O Papa está prestes a tomar novas medidas sobre um movimento leigo controverso? Qual será o futuro do cardeal PellA reportagem é de Robert Mickens, publicada por La Croix International, 14-12-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

Nem tudo é sempre como aparenta ser no misterioso mundo do Vaticano.

Na semana passada, o Papa Francisco comemorou 49 anos como presbítero ordenado. Enquanto muitos padres fazem do seu aniversário de ordenação um dia de grande celebração, o seu aniversário, que aconteceu no dia 13 de dezembro, passou praticamente despercebido, sem muitas comemorações.

Francisco começou o dia em uma oração particular antes de celebrar a missa matinal. Tomou seu café da manhã na sala de jantar de sua residência, na Santa Marta, se preparando para uma série de reuniões privadas e audiências em grupo, incluindo com dez novos embaixadores para a Santa Sé.

Antes do almoço, Francisco também havia conversado com três bispos de língua espanhola numa importante reunião. Uma sessão para indicar que o Vaticano está prestes a entrar em ação contra o Sodalitium Christianae Vitae, um movimento leigo de homens e mulheres conservadores e cultuados, fundado nos anos 70 no Peru.

Como observado aqui há algumas semanas, o fundador da Sodalitium, Luis Figari, junto à vários outros líderes masculinos foram acusados ​​de manipular psicologicamente e abusar sexualmente de várias mulheres no movimento. A ex-chefe da filial feminina, Rocio Figueroa, recentemente reafirmou as alegações de que as autoridades do Vaticano demoraram a agir quando ela denunciou os abusos, enquanto trabalhava como funcionária do então Pontifício Conselho para os Leigos.

O Papa não ficou indiferente. No dia 13 de dezembro, se reuniu com os dois homens que ele havia indicado no mês de janeiro para assumir o Sodalitium como comissários papais - o bispo Noel Antonio Londoño Buitrago, redentorista que dirige a diocese de Jericó, na Colômbia, e o padre franciscano Guillermo Rodríguez. Também participaram da reunião o funcionário número 2 da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, Dom José Rodríguez Carballo, ex-superior geral da Ordem dos Frades Menores.

Nada foi divulgado sobre tais conversas. Mas é interessante notar que, na mesma manhã, Francisco também teve um encontro particular com o cardeal Luis Ladaria, SJ, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. No dia seguinte, teve um cara a cara com o cardeal Stanislaw Rylko, ex-presidente do antigo Conselho Pontifício para os Leigos.

Neste ponto, você provavelmente está começando a conectar os fatos. O escritório do cardeal Ladaria lida com penalidades canônicas para o abuso sexual de padres. Enquanto o fundador suspenso de Sodalitium, Luis Figari, não é um padre, ele atua como um ex-oficial ou líder.

Quanto ao cardeal Rylko, Rocio Figueroa declarou publicamente que ele - seu ex-chefe -, se recusou a apoiá-la quando ela emitiu suas denúncias sem resposta para outros escritórios do Vaticano. Provavelmente descobriremos em breve a natureza plena desses vários encontros que o Papa teve na semana passada e o que eles significam para o futuro do Sodalitium Christianae Vitae, sua liderança e seus membros.

A maior notícia sobre a agenda do Papa Francisco na semana passada, é claro, foi a mais recente reunião do Conselho de Cardeais (C9), seleto grupo de conselheiros seniores que ele criou em 2013, apenas um mês após sua eleição para a cátedra de Pedro.

Esse foi o 27º encontro do gabinete do Papa, que tem a tarefa específica de ajudar o bispo de Roma em seu papel de governança universal da Igreja. Mais precisamente, ajudar nos negócios imediatos de reformar a Cúria Romana.

O grupo tem sido chamado de C9, já que é formado por nove cardeais de várias partes do mundo e do Vaticano. Como Nicolas Senèze relatou esta semana, Francisco liberou três dos cardeais de seu mandato no conselho.

Dois deles estão ligados à escândalos de abuso sexual. O cardeal Francisco Errazuriz, de 85 anos, foi acusado de encobrir abusos no Chile, enquanto o cardeal George Pell, de 77 anos, está na Austrália há mais de um ano para enfrentar acusações de "ofensas históricas de agressão sexual", lutando por sua inocência.

O terceiro cardeal é Laurent Monsengwo, de 79 anos, que recentemente se aposentou como arcebispo de Kinshasa na República Democrática do Congo.

Todos os três estão além da idade da aposentadoria e já completaram o mandato inicial de cinco anos no Conselho dos Cardeais. Francisco, que faz 82 anos na semana que vem, informou a eles no mês de outubro que seus termos não serão renovados. Os termos dos seis membros originais restantes do C9 foram estendidos, pelo menos por enquanto, embora nenhum substituto foi nomeado para os outros três cardeais.

Esse conselho privado foi formado por representantes de diferentes áreas continentais. Tudo indica que, na hora certa, o Papa possa escolher novos membros da Oceania(para substituir Pell), América do Sul (para substituir Errazuriz) e África (para substituir Monsengwo). Tenha em mente que este é um Conselho de Cardeais, então - a menos que o Papa esteja prestes a surpreender a Igreja com planos de colocar mulheres na faculdade de elite - você pode esquecer a ideia dele nomear conselheiras como membros de pleno direito no C9.

Dos três membros que saíram, apenas um ainda não está aposentado, que é o cardeal George Pell. Ele está tecnicamente em uma licença de seu trabalho no Vaticano para que possa enfrentar acusações de abuso na Austrália, incluindo um segundo julgamento em março.

Por enquanto, ele continua a ser o prefeito da Secretaria da Economia. Esse prazo termina em 24 de fevereiro, o último dia da cúpula de três dias do Papa Francisco com os chefes das conferências episcopais do mundo a respeito de abuso de menores.

Seja qual for o resultado das batalhas do tribunal de Cardeal Pell, é provavelmente seguro dizer que seus esforços para vencer os problemas financeiros que o Vaticanoenfrenta acabaram. Ele não vai voltar. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br