Frei Carlos Mesters, O. Carm, Mercedes Lopes e Francisco Orofino

Jesus é o Bom Pastor: "Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância!"

João 10,1-18

Acolhida:

1- Criar um bom ambiente. Dar as boas vindas. Colocar as pessoas à vontade.

2- Canto inicial. Sugestão: "Eu vim para que todos tenham vida"

3- Apresentar brevemente o assunto que vai ser refletido, meditado e rezado neste encontro.

4- Invocar a luz do Espírito Santo.  

Olhar de perto as coisas da nossa vida

No encontro de hoje, vamos meditar sobre a imagem do Bom Pastor. Jesus é o bom pastor que veio para que todos tenham vida em abundância! O pastor era a imagem e o símbolo do líder. Jesus diz que muitos se apresentavam como pastor, mas na realidade eram ladrões e assaltantes. Hoje acontece a mesma coisa. Muitas pessoas se apresentam como líder, mas na realidade, são ladrões e assaltantes. Pois, em vez de servir, buscam os seus próprios interesses. E às vezes, têm uma fala tão mansa e fazem uma propaganda tão inteligente, que conseguem enganar o povo. Vamos conversar sobre isto.

1- Você já teve a experiência de ter sido enganado assim? Conte como foi.

2- Quais são os critérios que voce usa para avaliar uma liderança?

Olhar no espelho da vida: Introdução à leitura do texto

            O texto que vamos ouvir fala das ovelhas do rebanho de Deus e usa várias imagens para falar dos que tomam conta do rebanho. Durante a leitura, vamos prestar atenção nas imagens que Jesus usa para se apresentar a nós como verdadeiro pastor: 

1- Leitura do texto:  João 10,1-18 

2- Momento de silêncio.

3- Perguntas para a reflexão:

O que mais chamou a sua atenção? Por que?

1- Quais as imagens que Jesus aplica a si mesmo e o que elas significam?

2- Quantas vezes, neste texto, Jesus usa a palavra vida  e o que ele diz sobre a vida?

3- Pastor-Pastoral. Será que nossas pastorais continuam a missão de Jesus-Pastor?

Celebrar a vida que Deus nos deu

Sugestões para a celebração:

1- Canto: "Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão"

2- Colocar os símbolos de Jesus como Bom Pastor.

3- Colocar em forma de prece o que refletimos sobre o evangelho e sobre a vida. Como refrão após cada prece digamos: "O Senhor é meu pastor, nada me falta!"

4- Agora, depois que meditamos a Palavra de Deus, o que esta Palavra está pedindo de mim, de nós?

5- Rezar um salmo. Sugestão: Salmo 23(22): “O Senhor é meu pastor, nada me falta..”

6- Terminar tudo com um Pai-Nosso.

Uma ajuda para o grupo:  Situando

1-Discurso sobre o Bom Pastor traz três comparações ligadas entre si:

2- Comparação: pastor e assaltante (Jo 10,1-5)

3- Comparação: Jesus é a porteira das ovelhas (Jo 10,6-10)

4- Comparação: Jesus não é simplesmente um pastor, mas sim o Bom Pastor (Jo 10,11-18)

5-Temos aqui um outro exemplo de como foi escrito o evangelho de João. O discurso de Jesus sobre o Bom Pastor (Jo 10,1-18) é como um tijolo inserido numa parede já pronta. Com ele a parede ficou mais forte e mais bonita. Imediatamente antes, em Jo 9,40-41, João falava da cegueira dos fariseus. A conclusão natural desta discussão sobre a cegueira está logo depois, em Jo 10,19-21. Ora, o discurso sobre o Bom Pastor foi inserido aqui, porque, como veremos, ensina como tirar esse tipo de cegueira dos fariseus.

Comentando

1-João 10,1-5:

1-Imagem: Entrar pela porteira e não por outro lugar

            Jesus inicia o discurso com a comparação da porteira: "Quem não entra pela porteira mas sobe por outro lugar é ladrão e assaltante! Quem entra pela porteira é o pastor das ovelhas!" Para entender esta compa­ração, tem que lembrar o seguinte. Naquele tempo, os pastores cuidavam do rebanho durante o dia. Quando chegava a noite, levavam as ovelhas para um grande redil ou curral comunitário, bem protegido contra ladrões e lobos. Todos os pastores de uma mesma região levavam para lá o seu rebanho. Um porteiro to­mava conta durante a noite. No dia seguinte, de manhã cedo, o pastor chegava, batia palmas na porteira e o porteiro abria. O pastor entrava e chamava as ovelhas pelo nome. As ovelhas reconheciam a voz do seu pastor, levantavam e saiam atrás dele para a pastagem. As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas elas não se mexiam, pois era uma voz estranha para elas. De vez em quando, aparecia o perigo de as­salto. Ladrões entravam por um atalho ou derrubavam a cerca do redil, feita de pedras amontoadas, para roubar as ovelhas. Eles não entravam pela porteira, pois lá havia o guarda que tomava conta.

2-João 10,6-10: 2ª Imagem: Jesus é a porteira

            Os ouvintes, os fariseus (Jo 9,40-41), não entenderam o que significava "entrar pela porteira". Jesus então explicou: "Eu sou a porteira das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes". De quem Jesus está falando nesta frase tão dura? Provavelmente, se referia a líderes religiosos que arrastavam o povo atrás de si, mas que não respondiam às esperanças do povo. Não estavam interessados no bem do povo, mas sim no próprio bolso e nos próprios interesses. Enganavam o povo e o deixavam na pior. Entrar pela porteira é o mesmo que agir como Jesus agia. O critério básico para discernir quem é pastor e quem é assaltante, é a defesa da vida das ovelhas. Jesus pede para o povo tomar a iniciativa de não seguir o fulano que se apresenta como pastor, mas não busca a vida do povo. É aqui que ele disse aquela frase que até hoje cantamos: "Eu vim para que todos tenham vida, que todos tenham vida plenamente!" Este é o critério!

3- João 10,11-15: 3ª Imagem: doar a vida pelas ovelhas

            Jesus muda a comparação. Antes, ele era a porteira das ovelhas. Agora, diz que é o pastor. Todo mun­do sabia o que era um pastor e como ele vivia e trabalhava. Mas Jesus não é um pastor qualquer, mas sim o bom pastor! A imagem do bom pastor vem do AT. Dizendo que é o Bom Pastor, Jesus se apresenta como aquele que vem realizar as promessas dos profetas e as esperanças do povo. Há dois pontos em que ele in­siste. Na defesa da vida das ovelhas: o bom pastor dá a sua vida. No mútuo entendimento entre o pastor e as ovelhas: o Pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem o pastor. Assim, para quem quer vencer sua cegueira é importante conferir a própria opinião com a do povo. Era isto que os fariseus não faziam. Eles desprezavam as ovelhas e as chamavam de povo maldito e ignorante (Jo 7,49; 9,34). Jesus, ao con­trário, diz que no povo há uma percepção infalível para saber quem é o bom pastor. Os fariseus pensavam ter o olhar certo para discernir as coisas de Deus. Na realidade eram cegos. O discurso sobre o Bom Pas­tor ensina duas regras como tirar este tipo de cegueira. 1) Prestar muita atenção na reação das ovelhas, pois elas reconhecem a voz do pastor. 2) Prestar muita atenção na atitude daquele que se diz pastor para ver se o interesse dele é a vida das ovelhas, sim ou não, e se ele é capaz de dar a vida pelas ovelhas.

4- João 10,16-18: A meta onde Jesus quer chegar: um só rebanho e um só pastor

            Jesus abre o horizonte e diz que tem outras ovelhas que não são deste redil. Elas ainda não ouviram a voz de Jesus, mas quando a ouvirem, vão perceber que ele é o pastor e vão seguí-lo. Aqui transparece a atitude ecumênica das comunidades do Discípulo Amado, de que falamos na Introdução.

5-Alargando:  A imagem do Pastor na Bíblia

           Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecem a imagem do motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as pastagens (Jr 2,8; 10,21; 23,1-2). Esta crítica dos maus pastores foi crescendo na mesma medida em que, por culpa dos reis, o povo acabou sendo levado para o cativeiro (Ez 34,1-10; Zc 11,4-17).

            Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo que é o próprio Deus: "O Senhor é meu pastor nada me falta!" (Sl 23,1-6; Gn 48,15). Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor guiar o seu rebanho (Is 40,11; Ez 34,11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: "Oxalá ouvisseis hoje a sua voz!" (Sl 95,7). Esperam que Deus venha como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas do rebanho (Ez 34,17). Surge o desejo e a esperança de que, um dia, Deus suscite bons pastores e que o messias seja um bom pastor para o povo de Deus (Jr 3,15; 23,4).

            Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom Pastor, diferente dos assaltantes que roubavam o povo. Ele se apresenta também como o Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe separar as ovelhas dos cabritos (Mt 25,31-46). Em Jesus se realiza a profecia de Zacarias que diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que ele faz: "Vão bater no pastor e as ovelhas se dispersarão!" (Zc 13,7). No fim, Jesus é tudo: é a porteira, é o pastor, é o cordeiro!