Dom Frei Vital Wilderink, o. carm (In Memoriam)

Pergunto o que os primeiros carmelitas podiam fazer mais, além do que Alberto escreveu na forma vitae? A própria Regra já aponta em praticamente todos os seus parágrafos para um mais na conduta dos carmelitas. Ela não predefine limites para a caminhada. Apesar de ter um valor jurídico, a Regra não é, no sentido estrito, um documento jurídico. Na conclusão a carta de Alberto faz uma alusão à parábola do Bom Samaritano, modificando-a em alguns pontos. O evangelho de Lucas o Bom Samaritano dá dois denários ao dono da hospedaria, e diz: "Cuida do homem ferido, e o que gastares a mais, eu, quando voltar, te pagarei" (Lc 1 0,35). O texto da Regra: "Se alguém fizer mais, o Senhor mesmo lhe retribuirá quando voltar".

A parábola com que Kees Waaijman comenta o parágrafo final da Regra, merece ser transcrita:

Nos confins do deserto existia um pequeno albergo. Uma sala de jantar, algumas camas e um estábulo para os animais. Era tudo. O hospedeiro vivia em função de seu albergo. Mantinha tudo em ordem. Os quartos eram limpos e havia o suficiente para comer e beber. Quando chegava um viajante, ele se colocava à disposição dele. Procurava adivinhar seus desejos. "Meu hóspede é meu patrão", como ele dizia. Muitas vezes, seu olhar se perdia no deserto. Em certo sentido ele esperava hóspedes imprevistos. Ele era conhecido por sua hospitalidade, sempre dava um jeito.

Numa tarde já avançada, enquanto os hóspedes conversavam do lado de fora, alguém se aproximou vindo do deserto. No seu animal ele trazia um homem gravemente ferido. Ele foi mal tratado por assaltantes. O viajante estava visivelmente emocionado. Dirigiu-se ao dono do albergo: "Tenha a bondade, cuide bem dele. Aqui você tem um adiantamento, o resto eu pagarei quando voltar”. Depois comeu um pedaço de pão, tomou um copo de vinho, beijou o ferido e desapareceu na noite.

"Bela generosidade!"  murmuravam os hóspedes. "O sujeito nos deixa os gemidos e ele mesmo escapa". O dono do albergo ficou calado, cuidou das feridas do homem assaltado, deu-lhe de comer e beber e o deitou na cama. A quantia já recebida não seria suficiente para as despesas, mas não pensou numa indenização. Será que o homem do cavalo voltaria? Mas também não se preocupou com isso. Fez tudo o que lhe foi pedido.

Depois que o homem ferido pegou finalmente no sono, o hospedeiro saiu um pouco. Silencioso, perscrutava o deserto. E ficou ali até que o sol se levantou...

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