Por Luciano Ferreira, estagiário sob supervisão de William Hela

No dia 12 de dezembro de 1968, era decretado o Ato Institucional Número Cinco (AI-5), instaurando o mais duro momento de repressão às liberdades no Brasil. Apenas 10 dias mais tarde, no dia 22 daquele mês, Caetano Veloso e Gilberto Gil, ícones da Tropicália — que viria a se enfraquecer após aquele episódio — foram presos por oficiais do 2° Exército.

“Caetano e Gil: a história oficial”, reportagem especial do GLOBO de 2011, trouxe detalhes do enredo, que, na época, foi narrado em um documentário de Geneton Moraes Neto. Naquela ocasião, por ainda não saberem os reais motivos que os levaram à prisão, Caetano e Gil suponham que a medida se devia “ou pela participação em passeatas, ou em movimentos estudantis, ou por suas nada convencionais performances em festivais, ou ainda por suas atitudes de rebeldes tropicalistas, que tanto incomodavam civis e militares”.

A dupla permaneceu presa por dois meses, depois migrou para a prisão domiciliar, até ser exilada em julho de 1969, para Londres, com a orientação para só voltarem “quando forem autorizados”, o que ocorreria apenas em janeiro de 1972. O período foi marcado por uma série de fatos contados pelos dois em entrevistas, como “o momento da detenção, o ano-novo passado atrás das grades, os tempos de prisão domiciliar, a proibição de fazer shows e gravar discos, a vinda ao Rio de um chefe de polícia de Salvador para mostrar aos superiores o absurdo da situação”, entre outras.

Os anos que sucederam os exílios de Caetano, Gil e de outros artistas críticos ao regime fizeram com que “a censura e a intimidação também levassem artistas a criarem obras tão herméticas que acabaram se distanciando do público”. Enviados a Londres ao lado da esposa de Caetano, Dedé, e da irmã dela, Maria Bethânia, eles só retornariam ao país — mas apenas para uma visita — quase dois anos depois, em 7 de janeiro de 1971, quando O GLOBO destacou que, sem Gilberto Gil, o “’Mano Caetano’ chegou de surprêsa e já está na Bahia”.

— Não sou mudo não, minha gente. Sei falar, mas estou é cansado — disse ele na ocasião, cujas “primeiras palavras custaram a sair. E outras vieram intercaladas”. “Caetano, menos magro, menos pálido, menos cabeludo, e com um pequeno cavanhaque, chegou na manhã de ontem de Londres, via Paris”, dizia a manchete.

Na chegada de Caetano, Dedé e Bethânia a Salvador, foi realizada uma missa em que “centenas de pessoas acorreram à Igreja da Misericórdia para assistir à solenidade”. No entanto, a volta era temporária: Caetano teria de voltar à Inglaterra por conta de um contrato que havia firmado com uma gravadora local, onde “deixou seu long-play em fase de mixagem”. Quanto a Gilberto Gil, Caetano afirmou que o parceiro havia gravado um elepê ‘com muito suingue’: “ouvi duas faixas que estão sensacionais". Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com