Frei Petrônio de Miranda, Carmelita e Jornalista/RJ. 05 de maio-2016. E-mail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

Meu caro leitor do site olhar jornalístico. Ao lermos a passagem do Evangelho de São Lucas, (19, 39), nos deparamos com a seguinte passagem:  "Se eles se calarem as pedras falarão por eles". Esta citação faz referência aos discípulos de Jesus quando o avistaram na descida do monte das Oliveiras (Lc 19, 37-40). No relato, fala que todos os discípulos ficaram alegres e começaram a saudar o Mestre quando o avistaram com gritos e cantos. Vendo tal manifestação, alguns fariseus, com inveja e incomodados falaram: “Mestre, manda que teus discípulos se calem”. Ele responde, então com a famosa frase que vem do Antigo Testamento, do livro de Josué, 4. Neste capítulo nos deparamos com a narrativa de um ritual em que pedras são colocadas como memorial, isto é, monumento que recorda um fato significativo na vida do povo. Será por isso que se afirma: mesmo que matarem os profetas, as pedras permanecerão ali como testemunho, recordarão que ali foi celebrada uma aliança. Tais pedras serão, portanto, a marca da aliança celebrada e, sempre que a aliança for esquecida, elas, as pedras, ali imóveis serão motivos indeléveis para que a aliança não seja apagada.

Também na história da Ordem do Carmo no Brasil marcada pela religiosidade popular a Nossa Senhora do Carmo e ao Escapulário, ao longo da nossa história surgiram e surgem profetas e profetisas que não silenciaram e não ficaram de braços cruzados diante da falta de ética e justiça social nas diversas comunidades onde estamos presentes, seja através da ordem primeira, segunda ou terceira.

Portanto, a missão dos novos profetas da chamada modernidade ou pós- modernidade tem como único objetivo celebrar e honrar o pacto feito por Deus para com os pobres e sofredores na época dos profetas do Antigo Testamento e em nossos dias. Ou seja, dar continuidade à missão dos nossos antepassados da história da salvação geradores e geradoras de vida, e vida em abundância. 

Calar os Profetas em nosso país seria tentar barrar o projeto de Jesus Cristo baseado na Boa Nova do Evangelho e nos valores éticos e morais de uma sociedade participativa e ativa em suas mudanças, conquistas e sonhos.     

Calar os Profetas que denunciam a violência e as diversas formas de morte em nossa cidade, seria crucificar o Cristo na cruz da discriminação, da prepotência, da arrogância e do poder.   

 Calar os Profetas é negar os ensinamentos de Jesus Cristo. Em outras palavras, Jesus não veio a este mundo para passar a mão na cabeça daqueles que oprimiam os necessitados. Ele veio habitar entre nós para estender a mão para o órfão e para a viúva. Ele veio para honrar o seu Pai acima de leis legalistas, de ritos vazios e atos religiosos desligados da realidade transformando assim a religião em fuga e ópio do povo.       

Calar os Profetas é não valorizar uma caminhada baseada na participação popular, em um povo que reza e busca forças na leitura orante na Bíblia. É ainda tentar sufocar a ação do Espírito Santo que age onde quer. 

Ao finalizar este artigo, é bom lembrar que também nós calamos os profetas quando pregamos apenas aquilo que todos querem ouvir e esquecemos os principais problemas que nos afligem. Com tal afirmação, quero dizer que a reflexão das nossas comunidades devem ser realistas com um pé na Bíblia e outro no chão fazendo esta ligação entre fé e vida.