Como Prior-geral da Ordem de 1451 a 1471, João Soreth promoveu uma reforma interna da Ordem, com o objetivo de funcionar como fermento renovador das respectivas províncias. Os adeptos renunciaram a qualquer bem temporal, privilégio ou exceção. Comiam à mesa comum e não se permitia visitantes no convento sem expressa autorização do prior, exatamente para conservar o clima de recolhimento interior e exterior. A reforma atingiu — como já vimos em páginas anteriores — principalmente as regiões da França, Países Baixos e Alemanha.

Teve significativa influência da ‘Devoção Moderna’, movimento espiritual iniciada nos Países Baixos por Geert Grote (1340-1384), tendo como seu fruto mais maduro e duradouro a coletânea ‘A Imitação de Cristo’, escrito por Tomás de Kempis (1380-1471). Trata-se de uma corrente de renovação interior, a partir de uma vida cristiforme.

Soreth insiste na restauração da vida em comum, de acordo com o relato da Igreja Primitiva (At 2,44-47; 4,32-35). Na interpretação da Regra privilegia a ‘mística da cela’, apresentando-a como “lugar sagrado no qual Deus e seu servo se entretêm em segredo, assim como alguém fala com seu amigo. Nela a alma fica unida a Deus como a esposa ao esposo. A cela é, assim, o templo onde se realizam os mistérios sacros”. Seu promotor faz distinção entre ‘cela exterior’ e ‘cela interior’, e considera a primeira o símbolo da segunda. A cela interior representa a consciência imersa em Deus e que envolve todas as energias interiores. Valoriza deste modo o ‘deserto’ da tradição monástica, espaço privilegiado de encontro com Deus, onde experimentamos, realisticamente, nossos próprios limites e sentimos, mais intensamente, a necessidade de Deus. É, por excelência, o recinto do despojamento-purificação e da acolhida-escuta da Palavra. Juntamente com isso aparecem aqui os temas de cruz-morte, libertação da escravização a si mesmo e desejo de aderir a Cristo no amor.

Como extensão e aprofundamento da reforma soretiana surgiram — como foi mostrado em outra parte — mosteiros de monjas carmelitas, entre os quais a fundação promovida pela Duquesa de Bretanha, na França, a Beata Francisca d’Amboise (1427-1485), que se tornara carmelita em 1468.