A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum apresenta-nos, fundamentalmente, um convite à esperança. Convida-nos a confiar nesse Deus libertador, Senhor da história, que tem um projeto de vida definitiva para os homens. Ele vai - dizem os nossos textos - mudar a noite do mundo numa aurora de vida sem fim.

A primeira leitura anuncia aos crentes perseguidos e desanimados a chegada iminente do tempo da intervenção libertadora de Deus para salvar o Povo fiel. É esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a Deus, apesar da perseguição e da prova. A sua constância e fidelidade serão recompensadas com a vida eterna.

No Evangelho, Jesus garante-nos que, num futuro sem data marcada, o mundo velho do egoísmo e do pecado vai cair e que, em seu lugar, Deus vai fazer aparecer um mundo novo, de vida e de felicidade sem fim. Aos seus discípulos, Jesus pede que estejam atentos aos sinais que anunciam essa nova realidade e disponíveis para acolher os projetos, os apelos e os desafios de Deus.

ATUALIZAÇÃO (Mc 13, 24-32)

Ver os telejornais ou escutar os noticiários é, com frequência, uma experiência que nos intranquiliza e que nos deprime. Os dramas dessa aldeia global que é o mundo entram em nossa casa, sentam-se à nossa mesa, apossam-se da nossa existência, perturbam a nossa tranquilidade, escurecem o nosso coração. A guerra, a opressão, a injustiça, a miséria, a escravidão, o egoísmo, a exploração, o desprezo pela dignidade do homem atinge-nos, mesmo quando acontecem a milhares de quilómetros do pequeno mundo onde nos movemos todos os dias.

As sombras que marcam a história atual da humanidade tornam-se realidades próximas, tangíveis, que nos inquietam e nos desesperam. Feridos e humilhados, duvidamos de Deus, da sua bondade, do seu amor, da sua vontade de salvar o homem, das suas promessas de vida em plenitude. A Palavra de Deus que hoje nos é servida abre, contudo, a porta à esperança. Reafirma, uma vez mais, que Deus não abandona a humanidade e está determinado a transformar o mundo velho do egoísmo e do pecado num mundo novo de vida e de felicidade para todos os homens. A humanidade não caminha para o holocausto, para a destruição, para o sem sentido, para o nada; mas caminha ao encontro da vida plena, ao encontro desse mundo novo em que o homem, com a ajuda de Deus, alcançará a plenitude das suas possibilidades.

Os cristãos, convictos de que Deus tem um projeto de vida para o mundo, têm de ser testemunhas da esperança. Eles não leem a história atual da humanidade como um conjunto de dramas que apontam para um futuro sem saída; mas veem os momentos de tensão e de luta que hoje marcam a vida dos homens e das sociedades como sinais de que o mundo velho irá ser transformado e renovado, até surgir um mundo novo e melhor. Para o cristão, não faz qualquer sentido deixar-se dominar pelo medo, pelo pessimismo, pelo desespero, por discursos negativos, por angústias a propósito do fim do mundo... Os nossos contemporâneos têm de ver em nós, não gente deprimida e assustada, mas gente a quem a fé dá uma visão optimista da vida e da história e que caminha, alegre e confiante, ao encontro desse mundo novo que Deus nos prometeu.

É Deus, o Senhor da história, que irá fazer nascer um mundo novo; contudo, Ele conta com a nossa colaboração na concretização desse projeto. A religião não é ópio que adormece os homens e os impede de se comprometerem com a história... Os cristãos não podem ficar de braços cruzados à espera que o mundo novo caia do céu; mas são chamados a anunciar e a construir, com a sua vida, com as suas palavras, com os seus gestos, esse mundo que está nos projetos de Deus. Isso implica, antes de mais, um processo de conversão que nos leve a suprimir aquilo que, em nós e nos outros, é egoísmo, orgulho, prepotência, exploração, injustiça (mundo velho); isso implica, também, testemunhar em gestos concretos, os valores do mundo novo - a partilha, o serviço, o perdão, o amor, a fraternidade, a solidariedade, a paz.

Esse Deus que não abandona os homens na sua caminhada histórica vem continuamente ao nosso encontro para nos apresentar os seus desafios, para nos fazer entender os seus projetos, para nos indicar os caminhos que Ele nos chama a percorrer. Da nossa parte, precisamos de estar atentos à sua proximidade e reconhecê-lo nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação. O cristão não pode fechar-se no seu canto e ignorar Deus, os seus apelos e os seus projetos; mas tem de estar atento e de notar os sinais através dos quais Deus Se dirige aos homens e lhes aponta o caminho do mundo novo.

 É preciso, ainda, ter presente que este mundo novo - que está permanentemente a fazer-se e depende do nosso testemunho - nunca será uma realidade plena nesta terra (a nossa caminhada neste mundo será sempre marcada pela nossa finitude, pelos nossos limites, pela nossa imperfeição). O mundo novo sonhado por Deus é uma realidade escatológica, cuja plenitude só acontecerá depois de Cristo, o Senhor, ter destruído definitivamente o mal que nos torna escravos.

UM OLHAR DO FREI PETRÔNIO DE MIRANDA, PADRE CARMELITA E JORNALISTA/RJ.

Para a espiritualidade carmelitana este 33º Domingo do Tempo Comum nos remete ao Beato Frei Tito Brandsma, Jornalista, defensor da liberdade da expressão na Holanda e Mártir da Dachau, campo de concentração nazista da Alemanha.

Um pensamento do grande carmelita nos faz entrar na espiritualidade da esperança. Segundo Frei Tito, “Devemos olhar o mundo com Deus no fundo” ou, com os olhos da fé. Em outras palavras, se olharmos o futuro político do Brasil e do mundo com os olhos humanos não vamos encontrar sinais de esperança. Se olharmos a história da humanidade- e principalmente do Brasil- com os olhos humanos, não vamos perceber a novidade do reino mas, ao contrário, se olhar todo este caos político, ético, religioso e social com os olhos da fé-olhos de Deus- vamos encontrar sinais de esperança  porque, tudo e todas as coisas estão sob o comando do nosso Bom Deus.

Quantas pessoas estão sujando as mãos na construção de um novo dia na sua comunidade-paróquia. Quantos profissionais da saúde, da educação, da segurança pública, da política, do esporte, da comunicação e dos diversos setores da sociedade estão nadando contra a maré do consumismo, da corrupção, do ódio e da produtividade e lucro pelo lucro?

Temos que acreditar e olhar COM OS OLHOS DE DEUS para a nossa história, para a nossa família, para os nossos amigos, para o futuro do Brasil e, acima de tudo, para a nossa caminhada de cristãos, muitas vezes, marcada pelo desânimo, pela depressão e pela falta de fé. Lembre-se! Temos que OLHAR O MUNDO COM DEUS NO FUNDO!     

(Nota: Frei Tito Brandsma nasceu no dia 23 de fevereiro de 1881 na Holanda e Morreu no dia 27 de julho de 1943, aos 61 anos. Foi beatificado pelo Papa João Paulo II,
no dia 3 de novembro de 1985).

*Leia a reflexão do 33º Domingo do Tempo Comum na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA.