(VEJA O PRIMEIRO VÍDEO, COM FREI PETRÔNIO DE MIRANDA, CARMELITA)  

*Frei Carlos Mesters, Carmelita.

O lugar que o Livro dos Salmos ocupa dentro da Bíblia

Há três tipos de livros no Antigo Testamento: livros de história, livros de sabedoria, e livros de profecia. O Livro dos Salmos costuma ser colocado entre os Livros de Sabedoria. Mas o curioso é o seguinte: nos salmos não tem só sabedoria, mas também história e profecia. E nos Livros de Profecia, de História e de Sabedoria não tem só Profecia, História e Sabedoria, mas também tem salmos! Só uma pequena parte dos salmos da Bíblia está no Livro dos Salmos; a outra parte, bem maior, está espalhada pelo resto da Bíblia, até no Novo Testamento.

Algo semelhante acontece com o tempo em que os salmos foram escritos. Há salmos que foram feitos antes do começo do Livro dos Salmos: o Cântico de Miriam (Ex 15,21), de Moisés (Ex 15,1-18), de Débora (Jz 5,1-31, de Ana (1Sm 2,1-10). E há salmos que foram feitos depois que o Livro dos Salmos já estava completo e terminado: O Cântico de Maria (Lc 1,46-55), de Zacarias (Lc 1,67-79), de Simeão (Lc 2,29-32) e vários outros, copiados por Paulo nas suas cartas (1Cor 13,1-13; Fl 2,6-11).

Estas observações tão simples e tão evidentes sobre o tempo e o lugar dos salmos dentro da Bíblia permitem tirar quatro conclusões muito importantes?

 O Livro dos Salmos não pretende ter o monopólio da oração; pretende ser apenas uma amostra de como o povo de Deus rezava naquele tempo.

  1. O Livro dos Salmos oferece um modelo de como se pode orar. Quer provocar a criatividade e suscitar novos salmos, como de fato suscitou em muitas pessoas. O próprio Jesus chegou a fazer um salmo (Mt 6,11-13).
  2. O Livro dos Salmos serve como muleta na hora da precisão. Pois tem momentos na vida em que a pessoa já não sabe como e o que rezar. Mesmo querendo, não encontra palavras. Ele se sente “como a terra seca do sertão à espera da chuva” (Sl 63,2). Numa hora dessas é bom a gente poder recorrer aos salmos e pedir emprestado palavras antigas e seguras para dirigir-se a Deus. Foi o que Jesus fez na hora da sua morte: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Mc 15,34; Sl 22,2).
  3. Na vida do povo de Deus, a prece não é um setor separado do resto da história. Pelo contrário! Há um vai-vem constante entre a prece e a vida. O povo rezava e celebrava a sua caminhada.

Duas comparações para resumir o que foi dito:

  1. a) A Bíblia é como uma casa à beira do rio. Você vê o reflexo da casa na água do rio. O rio é a oração do povo; são os salmos. Neles você vê o reflexo de toda a vida do povo. Os salmos são o lado orante da história, da profecia, da sabedoria; o lado orante da caminhada!
  2. b) O Livro dos Salmos é como a caixa d’água. Parte da água está dentro da caixa, parte dela está nos muitos canos que percorrem a casa. Canos de dois tipos: os que conduzem a água da fonte até a caixa, e os que levam a água da caixa até as torneiras.

* Conhecido por seus estudos sobre a Bíblia - estudou em Roma e em Jerusalém - Frei Carlos Mesters,, Carmelita da Ordem do Carmo, nasceu na Holanda em 1931. Missionário no Brasil desde 1949. Sacerdote desde 1957, doutor em Teologia Bíblica. É um dos principais exegetas bíblicos do método histórico-crítico no Brasil e foi fundador CEBI - Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (1978). Atualmente reside no Convento do Carmo de Unaí-MG.