Procurar Jesus e segui-lo

Padre Assis

A palavra divina neste segundo Domingo do Tempo Comum nos fala da vocação. Dizemos que a vocação é a resposta ao chamado que uma pessoa recebe da parte de Deus. Quem toma a iniciativa e o que chama é o Senhor. Isto se observa claramente na vocação de Samuel, um adolescente inexperiente que vive numa época em que era rara a Palavra de Deus.

Deus chama Samuel (cf. 1Sm 3, 3b-10.19) no silêncio da noite: “Samuel, Samuel!” Ele entende como um chamado e em seu raciocínio lógico, corre e põe-se diante do sacerdote Eli: “Estou aqui!” O menino é pura disponibilidade. Isto acontece por três vezes. A mesma resposta por parte de Samuel e a mesma indicação de Eli: “Se alguém te chamar, responderás: “Senhor, fala, que teu servo escuta!” Na Bíblia o verbo “escutar”, significa acolher no coração e transformar o que ouviu em compromisso de vida.

Estamos imersos numa sociedade que parece não escutar, marcada por um afã comunicacional, mas ao mesmo tempo em que não deixa espaço para acolher a palavra do outro ou o relato existencial que o “outro” significa. Temos um problema não fácil de resolver. Há demasiado “ruído” ambiental e interior. Parece que certo temor ao silêncio nos invade e os gritos do silêncio não se escutam. Daí que as relações interpessoais estejam tão expostas à falência, ao fracasso.

“Samuel ainda não conhecia o Senhor, pois a palavra do Senhor, não se lhe tinha manifestado”, apesar de ter sido entregue por Ana sua mãe ao sacerdote Eli, e viver em sua casa como servidor do santuário de Silo, onde se guardava a Arca da Aliança. Ao falar assim o autor sagrado reforça a ideia que a vocação tem a sua origem em Deus. Caberá a Eli acompanhar e sinalizar a Samuel o que tem que responder.

Somos ensinados e acompanhados no seguimento. O caminho cristão não se aprende à margem do testemunho dos que precedem no compromisso batismal. Temos que aprender, dirá o Papa Francisco, “a arte do acompanhamento espiritual”. Não se trata de entregar um livro de doutrina ou de uma comunicação de saber intelectual, mas sim de sabedoria espiritual que surge da experiência pessoal no encontro com o Senhor. Aprender a escutar e ter humildade e disponibilidade para seguir o chamado divino.

Ao concluirmos o tempo do Natal com a celebração do Batismo de Cristo, iniciamos como uma transição o Tempo Comum. Com esta festa é numerado o Primeiro Domingo do Tempo Comum, é por isso que este é o segundo domingo. João Batista faz a unidade desta transição como protagoniza, junto a Jesus em ambos os relatos. E assim depois de Batizar

Cristo sinaliza para a sua missão redentora: “Eis o cordeiro de Deus!” (cf. Jo 1,35-42)

É evidente que o Evangelho de São João, antigo discípulo do Batista, dá importância singular à “descoberta” que o Profeta do deserto faz do Messias. Apenas aparece Jesus pelas ribeiras do Jordão, o Batista o aponta: “Este é o Cordeiro de Deus!” Ele sabe quem é Jesus e qual a sua missão. Ante suas palavras João e André, dois de seus discípulos vão atrás do novo “Rabi”. A força de seu testemunho faz soltar amarras e ambos se vão no seguimento do “Cordeiro”. A impressão deste primeiro encontro foi tão profunda, que deixam o antigo Mestre e seguem o Nazareno.

Definitivamente o discípulo tem que aprender a escutar. E escutando bem, o seguimento parece uma consequência natural. Mas isto resulta insuficiente. Convém clarificar a razão do seguimento, purificar a escuta. É que se escutam tantas coisas, tanta tagarelice e importam só poucas palavras. Por isso o diálogo de Jesus neste primeiro encontro é de poucas palavras, Ele perguntará: “O que estais procurando?” Essa pergunta se torna pessoal: o que eu busco?

Para responder ao que pergunta, devo ter bem claro o que busco. André e João não responderam à pergunta, talvez porque não tinham claro o que o Batista havia indicado, já que perguntam: “Rabi, onde moras?” Pode parecer uma simples pergunta e não é. Ter claro onde habita Deus é vital. Para sabê-lo temos que aceitar o convite que nos é feito: “Vinde ver”.

Trata-se de experiência de comunhão de vida, que produz ao mesmo tempo uma sabedoria existencial que vai mais além. Dela surge necessariamente a missão que se descobre a partir do encontro com Ele. Por isso André compartilha com seu irmão Simão: “Encontramos o Messias”.

A experiência de fé dos discípulos de ir e ver onde Jesus mora, permanecer ou entrar em comunhão com o Mestre fez com que aqueles que foram chamados, ampliassem para outros o chamado ao seguimento, com a salvadora certeza de que “encontraram o Messias” que mudará suas vidas, que depois se torna apostolado e missão.

O chamamento dos discípulos ao seguimento do Mestre é um evento que se repete na Igreja. O Papa Francisco afirma: “A fé, para mim, nasceu do encontro com Jesus. Um encontro pessoal que tocou meu coração e deu uma nova direção e um novo sentido a minha existência”.

Em certa medida, todos experimentamos esse encontro com Cristo e como o evangelista João não a esqueceu, tampouco nós poderemos esquecê-lo. E foi esse olhar especial, o fundamental que fez mudar as vidas de João, André e Pedro. Também nós podemos “sentir” esse olhar de Jesus que nos mantém firmes no desejo de segui-lo. Não é possível esquecer então, as emoções profundas que o Evangelho de hoje nos produz.

Onde encontrar Jesus no meio do ruído, do barulho de tantas ofertas que nos seduzem à primeira vista, mais que as palavras do Evangelho? Como dar com esse Senhor que com seu convite: “Vinde e vereis” não deseja outra coisa senão que tenhamos uma experiência pessoal com Ele e dele?

Difícil! Há tantas vozes que nos convidam a descobrir outros horizontes que não sejam os da fé! Existem tantas ideologias que estabelecem e manipulam nossos caminhos!

Na vida de cada um de nós há um dia, um encontro com Ele, que marca uma mudança radical de nosso projeto pessoal de vida: o chamamento pessoal e imprevisível de Deus em vista da missão. Muitas vezes Ele serve-se de outros para nos chamar: os pais, um sacerdote, um livro, um retiro espiritual, mas é sempre Ele que chama. O importante é que estejamos atentos para que não passe sem ser percebido.

A voz de Deus ressoa também na noite de nossa vida. De mil maneiras nos podem chegar o desejo de Deus sobre nós. Um pensamento que nos vem à alma, um acontecimento que nos comove, umas palavras que nos afetam, um exemplo que nos arrasta. Qualquer coisa é boa para fazer vibrar em nosso espirito a voz de Deus. Podemos estar seguros, Deus falará. Seguirá nos falando ao coração, esperando nossa resposta.

Jesus chama-nos pessoalmente ao discipulado, ao seguimento. E também nos pode chamar a uma particular experiência de vida e de missão com Ele, tal como chamou os apóstolos. Esse chamamento faz-se ouvir na vida de cada um de nós. É importante que saibamos ler os acontecimentos da nossa vida e, penetrando no Coração de Jesus, saibamos indicá-lo também aos outros.

Hoje, cabe a nós vivermos essa mesma experiência a que Jesus nos convida: “Vinde ver!” Eis um programa de vida cristã para este novo ano: procurar Jesus, seguir Jesus, encontra-lo e permanecer com Ele, para poder levar aos que buscam e parece não encontrar nada, ao lugar em que habita Cristo. Chamar e trazer pessoas a Jesus. Fonte: https://paraibaonline.com.br