Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista, Rio de Janeiro.

Comunidade Capim, Lagoa da Canoa-AL. 21 de dezembro-2016. 

             Intrigas, fofocas, brigas pelo poder, indiferença religiosa, falsidade... Se estou falando da operação Lava- Jato? Se estou falando da vida em favela? Se estou falando da vida de penitenciárias? Não, não! Refiro-me o “outro lado” da vida conventual e suas mazelas que, muitas vezes, arranca e mata a inocência de jovens que, após vivenciar uma fé pura em suas paróquias, Dioceses e Arquidioceses, caem em verdadeiros ninhos de cobras “sagradas” e são devorados transformando-os em funcionários do sagrado, mamulengos ou em verdadeiros cavaleiros das cruzadas em defesa de uma vida religiosa ultrapassada e conservadora baseada em rendas, fumaça e, o que mais grave, alienando-os contra uma Igreja inovadora, misericordiosa e humana do nosso querido pastor, o Papa Francisco. Para compreender o nosso olhar, vamos conhecer a vocação do jovem Pedro.

            Pedro era da PJ- Pastoral da Juventude. Em sua ação Missionária e Pastoral não tinha medo de gritar em alto e bom som que amava os discursos de Chico- O Papa. Via no seu sorriso, no abraço aos pobres e nas suas ações humanitárias e misericordiosa a presença amorosa do próprio de Jesus Cristo. Ele tinha orgulho de pertencer a uma Igreja que desce nos becos, vielas, favelas e na área rural em defesa dos menos favorecidos.

O jovem Pedro não se cansava de fazer campanhas em favor dos pobres, participava de ações contra a violência, animava o grupo Fé e Política além de ser um ardoroso defensor da sustentabilidade. Foi nesse fervor missionário que não teve dúvidas, tinha que optar por uma congregação ou Ordem Religiosa. Nas suas buscas no google e conversas pessoais com o seu pároco, encontrou várias propostas vocacionais que o fascinaram! Viu jovens alegres em vídeos, folhetos e folders vocacionais. Ah! Ah! É o céu na terra... Pensou o inocente vocacionado.

Depois de várias conversas com o animador vocacional e participar de vários encontros para decernir se de fato era mesmo a sua vocação, decidiu! Vou para o convento! Deixou para trás uma família que o amava e uma comunidade comprometida com o Evangelho, acolhedora, fraterna e humana.

Nos primeiros meses viu seu sonho se tornar realidade. Tudo parecia perfeito até aquele jovem, nos seus 23 anos, começar a se destacar enquanto liderança nata. Ele falava, questionava, pensava diferente e, muitas vezes, conseguia adeptos na sua empreitada por uma vida conventual mais comprometida seguindo as origens da própria ordem religiosa que o escolheram e da história da Igreja do Brasil.

O jovem inovador percebeu que os vídeos e folders não passavam de uma propaganda enganosa e, o que é mais grave, via claramente uma volta à idade média daquele grupo ultraconservador. Os ritos, as rendas, o incenso, o hábito e as orações repetidas e vazias substituíam a simplicidade e o sorriso alegre da Igreja que tinha conhecida, seguia e servia na sua comunidade.

Pedro se viu em um mundo religioso desconhecido. O olho por olho da lei do talião do antigo testamento (Levítico 24,10-23), parecia ter voltado; As mentiras da historia da família de José no Egito (Gn 37, 12-36), era uma realidade viva naquele convento; a traição de Judas naquela noite histórica da Paixão do Filho de Deus (Mt 26, 57-68), era algo natural nos corredores conventuais; A cena de Jesus pedindo para atirar a primeira pedra quem não tivesse pecado ( Jo 8, 1-11) repetia-se todos os dias.

Em sua angustia, a exemplo do Profeta Elias, ele caiu por terra e pediu a morte. (1º Reis 19, 4-8). Chega! Gritou o pobre e inocente Pedro! Em suas dúvidas e questionamentos daquele estilo religioso foi obrigado a protestar, gritar e, óbvio, o apedrejaram. “Você não tem vocação”! Afirmava um. “Você pensa que vamos salvar o mundo”? Dizia outro.

O entusiasmado jovem da PJ se viu obrigado a seguir a hipocrisia conventual se quisesse sobreviver vocacionalmente. O seu objetivo era ser Frade e Padre no seguimento fiel a Jesus Cristo comprometido com os pobres mais pobres, mas para tanto, tinha que mentir, silenciar e, muitas vezes, aderir a uma caminhada descomprometida com o Concilio Vaticano Segundo e com as Conferências Episcopais Latino Americanas. (CELAM-Conselho Episcopal Latino-Americano. Rio de Janeiro (1955); II- Conferência de Medellín (1968); III- Conferência Episcopal de Puebla (1979); IV-Conferência de Domingo (1992); V- Conferência de Aparecida ( 2007).

Nessa via-crucis silenciou, obedeceu e foi elogiado pelo formador pela sua “Paciência” e “Obediência Evangélica”. Pobre formador! Não sabia ele que jamais, e sob-hipótese alguma, o jovem Pedro concordava com aquele estilo conventual hipócrita, farisaico, vazio e descomprometido com o autêntico Evangelho de Jesus Cristo e com as diretrizes da CNBB.

OLHAR CRÍTICO.

1º-Essa história “fictícia” dedico aos diversos pedros que, na busca vocacional autêntica, foram barrados em Conventos, Mosteiros, Seminários e Comunidades de vida simplesmente porque ousaram pensar e seguir os passos de Jesus Cristo. (Mt. 4, 18- 22).

2º-Também dedico este olhar para aqueles que foram mais além e conseguiram fingir, mentir e sorrir na cara de formadores e superiores sepulcros caiados. (Mt 23, 27-32). 

3º-Mais, sobretudo, dedico o meu olhar crítico para os Pedros que não negaram a sua história e hoje são Padres, Bispos e Cardeais, provando assim a verdadeira vocação e o verdadeiro seguimento a Jesus Cristo vivo e ressuscitado na caminha do povo de Deus. (Mt 28, 16-20). E tenho tido!   

(VEJA UM VÍDEO SOBRE O TEMA. CLIQUE AQUI: https://youtu.be/7XTjZ-Pt6dE)