Padre Luiz Felipe P. de Melo.

Itápolis-SP, 20 de junho de 2023 AD.

 

Mais cedo, recebemos com tristeza e pesar a notícia de que mais um jovem (dessa vez seminarista) interrompeu o percurso natural da vida. Hoje, dia 20 de junho, estamos às portas de celebrar o patrono dos seminaristas, São Luís Gonzaga. Aqui, deixo claro que não é e nunca será meu intuito estabelecer juízos condenatórios e nem tampouco esmiuçar as causas. O fato é que isso, infelizmente, tem se tornado muito recorrente no ambiente da Igreja. Este ano perdi as contas de quantos sacerdotes vieram a ceifar a própria vida. É um número, no mínimo, alarmante e mui preocupante. Precisamos parar e refletir!!! Ao que se deve? O que os motiva? Nós não sabemos! Porém, é fato que a nossa vida não é tão "simples". Somos cobrados de todos os lados e por todos. Por vezes, esquecem de que somos feitos de barro.

Junto a todo o cenário que nós contemplamos nos últimos decênios, um fato que - corajosamente - gostaria aqui de tratar: a formação. Em muitas casas de formação, os jovens, advindos das mais diversas realidades, chegam movidos pelos sonhos e pelo sincero e real desejo de doarem a vida pela Igreja. Entretanto, para a nossa surpresa e triste percepção, aqueles que deveriam ser os "pais espirituais", a conduzirem, instruírem com amor e formar para o serviço da Messe, são pessoas obstinadas a fazerem o mal; cujo perfil psicológico reúne toda a série de atributos de um psicopata. Não ocupam o "cargo" por amor, ocupam pelo prazer de serem notados e vistos pelo clero; ocupam com o desejo de vingança e de punição. E o que tudo isso gera? Um ambiente desprovido de qualidade de vida; sombrio; fragilizado, doentio.

A formação, como bem ensina a Igreja em seus inúmeros documentos (dentre eles, Presbyterorum Ordinis; Optatam Totius; Pastores dabo vobis; a nova Ratio, etc), deveria contribuir para o bom discernimento dos futuros Sacerdotes, contudo, o que nós percebemos? A formação deforma! O candidato ingressa ao seminário, com seu perfil, com sua experiência de fé e vida, e simplesmente, tudo isso é desconsiderado. Para muitos reitores, superiores e formadores, o bom formando é aquele que se enquadra em seus moldes pessoais. Isto já é um enorme problema. Primeiro, porque formar não é "enformar". Depois, porque o ser humano, a partir do momento em que se coloca como o modelo, esqueceu-se por completo de que Cristo é a nossa medida (cf. Ef 4, 13). Neste ambiente, completamente hostil e cheio de perseguição, crescem e desenvolvem-se as "sementes" da vocação.

Após cerca de 8 anos (a depender do lugar, pode-se chegar a 10 anos), aquele jovem cheio de sonhos, sai da casa de formação (quando consegue passar pelo "vale tenebroso" (cf. Sl 22, 4) e é colocado numa realidade de vida Paroquial. Infelizmente, as nossas Paróquias, muitas das vezes, não são boas referências que contribuam para saúde mental dos futuros clérigos e, assim sendo, tudo aquilo que durante o período no seminário foi silenciado, agora já começa a dar os primeiros sinais, dessa vez, em forma de doença e tantas outras patologias. Entramos para a vida religiosa saudáveis... Mas, infelizmente, o processo é mortífero e tóxico!

Para a formação, a grande preocupação é o uso da batina e do clergyman, dois distintivos de alta periculosidade. Pasmem! A formação, tantas das vezes, está preocupada se o jovem seminarista usa com muita frequência a batina ou não. Não estão interessados em saber como anda a vida emocional dos candidatos, quais os seus medos ou limites. Não há um acompanhamento personalizado, no intuito de formar humanamente os futuros Sacerdotes. E qual é o perfil do do bom seminarista? O bom formando é aquele que sabe de cor as páginas do livro do Leonardo Boff; que usa tucum no dedo; que é adepto àqueles partidos da "base" e que está sempre mui interessado nas causas ambientais e sociais. Pronto! O embuste está completo! Isso não é formação! É projeto de caricatura! Os documentos da Igreja, em nenhum momento, pede-se que se persiga aqueles formandos que são diferentes do formador ou que pensam diferentes dos mesmos. Quantos que eu conheci que no seminário agiam assim (apenas em vista da Ordenação) e quando foram ordenados, parecem mais "shows mans" do que padres.

Estes fatídicos casos são um alerta para nós todos! Clérigos e não clérigos! Ou começamos a tratar das causas, ou isto tornar-se-à sempre mais presente em nosso meio. Uma formação que valorize o indivíduo, que esteja interessada em acolher, ouvir... Inclusive, um verbo que nos últimos tempos está em moda na Igreja: ouvir! Este me faz recordar outra expressão mui querida aos membros do alto clero: "sinodalidade"! Pronto! Se os nossos formadores começarem a ouvir e saberem se colocar juntos "a caminho", penso eu que será um grande passo. O alarmante número de Sacerdotes que nos últimos 5 anos tiraram a própria vida é a denúncia plausível de que nós não estamos bem! Estamos tomando um caminho inverso ao do Evangelho e esquecendo que a Igreja não é uma empresa e nós não somos funcionários.

Infelizmente, para muitos que irão ler este texto, não passará de mais um "desabafo". E aqui, quero deixar bem claro: graças a Deus, estou bem; sou muito feliz vivendo o meu ministério e me doando aonde o Senhor me colocou. Não estou em crise e não estou soltando nenhuma indireta às autoridades eclesiásticas competentes. Entretanto, sinto uma profunda necessidade de fazer com que este tema seja trazido à tona. Que os leigos de nossas comunidades paroquiais; os nossos familiares e amigos, possam - de alguma maneira - além de rezar, pensar e refletir: quando uma vocação morre, qual é o meu grau de culpa? Quando uma vida é ceifada, qual é o meu nível de responsabilidade?

Ontem foi o Carlos, lá no estado do Rio. Amanhã, quem será? Até não ser alguém bem perto de nós, parecer-nos-à sempre algo muito distante...

P.s.: A você, jovem formando, não deixe de rezar, de se confiar à Imaculada! Traga consigo aquele feliz pensamento da grande mística e reformadora do Carmelo: "É justo que muito custe o que muito vale". E você, meu irmão no Sacerdócio, jamais sinta-se exilado ou abandonado, busque refúgio no Coração de Jesus e se cerque de pessoas que o amam, pois o Amor é capaz de curar todas as feridas!