Frei Carlos Mesters, O. Carm.

Um chamado ou uma vocação pode vir de dentro da gente: “Eu me sinto chamado para isto ou para aquilo”. Também pode vir de fora. Alguém bate na porta e diz: “Maria, será que você pode vir ajudar a gente?” Geralmente, a vocação é algo que vem, ao mesmo tempo, de dentro e de fora da gente. É como uma semente que está dentro da terra. Mas se não houver chuva e sol que vem de fora, a semente que está dentro da gente não cresce e não se desenvolve.

Tem semente de alface e semente de jacarandá. Semente de alface, tendo sol e chuva, cresce rápida. Semente de jacarandá cresce bem mais devagar. A semente da vocação dentro da gente é de jacarandá: cresce devagar, durante tantos anos quantos anos dura nossa vida.

Vocação é como gente. Ninguém nasce sozinho, mas nasce de pai e mãe, no meio de uma família. Não cresce sozinho, mas com a ajuda de outras pessoas. Dizia o cearense filósofo lá do sertão que nunca estudou: “Eu não sou pessoa não. Sou pedaço de pessoa. Pessoa é a comunidade, e quanto mais eu participo na comunidade, mais pessoa eu fico”. É assim que cresce a vocação dentro da gente: convivendo.

Vocação pode nascer de muitas maneiras. Por exemplo, quando, diante de uma injustiça, você percebe que tem a possibilidade de fazer algo para mudar a situação, então, dentro de você, nasce um sentimento de responsabilidade que a faz dizer: “Não posso ficar parada! Devo fazer alguma coisa!” Pois bem, esta consciência forte que você, eu ou a comunidade às vezes sentimos de que podemos e devemos fazer algo para mudar o rumo dos acontecimentos ao nosso redor, é uma vocação. Vem de Deus através da consciência. Assim existem muitas vocações, muitos chamados.

Tem gente que vive procurando durante anos para saber “O que será que Deus quer de mim”. Quando depois de muitos anos de busca e de reza, finalmente, encontra a resposta que procurava, a pessoa diz: “Até que enfim encontrei o que eu queria. Acho que nasci para isso!” Naquele momento, tudo se encaixa e a pessoa se sente no lugar onde Deus a queria desde o momento em que nasceu.

No tempo do profeta Jeremias, as pessoas diziam a mesma coisa, mas com outras palavras. Jeremias sentia Deus dizendo a ele assim: “Jeremias, antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci; antes que fosse dado á luz, eu o consagrei, para fazer de você o profeta das nações” (Jr 1,5). Hoje dizemos: “Acho que estou no lugar onde Deus me quer. Nasci para isto!”.