Frei Chalmers Joseph, O. Carm. Ex- Prior Geral da Ordem do Carmo.

            Uma comunidade não é uma coleção de indivíduos, por isso no primeiro capítulo legislativo os eremitas terão que eleger para eles um Prior ao qual devem prometer obediência. A obediência não é um assunto de meras palavras, mas que deve ser provado com as obras. O Prior, porque é um guia, é alguém que serve (Regra 22). Ele deve ser eleito com o consentimento unânime de todos, ou da parte maior e mais madura, a ele prometerão obediência todos os demais (Regra 4 e 23). Junto com os irmãos, o Prior decide onde fixar os lugares dos conventos (Regra 5). Com o consentimento dos outros irmãos ou da parte mais madura, o prior assinala a cada um a cela (Regra 6). O significado da cela era muito mais importante do que dar uma habitação nas casas modernas. Somente com a permissão do Prior alguém pode mudar-se da cela (Regra 8). A missão do prior  é proteger o direito dos demais ao silêncio e à solidão no trato com os visitantes (Regra 9). O Prior é o responsável pela distribuição do alimento segundo a necessidade de cada um. Ele exerce esta responsabilidade através de um delegado (Regra 12). Ao Prior se deve respeitar (Regra 23), porém, ele deve ganhar-se este respeito pela sua forma de vida. O papel dum guia numa comunidade não é o de alguém que regula tudo, mas o de quem inspira os outros. O guia deve ser um em quem, acima de tudo, os valores da Regra hão de tomar carne.

            O Prior deve viver de acordo com a Regra como os demais. Todos os irmãos se reunirão para distintas ocasiões: para comer (Regra 7); para rezar (Regra 11); para celebrar a Eucaristia cada manhã (Regra 14); cada domingo ou em outros dias, se for necessário, para tratar da observância da vida comum e do bem espiritual das almas e corrigir com caridade as faltas (Regra 15).

            A Regra não trata de cobrir qualquer tipo de eventualidade; nem tampouco pretende sufocar a criatividade. A intenção é dar umas linhas guias aos eremitas para ajuda-los a viver em obséquio de Jesus Cristo. Na oração silenciosa, na solidão e por meio do trabalho, eles formarão uma comunidade de discípulos unida em torno do Senhor. Sua quietude e sua vida humilde se elevarão até Deus e será um benefício para seu próximo. Durante quase cerca de oito séculos, a Regra inspirou um número incontável de carmelitas em seus esforços de ser revestidos pela Palavra de Deus. A espiritualidade Carmelita não está contida completamente no breve texto da Regra, porém, esta é a fonte da qual domina.

            O Prior é o símbolo da unidade dentro da comunidade, o qual é elegido para servir. Ele deve ser um modelo, em palavras e em obras, para o grupo (1Ped 5,3) como tal, deve estar disposto para prestar a ajuda necessária a cada religioso; para fomentar a vida comunitária; para cuidar de todos, especialmente dos enfermos e anciãos; para supervisar as atividades comunitárias com qual os irmãos possam viver “em obséquio de Jesus Cristo e servir fielmente com coração puro e boa consciência”." (Regra 1).

            O papel do Prior em nossa Regra e em nossa tradição é o do serviço. Ele guia à comunidade antes de tudo com seu próprio exemplo e seu papel é o de assegurar que a comunidade se organize de tal maneira que os irmãos possam viver em obséquio de Jesus Cristo. Várias vezes se assinala na Regra que o Prior deverá tomar certas decisões com o consentimento dos demais irmãos, ou da parte maior e mais madura. O Prior não é um déspota, ou um pai que decide tudo por seus filhos. É para eles um guia, porém, cada membro da comunidade é responsável da unidade de toda a comunidade e de sua própria vida. O Prior é alguém que recorda aos irmãos a nossa vocação comum e constantemente nos chama todos a vive-la. Entretanto, cada um é, em última instância, o responsável diante Deus de como está vivendo atualmente a vocação que Deus lhe deu.