Por Padre José Assis Pereira

“Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo, alegrai-vos! O Senhor está perto.” (Fl 4,4s) Esta antífona de entrada deste Terceiro Domingo de Advento serviu para dar-lhe o nome: Domingo “gaudete”, domingo da alegria.

Hoje, em muitos lugares, neste domingo da alegria, trocamos os ornamentos litúrgicos; a terceira vela da coroa de Advento e a veste litúrgica do sacerdote são também com a alegre cor rosa. Mas a grande definição deste domingo está no testemunho da alegria cristã, da alegria do evangelho necessária hoje mais do que nunca, na nossa sociedade triste e em crise de valores.

Mesmo em tempos de dificuldades o cristão não perde por nada a discreta alegria. A única realidade que pode vencer a insatisfação profunda das pessoas é esse testemunho pessoal e comunitário da alegria e esperança oxigenantes, fundada na fé na companhia de um “Deus conosco”.

O otimismo que comunica a profecia de Isaías (cf. Is 61,1-2a.10-11) deste domingo é evidente. “Exulto de alegria…” a alegria a que o profeta se refere é uma alegria comparável à dos noivos na sua festa nupcial e à do agricultor em face de uma boa colheita (vv. 10-11) corresponde à restauração de Jerusalém, pois os israelitas estavam desiludidos após o seu regresso do exílio na Babilônia. O profeta anuncia-lhes uma boa nova libertadora, de grande alegria, a intervenção de Deus em ordem à salvação definitiva e infunde-lhes coragem e esperança.

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos; para proclamar o tempo da graça do Senhor”. (vv.1-2) Uma promessa que vem de longe, que encontramos em muitas profecias, mas é talvez Isaías o que com mais nitidez e com mais vigor a proclama. Antecipa já a presença do Messias prometido, sobre o qual repousará o Espírito de Deus para dar a todos a boa notícia de que se vai cumprir enfim o que tantas vezes se lhes foi prometido no passado.

Aquela promessa dada aos pobres e que foi fonte de alegria, que alimentou a esperança de um povo ao longo dos séculos, se vai cumprindo através de numerosas gerações até chegar ao seu ponto mais alto em Jesus Cristo.

Jesus é o Messias esperado, a quem João o último dos profetas precedeu com sua pregação incisiva. Deus enviou o precursor de seu Filho para que preparasse o caminho, porque a novidade era tão insólita que necessitava um prelúdio profético. Hoje no evangelho de João (cf. Jo 1,6-8.19-28) escutamos a descrição e o testemunho da missão de João Batista.

“Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João. Ele veio como testemunha para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.” (vv. 6-8). Pode haver vocação mais bonita? Dizer a todos que nem sempre é noite e que nem tudo são trevas. Levar um raio de esperança aos corações entristecidos. Um sorriso gratuito em uma sociedade tão violenta e de tantas lágrimas. Prognosticar que a verdade terminará brilhando, impondo-se. Iluminar a realidade com uma luz nova. Descobrir a novidade, valores e carismas ocultos. Apreciar o lado bom das coisas e das pessoas. Entender que nem tudo é relativo. Encontrar o sentido da vida.

“Eu sou a voz que grita no deserto: Aplainai o caminho do Senhor.” (v 23) Assim como João não se considera a luz ele também não se põe no centro da mensagem que anuncia; ele não é narcisista, não é auto referencial. A figura de João Batista não é a de um profeta “self”, não tem luz própria nem é o centro da mensagem, apenas uma voz, uma mensagem, uma chamada. Não é ele o Messias, nem “o Profeta”, nem quer ser o grande protagonista. Está pronto para gritar, para proclamar, para anunciar e para denunciar. Se ele deixa de falar, morre. Se deixa de gritar, deixa de ser. Se deixa de anunciar sua mensagem, se condena.

Ele é a voz filha do vento, filha do deserto, filha do silêncio, filha do Espírito. Uma voz somente, mas que fala a partir daquilo que encontrou, daquilo que experimentou, daquilo que viveu, porém que não se pode silenciar, e que começará a renovar o mundo. Quanto vale sua palavra! Quando faltarem vozes como esta, o mundo terá perdido sua consciência. João Batista é consciente de que é o instrumento que Deus utiliza para se chegar a Jesus. Sua missão é preparar caminhos, pode haver uma vocação maior e mais humilde? Levar outros ao encontro com a fé?

Para compreender melhor a missão de João, podemos levar em conta este trecho de um sermão de Santo Agostinho, que se lê no Oficio das Leituras deste terceiro domingo de Advento: “João era a voz, mas o Senhor, no princípio, era a Palavra (Jo 1,1). João era a voz passageira, Cristo, a Palavra eterna desde o princípio.

Suprimi a palavra, o que se torna a voz? Esvaziada de sentido, é apenas um ruído. A voz sem palavras ressoa ao ouvido, mas não alimenta o coração […] Justamente porque é difícil não confundir a voz com a palavra, julgaram que João era o Cristo. Confundiram a voz com a palavra. Mas a voz reconheceu o que era para não prejudicar a palavra. Eu não sou o Cristo (Jo 1,20), disse João, nem Elias nem o Profeta. Perguntaram-lhe então: Quem és tu? Eu sou, respondeu ele, a voz que grita no deserto… do que rompe o silêncio… como se dissesse: ‘Sou a voz que se faz ouvir apenas para levar o Senhor aos vossos corações. Mas ele não se dignará vir aonde o quero levar, se não preparardes o caminho’”.

Interessa-nos também como João apresenta Jesus: “No meio de vós está aquele que vós não conheceis”. (v. 26) Sempre podemos pensar com preocupação que esta frase pode ser aplicada a nós, pois muitos de nós não o conhecemos. Isso é muito duro! Pensar que somos cristãos e não conhecemos a Cristo. Para isso serve o tempo de Advento, para preparar-nos para esse encontro. Se a Igreja repete, ano após ano esta espera ritual do Natal, é para recordar-nos igualmente que temos de reconhecê-lo entre nós, como o Deus conosco.

Esse encontro de cada ano tem que parecer-se ao que tiveram com Ele seus discípulos quando o foram conhecendo. Seu descobrimento do Mestre não foi instantâneo. A luz se foi fazendo neles pouco a pouco. Necessitaram tempo, intimidade e superar dificuldades e preconceitos, além da iluminação do Espírito para reconhecê-lo como seu Salvador, sentir-se transformados e agir em consequência.

Jesus vem a nós cada ano, não como veio em Belém nem como virá ao final deste mundo, Ele vem, mas só será reconhecível na fé e no encontro do irmão, no amor fraterno, capaz de encher de alegria e de avivar nossa esperança.

A nossa missão como cristãos no mundo de hoje é fazer o anúncio de um “natal cristão”, resignificar e repropor a história do primeiro Natal: “Encontrareis um Menino, um recém-nascido envolto em panos e deitado numa manjedoura.” (Lc 2,12) A celebração do Natal que se aproxima é encontrar o Deus Menino e encontrar o outro, viver o natal na relação e no encontro. Essa é a luz nova, reconhecer a presença desse outro, provoca novidade. Fonte: https://paraibaonline.com.br