O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi solenemente inaugurado pelo Papa João XXIII (1958-1963) no dia 11 de outubro de 1962, na presença de 2.540 Padres conciliares, dos 2.908 que teriam o direito de participação2. Anunciado em janeiro de 1959, convocado oficialmente em dezembro de 1961, o Concílio, 21° Ecumênico na contagem da Igreja Católica Romana, foi longamente preparado, em duas fases sucessivas. Na intenção do idoso pontífice, deveria servir tanto para o aggiornamento (renovação) da Igreja quanto para o estabelecimento de um diálogo, por parte dela, com as demais tradições cristãs. Na primeira fase, chamada ante-preparatória (1959-1960), foram consultados todos os bispos católicos espalhados pelo mundo, os superiores religiosos das ordens e congregações clericais isentas e as faculdades e institutos de teologia. Durante a fase preparatória (19601962), comissões trabalhando em estrito segredo e nem sempre levando em conta as sugestões recolhidas, prepararam 73 documentos, que a Cúria Romana acreditava seriam aceitos e votados pelo episcopado mundial em apenas um período de trabalho, aquele aberto em 1962.

Com o Concílio aberto verificou-se que os bispos não estavam dispostos a votar o que a Cúria preparara. Em função disso os trabalhos extenderam-se por 4 anos, alternando períodos em que todos os bispos eram convocados para discutir e votar, em Roma, os documentos que eles mesmos, com o auxílio dos peritos, começaram a redigir e períodos, chamados de intersessões, em que somente as comissões trabalhavam. Para uma visão geral sobre o Vaticano II e os demais Concílio, recomendo ALBERIGO, G. (org.). História dos concílios ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1995. Para a leitura das constituições e decretos do Concílio, ver Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997. Foram já publicados no Brasil, pela Ed. Vozes, os 2 primeiros volumes da História do Vaticano II, resultantes do projeto internacional de pesquisa dirigido por G. Alberigo. 2São de direito Padres conciliares, com voz e voto, o papa, os cardeais, mesmo os não-bispos, todos os arcebispos e bispos (residenciais, titulares, eméritos), os prelados não-bispos, quando exercendo alguma jurisdição (isto é, governando alguma parcela do povo cristão) e os superiores maiores das ordens e congregações clericais isentas.

O 1° Período ocorreu de 11 de outubro a 8 de dezembro de 1962. O 2°, de 29 de setembro a 4 de dezembro de 1963. O 3°, de 16 de setembro a 21 de novembro de 1964 e o 4° e último, de 14 de setembro a 8 de dezembro de 1965. Na fase preparatória Dom Helder foi nomeado consultor da Comissão dos “Bispos e Governo das Dioceses”. Durante o Concílio foi eleito em 1963 para a Comissão do “Apostolado dos Leigos”, encarregada de redigir um esquema sobre as relações entre a Igreja e o mundo contemporâneo (Esquema XVII, depois XIII) transformado finalmente na Constituição pastoral Gaudium et spes. Cada período do Concílio foi aberto e, excetuando-se o 1° Período, também fechado com uma solene cerimônia chamada Sessio publica (Sessão pública). Outras cerimônias do gênero foram convocadas em ocasião da promulgação, pelo Papa e os Padres conciliares, dos documentos mais importantes.

O Vaticano II produziu 16 textos, assim distribuídos: 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações, além da “Mensagem dos padres conciliares à humanidade”, de 20 de outubro de 1962 e sete textos lidos, mas não votados, apresentados na sessão do dia 8 de dezembro de 1965, entre eles um dirigidos às mulheres e outro aos jovens. As sessões de trabalho eram chamadas Congregationes generales (Congregações gerais), e eram realizadas com a presença apenas dos Padres conciliares (bispos e demais prelados a eles equiparados), sendo admitidos sem direito de intervenção os peritos, os observadores não católicos e os chamados “auditores” leigos. O mais rigorosos segredo deveria ser mantido por todos os presentes. Interrompido pela morte do Papa João, em junho de 1963, o prosseguimento do Concílio foi imediatamente confirmado por Paulo VI, logo após sua eleição. O novo pontífice procurou dar ao Concílio uma condução mais ágil, nomeando quatro Legados, chamados Moderadores, mas não mexeu em profundidade na organização deixada por João XXIII. Daí os choques constantes entre três dos Moderadores, a presidência de honra, exercida por 10 cardeais e a secretaria geral, em mãos do arcebispo Pericle Felice. LVI Dom Helder Câmara

Circulares Conciliares LVII

Com o tempo formou-se uma clara maioria de bispos que apoiavam a atualização da Igreja, e uma pequena minoria, que opunha-se a tudo. Entre os brasileiros, que durante o Concílio chegaram a somar 240 com direito a comparecer, apenas 222 efetivamente estiveram presentes em um ou mais dos momentos em Roma (220 bispos e prelados, 1 abade nullius e 1 superior geral, o dos Franciscanos)

*Dom Helder Câmara. Obras Completas Volume I/Tomo1. Vaticano II: Correspondência Conciliar Circulares à Família do São Joaquim 1962 – 1964.