiras. Jesus fala do seu reino no céu e na terra, reino que está no mundo, mas não é do mundo. Nomeia os apóstolos testemunhas suas na terra, abençoa-os e estende as mãos sobre eles, sobe ao céu diante de seus olhos atônitos, até que uma nuvem O subtraia aos seus olhares. Descem, então, dois anjos para explicar-lhes o mistério da Ascenção de Jesus e de como voltará, um dia, sentado sobre uma nuvem, para julgar os vivos e os mortos. “Quid statis aspicientes in coelum?” (Por que estais olhando no céu?) Jesus subtrai-se aos olhares dos apóstolos, mas promete-lhes sua graça, a inabitação divina, o Espírito Santo.

Ecce, ego vobiscum sum omnibus diebus, usque ad consummationem saeculi” (Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação do século). A Comunhão dos Santos. A Igreja militante, padecente, triunfante. Um só Corpo Místico, do qual Cristo é a Cabeça, nós os membros.

Conversatio nostra in coelis est”. (A nossa conversão é nos céus) Também Maria SSma. mantém o olhar erguido para Jesus. Sua presença visível e corporal acaba também para ela. Sua fé, no entanto, penetra as nuvens. Ela segue-O até o céu. Continua unida a Ele, para exemplo de todos.

 

Lições contidas no episódio

1 - Com os Apóstolos no Monte das Oliveiras - símbolo do mundo -olhar para o céu, onde Jesus desaparece aos nossos olhares, mas onde a fé O sabe presente.

2 - Saber o céu unido com a terra, e ouvir as palavras de Jesus: “Ecce, ego vobiscum sum”. (Eis que estou convosco)

“Pai Nosso, que estais no Céu”...

3 - Viver na Comunhão dos Santos, falar com Deus, com os Anjos e Santos. Ser como Azarias, companheiro de Tobias, que parecia viver na terra, mas na realidade era um anjo que estava sempre diante do trono de Deus.

4 - Espelhar-nos em Maria, na sua fé, sua esperança e seu amor e aprender com ela a manter o olhar sempre fito no céu, até que O possamos contemplar face a face. “Vado parare vobis locum”. (Vou preparar-vos um lugar)

 

Colóquio com Jesus

Domine, quo vadis?” (Senhor, para onde vais?).

“Vado parare vobis locum”, “Non relinquam vos orphanos”. “Ecce, ego vobiscum sum”. “Sufficit tibi gratia mea”. “Expedit vobis ut ego vadam”. (Vou preparar-vos um lugar. Não vos deixareis órfãos. Eis que estou convosco. Basta a ti a minha graça. Convenha a vós que eu vá).

Ajudai-me, Senhor a ter estas verdades sempre diante dos olhos, a fim de que considere esta vida como caminho para o céu. Alegrar-nos com a glória que é dada à natureza humana de Jesus, depois do sofrimento suportado aqui na terra por nosso amor, depois da humilhação suportada por nossa causa. Convencer-nos de que, um dia, conheceremos melhor essa glória, quando a virmos no céu. Por ora, seguir a Jesus com os olhos da fé.

 

Colóquio com Maria Santíssima e os apóstolos

Pedir a sua fé e confiança.

Consolar-nos com a promessa de Jesus de que nos enviará o Consolador. Admirar sua submissão aos desígnios de Deus.

Ir com eles à sala da Ceia, a fim de unir-nos a eles em oração e assim ter a Jesus no nosso meio. “Onde houver dois ou três”...

Jesus não desapareceu, mas é preciso saber encontrá-lo.

 

Resoluções

Lembrar-nos, muitas vezes, de que temes Pai no céu, que nos ajuda a encontrar e percorrer o caminho à casa paterna.

Pensar no muito que os outros fizeram antes de nós para conquistar céu. O que eles fizeram, podemos também nós fazer. Deus ajuda-nos. Devemos estar dispostos a tudo fazer, a tudo empreender.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - “Non habemus hic civitatem permanentem” (Não temos aqui cidade permanente).

2 - Jesus - nosso Guia.

 

OITAVO DIA - SEGUNDA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Maria e os Apóstolos em oração na sala da Ceia

Qual Mãe no meio dos filhos. Mulher forte.

Fé, esperança e caridade nela reunidas. Lembrai-lhes as palavras de Jesus que guarda no coração. Incita-os à oração confiante, afim de que o Espírito Santo venha renovar e transformar-lhes os corações. Fá-lo-á, se tiverem as disposições requeridas.

Ouvir a Maria. Suas palavras são dirigidas também a nós. Somos também apóstolos que precisamos do Espirito Santo. Mas, é preciso que o amor habite em nossos corações e que nos entreguemos totalmente a Deus, se quisermos que neles encontre lugar.

O nosso coração não será digno de recebê-lo, a não ser que nos disponhamos a ouvir as suas inspirações.

De repente, desce o Espírito sob a forma de fogo que, como línguas, pousa sobre as suas cabeças. A casa estremece, como que abalada por forte tempestade.

Homens novos erguem-se. Pedro fala à massa que acorreu, espantada. Impávido, iluminado pela Sabedoria divina. “Vivit Dominus, in cuius conspectu sto”. (Vive o Senhor, em cuja presença estou). Como outrora Elias.

 

Lições contidas no episódio

1 - Nas nossas fraquezas, recorrer à oração em união com Maria.

2 - Unanimidade: “Vade prius reconciliari fratri tuo” (Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão) , isto é desterra do coração qualquer sentimento de aversão, de inimizade antes de dirigir-se a Deus.

3 - “Perseverantes in oratione” (Perseverando na oração). Santo Elias foi exemplo dessa perseverança. Agora são os apóstolos com Nossa Senhora. Deus ouve a quem recorre constantemente a Ele. Quer que peçamos a sua benção “Domine, doce nos orare”. (Senhor ensina-nos a orar).

4 - Repetir os atos de fé, esperança e caridade, quando tivermos dificuldades. Imitar a Maria na prática dessas virtudes teologais.

5 - Abrir o nosso coração à ação da graça divina, à vinda do Espírito Santo. Entrega sem reservas. Sujeição incondicional à direção dada por Deus, seja ela qual for, cheios de confiança; a Ele unidos, sairemos vitoriosos do combate.

 

Colóquio com os apóstolos

Privilégio para eles estarem reunidos com Maria na sala da Ceia! Unir-nos a eles, a fim de ouvir as palavras de Maria e de pedir a sua mediação e intercessão na recepção da graça divina.

Admirar a sua transformação e renovação. Como se entregaram à ação divina, como confiaram em Deus! Pedir-lhes que excitem em nós disposições semelhantes.

Exemplos convencem. Devemos convencer-nos de que recebemos o Espírito Santo. Excitar em nós o desejo de participar da coragem dos apóstolos.

 Deo oporlet obedire magis quam hominibus”. (É preciso obedecer antes a Deus que aos homens)

 

Colóquio com Maria Santíssima

Estamos no meio dos apóstolos. Somos filhos de Deus e de Maria. Ela é refugio e esperança nossa. Queremos rezar com ela, a fim de que por sua intercessão recebamos o Espírito Santo, tornando-nos homens novos e diferentes. Temos continuado a ser os mesmos, apesar dos tempos calamitosos em que vivemos; que, finalmente, nos tornemos outros!

Nossa Senhora trouxe ao mundo o fogo que deve incendiá-lo; que se acenda e arda também em nós, não debaixo das cinzas, mas que as chamas se ergam bem alto!

 

Resolução

Lembrar-nos, muitas vezes, de que por nós mesmos de nada somos capazes, de que o nosso zelo e vontade de trabalhar são tão diminutos. Pedir, muitas vezes, por intermédio de Maria, que nos envie seu Espírito, a fim de sermos transformados. Entregar-nos a Deus e confiar Nele.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Os apóstolos, reunidos em oração com Maria SSma., foram transformados em outros homens.

2 - Nós, apóstolos, precisamos de tal transformação.

 

OITAVO DIA - TERCEIRA MEDITAÇÃO

Episódio: Maria Santíssima novamente na “via Crucis”

Depois da alegria da Ressurreição, da glória da Ascensão e o gozo inebriante de Pentecostes, Nossa Senhora recomeçou a simples vida cotidiana de mulher pobre e humilde, honrada sim por um pequeno grupo de pessoas, mas por muitos ignorada como sendo mãe de um crucificado, para a grande maioria uma desconhecida.

O caminho de sua vida diária a Deus a conduzia. Submetia-se alegremente a tudo quanto Deus dispunha. Tudo a fazia pensar em Jesus, seu Filho, mas também seu Salvador e Exemplo. Tudo quanto dissera e tudo quanto Dele se afirmara, continuava a guardá-lo em seu coração, meditando-o. Era isto a sua vida, a sua felicidade. Via-o continuamente diante de si, junto de si, e visitava os Lugares Sagrados, a fim de conservar vivas as suas lembranças. Esforçava-se por colher plenamente os frutos dos Sagrados Mistérios.

Assim vemo-la nova mente na “Via Crucis” e em todos os lugares onde Ele sofreu, a fim de tudo reviver e relembrar. Era o que tornava a uni-la nova e intimamente com Ele.

Ei-la no Horto, no lugar da agonia e da prisão; no caminho para Anás, Caifás, Herodes e Pilatos; acusado, flagelado, condenado, coroado de espinhos, vergado sob o lenho, desprezado e vaiado pelo povo e, finalmente, no doloroso caminho do Calvário, até chegar ao cume, onde expirou engolfado em dores indizíveis.

Eis a sua dor e sua alegria a um tempo. Com Ele, quer sofrer tudo quanto Deus lhe envia. Fortalecida por essas lembranças e instruída por essas lições, vai ela vivendo a sua vida exemplar, que nós admiramos em silêncio.

 

Lições contidas no episódio

1 - Onde vamos nós buscar a nossa força vital? Na lembrança dos sofrimentos de Jesus?

A Sagrada Comunhão é o memorial cotidiano da Paixão e Morte. Belo costume aliar-lhe o piedoso exercício da Vía-Sacra e fazê-lo em união com Maria.

2 - A Sagrada Comunhão e a Via-Sacra são uma boa base para se viver sempre na lembrança da Sagrada Paixão, mas, além disso, todas as vezes que tivermos sérias dificuldades, devemos lembrar-nos da Via-Sacra e a ela recorrer com Maria e dela tirar a força necessária para levar vida tranquila, simples, alegre e satisfeita, no cumprimento do nosso dever.

3 - Percorrer com Nossa Senhora a “'Via Crucis” da vida diária, mas não com lamentos e gemidos; antes alegres e cheios de coragem, para comprovar a verdade da afirmação: “Jugum meum suave et onus meum leve” (O meu julgo é suave e o meu peso é leve). A cruz representa uma benção da qual não devemos fugir. “In cruce robur, in cruce salus, in cruce lux” (Na cruz, a força; na cruz, a salvação; na cruz, a luz). Numa comunidade religiosa só de devem ver fisionomias alegres, radiantes duma felicidade de ordem superior e intensa, e tal disposição deve ser imperturbável. Nossa Senhora é Rainha não somente do céu, mas também da terra. E nós somos filhos dessa Rainha.

 

Colóquio com Nossa Senhora

Como lhe era grata essa lembrança, essa recordação dos sofrimentos do Filho! Não podia passar sem ela. Era um pedaço de sua vida, era a sua força. Motivo de alegria e triunfo.

Nós queremos acompanhar-vos, ó Maria. Queremos percorrer o mesmo caminho e dele tirar proveito. Pela Sagrada Comunhão queremos fortalecer e confirmar esses sentimentos.

 

Colóquio com os Lugares Santos

Quem é essa Mulher que por aí passa todos os dias, que vos olha, para junto de vós, chora e parece encher-se de alegria, a ponto de exaltar e rejubilar-se? Falai-me também, ó Lugares Sagrados, a vossa linguagem clara, fazei-me chorar e rejubilar-me ao mesmo tempo. Se não posso visitar-vos, que ao menos me falem as vossas representações, a fim de que conserve e fortaleça em mim a lembrança do que em vós se passou para salvação de minha alma e lição de minha vida!

 

Resoluções

Considerar a vida como “Via Crucis”, mas tomar a cruz sobre os ombros com alegria e coragem, já que Jesus, pelo seu exemplo e pela sua graça, a tornou leve.

Resguardar-nos da melancolia, por mais difícil que seja a prova por que passamos. Nessas ocasiões, exatamente, fazer a Via-Sacra com Maria, a fim de conservar a fisionomia alegre e considerar as dores deste mundo sob uma luz superior, em que elas se tornam sinal de predestinação e motivo de consolo.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - Que valor extraordinário tem a vida contemplativa! “Maria optimam parlem elegit” (Maria escolheu a melhor parte).

2 - Depois de meditar a Sagrada Paixão, podemos enfrentar alegremente a vida, a exemplo de Maria.

NONO DIA - PRIMEIRA METAÇÃO

 

Episódio: A morte de Nossa senhora

Não daremos a lenda por extenso. Se Maria morreu em Éfeso ou no lugar da “Dormitio” em Jerusalém, não é objeto da nossa meditação. A lenda diz que todos os apóstolos foram levados, de modo milagroso, para junto de seu leito de morte. Não o sabemos com certeza. Com certeza, porém, podemos ver aí São João, o apóstolo predileto, e considerar sua morte como coroação de sua vida de amor. Como Santa Teresa, a Virgem Maria deve ter cantado: “Morro por não morrer ainda”. De tal modo desejava unir-se para sempre com Jesus. Pudéssemos nós encarar assim a morte e desejá-la!

Admirar Maria Santíssima. João não precisava ensinar-lhe a amar, mas ele aí está para presenciar essa ultima manifestação de amor. A morte aqui é vida. A natureza é vencida. O espírito obriga o corpo a esperar com paciência, ainda que seja por pouco tempo.

Também a Nossa Senhora impõe-se a separação de corpo e alma, a fim de que em tudo se assemelhe a Jesus. Mas, depois dessa rápida separação, o corpo santíssimo é unido à alma para uma nova vida, eterna e gloriosa, em que o corpo é completamente dominado pelo espírito.

Contemplar atentamente a felicidade do corpo e da alma no céu. E Nossa Senhora é a Rainha do céu. Como se enalteceu e exaltou nela a natureza humana! Fora o Homem-Deus, jamais houve exaltação igual em criatura alguma. E essa exaltação é imagem da nossa futura glorificação. Mal podemos imaginar o que se passará conosco; em Maria podemos compreendê-lo melhor, mas também em nós dar-se-á igual transformação.

O Maria, levai-nos convosco para a glória!

 

Lições contidas no episódio

1 - Procurar encarar a morte sob o seu aspecto mais belo e mais profundo, especialmente a nossa própria morte. “Quam sordet mihi tellus, dum coelum aspicio”.

2 - “Talis vita, finis ita” (Tal vida, tal fim). Se quisermos morrer assim, deveremos viver assim, isto é: uma vida de amor. Viver com Deus, por Deus e para Deus. Considerar a vida como caminho para a união eterna com Deus, a quem amamos acima de tudo.

3 - Fazer da vida um antegozo do céu, unindo-nos com Deus o mais possível e considerá-Lo como vivendo e trabalhando dentro de nós.

4 - Considerar como Maria SSma., mulher pobre e humilde, era Rainha do céu “ab aeterno” (desde a eternidade), no plano de Deus. O plano de Deus a nosso respeito é que sejamos santos “Haec est voluntas Dei: sanctificatio vestra”: (Esta é a vontade de Deus: vossa santificação)

5 - Espelhar-nos, muitas vezes, em Maria e pedir-lhe que nos mostre Jesus, não apenas mais tarde, no céu, mas desde agora, para que tenhamos os olhos sempre fitos Nele.

 

Colóquio com Nossa Senhora

Alegrar-nos com o seu “consummatum est”(Está consumado). Jesus e a Trindade Augusta se lhe tornam visíveis entre legiões de anjos e de santos, que a introduzem no céu como Rainha. Assistimos ao espetáculo de longe e, como que através dum véu, vemos a sua glorificação. Com ela entoamos o eterno “Magnificat”'.

Vemo-la unida, de novo, com São José, São Joaquim e Sant'Ana, e com o Arcanjo Gabriel. Unida também com Simeão e Ana que encontrara outrora no templo.

Passou-se o sofrimento. Admirar-lhe os primores do corpo glorificado: suas mãos que sustentaram o Menino Jesus e por Ele trabalharam; seu Coração que só pensava Nele; seus lábios que Lhe falaram e que, castamente, O beijaram. Todos os seus membros participam agora de uma vida superior, proveniente da alma glorificada.

 

Colóquio com São João

 

Que satisfação e consolo para ele assistir a essa morte tão santa! Quanto deve ter aprendido junto do leito de morte de Maria! Ele, o apóstolo do amor! Quando assistiu à morte de Jesus, Maria lhe foi dada como Mãe. Que ele nos ensine o amor.

 

Resoluções

Aprender a morrer. Ajudar os outros a morrer. Ensinar-lhes a ver a morte sob esse aspecto.

Imaginar, muitas vezes, o leito de morte de Maria e pedir-lhe que faça a nossa morte semelhante à sua.

Viver vida de amor.

Considerar a vida como morte lenta. “Quotidie morior”.

Viver de tal forma que mereçamos morrer de amor.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - O que representava a morte para Maria?

2 - Como devo fazer para morrer assim?

 

NONO DIA - SEGUNDA MEDITAÇÃO

 

Episódio: Glorificação de Maria Santíssima na terra

Beatam me dicent omnes generationes” (Bendita me chamarão todas as gerações), profetizara Maria. E foi o que sucedeu. O cristianismo não seria completo sem uma intensa devoção mariana. Essa devoção é característica do verdadeiro cristianismo. E por quê? Por demonstrar a compreensão do verdadeiro sentido da Encarnação do Filho de Deus. Não é puro acaso que essa devoção se tenha desenvolvido assim. O verdadeiro conceito da Encarnação traz consigo a noção da Maternidade divina.

Há vários conceitos dessa Maternidade: para uns é apenas aparente, honra meramente exterior. Estes não se convencem do “natus ex Maria Virgine”. Interpretam-no mais de modo espiritual, simbólico, sem penetrarem bem a realidade. O que Cristo disse aos apóstolos, quando muitos acharam dura a sua linguagem a respeito da Eucaristia: “numquid et vos vultis abire?”, poderíamos aplicá-lo também à relação existente entre Jesus e Maria.

Ela é, realmente, Mãe de Deus e, nessa qualidade, tem sido venerada pela Igreja. Como Aman ia adiante de Mardoqueu, mas com sentimentos infinitamente mais nobres, a Igreja vai adiante de Maria, exclamando: “Assim será honrada Aquela que o próprio Deus quis honrar”.

Vede a sua glorificação: os evangelhos proclamam a sua glória; os concílios ecumênicos confirmam-lhe a altíssima dignidade; os Santos Padres rivalizam em eloquência, ao falarem de suas glórias. A cristandade dedicou-lhe os mais belos santuários. Ao lado da arquitetura, estão a escultura e a pintura. A glorificação de Maria na arte não tem fim. E a literatura? Bibliotecas inteiras lhe são dedicadas. Cânticos e poesias se conta.

 

Lições contidas no episódio

1 -  Atender, muitas vezes, ao fato de que o culto mariano na Igreja é universal e considerar tal fato como profundamente significativo.

2 - Convencer-se de que isto não é casual, mas pelo contrário tem base profunda. Estudar essa base e fundar nela a nossa devoção a Maria.

3 - Maria Santíssima é Mãe de Deus em sentido real, verdadeiro e completo. Ter grande respeito para com tão admirável mistério, que representa santificação extraordinária da natureza humana. Não recuar diante da grandeza do mistério, mas admirar a onipotência divina que aqui parece esgotar-se.

Lembrar-nos de que esse mesmo Deus vem até nós, a fim de unir-Se conosco. Jamais deixemos de olhar para Maria, a fim de ver como Deus a transformou, a que glórias a elevou. Que de graça Ele quer dar-nos, a que glórias nos quer elevar! Todas as gerações devem chamar-nos bem-aventurados!

4 - Poderíamos nós ficar para trás, quando toda a Igreja glorifica a Maria SSma? Que podemos fazer para aumentar a sua glória? Cada um trabalhe do seu modo e no seu ambiente.

 

Colóquio com Nossa Senhora

Manifestar-lhe a nossa alegria pela sua glorificação. Contribuir para ela, como filhos que glorificam sua mãe. Rodeá-la para lhe tributarmos as nossas filiais homenagens e louvores. Gostar de ouvir referências elogiosas a seu respeito. Prometer-lhe de elogiá-la sempre. Querer pertencer ao número daqueles que têm como tarefa principal de sua vida a glorificação de Maria. Gostar de ver belas representações de Nossa Senhora, de ouvir cânticos em seu louvor. Participar de obras em sua honra. Dizer-lhe tudo isto.

 

Colóquio com Deus Nosso Senhor

Louvá-Lo e dar-Lhe graças pelas maravilhas operadas em Nossa Senhora. O Pai, o Filho e o Espirito Santo fizeram realmente com que a devêssemos chamar bem-aventurada. Dizer a Deus que queremos corresponder aos seus desígnios, glorificando-a e exaltando-a acima de todas as criaturas. Prometer-Lhe de honrá-la sempre de modo todo especial, com verdadeira piedade e veneração, como Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, e Esposa do Espírito Santo.

 

Resoluções

Venerar Nossa Senhora, especialmente como Mãe de Deus, por quem Jesus veio até nós, e concordar sempre com tudo quanto for feito em sua honra.

 

Dois pensamentos para reter o assunto meditado

1 - “Beatam me dicent omnes generationes” (Bendita me chamarão todas as gerações).

2 – “Mater Dei”(Mãe de Deus).

 

NONO DIA - ENCERRAMENTO

 

Consagração a Nossa Senhora

Adiamos cum fiduci ad tronum gratiae” (Hb 4,16). Vamos em espírito ao céu, afim de vermos a Nossa Senhora em sua glória; coloquemo-nos em torno do seu trono, afim de louvar e com ela glorificar a SSma. Trindade. Todos os Anjos e Santos a estão em legiões intermináveis em redor da Rainha do Céu. Entre eles há um lugar reservado para cada um de nós. “Adeams ergo cum fiducia”.

Com o espírito reformado pelo retiro, olhemos para o alto: “Conversatio nostra in coelis est”. Regozijar-nos com a nossa futura glória, e gravá-la bem em nosso espírito. O pensamento do céu deve ser uma verdadeira, força em nossa vida.

E esse o nosso destino; mais uma vez o retiro veio confirmá-lo. Resta-nos apenas rápida luta, alguns anos de renúncia e combate, que não serão tão difíceis se estivermos de sobreaviso. “Confidite, filii, ego vici mundum” (Jo 16,33) (Tende confiança, filhos, eu venci o mundo).

Nossa Senhora percorreu a “Via Crucis”, cheia de coragem e de amor. “Nonne oportuite” Nossa Senhora sabia que uma espada de dor havia de trespassar-lhe o coração: era a sua glória. Já não podia passar sem ela. E nós? Seguimo-la? Nossa Senhora indica-nos o caminho do sacrifício. Depois haverá a ressurreição e a Ascenção. Devemos, primeiro, merecer a nossa glória: Deus assim o quer. Reservou-nos um lugar; façamos com que ele não nos escape. Digamos a Maria: “Guardai-nos o nosso lugar; eis que venho”.

Resolver-nos a nada perder da glória que Deus nos destinou. Nossa Senhora deve guardar-nos o lugar e lembrar-nos dele, quando quisermos afastar-nos do caminho que a ele conduz.

Que alegria para nós termos, durante o retiro, reencontrado o nosso lugar no convento, na vida, posto que não queremos abandonar mais.

Depositemos tudo nas mãos de Nossa Senhora.

Que ela cuide de nós, qual Mãe pelos filhos - Tudo o que fazemos, tudo o que temos, coloquemo-nos nas mãos de Nossa Senhora. Que ela no-lo guarde e conserve, indicando-nos a finalidade que tudo deve ter. A Estrela do Mar, a estrela fixa do polo que determina o roteiro da nossa vida. O exemplo sempre luminoso.

A porta do céu! Guiados pela sua mão, a nossa entrada é garantida e segura.

Colóquio filial com nossa Mãe. “Mostrai que sois nossa mãe”, pela vida em fora. Queremos ser seus filhos no sentido mais estrito.

 

MEDITAÇÃO FINAL - RENOVAÇÃO DOS VOTOS

Consideremos a santa missa como símbolo do nosso sacrifício a Deus e a Sagrada Comunhão como complemento.

Hoc facite in meam commemorationem” – “Fazei isto em minha memória” (Lc 22,19).

Na última Ceia Se nos deu como alimento e, na Cruz, consumou o seu Sacrifício, que é renovado na Santa Missa.

Á hora do ofertório, quando a matéria do sacrifício estiver sobre a patena e no cálice, oferecer-nos também a Deus, a fim de que Ele, que transforma o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Jesus, nos transforme também a nós, de modo a podermos dizer com São Paulo: “Vivo, iam non ego, vivit vero in me Christus”, (Vivo, mas já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim – Gl 2,20).

Na Santa Missa, invocamos a benção de Deus sobre a oferta. “Ascendat oratio mea sicin immensum in conspectu tuo”. O Sacerdote incensa a matéria do sacrifício, dizendo as palavras sublimes: - “Incensum istud a Te benedictum ascendat ad Te, Domine, et descendat super nos misericordia tua”.

Sursum corda”. Corações ao alto, abertos para o Senhor, a fim de que possa dar entrada neles com a sua graça e misericórdia.

Et ego, si exaltatus fuero, omnia traham ad meipsum” (João Crisóstomo). Estamos de baixo da Cruz, a fim de que o Sangue de Jesus caia sobre nós e nos purifique. Mais uma vez, ,ouvimos de seus lábios as palavras: “Ecce mater tua” (Eis a tua mãe). E a última prova de amor. Com Maria aproximamo-nos de Jesus e bebemos do seu lado o Sangue puríssimo, que nos transforma em homens novos.

A Sagrada Comunhão, é o selo sobre o nosso votos.

 Corpus Domini nostri Iesu Christi custodiat animam tuam in vitam aeternam. Amen

 

(Tradução: Dom Frei Vital  Wilderink, O. Carm)

São Tito Brandsma

Letra e música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm

 

1-A Igreja, ao Carmelo agradece, uma escola de santidade e oração. A Igreja, ao Carmelo enaltece: Fraternidade, Profetismo e Missão.

Tito Brandsma, Carmelita, Jornalista, nosso irmão. Com o Santo Escapulário vamos juntos em Missão.

2-Precisamos, em tempos difíceis, com Elias, na fonte beber. Nos porões, da humanidade, a verdade e a paz, sempre há de vencer.

3- No Carmelo, se pensar em Maria, é a nossa própria vocação. Comungar, todos os dias, pra chegar à contemplação.

4-A missão, dos carmelitas, não é grandes coisas fazer, mas, nas pequenas coisas, com grandeza, sempre viver.

5- A imprensa, depois dos templos, é o primeiro púlpito para ensinar. É a força da palavra e da verdade, contra a violência das armas a matar.

6- Pobre mulher, eu rezarei por você... Ainda que não saiba rezar. Pode pelo menos dizer: "Rogai por nós pecadores... Disse, com fé.

7-Oração, não é um oásis no deserto da vida, mas é vida, em nosso viver. Meditando, na Boa Nova, seguindo Jesus Cristo para crescer.

 

(A Origem da Ordem Segunda do Carmo e a Bula CumNulla) 

  

    O século XV quando a Ordem do Carmo já havia atingido um estado estável na Europa, contando, com a existência de inúmeros conventos, foi uma época muito importante na história da Ordem do Carmo, quando estava à sua frente a figura do Beato João Soreth, eleito Prior Geral no ano de 1451, a ele é que se deve a Fundação das Ordens Terceira Secular do Carmo.

    O      Beato João Soreth nasceu em Caen, na Normandia/França em 1394. Atraído pelo Carmelo, nele ingressou e tendo completado com brilhantismo os estudos teológicos, ordenou-se sacerdote em 1417 e aos 46 anos de idade foi eleito Superior Provincial dos Carmelitas na França e aos 57 anos, foi eleito Superior Geral dos Carmelitas, na Assembléia Geral de Avinhão na França. O seu governo da Ordem foi muito trabalhoso e sofrido, mas de grande sucesso, graças a sua cultura intelectual e profunda piedade. Seu maior empenho na Ordem foi a reforma da vida religiosa dos Frades. Os séculos XIII, XIV e XV foram de muita convulsão política, social e no campo religioso ele teve que enfrentar também sérias dificuldades.

    O flagelo da Peste Negra na Europa fez com que os conventos religiosos fossem reduzidos em mais de 40% de seus efetivos. Para repovoar os conventos, os superiores locais foram aceitando candidatos sem muita formação e a disciplina da observância religiosa baixou muito de nível, provocando a decadência dos costumes até dentro dos claustros e reverter esse quadro não foi fácil. Mas, o Beato João Soreth, com muita paciência e zelo foi visitando todos os Conventos da Europa (Alemanha, Bélgica, França, Inglaterra, Itália, etc) enfrentando toda espécie de dificuldades, andando muitas vezes a pé, nem sempre bem recebido pelos religiosos, mas conseguiu restabelecer a observância religiosa, o retorno à vida conventual, à prática da oração, e conseguiu ainda perfeito equilíbrio entre a vida contemplativa e apostólica; reunificou as Províncias da Alemanha, graças à sua humildade, paciência, prudência e caridade, aplicando até a justiça com medidas enérgicas quando necessárias. Soreth foi um grande Reformador, direcionando a Ordem do Carmo a seu antigo esplendor na observância regular, naquela época de grandes crises políticas, sociais e religiosas. Um dos maiores empreendimentos do Beato João Soreth foi sem dúvida, a Fundação das Ordens.

 

Segunda e Terceira do Carmo.

    O governo deste Pe. Geral durou 20 anos: de 1451 a 1471. No seu governo, já havia em diversas partes da Europa (Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda e Itália) pessoas ou grupos vivendo e convivendo com os religiosos Carmelitas procurando imbuir-se do espírito e do carisma do Carmelo; tais pessoas ou grupos residiam em suas próprias casas ou até mesmo em casas de propriedade da Ordem do Carmo; tais pessoas eram homens e/ou mulheres, casados, solteiros ou viúvos; nesses grupos, predominava o elemento feminino, que na Itália, elas se chamavam Mantelatae, ou Pinzocherae na Bélgica e na Holanda Beguinas e na Espanha Beatas. Essas pessoas procuravam imitar os religiosos Carmelitas na prática dos exercícios de piedade, nas orações, nos costumes e até mesmo no uso do hábito monacal e da capa branca (Mantelatae), igual aos Carmelitas.

    No tempo do Beato João Soreth, não existiam nem se pensava nas três categorias: Ordem Primeira, Ordem Segunda e da Ordem Terceira dos Carmelitas. Essa distinção passou a existir depois de 1452. Diante dessa realidade de tantas pessoas ligadas espiritualmente ao Carmelo, o Provincial de Florença, Itália, teve a feliz idéia de ir a Roma e de pedir ao Papa Nicolau V (1447 - 1455) um documento que facultasse a existência jurídica daqueles grupos. E o Papa Nicolau V deu-lhe uma Bula que se chamou Cum Nulla datada de 1 de outubro de 1452, e foi desse documento oficial da Igreja que o Beato João Soreth se serviu para dar um caráter jurídico aos grupos; foi assim que nasceu a Ordem Segunda do Carmo ou seja a Ordem Carmelita das Monjas de Clausura, de vida reclusa, afiliadas à Ordem do Carmo mediante a profissão dos votos de pobreza, obediência e castidade; assim os Mosteiros Carmelitas de Monjas de Clausura ficaram jurisdicionadas à Ordem Primeira do Carmo. A partir de então sucederam-se as Fundações das Monjas Carmelitas de Clausura na Europa.

 

Os primeiros Carmelitas, estabelecidos ‘perto da fonte de Elias’, escolheram esse homem do deserto como seu pai e guia. Jacques de Vitry — como já mencionamos — fala, por volta de 1228, de eremitas latinos no Monte Carmelo que “a exemplo e no seguimento do santo homem e eremita, o profeta Elias... vivem uma vida de solidão”. Elias se torna para eles um arquétipo vivente e ativo, um modelo que reúne desejos, aspirações, valores e comportamentos. Assim, o fato de se encontrarem ‘na vizinhança’ de Elias transformou-se em símbolo de uma realidade que ultrapassa o próprio fato. Aliás, já existia na tradição monástica a convicção de Elias ser ‘o príncipe dos monges’. Vários Padres da Igreja veem nele a personificação de uma vida em perfeita união com Deus.

Após a migração para Europa (1238), desenraizados do lugar original e encontrando-se num quadro jurídico pouco claro e estável, surge para os carmelitas o problema de explicar em que consiste seu vínculo espiritual com o Profeta. O desejo de eles terem, como as outras Ordens Religiosas do Ocidente, um Fundador que encarasse seu propositum vitae [seu projeto de vida consagrada], contribuiu para intensificar a consciência Eliana, quanto à sua ligação com o Profeta na condição de “filhos espirituais”, em linha de sucessão ininterrupta.

Significativo, nesse contexto, é a Rubrica Prima, que, na realidade, é uma espécie de ‘orientação explicativa’, dada pelo Capítulo Geral de Londres, em 1281: “Não sabendo alguns irmãos, jovens na Ordem, dar uma resposta adequada aos que perguntam de quem e como é que a nossa Ordem teve o seu princípio, respondemos-lhes nós em sua vez, deixando uma fórmula por escrito. Dizemos, pois, em testemunho da verdade, que desde os tempos dos profetas Elias e Eliseu, que viveram piedosamente no Monte Carmelo, alguns santos padres do Antigo Testamento, atraídos à solidão da mesma montanha para a contemplação das coisas celestiais, ali junto da fonte de Elias, perseveraram louvavelmente em santa penitência, acompanhada constantemente de atos de virtude. Alberto, patriarca de Jerusalém, reuniu em comunidade os seus sucessores, em tempos de Inocêncio III, e deu-lhes uma Regra que Inocêncio e muitos outros pontífices confirmaram com bulas, aprovando a dita Ordem. Nós, seus seguidores, observando esta mesma Regra, servimos o Senhor, até ao dia de hoje, em muitas partes do mundo”. (18)

Nasceu, assim, a ‘lenda’ de a Ordem do Carmo ter como seu fundador Elias, estando os atuais membros em linha de direta descendência deste Profeta do Primeiro Testamento!

Também devemos levar em consideração que a nova situação histórica dos Carmelitas, transferidos para Europa, exigia a busca de um equilíbrio interno da Ordem, conjugando a dimensão contemplativa e apostólica de sua vida. Na pessoa do profeta Elias, essa integração se mostra possível e fecunda. De fato, Elias apresenta-se como um modelo exemplar de intimidade com Deus, de comunicação constante com o Senhor, de vida solitária e mortificada, imersa na escuta da Palavra divina, em permanente busca da vontade do Senhor. Tomando o Profeta como ‘pai espiritual’, os Carmelitas encontram nele valores que caracterizam seu próprio ideal de vida: pureza de coração, amor à solidão, renúncia, humildade, caridade, em suma, a busca de uma vida que não tem outro objetivo a não ser Deus e sua causa. Elias simboliza, assim, a alma que arde de paixão por Deus e de fidelidade à sua Aliança, denunciando tudo que é idolatria (1Rs 18; 2Rs 1) e injustiça (1Rs 21). O profeta é, igualmente, modelo de atividade apostólica, questão de grande atualidade no novo contexto histórico. Assim, o livro Formação dos Primeiros Monges comenta que, apesar de Elias e seu discípulo Eliseu viverem preferencialmente no deserto, não deixaram — a pedido de Deus e para o proveito espiritual do povo — de visitar a cidade, realizando nela milagres, condenando vícios e exortando os homens a se converterem ao Deus vivo e verdadeiro.

O culto oficial ao Profeta Elias surge no século XVI. Sua festa aparece, pela primeira vez, em 1551, mas efetivamente é estabelecida em 1585 e fixada no calendário litúrgico no dia 20 de julho. A demora de se celebrar liturgicamente sua memória se explica pelo fato de, na época, existir uma crença popular que afirmava o Profeta nunca ter morrido e, por isso, deveria voltar para ser martirizado antes do retorno final de Cristo! E é fato consumado de que não pode ser celebrada a festa litúrgica de alguém que ainda não morreu! Nas Constituições atuais dos Carmelitas (1995) encontramos uma significativa explicação de como a Ordem, hoje, avalia a herança profético-eliana de suas origens:

“Elias é o profeta solitário que cultiva a sede de Deus único e vive na sua presença (cf. 1Rs 17,1.15; 18,19-21; 2Rs 1,2). Ele é o contemplativo raptado pela paixão ardente pelo absoluto de Deus (cf 2Rs2,1-13), cuja ‘palavra ardia como fogo’ (Eclo 48,1). É o místico que, depois de um longo e penoso caminho aprende e lê os novos sinais da presença de Deus (cf. 1Rs19,1-18). É o profeta que se envolve na vida do povo e, lutando contra os falsos ídolos, o reconduz à felicidade da Aliança com o único Deus (cf. 1Rs 18, 20-46). É o profeta solidário com os pobres e marginalizados e que defende aqueles que sofrem violência e injustiça (cf. 1Rs 17,7-24; 21,17-29).

O Carmelita aprende, pois, com Elias ser homem do deserto, de coração indiviso, que está todo diante de Deus, todo entregue ao serviço de Deus, o homem que faz uma escolha sem compromissos pela causa de Deus e por Deus arde de paixão. Como Elias, crê em Deus, deixa-se conduzir pelo Espírito e interioriza a Palavra no próprio coração, para testemunhar a presença de Deus no mundo, aceitando que ele seja realmente Deus na sua vida. Enfim, vê em Elias, unido ao seu grupo profético, a fraternidade vivida na comunidade, e com ele aprende a ser canal da ternura de Deus para com os indigentes e os humildes”  

Devoção e Silêncio, é o oitavo Dia da Novena- reflexão- de Nossa Senhora do Carmo, Com Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita e Jornalista da Ordem do Carmo. Comunidade do Carmo- Paróquia Nossa Senhora do Carmo- Vila Kosmos, Vicente de Carvalho, Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Domingo, 14 de julho-2024.

 

Ao final do Angelus dominical, Papa implora a Nossa Senhora do Carmo conforto e paz para as populações "oprimidas pelo horror da guerra". E pede orações por Ucrânia, Oriente Médio e Mianmar. Uma saudação aos marítimos pelo "Domingo do Mar".

 

Vatican News

No dia 16 de julho a Igreja celebra Nossa Senhora do Carmo e foi a Ela que Francisco recorreu para suplicar conforto e paz às populações "oprimidas pelo horror da guerra".

Ao final do Angelus dominical, o Papa renovou seu convite aos fiéis para que continuem rezando pela paz na martirizada Ucrânia, na Palestina, em Israel e Mianmar. 

O Pontífice também pediu orações aos trabalhadores do setor marítimo e a quem lhes presta assistência por ocasião do "Domingo do Mar", celebrado neste 14 de julho.

A saudação do Papa se estendeu a todos os romanos e peregrinos da Itália e de outros países, inclusive do Brasil, de modo especial aos participantes do Congresso Internacional dos leigos da Ordem e Santo Agostinho, às Irmãs da Sagrada Família de Nazaré, reunidas em Capítulo, e aos fiéis poloneses no Santuário de Nossa Senhora de Częstochowa, na Polônia, por ocasião da peregrinação anual da família da Rádio Maria. Fonte: https://www.vaticannews.va