Só uma coisa a dizer: Ele está vivo! O Cristo ressuscitou! Isso é tudo! Nada há de mais importante! O que importa é dizê-lo! É preciso correr para anunciá-lo, testemunhar o acontecido! É preciso que todos saibam! Está vivo e somos testemunhas disto… Encontramos testemunhas e nos tornamos testemunhas nós também, desde o nosso batismo… Com que presteza nós então anunciamos nesta manhã a Ressurreição do Cristo?

A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do Domingo da Páscoa da Ressurreição (20 de abril de 2014). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.

Eis o texto.

Prometidos à vida nova

É preciso voltar a dizer: a Ressurreição é a pedra angular de nossa fé. Pedra sobre a qual esta fé se pode construir, pedra contra a qual ela pode vir a se quebrar. Se o Cristo não ressuscitou, diz Paulo, “vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (1 Coríntios 15,14). Um dia, no caminho de Damasco, Paulo teve a evidência de que aquele que acreditava estar morto, porque o haviam crucificado, esteve sempre, ou mais precisamente, de novo estava vivo. Para ele então tudo se iluminou. Compreendeu que devia passar da religião centrada na moral, na observância da lei, para a religião do amor ativo, do amor a uma pessoa na qual Deus tornou-se visível e ativo, na qual se juntam todos os homens de todos os lugares e de todos os tempos numa só unidade, e da qual o universo tem a sua origem. Ele é o Deus para quem, apesar das aparências, tudo o que existe acaba por convergir.

Assim como o rio que corre para o oceano que é a sua fonte, ainda que meio a tantos desvios, é verdade (a imagem é de Paul Claudel), aí mesmo é onde ele vai morrer, para um novo nascimento. Renascer, e por conseguinte morrer, é necessário para o novo, para se acessar as formas superiores das realidades que vivemos: «Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo», diz Paulo na segunda leitura. Assim ficamos sabendo que o nosso estatuto atual é apenas um esboço, uma promessa, pois somos feitos para, no final de nosso percurso, ser «como Deus».

Crer significa crer na Ressurreição

A Ressurreição está em trabalho por toda parte e desde sempre. Como diz o 6º Prefácio eucarístico, ela “manifestou-se” em Jesus. Daí em diante, todo ser humano que escuta o Evangelho deve pronunciar-se, pois o que até então estava escondido, agora veio à luz. Por isso, para Paulo, crer significa crer na Ressurreição.

Se Abraão é chamado o pai dos crentes, é porque, esquecendo o seu corpo já morto e o corpo de Sara também já morto, acreditou no anúncio do nascimento de seu filho Isaac, «crendo n’Aquele que faz viver os mortos e chama à existência as coisas que não existem» (Romanos 4,17). «Eis por que isto lhe foi levado em conta de justiça (…), mas (é levado em conta) também para nós que cremos naquele que ressuscitou dos mortos Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue pelas nossas faltas e ressuscitado para a nossa justificação» (versículos 22-25).

Se ele não nos fez superar a morte, se somos destinados a desaparecer, então a afirmação de que Deus é amor perde todo o sentido. A ressurreição de Cristo nos ensina que vivemos envolvidos no amor e que tudo o que nos pode prejudicar, inclusive o «último inimigo», a morte, não será a razão de uma vida que é dom de Deus.

Novo nascimento

Hoje temos a escolha entre várias leituras dos evangelhos. Por que aquele túmulo, vazio dali para frente, me faz pensar no ventre materno após o parto? Porque a Ressurreição é, sem dúvida, o nascimento para o mundo do homem novo, perfeito e completo. «Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez realidade nova» (2 Coríntios 5,17). E, no entanto, este mundo novo já está aí, no coração do antigo, como uma promessa, um desejo, um dinamismo que proíbe a este coração satisfazer-se com o estado de coisas presente, fazendo-o trabalhar para o mundo novo que vem. A Ressurreição está aqui, no coração escondido do mundo, em toda parte e desde sempre. Paulo explica isso em 1 Coríntios 15,12-16: se não há ressurreição, o Cristo não pode mais ressuscitar. O próprio Jesus, para justificar a fé na ressurreição, cita Êxodo 3,6 onde Deus se apresenta como «o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó».

Ora, ele não pode ser Deus dos mortos, pois, sendo ele mesmo Vida, é Deus dos viventes. Todos diante dele estão vivos. Isto foi com certeza o que o discípulo descobriu quando viu o túmulo vazio e os lençóis dobrados, como se não tivessem sido usados. «Ele viu e acreditou», diz o texto. E o que ele viu? Nada, um lugar vazio. «Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram», havia dito Maria Madalena. Por que, se tinham simplesmente retirado o cadáver, tê-lo-iam despojado dos lençóis da morte? João agora sabe onde é que Jesus foi colocado: na vida de Deus. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br