Tema do 16º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 16º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir o Deus paciente e cheio de misericórdia, a quem não interessa a marginalização do pecador, mas a sua integração na comunidade do "Reino"; e convida-nos, sobretudo, a interiorizar essa "lógica" de Deus, deixando que ela marque o olhar que lançamos sobre o mundo e sobre os homens.

A primeira leitura fala-nos de um Deus que, apesar da sua força e omnipotência, é indulgente e misericordioso para com os homens - mesmo quando eles praticam o mal. Agindo dessa forma, Deus convida os seus filhos a serem "humanos", isto é, a terem um coração tão misericordioso e tão indulgente como o coração de Deus.

O Evangelho garante a presença irreversível no mundo do "Reino de Deus". Esse "Reino" não é um clube exclusivo de "bons" e de "santos": nele todos os homens - bons e maus - encontram a possibilidade de crescer, de amadurecer as suas escolhas, de serem tocados pela graça, até ao momento final da opção definitiva.

A segunda leitura sublinha, doutra forma, a bondade e a misericórdia de Deus. Afirma que o Espírito Santo - dom de Deus - vem em auxílio da nossa fragilidade, guiando-nos no caminho para a vida plena.

 

Deus perdeu a paciência: Outro olhar para o 16º Domingo do Tempo Comum (Mt 13,24-43).

Frei Petrônio de Miranda, O. Carm

Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ. 18 de julho-2020.

E-mail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.     www.instagram.com/freipetronio

 

Depois de passar séculos e séculos esperando a conversão dos pecadores, Deus resolveu dá um basta nos mentirosos, falsos, corruptos, bandidos, assassinos, vaidosos, consumistas e fanáticos.

Chegando em Assis, Itália, se deparou com Francisco, jovem este vaidoso, beberão e mulherengo. Ele – o Todo Poderoso e Onipotente – não teve meia conversa, mandou o jovem Francisco para as cucuias. Chega! Disse Deus, não aguento mais este Chico fazendo bobagens e cometendo erros às 24 horas! Pronto, em questão de segundos, o Senhor das Batalhas pôs-fim na vida sem vida do conquistador dos corações das jovens de Assis.

Resolvido este caso, Deus viajou para Tagaste, região do continente africano. Lá, se deparou com outro depravado que, dias após dias, só dava desgosto para a sua mãe, Mônica. Refiro-me a Agostinho, um jovem metido a intelectual e depravado da época. Com ele não teve muita conversa, porque foram anos de oração da sua querida mãe e ele nem sequer agradecia. Bem... Diante da vida desenfreada, Deus apenas olhou para a Agostinho e mandou ele, dessa para melhor. Foi o fim!

Saindo da África, o Onipotente resolveu passar em Roma. Lá, se deparou com Calisto. Este homem do século 2 vivia embolsando o dinheiro das doações de fiéis, sem falar que era muito encrenqueiro, fofoqueiro, mal humorado e sonegador de impostos. Diante destas falhas humanas que leva o ser o humano ao abismo, o Senhor dos Exércitos tirou este verme da face da terra imediatamente!

Também em Roma, o Deus Altíssimo ouviu falar de um jovem problemático, Camilo de Lellis. Na infância foi uma criança irritadiça e problemática, quando jovem tornou militar, mas por conta de seu caráter agressivo acabou sendo expulso do exército. Logo depois- depressivo e revoltado- este jovem se tornou mercenário, viciado em jogos, drogas e todo tipo de profanidade. Sabendo desse histórico, o Senhor das batalhas não pensou duas vezes e deletou a vida deste estrupício. “Perdi a paciência! Será Benedito”! Disse Javé.

Ainda quando estava na capital italiana, Deus ouviu falar em um tal de Dimas. Dizem que era o ladrão mais famoso de Jerusalém. Além de roubar, matar e se prostituir, também usava da religião- através dos sacerdotes- para se beneficiar da venda das doações no templo. Óbvio que Senhor da Paz não via futuro naquela maldita alma. Resumindo a história, acabou com a infrutífera vida apenas um estalar de dedos.

É meu caro... Já pensou se a paciência de Deus estivesse no limite diante de tais vidas? É possível pensar no movimento ecológico sem o pai da ecologia, São Francisco de Assis? É possível falar na Igreja hoje sem citar o exemplo de simplicidade do Papa Francisco- nome este inspirado no jovem de Assis? É possível falar das grandes reflexões teológicas sem citar o grande teólogo, Santo Agostinho? É possível olhar para a caridade da nossa Igreja sem citar São Camilo de Lellis, enquanto exemplo de amor aos doentes?...

Imagina se Deus perdesse a paciência diante dos nossos erros, das nossas falhas e limitações? E o que dizer dos políticos corruptos que estão desviando o dinheiro do combate ao covid-19? E o que dizer dos empresários que, graças ao coronavírus, estão lucrando milhões com super faturamentos em equipamentos e medicamentos? Sim, meu caro, sim minha cara, ainda bem que temos um Deus amigo, irmão, pai, paciente e compassivo diante das nossas infinitas teimosias, erros, e limitações diárias. E tenho dito!          

 

EVANGELHO - Mt 13,24-43: Atualização

O Evangelho deste domingo garante-nos, antes de mais, que o "Reino" é uma realidade irreversível, que está em processo de crescimento no mundo. É verdade que é difícil perceber essa semente a crescer ou esse fermento a levedar a massa, quando vemos multiplicarem-se as violências, as injustiças, as prepotências, as escravidões... É difícil acreditar que o "Reino" está em processo de construção, quando o materialismo, a futilidade, o comodismo, a procura da facilidade, o efémero sobressaem, de forma tão marcada, na vida de grande parte dos homens e das mulheres do nosso tempo... A Palavra de Deus convida-nos, contudo, a não perder a confiança e a esperança. Apesar das aparências, o dinamismo do "Reino" está presente, minando positivamente a história e a vida dos homens.

Na verdade, falar do "Reino" não significa falarmos de um "condomínio fechado", ao qual só tem acesso um grupo privilegiado constituído pelos "bons", pelos "puros", pelos perfeitos", e de onde está ausente o mal, o egoísmo e o pecado... Falar do "Reino" é falar de uma realidade em processo de construção, onde cada homem e cada mulher têm o direito de crescer ao seu ritmo, de fazer as suas escolhas, de acolher ou não o dom de Deus, até à opção final e definitiva. É falarmos de uma realidade onde o amor de Deus, vivo e atuante, vai introduzindo no coração do homem um dinamismo de conversão, de transformação, de renascimento, de vida nova.

Neste Evangelho temos também uma lição muito sugestiva sobre a atitude de Deus face ao mal e aos que fazem o mal. Na parábola do trigo e do joio, Jesus garante-nos que os esquemas de Deus não preveem a destruição do pecador, a segregação dos maus, a exclusão dos culpados. O Deus de Jesus Cristo é um Deus de amor e de misericórdia, sem pressa para castigar, que dá ao homem "todo o tempo do mundo" para crescer, para descobrir o dom de Deus e para fazer as suas escolhas. Não percamos nunca de vista a "paciência" de Deus para com os pecadores: talvez evitemos ter de carregar sentimento de culpa que oprimem e amarguram a nossa breve caminhada nesta terra.

A "paciência de Deus" com o joio convida-nos também a rejeitarmos as atitudes de rigidez, de intolerância, de incompreensão, de vingança, nas nossas relações com os nossos irmãos. O "senhor" da parábola não aceita a intolerância, a impaciência, o radicalismo dos "servos" que pretendem "cortar o mal pela raiz" e arrancar o mal (correndo o risco de serem injustos, de se enganarem e de meterem mal e bem no mesmo saco).

Às vezes, somos demasiados ligeiros em julgar e condenar, como se as coisas fossem claras e tudo fosse, sem discussão, claro ou escuro... A Palavra de Deus convida-nos a moderar a nossa dureza, a nossa intolerância, a nossa intransigência e a contemplar os irmãos (com as suas falhas, defeitos, diferenças, comportamentos religiosa ou socialmente incorretos) com os olhos benevolentes, compreensivos e pacientes de Deus.

Convém termos sempre presente o seguinte: não há o mal quimicamente puro de um lado e o bem quimicamente puro do outro...

Mal e bem misturam-se no mundo, na vida e no coração de cada um de nós. Dividir as nações em boas (as que têm uma política que serve os nossos interesses) e más (as que têm uma política que lesa os nossos interesses), os grupos sociais em bons (os que defendem valores com os quais concordamos) e maus (os que defendem valores que não são os nossos), os indivíduos em bons (os amigos, aqueles que nos apoiam e que estão sempre de acordo conosco) e maus (aqueles que nos fazem frente, que nos dizem verdades que são difíceis de escutar, que não concordam conosco)...

É uma atitude simplista, que nos leva frequentemente a assumir atitudes injustas, que geram exclusão, marginalização, sofrimento e morte. Mais uma vez: saibamos olhar para o mundo, para os grupos, para as pessoas sem preconceitos, com a mesma bondade, compreensão e tolerância que Deus manifesta face a cada homem e a cada mulher, independentemente das suas escolhas e do seu ritmo de caminhada.

*Leia o Evangelho na íntegra. Clique no link- EVANGELHO DO DIA.