Correm turvas as águas entre alguns que se dizem seguidores de Jesus e se escandalizam ante um Papa que – como temos dito muitas vezes – é somente um homem, mas que tem entre suas mãos uma grande responsabilidade, a de levar a Igreja ao século XXI. Têm no chamado de fracassado, de herege, de traidor. Têm duvidado da legitimidade de sua eleição, do infantilismo de suas propostas, de que tudo permanece em gesto sem repercussão alguma. Na realidade, o que os enfastia (ia dizer o que irrita; que seria mais preciso, porém menos elegante) é que Bergoglio os colocou em frente do espelho. E, como sucedia a Dorian Grey, o retrato que há atrás da lona está cheio de pústulas, envelhecido, caduco. O comentário é de Jesús Bastante, jornalista, publicado por Religión Digital, 07-05-2016. A tradução é de Benno Dischinger.

Nestes dias andamos escutando diversas reações à Amoris Laetitia, especialmente no referente aos divorciados que voltaram a casar. Como sempre, alguns tomam a parte pelo todo e se apressam a dizer que o Papa não disse o que realmente disse. E vice-versa, que há de tudo na vinha do Senhor. E o fazem numa linguagem grosseira, daninha, inquisitorial, que se afasta, e muito, da que utiliza o Papa Francisco em seus escritos, em seus comparecimentos públicos. O estilo, hoje, é sumamente importante na Igreja, pois denota atitude ante a vida (e ante a fé) que há por trás.

Assim, enquanto o Papa Francisco fala de integração, de misericórdia, de acolhida, de escuta, o cardeal Müller (para lembrar o exemplo de mais atualidade) utiliza termos como excomunhão (sacramental e canônica, que já nos explicará o amigo Castillo, como também nos explicou com perfeição a diferença entre a teologia dogmática e a pastoral do Evangelho; pecado mortal, disciplina, dogma...).

Duas linguagens distintas, sintoma de dois modelos de entender não só a Igreja, senão a vida e a relação com nossos vizinhos, amigos, casais... Um modelo de proximidade, alegria, aceitação, de processos compartilhados, de tomada de consciência... frente a outro rigorista que sobrepõe a lei ao homem e faz Jesus dizer coisas que ele nunca disse.

Porque no final, e ainda com risco de ser acusado – de novo – de relativista, somente me ocorrem as palavras de Jesus na Última Ceia, quando tomou o pão, o abençoou, o partiu e o deu a seus discípulos dizendo-lhes: Tomai e comei todos dele, porque este é meu corpo. Tomai e bebe, este é meu sangue. A atitude do homem que morreu partindo e repartindo sua vida para todos. Ou as palavras de Francisco, tanto em Amoris Laetitia como em Evangelii Gaudium: A Eucaristia “não é um prêmio para os perfeitos, senão um generoso remédio e um alimento para os débeis. É para chorar; uma vitória do subjetivismo; e a indissolubilidade em tela de juízo”.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br