"Para a protestante Marion Muller-Colard, a Nossa Senhora - para ela uma mulher como outra qualquer - é objeto de amor, companheira de um destino feminino compartilhado por tantas, e tão próxima que desperta o desejo de falar diretamente com ela, de forma íntima", escreve Lucetta Scaraffia, escritora e historiadora italiana, em artigo publicado por L'Ossevatore Romano, 02-05-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo. 

Maria não é só nossa – ou seja, dos fiéis católicos e ortodoxos que a veneram - mas também é parte de tradições não cristãs, como o judaísmo e o islamismo, sem esquecer, é claro, os protestantes. Com este número do caderno "mulheres igreja mundo", queremos olhar para Maria também pelo ponto de vista deles, entender como os outros a imaginaram, como a descreveram. É uma nova perspectiva que nos abre a descobertas interessantes.

Para os judeus, não existe apenas a conhecida lenda denegritória do adultério que Maria teria perpetrado com soldado romano Pantera: o rabino Riccardo Di Segni nos torna partícipes de uma reviravolta narrativa em que "testemunhamos um paradoxo, em que a figura de Maria, mesmo em um contexto polêmico, preserva aspectos de inocência e todos compreendem e compartilham seu sofrimento pessoal".

No Islã, Maria desempenha um papel de extrema importância, é o único nome feminino que aparece no Corão. Embora não seja considerada a mãe do filho de Deus, a sua imagem é intensamente carregada de valor simbólico e espiritual. Mas também é parte da história, fundindo-se com o culto que os xiitas reservam a Fátima, filha de Maomé e ela mesma mãe de dois filhos que morreram mártires, evento que marca a separação, no mundo islâmico, entre sunitas e xiitas. Para a protestante Marion Muller-Colard, a Nossa Senhora - para ela uma mulher como outra qualquer - é objeto de amor, companheira de um destino feminino compartilhado por tantas, e tão próxima que desperta o desejo de falar diretamente com ela, de forma íntima.

Mas Maria é também uma das imagens mais frequentes e mais pungentes da história da arte ocidental, protagonista daquele episódio essencial para a tradição cristã que é o Verbo que se faz carne, que se torna um de nós. As formas com que esse mistério foi representado tornaram-se patrimônio do inconsciente coletivo, e por sua vez servem para decifrar as aparições marianas por testemunhas jovens e inexperientes. Uma nova maneira para iluminar esta figura tão importante para nós, para dedicar-lhe uma vez mais o mês de maio. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br