Sexta-feira, 2 de agosto-2019. 17ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo: redobrai de amor para convosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 13,54-58)
54Foi para a sua cidade e ensinava na sinagoga, de modo que todos diziam admirados: Donde lhe vem esta sabedoria e esta força miraculosa? 55Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56E suas irmãs, não vivem todas entre nós? Donde lhe vem, pois, tudo isso? 57E não sabiam o que dizer dele. Disse-lhes, porém, Jesus: É só em sua pátria e em sua família que um profeta é menosprezado. 58E, por causa da falta de confiança deles, operou ali poucos milagres.
3) Reflexão
O evangelho de hoje conta como foi a visita de Jesus à Nazaré, sua comunidade de origem. A passagem por Nazaré foi dolorosa para Jesus. O que antes era a sua comunidade, agora já não é mais. Alguma coisa mudou. Onde não há fé, Jesus não pode fazer milagre.
Mateus 13, 53-57ª: Reação do povo de Nazaré frente a Jesus.
É sempre bom voltar para a terra da gente. Após longa ausência, Jesus também voltou e, como de costume, no dia de sábado, foi para a reunião da comunidade. Jesus não era coordenador, mesmo assim ele tomou a palavra. Sinal de que as pessoas podiam participar e expressar sua opinião. O povo ficou admirado, não entendeu a atitude de Jesus: "De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres?” Jesus, filho do lugar, que eles conheciam desde criança, como é que ele agora ficou tão diferente? O povo de Nazaré ficou escandalizado e não o aceitou: “Não é ele o filho do carpinteiro?” O povo não aceitou o mistério de Deus presente num homem comum como eles conheciam Jesus. Para poder falar de Deus ele teria de ser diferente. Como se vê, nem tudo foi bem sucedido. As pessoas que deveriam ser as primeiras a aceitar a Boa Nova, estas eram as que se recusavam a aceitá-la. O conflito não é só com os de fora de casa, mas também com os parentes e com o povo de Nazaré. Eles recusam, porque não conseguem entender o mistério que envolve a pessoa de Jesus: “Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não moram aqui conosco? Então, de onde vem tudo isso?" Não deram conta de crer.
Mateus 13, 57b-58: Reação de Jesus diante da atitude do povo de Nazaré.
Jesus sabe muito bem que “santo de casa não faz milagre”. Ele diz: "Um profeta só não é honrado em sua própria pátria e em sua família". De fato, onde não existe aceitação nem fé, a gente não pode fazer nada. O preconceito o impede. Jesus, mesmo querendo, não pôde fazer nada. Ele ficou admirado da falta de fé deles.
Os irmãos e as irmãs de Jesus.
A expressão “irmãos de Jesus” é causa de muita polêmica entre católicos e protestantes. Baseando-se neste e em outros textos, os protestantes dizem que Jesus teve mais irmãos e irmãs e que Maria teve mais filhos! Os católicos dizem que Maria não teve outros filhos. O que pensar disso? Em primeiro lugar, as duas posições, tanto dos católicos como dos protestantes, ambas têm argumentos tirados da Bíblia e da Tradição das suas respectivas Igrejas. Por isso, não convém brigar nem discutir esta questão com argumentos só de cabeça. Pois trata-se de convicções profundas, que têm a ver com a fé e com o sentimento de ambos. Argumento só de cabeça não consegue desfazer uma convicção do coração! Apenas irrita e afasta! Mesmo quando não concordo com a opinião do outro, devo sempre respeitá-la. Em segundo lugar, em vez de brigar em torno de textos, nós todos, católicos e protestantes, deveríamos unir-nos bem mais para lutar em defesa da vida, criada por Deus, vida tão desfigurada pela pobreza, pela injustiça, pela falta de fé. Deveríamos lembrar algumas outras frases de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”(Jo 10,10). “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu, Pai, me enviaste”(Jo 17,21). “Não o impeçam! Quem não é contra nós é a favor”(Mc 10,39.40).
4) Para um confronto pessoal
1-Em Jesus algo mudou no seu relacionamento com a Comunidade de Nazaré. Desde que você começou a participar na comunidade, alguma coisa mudou no seu relacionamento com a família? Por que?
2-A participação na comunidade tem ajudado você a acolher e a confiar mais nas pessoas, sobretudo nos mais simples e pobres?
5) Oração final
Eu, porém, miserável e sofredor, seja protegido, ó Deus, pelo vosso auxílio. Cantarei um cântico de louvor ao nome do Senhor, e o glorificarei com um hino de gratidão. (Sl 68, 30-31)
Quinta-feira, 1º de agosto-2019. 17ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo: redobrai de amor para convosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 13,47-53)
Naquele tempo, disse Jesus a multidão: 47O Reino dos céus é semelhante ainda a uma rede que, jogada ao mar, recolhe peixes de toda especie.48Quando está repleta, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e separam nos cestos o que é bom e jogam fora o que não presta.49Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos50e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes.51Compreendestes tudo isto? Sim, Senhor, responderam eles.52Por isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos céus é comparado a um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas.53Após ter exposto as parábolas, Jesus partiu.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz a última parábola do Sermão das Parábolas: a história da rede lançada ao mar. Esta parábola encontra-se só no evangelho de Mateus, sem nenhum paralelo nos outros três evangelhos.
Mateus 13,47-48: A parábola da rede lançada ao mar
"O Reino do Céu é ainda como uma rede lançada ao mar. Ela apanha peixes de todo o tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e escolhem: os peixes bons vão para os cestos, os que não prestam são jogados fora”. A história contada é bem conhecida do povo da Galiléia que vive ao redor do lago. É o trabalho deles. A história reflete o fim de um dia de trabalho. Os pescadores saem para o mar com esta única finalidade: jogar a rede, apanhar muito peixe, puxar a rede cheia para a praia, escolher os peixes bons para levar para casa e jogar fora os que não servem. Descreve a satisfação do pescador no fim de um dia de trabalho pesado e cansativo. Esta história deve ter provocado um sorriso de satisfação no rosto dos pescadores que escutavam Jesus. O pior é chegar na praia no fim do dia sem ter pescado nada (Jo 21,3).
Mateus 13,49-50: A aplicação da parábola
Jesus aplica a parábola, ou melhor dá uma sugestão para as pessoas poderem discutir a parábola e aplicá-la em suas vidas. “Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são bons. E lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes." Como entender esta fornalha de fogo? São imagens fortes para descrever o destino daqueles que se separam de Deus ou não querem saber de Deus. Toda cidade tem um lixão, um lugar onde joga os detritos e o lixo. Lá existe um fogo de monturo permanente que é alimentado diariamente pelo lixo novo que nele vai sendo despejado. O lixão de Jerusalém ficava num vale perto da cidade que se chamava geena, onde, na época dos reis havia até uma fornalha para sacrificar os filhos ao falso deus Molok. Por isso, a fornalha da geena tornou-se símbolo de exclusão e de condenação. Não é Deus que exclui. Deus não quer a exclusão nem a condenação, mas que todos tenham vida e vida em abundância. Cada um de nós se exclui a si mesmo
Mateus 13,51-53: O encerramento do Sermão das Parábola
No final do Sermão das parábolas Jesus encerra com a seguinte pergunta: "Vocês compreenderam tudo isso?" Ele responderam “Sim!” E Jesus termina a explicação com uma outra comparação que descreve o resultado que ele quer obter com as parábolas: "E assim, todo doutor da Lei que se torna discípulo do Reino do Céu é como pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas". Dois pontos para esclarecer:
(1) Jesus compara o doutor da lei com o pai de família. O que faz o pai de família? Ele “tira do seu baú coisas novas e velhas". A educação em casa se faz transmitindo aos filhos e às filhas o que eles, os pais, receberam e aprenderam ao longo dos anos. É o tesouro da sabedoria familiar onde estão encerradas a riqueza da fé, os costumes da vida e tanta outra coisa que os filhos vão aprendendo. Ora, Jesus quer que, na comunidade, as pessoas responsáveis pela transmissão da fé sejam como o pai de família. Assim como os pais entendem da vida em família, assim, estas pessoas responsáveis pelo ensino devem entender as coisas do Reino e transmiti-la aos irmãos e irmãs da comunidade.
(2) Trata-se de um doutor da Lei que se torna discípulo do Reino. Havia portanto doutores da lei que aceitavam Jesus como revelador do Reino. O que acontece com um doutor na hora em que descobre em Jesus o Messias, o filho de Deus? Tudo aquilo que ele estudou para poder ser doutor da lei continua válido, mas recebe uma dimensão mais profunda e uma finalidade mais ampla. Uma comparação para esclarecer o que acabamos de dizer. Numa roda de amigos alguém mostrou uma fotografia, onde se via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público. Todos ficaram com a idéia de se tratar de uma pessoa inflexível, exigente, que não permitia intimidade. Nesse momento, chegou um jovem, viu a fotografia e exclamou: "É meu pai!" Os outros olharam para ele e, apontando a fotografia, comentaram: "Pai severo, hein!" Ele respondeu: "Não é não! Ele é muito carinhoso. Meu pai é advogado. Aquela fotografia foi tirada no tribunal, na hora em que ele denunciava o crime de um latifundiário que queria despejar uma família pobre que estava morando num terreno baldio da prefeitura há vários anos! Meu pai ganhou a causa. Os pobres não foram despejados!” Todos olharam de novo e disseram: "Que pessoa simpática!” Como por um milagre, a fotografia se iluminou por dentro e tomou um outro aspecto. Aquele rosto, tão severo adquiriu os traços de uma grande ternura! As palavras do filho, mudaram tudo, sem mudar nada! As palavras e gestos de Jesus, nascidas da sua experiência de filho, sem mudar uma letra ou vírgula sequer, iluminaram o sentido do Antigo Testamento pelo lado de dentro (Mt 5,17-18) e iluminaram por dentro toda a sabedoria acumulada do doutor da Lei. . O mesmo Deus, que parecia tão distante e severo, adquiriu os traços de um Pai bondoso de grande ternura!
4) Para um confronto pessoal
1) A experiência do Filho já entrou em você para mudar os olhos e descobrir as coisas de Deus de outro modo?
2) O que te revelou o Sermão das Parábolas sobre o Reino?
5) Oração final
Louva, ó minha alma, o Senhor! Louvarei o Senhor por toda a vida. Salmodiarei ao meu Deus enquanto existir. (Sl 145, 1-2)
Um clamor pela ''homilia do futuro''
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O arcebispo de Munique, na Alemanha, questiona a falta de variedade entre os pregadores e quer que eles sejam mais inclusivos em relação a leigos “talentosos”.
A reportagem é de Anne-Bénédicte Hoffner, publicada em La Croix International, 26-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, admite que tem ficado “um pouco decepcionado” com algumas das homilias da sua diocese. Ele está defendendo a pregação de leigos que sejam formados e tenham um “dom”.
“Não queremos pedir a alguém que tenha um dom que fale?”, perguntou, referindo-se explicitamente a pessoas leigas com esse talento e devidamente formadas. “Não queremos pedir a alguém que tenha um dom que fale?”, enfatizou.
A pergunta foi feita pelo cardeal Marx, arcebispo de Munique, em uma reunião de leitores da sua diocese, no sábado, 20 de julho.
Segundo o site de informações da Igreja alemã, publicado pelo Vatican News em alemão, o cardeal Marx começou dizendo que estava “um pouco decepcionado” com algumas das homilias que ele ouviu nas paróquias da sua diocese, devido à falta de um trabalho explicativo sobre os textos.
“Seu verdadeiro significado não está em questão”, disse.
Para ajudar os pregadores, ele prometeu, primeiro, que o site da Diocese de Munique publicará semanalmente “uma introdução teológica aos textos bíblicos do domingo seguinte”.
Mas o presidente da poderosa conferência episcopal alemã também expressou seu desejo de “uma maior variedade de homilias”.
“Qual é a homilia do futuro? Por exemplo, abramo-nos para a possibilidade de escutar o ‘testemunho’ de uma pessoa.” Por fim, ele considerou a possibilidade de pregação por parte de leigos que tenham esse talento e sejam devidamente formadas. Como “os dons são diferentes”, por que “não pedimos a alguém que tenha talento para falar?”, disse.
O Concílio Vaticano II quis fortalecer o lugar dos leigos nas celebrações para marcar a participação de todos os batizados na liturgia.
O motu proprio Ministeria quædam do Papa Paulo VI, em 1972, confiou ministérios aos leigos e, para esse fim, transformou duas das antigas “ordens menores” – o leitorado e o acolitado (serviço do altar) – em “ministérios estabelecidos”.
Esse status os diferencia dos ministérios ordenados (diaconato, presbiterado e episcopado). Além disso, o motu proprio deixa claro que “a instituição de Leitor e de Acólito, de acordo com a venerável tradição da Igreja, é reservada aos homens”.
Proibição desde o século XIII
Desde o século XIII – e a proibição do Papa Gregório IX (1228) de que os leigos preguem – somente ministros consagrados têm a permissão de pregar na Igreja Católica. Mas não foi assim até então.
“Nos séculos X a XII, e particularmente no contexto da Reforma Gregoriana, atesta-se que o officium praedicandi era praticado de forma frutífera, especialmente dentro daqueles movimentos evangélicos leigos que se desenvolveram no início do segundo milênio cristão”, recordou Enzo Bianchi, prior da comunidade monástica de Bose, em um artigo publicado no L’Osservatore Romano em março de 2016.
Aos leitores da sua diocese, o cardeal Marx também recomendou que sua formação seja aprofundada. “Compartilhar a palavra de Deus é uma das coisas mais importantes que fazemos na Igreja”, lembrou. A formação pode ajudá-los a adquirir habilidades específicas, como usar o microfone ou adquirir o tom certo.
Os leitores também devem preparar os textos a serem lidos. Antes da missa, eles devem lê-los “em voz alta” e, se possível, “conhecer também os outros textos do dia”.
O cardeal Marx expressou sua oposição, no entanto, ao uso de tablets eletrônicos em um contexto litúrgico.
Segundo o site católico suíço Kath.ch, o cardeal reconheceu que lê o breviário, isto é, a Oração das Horas, apenas em um tablet. Mas, na liturgia, ele acredita que o uso de livros impressos deve ser preservado. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Candidato a beato, padre Léo ganha estátua de 22 metros no interior
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O custo da estátua, de 586 000 reais, foi pago com verba estadual de fomento ao turismo
Uma escultura em aço com 22 metros de altura vai homenagear o religioso católico padre Léo, em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo. O padre Léo Tarcísio Gonçalves Pereira era membro da comunidade Canção Nova, que tem sua sede no município, e está em processo de beatificação.
As peças, esculpidas pelo artista plástico Gilmar Pinna, foram transportadas à cidade na última quinta (25), em três carretas. A montagem deve ser iniciada ainda este mês, com previsão de que a escultura seja inaugurada em novembro.
Pinna levou seis meses para dar forma às chapas de aço, pesando cerca de 20 toneladas. O trabalho foi realizado no ateliê do artista em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. O padre foi retratado com um microfone à mão, já que também era comunicador.
A prefeitura Cachoeira Paulista informou que vai erguer a estátua no mirante que leva o nome do religioso, em uma área que receberá benfeitorias, como paisagismo, iluminação e outras atrações. A meta é incrementar a visitação no município.
Cachoeira Paulista está na rota turismo religioso nacional, por sediar a Canção Nova e ser próxima de Aparecida, sede do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Nesta cidade, Pinna foi o autor de uma escultura em homenagem à padroeira, mas o monumento ainda aguarda a montagem.
Desde 2018, Cachoeira Paulista faz parte da lista de municípios de interesse turístico do estado. O custo da estátua, de 586 000 reais, foi pago com verba estadual de fomento ao turismo.
Padre Léo foi apresentador de TV e comunicador da Canção Nova. Atuava também em projetos de recuperação de dependentes químicos tendo sido o fundador da comunidade católica Bethânia. O religioso faleceu em 2007, aos 45 anos, vítima de câncer.
Em 2017, a Igreja Católica autorizou a abertura do processo de beatificação, incumbindo a Associação Padre Léo de coletar os testemunhos de devotos que podem dar ao religioso o status de beato, após a comprovação de suas virtudes e operação de um milagre. Fonte: https://vejasp.abril.com.br
Terça-feira, 30 de julho-2019. 17ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo: redobrai de amor para convosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 13,36-43)
36Então Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Explica-nos a parábola do joio!” 37Ele respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. 39O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os que cortam o trigo são os anjos. 40Como o joio é retirado e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: 41o Filho do Homem enviará seus anjos e eles retirarão do seu Reino toda causa de pecado e os que praticam o mal; 42depois, serão jogados na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. 43Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.
3) Reflexão Mateus 13,36-43
O evangelho de hoje traz a explicação que Jesus, a pedido dos discípulos, deu da parábola do joio e do trigo. Alguns estudiosos acham que esta explicação, dada por Jesus aos discípulos, não seja de Jesus, mas sim da comunidade. É possível e provável, pois uma parábola, por sua própria natureza, pede o envolvimento e a participação das pessoas na descoberta do sentido. Assim como a planta já está dentro da sua semente, assim, de certo modo, a explicação da comunidade já está dentro da parábola. É exatamente este o objetivo que Jesus queria e ainda quer alcançar com a parábola. O sentido que nós hoje vamos descobrindo na parábola que Jesus contou dois mil anos atrás já estava implicado na história que Jesus contou, como a flor já está dentro da sua semente.
Mateus 13,36: O pedido dos discípulos para explicar a parábola do joio e do trigo
Os discípulos, em casa conversam com Jesus e pedem uma explicação da parábola do joio e do triga (Mt 13,24-30). Várias vezes se informa que Jesus, em casa, continuava o seu ensinamento aos discípulos (Mc 7,17; 9,28.33; 10,10). Naquele tempo não havia televisão e nas longas horas das noites do inverno o povo reunia para conversar e tratar dos assuntos doa vida. Jesus fazia o mesmo. Era nestas ocasiões que ele completava o ensinamento e a formação dos discípulos.
Mateus 13,38-39: O significado de cada um dos elementos da parábola
Jesus responde retomando cada um dos seis elementos da parábola e lhes dá um sentido: o campo é o mundo; a boa semente são os membros do Reino; o joio são os membros do adversário (maligno); o inimigo é o diabo; a colheita é o fim dos tempos; os ceifadores são os anjos. Experimente você agora ler de novo a parábola (Mt 13,24-30) colocando o sentido certo em cada um dos seis elementos: campo, boa semente, joio, inimigo, colheita e ceifadores. Aí, a história toma um sentido totalmente diferente e você alcança o objetivo que Jesus tinha em mente ao contar esta história do joio e do trigo ao povo. Alguns acham que esta parábola que deve ser entendida como uma alegoria e não como uma parábola propriamente dita.
Mateus 13,40-43: A aplicação da parábola ou da alegoria
Com estas informações dadas por Jesus você entenderá a aplicação que ele dá: Assim como o joio é recolhido e queimado no fogo, o mesmo também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará os seus anjos, e eles recolherão todos os que levam os outros a pecar e os que praticam o mal, e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai”. O destino do joio é a fornalha, o destino do trigo bom é o brilho do sol no Reino do Pai. Por de trás destas duas imagens está a experiência das pessoas. Depois que elas escutaram Jesus e o aceitaram em suas vidas, tudo mudou para elas. O fim chegou. Ou seja, em Jesus chegou aquilo que, no fundo, todos esperavam: a realização das promessas. A vida agora se divide em antes e depois que escutaram e aceitaram Jesus em suas vidas. A nova vida começou como o brilho do sol. Se tivessem continuado a viver como antes, seriam como o joio jogado na fornalha, vida sem sentido e sem serventia para nada.
Parábola e Alegoria.
Existe a parábola. Existe a alegoria. Existe a mistura das duas que é a forma mais comum. Geralmente tudo é chamado de parábola. No evangelho de hoje temos o exemplo de uma alegoria. Uma alegoria é uma história que a pessoa conta, mas enquanto conta, ela não pensa nos elementos da história, mas sim no assunto que deve ser esclarecido. Ao ler uma alegoria não é necessário olhar primeiro a história como um todo, pois numa alegoria a história não se constrói em torno de um ponto central que depois serve como meio de comparação. mas cada elementos tem a sua função independente a partir do sentido que recebe. Trata-se de descobrir o que cada elemento das duas histórias nos tem a dizer sobre o Reino como fez a explicação que Jesus deu da parábola: campo, boa semente, joio, inimigo, colheita e ceifadores. Geralmente, as parábolas são alegorizantes. Mistura das duas.
4) Para um confronto pessoal
1)No campo existe tudo misturado: joio e trigo. No campo da minha vida, o que prevalece: o joio ou o trigo?
2) Você já tentou conversar com outras pessoas para descobrir o sentido de alguma parábola?
5) Oração final
Feliz aquele que tem por protetor o Deus de Jacó, que põe sua esperança no Senhor, seu Deus. É esse o Deus que fez o céu e a terra, o mar e tudo o que eles contêm; que é eternamente fiel à sua palavra. (Sl 145, 5-6)
CNBB emite nota sobre situação dos povos indígenas Wajâpi, no Amapá
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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) acompanha atentamente os desdobramentos da crise socioambiental que vem se agravando e atinge de modo fatal os povos da Amazônia, particularmente os indígenas.
A presidência da CNBB manifesta preocupação com a elucidação da morte do líder da etnia Wajãpi, ocorrida no dia 24 de julho, no Estado do Amapá. Reforça, também, o que o episcopado brasileiro indicou na mensagem divulgada em maio deste ano, em sua 57ª Assembleia Nacional:
“Precisamos ser uma nação de irmãos e irmãs, eliminando qualquer tipo de discriminação, preconceito e ódio. Somos responsáveis uns pelos outros. Assim, quando os povos originários não são respeitados em seus direitos e costumes, neles o Cristo é desrespeitado: ‘Todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes mais pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer’ (Mt 25,45). É grave a ameaça aos direitos dos povos indígenas assegurados na Constituição de 1988. O poder político e econômico não pode se sobrepor a esses direitos sob o risco de violação da Constituição. A mercantilização das terras indígenas e quilombolas nasce do desejo desenfreado de quem ambiciona acumular riquezas. Nesse contexto, tanto as atividades mineradoras e madeireiras quanto o agronegócio precisam rever seus conceitos de progresso, crescimento e desenvolvimento. Uma economia que coloca o lucro acima da pessoa, que produz exclusão e desigualdade social, é uma economia que mata, como nos alerta o Papa Francisco (EG 53)”.
Há de se encontrar caminhos para superar os processos que ameaçam a vida, pela destruição e exploração que depredam a Casa Comum e violam direitos humanos elementares da população. É preciso, assim, enfrentar a exploração desenfreada e construir um novo tempo, tempo de Deus, humanizado, na Amazônia.
Em solidariedade à Igreja do Amapá e ao Regional Norte 2, já manifestada a dom Pedro José Conti, bispo diocesano de Macapá (AP), a CNBB reforça seu compromisso com a promoção e defesa da vida em todas as suas formas e expressões, incluindo o respeito à Natureza, na perspectiva de uma ecologia integral.
Brasília-DF, 29 de julho de 2019.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre – RS
1º Vice-Presidente da CNBB
Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima – RR
2º Vice-Presidente da CNBB
Dom Joel Portella Amado
Bispo Auxiliar de S. Sebastião do Rio de Janeiro – RJ
Secretário-Geral da CNBB
OLHAR DO DIA: Irmã Dulce
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No olhar do dia desta quinta-feira, 25 de julho-2019, direto do Retiro dos Carmelitas- Província Carmelitana de Santo Elias- na Casa de eventos Recanto Coqueiro D`Água, em Santa Luzia, grande Belo Horizonte- vamos ouvir algumas histórias sobre a irmã Dulce- que será canonizada no dia 13 de outubro deste ano. Quem conta é Dom Gregório, OSB, bispo da Diocese de Petrópolis, Rio de Janeiro.
AO-VIVO: SANTA MISSA COM FREI PETRÔNIO. 17º Domingo do Tempo Comum.
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AO-VIVO: SANTA MISSA COM FREI PETRÔNIO. 17º Domingo do Tempo Comum. "Oração não é palavra, rito ou mágica. Oração é vida". Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro, Rio de Janeiro.
*BEATO FREI TITO BRANDSMA: Perfil humano-Espiritual-Carmelitano.
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Frei Emanuele Boaga, O.Carm e Augusta de Castro Cotta, Cdp
Características psicológicas
O ambiente familiar, aliado aos dons naturais - notável bagagem de qualidades humanas - foi propício ao desabrochamento da rica personalidade de nosso Tito. Um seu biógrafo afirma: ‘Tito possui um físico gracioso e frágil, uma saúde não muito boa, mas um caráter vigoroso, feito de aço nobre e resistente’. Ele mesmo se define como um ‘otimista nato’. Era dotado de grande autocontrole, sempre se apresentando de bom humor, mesmo nos momentos de sofrimentos físicos (sofreu pelo menos quatro hemorragias intestinais). Mantém sempre a calma e a serenidade, revelando grande equilíbrio em todos os seus momentos. Sem sentimentalismos é cordial no trato, paciente para com todos, capaz de respeitar sempre as opiniões contrárias à sua, embora não abrisse mão de suas convicções profundas. É interessante o testemunho do policial que o interrogou; ‘Não se pode esperar que o Pe. Tito mude de opinião, por isso o considero um homem perigoso’. E outro testemunha de vida afirmou: ‘Pe. Tito é um homem bom, mas quando necessário sabe ser enérgico’.
Tem uma elevada cultura que alia a um jeito humilde e simples de ser. Jamais usa sua sabedoria para vangloriar-se ou sobressair-se sobre os demais. Nas constantes viagens de trem, feitas em razão de seu serviço, escolhe sempre, de forma natural, a terceira classe.
É dotado de enorme sentido de humor. Tudo nele é simples, sóbrio, sem nenhuma ostentação. Sua aparência é sempre a de uma pessoa comum, ainda que alguém tenha testemunhado sobre ele: ‘Era uma pessoa extraordinariamente fora do comum”. Isto é confirmado por outras afirmações, como: ‘O contato com Frei Tito tinha um efeito calmante’. ‘Era um homem ‘sui generis’, com um grande coração’, atesta outra pessoa que com ele conviveu.
Esta rica personalidade humana é animada por uma fé inabalável, intensa, profunda, encarnada em seu dia-a-dia, herdada da família e aprofundada na formação. Tal experiência é alimentada pela oração e gera nele um filial abandono ao Senhor e à Sua Vontade. Gostava de repetir: ‘Devemos deixar que o Senhor faça sempre em nós o que lhe apraz’ e ‘Deus terá sempre a última palavra, já que em suas mãos podemos ter a certeza de que estamos seguros’.
Pode-se dizer que Frei Tito teve as seguintes e fortes características que o tornam uma personalidade marcante:
Vida social: pertencia às minorias sociais de seu país. Sua família encontra-se entre os 10% de católicos da sua região. Ao aprofundar seus conceitos filosóficos descobre o valor da pessoa humana e seus direitos. Sob esta luz vai encarar a relação com as diversas minorias de seu país: não lutando contra qualquer delas, porém, tudo empreendendo para elevar todas à sua própria dignidade humano-espiritual.
Vida eclesial: era católico com prática séria da vida eclesial: sensibilidade para com os problemas de seu tempo, participação ativa e criativa na vida da igreja. Sabia unir o amor e o serviço à Igreja ao amor e serviço ao ser humano. Sente-se, como Santa Teresa, ‘filho da Igreja’. Para servi-la, funda escolas, dedica-se ao magistério, torna-se jornalista atuante, procurando por estes meios difundir a fé. Esta dedicação o levou ao martírio.
Vocação carmelita: revelou grande empenho na observancia regular, vivendo com entusiasmo a espiritualidade e a mística carmelitanas, cuidando com verdadeiro carinho de tudo o que dizia respeito ao Carmelo, destacando-se no amor à Eucaristia e a Nossa Mãe. Dedicou-se a entusiasmar os co-irmãos para o estudo e a promoção da presença carmelitana na Igreja e na sociedade de seu tempo. Viveu intensamente os valores carmelitanos.
BIOGRAFIA
Nasceu em Bolsward, Holanda, em 1881. Filho de uma família católica. Devoto fervoroso de Nossa Senhora, decide entrar na Ordem do Carmo. Ordena-se em 1905. Inteligente e sempre dedicado aos estudos, ele revela uma admirável vocação para o jornalismo. Escreve artigos para jornais e revistas. Em Roma, doutora-se em filosofia e Sociologia. Ao voltar para a Holanda, torna-se professor, escritor, pregador e editor de revista. Em 1932, é eleito Reitor da Universidade Católica de seu País. Escreve o livro “Exercícios Bíblicos com Maria para chegar a Jesus”, um pequeno tratado de Mariologia. Esta publicação é fruto de suas orações e meditações que ele jamais descuidava, apesar de sua intensa atividade apostólica: missões, união das igrejas, escola e educação católica, meios de comunicação.
Os problemas começaram quando os nazistas invadem a Holanda, em 1940. Na época, Frei Tito era Presidente da União dos Jornalistas Católicos. Protestou corajosamente contra a invasão. Foi preso dia 19 de janeiro de 1942. Passou pelos presídios de Scheveninguem, Amersfoort, Kleve e Dachau. Foi espancado, submetido à fome e ao frio. Nos interrogatórios deu testemunho de fé, de suas convicções católicas em defesa da justiça. Foi um exemplo de ânimo, de paciência até para aqueles que eram inimigos de sua religião. Seu corpo serviu de cobaia para experiências bioquímicas. Esteve em estado de coma durante dois dias. Antes de morrer, exclamou: “Faça-se a Tua vontade, não a minha”. Faleceu a 27 de julho de 1942, aos 61 anos. Foi beatificado dia 3 de novembro de 1985, pelo Papa João Paulo II.
*Curso de Formação Carmelitana em módulos. Módulo VI - Testemunhas da Vivência Carmelitana. São João del Rei – MG. 2003
Quinta-feira 25, Festa de São Tiago Apóstolo
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que pelo sangue de São Tiago consagrastes as primícias dos trabalhos Apostólicos, concedei que a vossa igreja seja confirmada pelo seu testemunho e sustentada pela sua proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 20, 20-28)
20A mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, aproximou-se de Jesus e prostrou-se para lhe fazer um pedido. 21Ele perguntou: “Que queres?” Ela respondeu: “Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”. 22Jesus disse: “Não sabeis o que estais pedindo. Podeis beber o cálice que eu vou beber?” Eles responderam: “Podemos”. 23“Sim”, declarou Jesus, “do meu cálice bebereis, mas o sentar-se à minha direita e à minha esquerda não depende de mim. É para aqueles a quem meu Pai o preparou”. 24Quando os outros dez ouviram isso, ficaram zangados com os dois irmãos. 25Jesus, porém, chamou-os e disse: “Sabeis que os chefes das nações as dominam e os grandes fazem sentir seu poder. 26Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, 27e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso escravo. 28Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”.
3) Reflexão (Mateus 20,20-28)
Jesus e os discípulos estão a caminho de Jerusalém (Mt 20,17). Jesus sabe que vão matá-lo (Mt 20,8). O profeta Isaías já o tinha anunciado (Is 50,4-6; 53,1-10). Sua morte não será fruto de um destino cego ou de um plano já preestabelecido, mas será conseqüência do compromisso livremente assumido de ser fiel à missão que recebeu do Pai junto aos pobres da sua terra. Jesus já tinha avisado que o discípulo deve seguir o mestre e carregar sua cruz atrás dele (Mt 16,21.24), Mas os discípulos não entendiam bem o que estava acontecendo (Mt 16,22-23; 17,23). O sofrimento e a cruz não combinavam com a idéia que eles tinham do messias.
Mateus 20,20-21: O pedido da mãe dos filhos de Zebedeu
Os discípulos não só não entendem, mas continuam com suas ambições pessoais. A mãe dos filhos de Zebedeu, como porta-voz de seus dois filhos Tiago e João, chega perto de Jesus para pedir um favor: "Promete que meus dois filhos se sentem, um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino". Eles não tinham entendido a proposta de Jesus. Estavam preocupados só com os próprios interesses. Isto reflete as tensões nas comunidades, tanto no tempo de Jesus e de Mateus, como hoje nas nossas comunidades.
Mateus 20,22-23: A resposta de Jesus
Jesus reage com firmeza. Ele responde aos filhos e não à mãe: "Vocês não sabem o que estão pedindo. Por acaso, vocês podem beber o cálice que eu vou beber?" Trata-se do cálice do sofrimento. Jesus quer saber se eles, em vez do lugar de honra, aceitam entregar sua vida até à morte. Os dois respondem: “Podemos!” Era uma resposta sincera e Jesus confirma: "Vocês vão beber do meu cálice”. Ao mesmo tempo, parece uma resposta precipitada, pois, poucos dias depois, abandonaram Jesus e o deixaram sozinho na hora do sofrimento (Mt 26,51). Eles não têm muita consciência crítica, nem percebem sua realidade pessoal. E Jesus completa: “Não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou esquerda. É meu Pai quem dará esses lugares àqueles para os quais ele mesmo preparou". O que ele, Jesus, tem para oferecer é o cálice do sofrimento da cruz.
Mateus 20,24-27: Entre vocês não seja assim
“Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram com raiva dos dois irmãos”. O pedido que a mãe fez em nome dos dois, provocou briga e discussão no grupo. Jesus os chamou e falou sobre o exercício do poder:"Vocês sabem: os governadores das nações têm poder sobre elas, e os grandes têm autoridade sobre elas. Entre vocês não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês; e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se servo de vocês. Entre vocês não deve ser assim! Quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos!”. Naquele tempo, os que detinham o poder não prestavam conta ao povo. Agiam conforme bem entendiam (cf. Mc 14,3-12). O império romano controlava o mundo e o mantinha submisso pela força das armas e, assim, através de tributos, taxas e impostos, conseguia concentrar a riqueza dos povos na mão de poucos lá em Roma. A sociedade era caracterizada pelo exercício repressivo e abusivo do poder. Jesus tem outra proposta. Ele traz ensinamentos contra os privilégios e contra a rivalidade. Inverte o sistema e insiste na atitude de serviço como remédio contra a ambição pessoal. A comunidade deve preparar uma alternativa. Quando império romano desintegrar, vítima das suas próprias contradições internas, as comunidades deverão estar preparadas para oferecer ao povo um modelo alternativo de convivência social.
Mateus 20,28: O resumo da vida de Jesus
Jesus define a sua vida e a sua missão: “O Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. Nesta auto-definição de Jesus estão implicados três títulos que o definem e que eram para os primeiros cristãos o início da Cristologia: Filho do Homem, Servo de Javé e Irmão mais velho (Parente próximo ou Goêl). Jesus é o messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). Aprendeu da mãe que disse: “Eis aqui a serva do Senhor!”(Lc 1,38). Proposta totalmente nova para a sociedade daquele tempo.
4) Para um confronto pessoal
1-Tiago e João pedem favores, Jesus promete sofrimento. E eu, o que busco na minha relação com Deus e o que peço na oração? Como acolho o sofrimento que acontece na vida e que é o contrário daquilo que pedimos na oração?
2-Jesus diz: “Entre vocês não deve ser assim!” Nosso jeito de viver na comunidade e na igreja está de acordo com este conselho de Jesus?
5) Oração final
Então se comentava entre os povos: “O Senhor fez por eles maravilhas”. Maravilhas o Senhor fez por nós, encheu-nos de alegria. (Sl 125, 2-3)
Fotografia e liturgia: o Sagrado rompe as barreiras da visão
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O fotógrafo que se dispõe a registrar uma ação litúrgica, precisa conhecê-la e, conhecendo-a, verdadeiramente a amará. Artigo sobre fotografia nos espaços litúrgicos.
Fernando Nunes - Londrina
“A liturgia é uma ação sagrada, através da qual, com ritos, na Igreja e pela Igreja, se exerce e prolonga a obra sacerdotal de Cristo, que tem por objetivos a santificação dos homens e a glorificação de Deus (SC 7). ”
Quando fotografamos uma celebração litúrgica (casamento, batizado, missa), buscamos “capturar” dos sinais e símbolos litúrgicos aquilo que os olhos não podem ver. As lentes da câmera ajudam romper as barreiras impostas pelas limitações humanas e fazer uma experiência do céu.
O sentido da visão humana unida ao sentido da fé é algo essencial para enxergar as realidades sobrenaturais que não vemos, mas que estão implícitas em toda a criação. Devemos, portanto, “treinar os olhos da alma”, deixar que a fé venha, por suplemento, os sentidos completar, como diz São Tomás de Aquino.
“A liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos da criação e da cultura humana, conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Cristo Jesus (CIC, n. 1149). ”
Para criar imagens que reflitam verdadeiras experiências de fé, primeiro, é preciso vivenciar pessoalmente essas experiências, pois, corre-se o risco de obter uma imagem qualquer, vazia de significado.
Portanto, o fotógrafo que se dispõe a registrar uma ação litúrgica, precisa conhecê-la e, conhecendo-a, verdadeiramente a amará. Assim nos diz Santo Agostinho: "Só se ama aquilo que se conhece". O tema “fotografia e liturgia” está entre as dúvidas mais frequentes dos fotógrafos. Obter orientações para sanar as dúvidas e realizar um bom trabalho como fotógrafo é de suma importância, sem esquecer, é claro, a maior de todas as regras: o amor.
Conhecer e amar
Para sanar as muitas dúvidas sobre a fotografia no âmbito litúrgico, é preciso saber que a liturgia precede a fotografia. Antes de nos preocupar com o “clique”, devemos estudar, conhecer profundamente a Liturgia. Esse é o primeiro passo, o remédio para muitas de nossas dúvidas.
Preocupar-se somente com o que fazer, com a regência do “posso ou não posso” demonstra o quanto podemos ser superficiais. Quando “mergulho” com profundidade naquilo que estou fotografando (rito, espaço, etc) acontece uma mudança, não somente da postura, como de toda a escrita da fotografia: a imagem torna-se religiosa, ou seja, uma imagem que nos religa ao sagrado.
Cristo é o centro da Liturgia e não podemos, com nosso descuido e indiscrição também chamado de “ruídos litúrgicos” –, antepor a Ele. Assim como na liturgia, também na fotografia, quando algo de indesejado aparece em sua composição visual, chamamos de “ruído fotográfico”. Será que em muitos casos, não estamos nós, durante nosso trabalho, sendo “ruídos litúrgicos”?
O fotógrafo deve “desaparecer” durante a ação litúrgica, fazendo com que durante o seu trabalho, brilhe Aquele que é o centro da nossa existência: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,30).
Regras quanto a fotografia no espaço litúrgico
Acredito que este seja o tema mais esperado nesta matéria. Entretanto, devemos respeitar a hierarquia da Igreja, cada diocese e/ou paróquia tem suas regras sobre o assunto. A responsabilidade primeira são dos Bispos e párocos, conforme nos ensina o Código de Direito Canônico:
“ Exercem o múnus de santificar, primeiramente os Bispos, que são os grandes sacerdotes, principais dispensadores dos mistérios de Deus e dirigentes, promotores e guardiães de toda a vida litúrgica na Igreja que lhes foi confiada (cân. 835 §1); [...] Sob a autoridade do Bispo diocesano, o pároco deve dirigir a liturgia em sua paróquia e é obrigado a cuidar que nela não se introduzam abusos (cân. 528 §2). ”
Para saber sobre as orientações para fotógrafos durante as celebrações litúrgicas numa Igreja/paróquia orientamos procurar, antecipadamente, o pároco ou o coordenador da Pascom.
Nesse sentido, apresentamos alguns conselhos importantes sobre a fotografia no espaço litúrgico:
1º- Sentido do Sagrado
Nisto se diferencia o bom fotógrafo: ter consciência que nas celebrações litúrgicas o Senhor está presente! Fotografar no ambiente sacro não é a mesma coisa que fotografar em qualquer outro local, onde o objeto do clique são as pessoas, valendo-se tudo por um clique. O objetivo da Fotografia Religiosa no espaço litúrgico é deixar Cristo resplandecer.
2º- Respeito e empatia
Ter respeito com os irmãos que estão ali celebrando, vivendo sua intimidade com Deus e não para serem fotografados. Um momento que muitas vezes pode parecer bonito aos nossos olhos, como por exemplo, uma pessoa chorando, pode ser, para aquele que está sendo fotografado um momento de dor. Naquele momento a fotografia torna-se algo inconveniente.
Uma dica respeitosa que damos é a de colocar um aviso no Datashow, discreto, mas que diga que a Pascom estará registrando durante aquela celebração dando a liberdade para aqueles que não querem ser fotografados que procurem os agentes da pastoral para informa-los. Também é importante informar onde serão disponibilizadas as imagens.
Os fotógrafos também devem vestir-se de maneira discreta, evitando bermudas, roupas decotadas, e cores chamativas. Pode-se usar o uniforme da Pascom ou roupas brancas.
3º- Escondimento
O fotógrafo deve ser o mais discreto possível, movimentos modestos, evitar cruzar o corredor de um lado para o outro sem reverência ou bruscamente. Estabeleça pontos para que possa fazer um bom registro sem chamar atenção; caso estejam trabalhando em equipe, dividam-se em pontos laterais. Movimente-se quando a assembleia estiver em pé.
4º- Lugares celebrativos
Toda a área do presbitério (lugar onde encontra-se o altar, o ambão, a sede e o sacrário), deve ser evitada. No presbitério, procure formas de fotografar que não sejam invasivas, para não nos transformarmos em “ruídos litúrgicos”.
5º- As partes mais sagradas do rito
Evitar excessos ao fotografar a proclamação das leituras e do Evangelho; durante a Oração Eucarística, especialmente na consagração e elevação das espécies eucarísticas e durante a distribuição da comunhão.
Nestes momentos devemos nos concentrar com máxima sacralidade e silêncio, devemos ser objetivos, com poucos cliques e com muito discernimento. Outro ponto importante: durante a homilia devemos sentar e ouvir. Fotografar neste momento pode desviar a atenção do sacerdote e das pessoas.
Com essas palavras de São Paulo VI convido os meus irmãos fotógrafos a meditar diante da grandeza em que estamos ao fotografar a Santa Missa:
“Talvez vos possa parecer que a Liturgia está feita de coisas pequenas: atitudes do corpo, genuflexões, inclinações de cabeça, movimentos do incensório, do missal, das galhetas. É então que se devem recordar aquelas palavras do Cristo no Evangelho: quem é fiel no pouco sê-lo-á no muito (Lc 16, 16). Por outro lado, nada é pequeno na Santa Liturgia, quando se pensa na grandeza daquele a quem se dirige”
*Fernando Nunes é criador e professor da Técnica de Fotografia Religiosa.
Fonte: www.vaticannews.va
200 mil católicos abandonaram a Igreja na Alemanha em 2018
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Segundo dados revelados pela Conferência dos Bispos alemães, 430 mil católicos e protestantes abandonaram suas respectivas Igrejas em 2018.
Em 2018, a Igreja Católica na Alemanha perdeu 216.078 membros, enquanto nas Igrejas protestantes a perda foi de cerca 220 mil membros. Os dados foram divulgados na última sexta-feira, 19, pela Conferência Episcopal Alemã.
Os membros da Igreja Católica na Alemanha são 23.002.128 e representam 27,7% da população alemã. As estatísticas divulgadas falam de uma Igreja que, nas 27 dioceses e arquidioceses em que está subdividido o país, vive nas 10.045 paróquias (com uma redução em relação a 2017, quando eram 10.191, devido às redefinições em andamento nas dioceses).
Os sacerdotes são 13.285 (13.560 no ano anterior), dos quais 6.672 são sacerdotes diocesanos. Para auxiliá-los no ministério pastoral existem 3.327 diáconos permanentes (mais 19 do que em 2017), 3.273 assistentes pastorais (dos quais 1.495 são mulheres e 1.778 homens) e 4.537 assistentes de comunidades (3.558 mulheres, 979 homens - menos 20 em relação a 2017). Já os religiosos são 3.668 religiosos e as religiosas 14.357.
Houve um ligeiro aumento no número de matrimônios (42.789 em 2018, enquanto em 2017 foram 42.523). Os batismos foram 167.787 (em 2017 eram 169.751), as Primeiras Comunhões 171.336 (178.045 em 2017) e os sepultamentos católicos 243.705 (243.824 em 2017).
Por outro lado, passaram a fazer parte da Igreja 2.442 pessoas (em 2017: 2.647) e retornaram a ela após um período de abandono 6.303 (6.685 em 2017).
O dado que mais chama a atenção, no entanto, é o número daqueles que decidiram "deixar" a Igreja: foram 216.078 pessoas em 2018, contra as 167.504 no ano anterior.
A brochura publicada é mais detalhada, trazendo todos os dados diocese por diocese. Fonte: https://www.vaticannews.va
Religiosas e sacerdotes presos nos EUA no protesto contra políticas migratórias
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Religiosas e sacerdotes presos nos EUA no protesto contra políticas migratórias
Uma manifestação de desobediência civil organizada no Senado dos Estados Unidos resultou na prisão de alguns religiosos. O protesto foi promovido pelo Colomban Center para a defesa e a sensibilização, pela Conferência dos Superiores Maiores do sexo masculino, pela Conferência Jesuíta do Canadá e dos EUA, pela Conferência das Religiosas dos Estados Unidos, pela Pax Christi EUA, entre outros, contra as políticas de imigração implementadas na fronteira, em particular as medidas contra as crianças.
Os manifestantes entraram no Salão Oval do Senado tendo em mãos fotos de crianças migrantes que morreram em instalações de custódia do governo federal. Pouco antes, no gramado externo, haviam rezado, ouvido testemunhos de migrantes aterrorizados com a ideia de perder seus filhos e lido as mensagens dos bispos presentes em apoio ao protesto.
Ignorando as advertências dos agentes, segundo a agência de notícias Sir, cinco dos ativistas deitaram-se no piso do Capitólio formando uma cruz humana. Em coro, entoavam os nomes das pequenas vítimas: "Darlyn, Jakelin, Felipe, Juan, Wilmer, Carlos".
A polícia teve que intervir, prendendo alguns dos manifestantes enquanto deitados entoavam cânticos. Foram algemadas freiras, membros de paróquias e outros líderes católicos, retirados enquanto recitavam a Ave Maria.
Entre os 70 presos, está a Irmã Pat Murphy, de 90 anos, que trabalha com migrantes e refugiados em Chicago e que há 13 anos organiza, todas as sextas-feiras, vigílias de oração em frente à agência de migração.
"O tratamento dos migrantes deveria ofender todas as pessoas de fé", reiterou Irmã Pat, apoiada pela Irmã Ann Scholz, da Conferência das superioras das religiosas estadunidenses. "Estamos aqui porque o Evangelho nos obriga a agir e estamos indignadas com o horrível tratamento reservado às famílias, em particular, às crianças", afirmaram.
"Luzes pela liberdade"
A manifestação de quinta-feira, 18, é apenas uma das tantas ocorridas em várias cidades em todo o país desde o último sábado. O anúncio da ação dos agentes imigratórios mobilizou centenas de pessoas de todas as religiões, que juntas, pedem uma mudança radical nas leis de migração e o fim da detenção de migrantes em centros de detenção na fronteira com o México, onde as imagens de crianças imigrantes, separadas de suas famílias e mantidas em uma espécie de gaiolas e áreas com cercas, completamente insalubres, indignaram a nação.
"Luzes pela liberdade" é o nome dado a esses protestos, que têm como símbolo a Estátua da Liberdade, um ícone da acolhida de imigrantes nos Estados Unidos.
Manifestantes da religião judaica também são presos
Na terça-feira passada, escreve Maddalena Maltese em seu artigo, dez manifestantes judeus também foram presos: a acusação foi que eles tinham entrado ilegalmente no hall da sede da Agência para controle de fronteiras e da imigração em Washington, enquanto outros 100 ativistas criaram uma barreira humana, todos de mãos dadas, na frente das portas e garagens do prédio, com o objetivo de interromper as operações de limpeza feitas por agentes da imigração.
Basta de ódio contra os refugiados
O cardeal de Nova York Timothy M. Dolan, após a Missa dominical celebrada na Capela de Santa Francisca Cabrini, padroeira dos imigrantes, denunciou a atitude geralmente negativa em relação aos refugiados e requerentes de asilo, precisamente em um país que, por definição, “é nação de imigrantes ".
O purpurado reconheceu com dor que existem "muitos lugares" onde "os refugiados são objeto de ódio e de malícia".
Ameaças de deportação são cruéis
No Texas, o bispo de Brownsville, Daniel Flores, disse que "as ameaças de deportação são cruéis para as famílias e crianças, e que a separação dos pais de seus filhos, sem sequer a possibilidade de comparecer no tribunal, é reprovável".
"As leis – acrescentou – deveriam tratar famílias e crianças de maneira diferente de como são tratados os chefões do tráfico".
Por fim, o diretor executivo da Rede de Solidariedade Inaciana, Christopher Kerr, explicou que os grupos e paróquias associados aos jesuítas no serviço aos migrantes, distribuíam manuais de emergência durante as Missas em espanhol , e muitas paróquias declararam-se "santuários" para garantir a segurança das famílias que teriam pedido acolhida.
( Com informações de Maddalena Maltese, de New York – Agência Sir). Fonte: www.vaticannews.va
16º DOMINGO DO TEMPO COMUM: Saibamos acolher Deus em nossa casa
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Abraão e Sara souberam acolher com generosidade os três viajantes, mesmo sem os conhecerem. Cena que vai mais além de um quadro simplesmente doméstico, pois foi o próprio Deus quem neles se manifestou. Marta e Maria também souberam receber Jesus, cada uma a seu modo. Escutar sua Palavra é o que importa. Acolher a Palavra sim, mas o que vem antes: servir os irmãos ou acolher a Palavra? É um falso dilema este. Somos convidados a ser Marta e Maria ao mesmo tempo. Caridade e contemplação exigem-se mutuamente.
A reflexão é de Marcel Domergue (+1922-2015), jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando o evangelho do 16º Domingo do Tempo Comum - Ciclo C (21 de julho de 2019). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.
Referências bíblicas:
1ª leitura "Meu Senhor,... não prossigas viagem sem parar junto a mim, teu servo" (Gênesis 18,1-10).
Salmo: Sl. 14(15) - R/ Senhor, quem morará em vossa casa?
2ª leitura: "O mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado" (Colossenses 1,24-28).
Evangelho: "Marta recebeu-o em sua casa. ... Maria escolheu a melhor parte" (Lucas 10,38-42).
Um texto difícil
Temos visto muitas vezes Marta ser apresentada como imagem da ação e sua irmã, Maria, da contemplação. Também se fala muito de superioridade do "espiritual" em relação ao "material". Ora, por certo, “nem só de pão vive o homem” (Lucas 4,4), mas os que são espirituais devem também sentar-se à mesa, assim como os "intelectuais" que têm a tendência de desprezar os trabalhadores "manuais". Só que, sem estes, aqueles não sobreviveriam. Ou, então, podemos ir para o lado da psicologia: o que Jesus repreende em Marta não é que ela se esforçasse em preparar a refeição, mas que se inquietasse e se agitasse, por medo de não estar fazendo o suficiente. Notemos a oposição entre "muitas coisas" (no versículo 41) e "uma só coisa" (no versículo 42). Tratando-se duma refeição, o texto brinca com as imagens de "muitos pratos” e de “um só". A partir deste sentido imediato, Jesus quer fazer-nos compreender algo mais importante: esta "uma só coisa" de que fala não é da mesma natureza daquelas "muitas coisas" que inquietam Marta. Estaríamos assim voltando à oposição entre material e espiritual? Não, porque ficamos sabendo que o material é suporte e expressão do espiritual, que o espírito passa pelo corpo e o impregna; que servir ao Cristo, sendo uma realidade espiritual, passa pelo dom do pão para quem tem fome... É o próprio Cristo quem nos dá a sua carne e o seu sangue, realidades corporais, através do pão e do vinho! Mas, então, qual é o problema que existe na oposição entre as "muitas coisas" e "uma só coisa"?
O alimento inaugural
Foi Marta quem recebeu Jesus (versículo 38). Sendo assim, entende caber a ela dar a Jesus o alimento, o trabalho etc. Ela é quem vai dar e Jesus, quem recebe. Façamos a transposição: recebemos a visita de Deus. Isto O coloca na condição de nosso hóspede, sendo verdade que Ele então se manifesta como quem tem necessidade de nós (cf. Mateus 25, João 4, João 21...). O que dá o que pensar, pois, à força de insistirmos na gratuidade do ato criador e da vinda do Cristo, nunca chegamos a compreender que há em Deus a "necessidade" de que nós existamos. E a isto se diz: ser Amor. Em Deus, a necessidade de dar e a gratuidade do dom tornam-se uma só coisa. Para resumir, Jesus tem necessidade de Marta, e esta, aliás, só pode dar o que recebeu. Quanto a Maria, está posicionada no tempo do "receber", do alimentar-se da Palavra que faz existir: do tempo original e fundador. Aí é Deus quem dá o pão da vida, o alimento inaugural. Maria, que escuta aos pés de Jesus, é a imagem do ser humano que faz da Palavra a sua substância. Foi esta a "porção" que Maria escolheu, o alimento que se obtém sem trabalho: basta sentar e deixar-se invadir pelo "que sai da boca de Deus". Mas será que podemos contrapor este alimento aos alimentos terrestres? Busquemos reconciliar Marta e Maria.
As duas irmãs
Marta mantém-se na posição (em) de quem se dá a Deus o que o próprio Deus já nos tem dado. É um pouco o esquema do Ofertório Eucarístico: "Bendito sejais (...) pelo pão que recebemos (trata-se do pão de cada dia, que já vem de Deus), fruto da terra e do trabalho humano (vem de fato de Deus, mas através do nosso trabalho sobre a natureza: Deus concedeu à terra e aos homens, sua imagem e semelhança, serem criadores) que agora vos apresentamos (é onde está Marta, que vai oferecer ao Cristo o fruto do seu trabalho)." Jesus repreende Marta porque sua agitação sinaliza estar esquecendo que só pode dar o que recebeu. Mas, tomando-se como a fonte do dom, tem medo de não fazê-lo suficientemente. Em lugar da Ação de graças, sofre a angústia de não estar à altura. Jesus vem então ajudá-la, não lhe enviando Maria, mas tirando-lhe a necessidade de fazer "tantas coisas". Também ela pode "entrar em repouso". Acontece que em nossa vida temos fases de Marta e fases de Maria, o que Santo Agostinho fez notar a propósito de seu trabalho de bispo. O segredo é viver as ocupações necessárias, mesmo aquelas de lazer, com a mesma atitude de Maria, ou seja, recebendo-as como dons de Deus. Então o que recebemos muda de natureza ("para nós vai se tornar o pão da vida", diz o Ofertório). Através das "coisas", o que recebemos é o próprio Ser de Deus, a Palavra criadora que nos faz existir. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
16º DOMINGO DO TEMPO COMUM: Trabalho contemplativo
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“Maria sentou-se aos pés do Senhor, e escutava sua palavra” (Lc 10,39).
A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo Palaoro, padre jesuíta, comentando o evangelho do 16° Domingo do Tempo Comum - Ciclo C (21/07/2019) que corresponde ao texto bíblico de Lucas 10,38-42.
Neste domingo, a liturgia nos desloca até Betânia, a viver Betânia, a ser Betânia, lugar de acolhida e hospitalidade; ali somos convidados a entrar em casa de Marta e Maria, junto com Jesus, para deixar-nos impactar por tudo o que acontece nesse ambiente tão familiar e humano.
Betânia, “casa do pão”, simboliza um lugar de nutrientes, de alimento em sentido amplo: afeto, distensão, sensibilidade, cuidados, atenção, presença e ternura.
Para Jesus, Betânia é um lugar de intimidade e de descobertas; busca acolhida na casa das duas irmãs, nesse anseio tão humano de companhia, hospitalidade e contato. É frente às suas amigas de Betânia que Jesus deixa transparecer, de um modo mais explícito, a dimensão feminina de sua vida.
Quando Jesus passa e se permite o encontro, as pessoas são transformadas. Ao hospedar-se na casa de Marta e Maria surge a novidade: uma mulher senta-se aos pés do mestre em horário dos trabalhos domésticos. As palavras de Jesus embelezam o coração mediante os ouvidos atentos de Maria. Ela bebe do poço profundo do “novo” ensinamento. A Jesus também não lhe interessa outra coisa que não seja formar mais uma discípula.
À luz deste relato, abre-se uma nova perspectiva para a mulher. Maria, é acolhida por Jesus como interlocutora privilegiada. Talvez seja o relato mais subversivo do evangelho. “Sentada aos pés de Jesus, escutava sua palavra”. Maria está ali como discípula. A parte essencial, que não lhe será tirada, é a marca dessa experiência aos pés de Jesus.
Isto desloca toda uma concepção machista da época que não permitia às mulheres serem discípulas de um mestre. Mas, para Jesus, a mulher também precisa desenvolver sua interioridade, precisa ativar seus recursos internos para o seu enriquecimento como pessoa humana. Quando se elimina a gratuidade do encontro e da acolhida, a vida pode perder seu sabor e seu sentido.
Na atitude de Maria, Jesus convida todas as mulheres a desenvolver seus valores espirituais; Maria, por sua vez, oferece a ocasião para Jesus des-velar tudo isso.
Se queremos compreender mais profundamente o verdadeiro sentido do texto deste domingo, não devemos esquecer o contexto do evangelho de Lucas. Situado dentro da viagem a Jerusalém, este relato procura revelar o perfil daqueles(as) que querem seguir Jesus. Durante essa subida, Ele vai formando os(as) seus(suas) discípulos(as).
Lucas é o único que relata este episódio em Betânia e não é casualidade que, uma vez mais, se sinta interessado em destacar a importância das mulheres na vida pública de Jesus.
Não tem nenhum sentido extrair deste relato uma distinção ou uma oposição entre a vida contemplativa e a vida ativa; tampouco deixa transparecer a pretendida superioridade de uma sobre outra.
Não é correto interpretar este evangelho como proclamação de dois tipos de cristãos: uns que se dedicam à vida ativa e outros à contemplativa.
Poderíamos dizer que esta imagem caseira do encontro amistoso entre Jesus e as irmãs revela uma atitude sensata na vida, de acordo com a tradição sapiencial: “Tudo tem sem momento, e cada coisa seu tempo” (Ecle 3,1). Jesus não censura Marta por trabalhar; o que Ele censura é a sua inquietação, a sua preocupação, o fato de andar agitada no seu “tarefismo”, “com um olhar atravessado” para sua irmã, a quem se queixa e clama uma intervenção de Jesus.
Jesus chamará Marta por duas vezes, como Moisés foi chamado por Deus diante da sarça ardente, porque o lugar que ela pisa, sua própria casa, é sagrado e há nela um fogo que não se consome. Ele a chama para que não se identifique com sua função, nem com seus afazeres, mas que vá progredindo em direção ao seu “eu profundo”, que saia da dinâmica das comparações e se atreva a ser “Marta completa”.
O que Jesus censura em Marta é, sobretudo, o seu estrabismo. Dois olhos que olham, cada um para uma direção diferente. No entanto, “uma única coisa é necessária”. Com efeito, Marta tenta olhar, ao mesmo tempo, para Jesus e para a irmã; dessa forma, não consegue enxergar o único Bem-Amado.
Compara-se com a irmã, está possuída pelo que os antigos chamavam o “demônio da comparação”.
Trata-se de uma tendência, presente em todos nós, de nos comparar, nos avaliar, viver incessantemente equiparando-nos aos outros. Esse “demônio” é sempre atual e acaba por envenenar múltiplas relações.
Quando comparamos, passamos ao largo do único necessário. A comparação faz com que nós não percebamos “a única coisa necessária”. A “melhor parte” não é somente a contemplação, é não ver Jesus. A melhor parte é olhar em direção a Ele, é termos o desejo orientado para o Senhor.
E se nosso desejo é orientado para o Senhor, nós podemos ter momentos de contemplação e momentos de ação. Não são momentos opostos. A não-dualidade entre ação e contemplação, trabalho e repouso, encontra-se nessa unificação ou nesse despertar do olhar em direção ao Único.
A qualidade da ação e da contemplação depende da orientação do coração e da inteligência em direção Àquele que mantém unidas todas as coisas.
A cena de Betânia nos está dizendo: todos somos, ao mesmo tempo, Marta e Maria. Todos nos sentimos, com frequência, ansiosos, angustiados, dispersos e tentados a fazer da eficácia nossa principal preocupação. Mas, vivemos também a experiência do sossego e da unificação, que nos faz ordenar nossas prioridades e viver centrados no essencial. E, uma vez mais, somos convidados a saborear a Palavra que, no mais profundo de nós mesmos, se converte em uma fonte de assombro e de prazer e nos re-envia a um serviço mais generoso e mais livre.
Marta representa um lado nosso que calcula, que mede e que compara. É preciso reencontrar Marta em união com Maria. Não é nada fácil manter o equilíbrio, integrando-as. Marta e Maria são como os dois olhos de um olhar, ou as duas faces do mesmo rosto. Os dois olhando em direção ao Único. Significa unir em nós, Marta e Maria, a contemplação e a ação, o silêncio e a palavra.
A “melhor parte” está por todo lado: é o Senhor que deve ser acolhido em nossa ação e em nossa contemplação, no trabalho e no descanso.
Ser humano é ser capaz de ação e ser capaz de contemplação. Mas o único necessário nesta ação ou nesta contemplação, no trabalho ou no repouso, é amar o Senhor.
Em cada momento devemos buscar alcançar nosso “eu profundo” – exatamente onde jorra a vida – e formar uma só coisa com essa Vida que atua incessantemente no nosso interior. Estar centrado na Fonte: eis a melhor parte.
Para meditar na oração:
Entre em sua “Betânia interior”: verifique se ela é lugar de integração, unidade e pacificação. Ou, pelo contrário, espaço de divisão, ruídos, ansiedade e preocupação.
- “Betânia interior” se projeta na “Betânia exterior”: peça a Deus a graça de poder transformar a sua casa em nova Betânia: casa da acolhida, da amizade, da partilha solidária, da convivência sadia... Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Sexta-feira, 19 de julho-2019. 15ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé, rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar tudo o que é digno desse nome. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 12, 1-8)
1Atravessava Jesus os campos de trigo num dia de sábado. Seus discípulos, tendo fome, começaram a arrancar as espigas para comê-las. 2Vendo isto, os fariseus disseram-lhe: Eis que teus discípulos fazem o que é proibido no dia de sábado. 3Jesus respondeu-lhes: Não lestes o que fez Davi num dia em que teve fome, ele e seus companheiros, 4como entrou na casa de Deus e comeu os pães da proposição? Ora, nem a ele nem àqueles que o acompanhavam era permitido comer esses pães reservados só aos sacerdotes. 5Não lestes na lei que, nos dias de sábado, os sacerdotes transgridem no templo o descanso do sábado e não se tornam culpados? 6Ora, eu vos declaro que aqui está quem é maior que o templo. 7Se compreendêsseis o sentido destas palavras: Quero a misericórdia e não o sacrifício... não condenaríeis os inocentes. 8Porque o Filho do Homem é senhor também do sábado.
3) Reflexão Mateus 12,1-8 (Mc 2,23-28; Lc 6,1-5)
* No evangelho de hoje veremos de perto um dos muitos conflitos entre Jesus e as autoridades religiosas da época. São conflitos em torno das práticas religiosas daquele tempo: jejum, pureza, observância do sábado, etc. Colocados em termos de hoje seriam conflitos como, por exemplo, casamento de pessoas divorciadas, amizade com prostitutas, acolher os homossexuais, comungar sem estar casado na igreja, faltar à missa no domingo, não fazer jejum na sexta feira santa. São muitos os conflitos: em casa, na escola, no trabalho, na comunidade, na igreja, na vida pessoal, na sociedade. Conflitos de crescimento, de relacionamento, de idade, de mentalidade. Tantos! Viver a vida sem conflito é impossível. O conflito faz parte da vida e já aparece no nosso próprio nascimento. Nascemos com dor de parto. Os conflitos não são acidentes na estrada, mas são parte integrante do caminho, do processo de conversão. O que chama atenção é a maneira como Jesus enfrenta os conflitos. Na discussão com os adversários, não se tratava de ele obter razão contra eles, mas sim de fazer prevalecer a experiência que ele, Jesus, tinha de Deus como Pai e Mãe. A imagem de Deus dos outros era a de um juiz severo que só ameaçava e condenava. Jesus procurava fazer prevalecer a misericórdia sobre a observância cega de normas e de leis que não tinham mais nada a ver com o objetivo da Lei que é a prática do amor.
Mateus 12,1-2: Colher trigo em dia de sábado e a crítica dos fariseus
Num dia de sábado, os discípulos passavam pelas plantações e abriam caminho arrancando espigas para come-las. Estavam com fome. Os fariseus chegam e invocam a Bíblia para dizer que os discípulos estão cometendo uma transgressão da lei do Sábado (cf Ex 20,8-11). Jesus também usa a Bíblia e responde evocando três exemplos tirados da Escritura: (1) de Davi, (2) da legislação sobre o trabalho dos sacerdotes no templo e (3) da ação do profeta Oséias, ou seja, ele cita um livro histórico, um livro legislativo e um livro profético.
Mateus 12,3-4: O exemplo de Davi
Jesus lembra que o próprio Davi também fez uma coisa proibida pela lei, pois tirou os pães sagrados do templo e os deu de comer aos soldados que estavam com fome (1 Sm 21,2-7). Nenhum fariseu teria coragem de criticar o rei Davi!
Mateus 12,5-6: O exemplo dos sacerdotes
Acusado pelas autoridades religiosas, Jesus argumenta a partir do que elas mesmas, as próprias autoridades religiosas, fazem em dia de sábado. No templo de Jerusalém, em dia de sábado, os sacerdotes trabalham muito mais do que nos dias de semana, pois devem sacrificar os animais para os sacrifícios, devem limpar, varrer, carregar peso, degolar os animais etc. E ninguém dizia que era contra a lei, pois achavam normal. A própria lei os obrigava a fazer isto (Nm 28,9-10).
Mateus 12,7: O exemplo do profeta
Jesus cita a frase do profeta Oséias: Quero misericórdia e não sacrifício. A palavra misericórdia significa ter o coração (cor) na miséria (miseri) dos outros, ou seja, a pessoa misericordiosa deve estar bem perto do sofrimento das pessoas, deve identificar-se com elas. A palavra sacrifício significa fazer (fício) com que uma coisa fique consagrada (sacri), ou seja, quem oferece um sacrifício separa o objeto sacrificado do uso profano e o distancia da vida diária do povo. Se os fariseus tivessem em si este olhar do profeta Oséias, saberiam que o sacrifício mais agradável a Deus não a pessoa consagrada viver distanciada da realidade, mas sim ela colocar o coração inteiramente consagrado para aliviar a miséria dos irmãos e das irmãs. Eles não teriam condenado como culpados os que, na realidade eram inocentes.
Mateus 12,8: O Filho do Homem é dono do sábado
Jesus termina com esta frase: o Filho do Homem é dono até do sábado! Jesus, ele mesmo, é o critério da interpretação da Lei de Deus.Jesus conhecia a Bíblia de cor e salteado, e a invocava para mostrar que os argumentos dos outros não tinham fundamento. Naquele tempo, não havia Bíblias impressas como temos hoje em dia. Em cada comunidade só havia uma única Bíblia, escrita a mão, que ficava na sinagoga. Se Jesus conhecia tão bem a Bíblia, é sinal de que ele, durante os trinta anos de vida em Nazaré, deve ter participado intensamente da vida da comunidade, onde todo sábado se liam as escrituras. A nova experiência de Deus como Pai fazia com que Jesus chegasse a descobrir melhor qual tinha sido a intenção de Deus ao decretar as leis do Antigo Testamento. Convivendo com o povo da Galileia durante trinta anos em Nazaré e sentindo na pele a opressão e a exclusão de tantos irmãos e irmãs em nome da Lei de Deus, Jesus deve ter percebido que isto não podia ser o sentido daquelas leis. Se Deus é Pai, então ele acolhe a todos como filhos e filhas. Se Deus é Pai, então nós temos que ser irmãos e irmãs uns dos outros. Foi o que Jesus viveu e pregou, desde o começo até o fim. A Lei deve estar a serviço da vida e da fraternidade. “O ser humano não foi feito para o sábado, mas o sábado para o ser humano” (Mc 2,27). Foi por causa da sua fidelidade a esta mensagem que Jesus foi preso e condenado à morte. Ele incomodou o sistema, e o sistema se defendeu, usando a força contra Jesus, pois ele queria a Lei a serviço da vida, e não vice-versa. Ainda falta muito para nós termos a mesma familiaridade com a Bíblia e a mesma participação na comunidade como Jesus.
4) Para um confronto pessoal
1-Que tipo de conflitos você vive na família, na sociedade e na igreja? Quais os conflitos em torno de práticas religiosas que, hoje, trazem sofrimento para as pessoas e são motivo de muita discussão e polêmica? Qual a imagem de Deus que está por trás de todos estes preconceitos, normas e proibições?
2-O que o conflito já ensinou a você nestes anos todos? Qual a mensagem que você tira de tudo isto para as nossas comunidades de hoje?
5) Oração final
No meu leito te recordo, penso em ti nas vigílias noturnas, pois tu foste meu auxílio; exulto de alegria à sombra de tuas asas. A ti está ligada a minha alma, a tua mão direita me sustenta. (Sl 62, 7-9)
Quinta-feira, 18 de julho-2019. 15ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé, rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar tudo o que é digno desse nome. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 11, 28-30)
Naquele tempo, tomou Jesus a palavra e disse: 28Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. 29Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. 30Porque meu jugo é suave e meu peso é leve.
3) Reflexão
O evangelho de hoje tem apenas três versículos (Mt 11,28-30) que fazem parte de uma pequena unidade literária, uma das mais bonitas, na qual Jesus agradece ao Pai por ele revelar a sabedoria do Reino aos pequenos e por escondê-la aos doutores e entendidos (Mt 11,25-30). No breve comentário que segue incluiremos toda a pequena unidade literária.
Mateus 11,25-26: Só os pequenos entendem e aceitam a Boa Nova do Reino
Jesus faz uma prece: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequenos”. Os sábios, os doutores daquela época, tinham criado um sistema de leis que eles impunham ao povo em nome de Deus (Mt 23,3-4). Eles achavam que Deus exigia do povo estas observâncias. Mas a lei do amor, trazida por Jesus, dizia o contrário. O que importa para salvar-nos, não é o que nós fazemos para Deus, mas sim o que Deus, no seu grande amor, faz por nós! Deus quer misericórdia e não sacrifício (Mt 9,13). O povo pequeno e pobre entendia esta fala de Jesus e ficava alegre. Os sábios diziam que Jesus estava errado. Eles não podiam entender tal ensinamento. Sim, Pai, assim foi do teu agrado! É do agrado do Pai que os pequenos entendam a mensagem do Reino e que os sábios e entendidos não o entendam! Se eles quiserem entendê-lo deverão fazer-se alunos dos pequenos! Este modo de pensar e ensinar subverte a convivência e incomoda.
Mateus 11,27: A origem da nova Lei: o Filho conhece o Pai.
Aquilo que o Pai nos tem a dizer, Ele o entregou a Jesus, e Jesus o revela aos pequenos, porque estes se abrem para a sua mensagem. Jesus, o Filho, conhece o Pai. Ele sabe o que o Pai nos queria comunicar quando, séculos atrás, entregou sua Lei a Moisés. Hoje também, Jesus está ensinando muita coisa aos pobres e pequenos e, através deles, à toda a sua Igreja.
Mateus 11,28-30: O convite de Jesus que vale até hoje
Jesus convida a todos que estão cansados para vir até ele, e lhes promete descanso. Nós, das comunidades de hoje, deveríamos ser a continuação deste mesmo convite que Jesus dirigia ao povo cansado e oprimido debaixo do peso das observâncias exigidas pelas leis de pureza. Ele dizia: “Aprendam de mim que sou manso e humilde de coração”. Muitas vezes, esta frase foi manipulada para pedir ao povo submissão, mansidão e passividade. O que Jesus quer dizer é o contrário. Ele pede que o povo deixe de lado “os sábios e entendidos”, os professores de religião da época, e comece a aprender dele, de Jesus, um camponês do interior da Galiléia, sem instrução superior, que se diz "manso e humilde de coração". Jesus não faz como os escribas que se exaltam de sua ciência, mas é como o povo que vive humilhado e explorado. Jesus, o novo mestre, sabia por experiência o que se passava no coração do povo e o que o povo sofria. Ele o viveu e conheceu de perto durante os trinta anos em Nazaré.
O jeito de Jesus praticar o que ensinou no Sermão da Missão
Uma paixão se revela no jeito de Jesus anunciar a Boa Nova do Reino. Paixão pelo Pai e pelo povo pobre e abandonado da sua terra. Onde encontrava gente para escutá-lo, Jesus transmitia a Boa Nova. Em qualquer lugar. Nas sinagogas durante a celebração da Palavra (Mt 4,23). Nas casas de amigos (Mt 13,36). Andando pelo caminho com os discípulos (Mt 12,1-8). Ao longo do mar, à beira da praia, sentado num barco (Mt 13,1-3). Na montanha, de onde proclamou as bem-aventuranças (Mt 5,1). Nas praças das aldeias e cidades, onde o povo carregava seus doentes (Mt 14,34-36). Mesmo no Templo de Jerusalém, durante as romarias (Mt 26,55)! Em Jesus, tudo é revelação daquilo que o animava por dentro! Ele não só anunciava a Boa Nova do Reino. Ele mesmo era e continua sendo uma amostra viva do Reino. Nele aparece aquilo que acontece quando um ser humano deixa Deus reinar e tomar conta de sua vida. O evangelho de hoje revela a ternura com que Jesus acolhia os pequenos. Ele queria que eles encontrassem descanso e paz. Por causa desta sua opção pelos pequenos e excluídos, Jesus foi criticado e perseguido. Sofreu muito! O mesmo acontece hoje. Quando uma comunidade se abre e procura ser um lugar de acolhida e consolo, de descanso e paz também para os pequenos e excluídos de hoje que os estrangeiros e imigrantes, muitas pessoas reclamam e criticam.
4) Para um confronto pessoal
1) Você já experimentou alguma vez o descanse que Jesus prometeu?
2) Como as palavras de Jesus podem ajudar a nossa comunidade a ser um lugar de descanso para as nossas vidas?
5) Oração final
Em ti está a fonte da vida e à tua luz vemos a luz. Concede sempre a tua graça a quem te conhece, e a tua justiça aos retos de coração. (Sl 35)
MÍDIAS SOCIAIS: Instagram faz teste no Brasil e oculta o número de curtidas em postagens
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A partir desta quarta-feira, o app inicia um teste no Brasil que oculta o número de curtidas que cada publicação recebeu. Segundo a rede, a ideia é diminuir a competitividade entre usuários do aplicativo. A medida, no entanto, ainda não será aplicada em caráter definitivo. Fonte: Twitter
Mulher empurra Padre Marcelo Rossi de altar durante missa em Cachoeira Paulista
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A mulher furou a segurança, invadiu o altar durante a celebração que acontecia na Canção Nova e empurrou o padre de cima da estrutura. Apesar da queda, ele não ficou ferido e a mulher foi contida pela Polícia Militar.
Por G1 Vale do Paraíba e Região
Uma mulher invadiu o altar e empurrou o padre Marcelo Rossi durante uma missa em Cachoeira Paulista neste domingo (14). A mulher furou a segurança, invadiu o palco durante a celebração que acontecia na Canção Nova e empurrou o padre de cima da estrutura. Apesar da queda, ele não ficou ferido e a mulher foi contida pela Polícia Militar.
O padre estava no local para a missa de encerramento do acampamento ‘Por Hoje Não’ (PHN). Por volta das 14h50 a mulher, que participava do evento, conseguiu furar a segurança, invadiu o palco por trás e empurrou o padre, que caiu da estrutura.
No momento, pelo menos 50 mil pessoas participavam da celebração. Apesar da queda, o padre voltou ao palco minutos depois e continuou a celebração.
De acordo com a Polícia Militar, a mulher está sendo encaminhada para a delegacia de Lorena para o registro do caso. A PM informou que a ocorrência está sendo feita pela Canção Nova porque o Padre Marcelo Rossi decidiu não registrar a agressão.
A polícia informou que a mulher tem 32 anos e que fazia parte de um grupo que veio do Rio de Janeiro para o evento. Os acompanhantes informaram à PM que ela sofre de transtornos mentais.
Em nota a Canção Nova informou que lamenta o incidente ocorrido com o padre Marcelo Rossi durante a missa e informou que ele foi atendido pela equipe médica do evento e, após ser liberado, seguiu com a celebração até o fim.
Vídeo
Em um vídeo divulgado após a agressão, o Padre Marcelo Rossi diz que 'Maria passou na frente e pisou na cabeça da serpente'. A imagem foi divulgada pela Canção Nova, ao final da celebração.
“Maria passou na frente, pisou na cabeça da serpente, estou ótimo”, disse. “Fiquem tranquilos, só umas dorzinhas, não quebrou nada”, acrescentou. Fonte: https://g1.globo.com
Jovens abusados por padres revelam seus dramas pela primeira vez
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Eles são testemunhas do escândalo que chegou ao Vaticano e provocou a renúncia do bispo que protegia os pedófilos
Por João Batista Jr., Adriana Dias Lopes e Edoardo Ghirotto
O pecado abjeto foi premeditado em detalhes. Após celebrar uma missa na zona rural de Araras, cidade a 180 quilômetros de São Paulo, o padre Pedro Leandro Ricardo convidou o coroinha Ednan Aparecido Vieira, então com 17 anos, para dormir na casa paroquial. A desculpa: estar a postos no dia seguinte para ajudá-lo na missa do domingo de manhã. Embora soubesse que não haveria mais ninguém na residência, o menino jamais desconfiaria que estava prestes a cair em uma arapuca. Chegando ao local, o clima começou a ficar estranho com as perguntas do anfitrião, que só queria saber da vida íntima do garoto. Tinha namorada? Qual era seu tipo físico preferido de menina?
Passado um tempo, o homem se retirou para tomar banho e a jovem visita ficou vendo TV na sala. Na sequência, começou o inferno. O padre, então com 32 anos, revelou suas verdadeiras intenções ao aparecer na sala vestido apenas com uma cueca samba-canção. Seu estado de excitação marcava o tecido da peça. Começou a se masturbar e pediu que o adolescente fizesse sexo oral nele. Ao ouvir a recusa, avançou para cima do menino e começou a tocar suas partes íntimas, tentando forçar a relação. Em estado de choque, Ednan nada fez em um primeiro momento, até que conseguiu reunir coragem para se levantar e interromper o ataque. No dia seguinte, o padre celebrou a missa na Paróquia São Francisco de Assis como se nada tivesse acontecido. Mesmo traumatizado, o coroinha fez normalmente o trabalho na celebração, auxiliando o monstro que havia tentado molestá-lo na noite anterior. Uma semana depois, o padre dispensou os serviços do rapaz. O jovem era órfão de pai, e a mãe fazia parte do grupo de catequistas da paróquia. Devido a essa influência religiosa, Ednan servia a igreja havia dez anos com devoção. “Padre Leandro era como um pai para mim”, conta.
O relato do ex-coroinha faz parte de um dos maiores escândalos da história recente da Igreja Católica brasileira. Padre Leandro tem atualmente 50 anos. As barbaridades que cometeu nas sombras durante décadas só começaram a ficar conhecidas nos últimos meses. Ednan integra o grupo de seis pessoas — três homens, duas trans e uma mulher — que o denunciaram. Nesta reportagem de VEJA, pela primeira vez, elas revelam seus dramas. Até pouco tempo atrás, o clérigo era conhecido apenas como um líder carismático que cuidava de seu rebanho na periferia de Araras. Sua verdadeira face foi revelada em dezembro de 2018, quando a advogada Talitha Camargo da Fonseca e o produtor audiovisual José Eduardo Milani enviaram um dossiê de 68 páginas ao Vaticano para denunciá-lo, incluindo relatos das vítimas, que são representadas por Talitha. Todas prestaram depoimento há duas semanas na Polícia Civil de São Paulo.
Segundo elas, Leandro contava com a proteção de dom Vilson Dias de Oliveira, bispo emérito da Diocese de Limeira, jurisdição que representa dezesseis cidades do interior de São Paulo. Sem a intervenção das autoridades eclesiásticas de fora do país, que obedecem a uma diretriz do papa Francisco, tais crimes poderiam permanecer impunes. Agora, há uma esperança de que os malfeitos tenham consequências. Dois meses após o Vaticano receber o calhamaço com as denúncias, Leandro acabou afastado das funções de padre e de reitor da Basílica de Santo Antônio de Pádua e está impedido de celebrar missas até a conclusão da investigação. Mas continua recebendo cerca de 9 000 reais, entre salário e benefícios. O bispo Vilson, que o protegia, renunciou ao cargo quando o escândalo veio à tona. “Ele cansou de receber denúncias a respeito do padre Leandro, mas nunca fez nada”, diz a advogada Talitha.
Regra no Brasil e no exterior por muito tempo, a tática de acobertamento tem uma chance real de ser banida. Em fevereiro deste ano, o papa Francisco abriu um evento destinado a discutir o abuso sexual contra menores cometido por membros do clero. Para o encontro, denominado “A proteção de menores na Igreja”, o pontífice convocou 114 presidentes de conferências episcopais, como a CNBB, cardeais e embaixadores. Em uma atitude ainda mais ousada, Francisco estendeu o convite a vítimas de padres, na esperança de que seus depoimentos sensibilizem o clero para que ações de combate àquelas práticas alcancem, de modo muito contundente, as dioceses. Três meses depois, publicou um motu proprio (carta emitida diretamente pelo papa que modifica a legislação interna da Igreja), no qual torna obrigatório que padres e religiosos denunciem às autoridades eclesiásticas suspeitas de casos de abusos sexuais. Até então, os clérigos levavam adiante essas histórias de acordo com sua consciência pessoal.
O motu proprio desburocratizou o mecanismo das denúncias. Estabeleceu que em cada diocese exista um “sistema de comunicação” destinado apenas a receber as queixas — as instituições têm até um ano para criá-lo. Se a vítima quiser que a denúncia siga diretamente para a Congregação da Doutrina da Fé, será enviada, sem questionamento. Esse tipo de mecanismo já existia em alguns países, como Estados Unidos, mas o papa agora quer tornar a iniciativa obrigatória em todo o mundo. O motu proprio determinou ainda que os padres e religiosos são obrigados a denunciar qualquer suspeita. Os leigos que trabalham para a Igreja são também encorajados a relatar casos de abuso e assédio. As investigações precisam garantir a confidencialidade dos envolvidos e durar até noventa dias. A Igreja deve fornecer assistência médica, terapêutica e psicológica às vítimas. Uma das maiores críticas ao documento é não trazer nenhuma orientação para que os episódios sejam reportados às autoridades civis. Hoje, quando uma vítima procura a Igreja para relatar um caso de abuso, a entidade não tem a obrigação de relatá-lo à polícia para que ela o investigue. A Justiça comum, portanto, muitas vezes não toma conhecimento sobre atrocidades ocorridas nos meandros das paróquias.
A rigor, as regras da Igreja para um crime de pedofilia são universais e valem para casos que envolvam pessoas abusadas com idade inferior a 18 anos. A denúncia pode ser feita por qualquer pessoa — a própria vítima ou não. O caso deve ser relatado ao superior do clérigo acusado. Se o criminoso for o padre, por exemplo, deve-se falar com o bispo. A autoridade que recebeu a denúncia ouve o acusado. Se considerar a história verídica, ela seguirá para o Tribunal Eclesiástico.
No escândalo de Araras, o bispo Vilson Dias de Oliveira não deu andamento às denúncias que estavam sob sua jurisdição. Além do envolvimento de Leandro, há vítimas dos padres Carlos Alberto da Rocha e Felipe Negro. O dossiê enviado ao Vaticano não trata apenas de pedofilia. Há indícios fortes ali também de uma espécie de “mensalinho do abuso”. As vítimas afirmam que o bispo exigia propinas dos párocos de conduta condenável para deixá-los atuar sem ser investigados. A prática teria rendido dividendos visíveis. Vilson possui dez imóveis registrados em seu nome, todos em São Paulo. Metade deles na cidade de Guaíra e os outros em Itanhaém, no litoral sul paulista. Em uma avaliação conservadora, a soma do patrimônio supera a marca de 1,5 milhão de reais. É o verdadeiro milagre da multiplicação imobiliária. Procurado por VEJA, o bispo disse, por meio de seu advogado, que não cometeu condutas ilícitas. Acusado de abuso contra Paula Vallentin e de ter assediado Mariele da Silva Dibbern, Felipe Negro negou os crimes. “Essas denúncias não conferem”, limitou-se a dizer. O advogado Paulo Henrique de Moraes Sarmento falou em nome do padre Leandro: “Das seis pessoas, apenas duas foram ouvidas na delegacia competente para apurar o caso, e as outras quatro foram levadas até outra delegacia, onde foram ouvidas à revelia deste defensor, violando-se o direito de ampla defesa de meu cliente”. O defensor também refuta a história do “mensalinho do abuso”. “O padre Leandro nunca fez nenhum pagamento a dom Vilson”, afirma.
De acordo com as denúncias, o modus operandi dos três sacerdotes é muito similar. A maioria das vítimas nasceu em família pobre e desestruturada — e tinha a Igreja como esteio. Ou seja, os religiosos escolhiam a dedo as pessoas mais frágeis. No começo dos anos 2000, o bairro Jardim Ometto, na periferia da cidade, não tinha ruas asfaltadas nem quadras poliesportivas. Eram comuns assaltos, e pontos de venda de drogas funcionavam no local sem que os traficantes fossem importunados. “A paróquia representava a nossa única fonte de lazer, onde fazíamos amizade e passávamos o tempo”, conta S.M.C. Sua mãe trabalhava como faxineira de uma igreja. De tão humilde, dependia da ajuda da paróquia para fazer todas as refeições. Ele era órfão de pai e projetou no padre a figura paterna. Quando Carlos Alberto avançou o sinal, o adolescente não teve forças para reagir. “Ele me molestou, me tocou e me torturou psicologicamente durante um ano, todos os fins de semana. Dizia que, se eu contasse, seria expulso da igreja, me tornaria um bandido por ser pobre e não ter pai.”
A cartilha do padre Leandro também incluía terror psicológico, com a diferença de que os abusos começaram em incursões de Kombi para rezas na zona rural ou dentro da sacristia. Enquanto estava ao volante do carro, ele pedia às vítimas que se sentassem ao seu lado — e aproveitava para passar a mão nas pernas e no pênis dos garotos. Na sacristia, fazia questão de ver meninos tirando a roupa para usar a túnica de coroinha. Não raro, “ajudava” a vítima a vestir-se para poder tocar em seu corpo. Tempos depois, o padre adotou a tecnologia para assediar fiéis. Uma troca de mensagens por WhatsApp mostra Leandro falando sobre nudes com um rapaz.
SEM CONFISSÃO – O padre Felipe Negro: “Essas denúncias não conferem”
O religioso mantém há anos um relacionamento amoroso com o padre Diego Rodrigo, natural de Araras. “Eu presenciei Leandro e Diego se beijando na sacristia e namorando na cama dentro da casa paroquial”, diz a ex-ajudante-geral da igreja Ivone Aparecida Ferreira. Quando Leandro percebeu que a senhora que trabalhava fazia 21 anos para a entidade tinha visto o que não devia, começou a persegui-la. “Ele me expulsou da igreja e eu caí em depressão”, conta Ivone. O padre costuma mover ações contra as pessoas que denunciam seu comportamento. Já processou seis fiéis de sua igreja, alguns por emitirem comentários negativos a seu respeito no Facebook. “Parece uma defesa legítima, mas é uma estratégia de intimidação”, diz a advogada Talitha Camargo da Fonseca. “Em uma comunidade pobre, poucos têm como bancar advogado para brigar nos tribunais.” Apaixonado por luxos, Leandro fez em 2013 uma procissão para Nossa Senhora Aparecida que ficou na história de Americana. Na ocasião, a santa surgiu carregada por um Corvette vermelho conversível. Ninguém sabe até hoje de onde veio o carro e quem pagou. O mesmo padre é acusado de não ter prestado contas da venda de uma chácara que pertencia à Basílica Santo Antônio de Pádua, arrematada por 1,1 milhão de reais.
Do ponto de vista teológico, a pedofilia é um delito no qual se transgride o sexto mandamento, de “não pecar contra a castidade”. Do ponto de vista da humanidade, trata-se de uma monstruosidade. Por séculos, o que se fez foi, no máximo, reportar os crimes ao Vaticano sem nenhuma consequência aos acusados. Os clérigos só começaram a sofrer algum tipo de sanção, ainda que pequena, de pouquíssimo tempo para cá, quando os casos saíram dos muros da Santa Sé, tornando-se públicos. O primeiro episódio de grandes proporções ocorreu em 2002, com a história do cardeal americano Bernard Law, que encobriu crimes sexuais de padres entre 1984 e 2002. O ato de omissão foi divulgado pelo The Boston Globe. Após o escândalo vir à tona, Law se viu obrigado a apresentar sua renúncia como arcebispo de Boston, mas João Paulo II o enviou para Roma e o nomeou, em 2004, vigário da Basílica de Santa Maria Maggiore, uma das mais importantes da capital italiana. Law viveu seus últimos anos no Vaticano. A história foi contada no filme Spotlight, vencedor do Oscar em 2016. Ainda assim, o problema continua grave nos EUA. De acordo com levantamento encomendado pela Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, cerca de 5% dos padres americanos cometem atos de abuso. No Brasil, não há estatísticas semelhantes. Mas estima-se que a porcentagem não seja muito diferente.
O papa Bento XVI foi o primeiro a adotar uma postura mais firme em relação a clérigos pedófilos. Em 2010, o pontífice alemão incluiu leigos nos tribunais eclesiásticos que julgariam os casos de abusos. Ao longo de seu pontificado, pelo menos 400 padres acabaram expulsos. A medida de Bento XVI foi surpreendente, porque ele próprio se envolveu em um episódio nebuloso. Entre 1996 e 1998, a Congregação para a Doutrina da Fé, dirigida pelo então cardeal Ratzinger, órgão destinado a investigar e punir os desvios, recebeu inúmeros alertas de bispos dos Estados Unidos em relação aos crimes do padre Lawrence Murphy. O sacerdote abusou de 200 meninos surdos no Estado de Wisconsin. O Vaticano pouco fez.
Em junho de 2016, VEJA denunciou o caso do padre Fabiano Santos Gonzaga. O religioso atacou um adolescente de 15 anos, portador de deficiência mental, no vestiário do Caldas Termas Clube, no interior de Goiás. Gonzaga beijou o menor na boca e segurou seu pênis. Quando o jovem se desvencilhou, o padre bloqueou a porta e o forçou a praticar sexo oral. Levado à Justiça, foi condenado a quinze anos de prisão em regime fechado. Recentemente, a Justiça o transferiu para uma Apac em Araxá (MG). Gonzaga está suspenso de ordens, ou seja, não pode presidir ou celebrar nenhum sacramento nem administrar ou exercer cargo algum na Igreja. Também não recebe salário. O processo eclesiástico do padre está em andamento. Por ora, encontra-se no Tribunal Arquidiocesano, onde é feita a fase de instrução. Após a conclusão da etapa, o caso será enviado para julgamento na Santa Sé. A sentença cabe ao Vaticano. Em situações semelhantes, a Igreja tem demonstrado uma lentidão maior que a Justiça dos homens.
O afastamento do padre Leandro pegou a comunidade do interior paulista de surpresa. Isso porque ocorreu mais de quinze anos após a primeira denúncia. Depois da renúncia de dom Vilson da Diocese de Limeira, o arcebispo dom Orlando Brandes afirmou que o colega pode, sim, celebrar missas em igrejas de outras dioceses se for convidado. Dom Vilson está sendo investigado pela Polícia Civil por extorsão, enriquecimento ilícito e por acobertar os casos de abuso sexual cometidos pelo padre Leandro. “Ao final, demonstraremos a verdade dos fatos”, diz o advogado do bispo, Virgílio Ribeiro. As sequelas nas vítimas são como tatuagens ardendo na alma. Ednan Aparecido Vieira, por exemplo, sofre de síndrome do pânico e tem taquicardia cada vez que relembra o abuso. Hoje, aos 35 anos, o ex-coroinha diz que continua acreditando em Deus. Mas tem ódio de sacerdotes. “A imagem do padre vindo para cima de mim nunca saiu da minha cabeça”, conta. A Igreja avançou contra essas monstruosidades praticadas por homens que deveriam ser líderes espirituais e se aproveitaram dessa condição para molestar crianças. Mas ainda há um longo caminho para expurgar todos os seus pecados.
“Saiu do banheiro de cueca e veio na minha direção”
“Era coroinha e andava de carro com o padre Pedro Leandro Ricardo para os trabalhos da igreja. Um dia, ele começou a esbarrar a mão na minha perna, e eu achava que poderia ser brincadeira. Em um sábado, convidou-me para dormir na casa paroquial porque iríamos celebrar missa no domingo. Fiquei sozinho com ele. O padre perguntava se eu tinha namorada, se eu era virgem… No meio da conversa, abriu um vinho e pediu que eu bebesse. Eu tinha 17 anos. Tomou quase a garrafa inteira. Depois, foi ao banho. Quando voltou, vestia apenas uma cueca samba-canção. O pênis estava ereto, marcando o tecido. Veio em direção ao sofá, começou a se masturbar e pediu que eu fizesse sexo oral nele. Mesmo com a minha recusa, começou a acariciar meu pênis. Fiquei em choque e me levantei. Não fizemos nada. Não consegui dormir, de pânico. No dia seguinte, na missa, só lembrava da imagem dele vindo para cima de mim.”
“Enquanto eu vestia a túnica de coroinha, o padre aproveitava para me tocar”
“O padre Pedro Leandro Ricardo me olhava de forma diferente. Eu tinha 16 anos, quando ainda não me entendia como uma mulher transexual. Como meu pai havia morrido, achava que o pároco tinha carinho por mim. Ele começou a ficar ao meu lado enquanto eu vestia a túnica de coroinha. Depois, passou a me ajudar com as vestes para tocar o meu corpo, com a desculpa de desamassar o tecido. Um dia, abriu as minhas pernas e segurou as minhas coxas. Dei um berro na sacristia e saí correndo. Meu corpo tremia. Na hora, lembrei do abuso sexual que havia sofrido aos 3 anos do meu padrasto. Após o episódio, o Leandro me tirou das atividades da igreja. Tempos depois, já com 18 anos, quando fui estudar no seminário, tive um caso com outro padre, o Felipe Negro. ‘Quem não tem padrinho morre pagão’, ele me dizia. Eu era pobre, e o padre me oferecia dinheiro para comprar roupa. Em troca, tinha de transar com ele. Seminário é uma fábrica de pervertidos: há sexo, coação, abuso de poder… Desisti de ser padre. Meus abusadores percebiam meus trejeitos femininos, eu era uma presa mais fácil. Hoje sou uma mulher trans e, apesar de tudo, não perdi minha fé em Deus.”
“Enquanto dirigia, o padre pegou no meu pênis”
“Minhas duas irmãs mais velhas morreram por problemas de saúde e minha família ficou muito apegada à igreja. Nós nos sentíamos acolhidos, protegidos. Fui por muitos anos coroinha da Paróquia São Francisco de Assis, na periferia de Araras. Quando o padre Pedro Leandro Ricardo assumiu a igreja, em 2002, mantive minha rotina de ajudar nas missões na zona rural. Na época, eu tinha 16 anos. Em um de nossos primeiros encontros, ele elogiou meu corpo e meu visual. No carro, esbarrou na minha perna. Depois, celebrou a missa como se nada tivesse acontecido. Na volta, porém, foi mais direto: enquanto dirigia, pegou no meu pênis. Tivemos uma discussão feia dentro do carro. No dia seguinte, enquanto eu vestia a túnica de coroinha da missa de domingo, Leandro disse que não precisava mais de mim. Como não pôde avançar no abuso, ele me expulsou da igreja. O monstro não conseguiu o que queria e me tirou a base da minha vida social. Por medo, não contei aos meus pais. Eles amavam a igreja, e eu não quis desapontá-los. Segue assim até hoje. Fiquei com sequelas e cheguei a tomar remédio para síndrome do pânico.”
“Ele me masturbava e dizia que isso era normal”
S.M.C., 37 anos, psicólogo e gestor de segurança; morador de Arara“Meu pai morreu quando eu tinha menos de 2 anos e minha mãe trabalhava como faxineira na igreja. Eu vivia ali dentro. Fui coroinha e sonhava em ser padre. O padre Carlos Alberto da Rocha era para mim uma figura paterna. Meu martírio começou aos 16 anos. Eu o ajudava nas missas e, muitas vezes, dormia na casa paroquial, pois estudava em outra cidade. Quase toda noite, durante um ano, ele me molestou (chora). O padre tocava meu pênis, me masturbava. Minha primeira ejaculação foi resultado de uma experiência de medo, forçada, nojenta. O padre dizia que aquilo era normal e fazia ameaças. Dizia que, se eu abandonasse a Igreja, iria virar um bandido por ser pobre. E também que ninguém acreditaria na minha palavra porque não tinha pai (chora). Pouco antes de morrer de câncer, minha mãe me disse, deitada na cama: ‘Sorte que o padre vai cuidar de você’ (chora muito). Ela foi embora sem saber que seu ídolo era um monstro. Quando comecei a trancar a porta do quarto e interrompi os abusos, Carlos Alberto me tirou da paróquia. Passados alguns meses, quando eu era seminarista, foi a vez de o padre Pedro Leandro Ricardo me atacar. Dentro de uma Kombi, a caminho de uma missa, ele pôs a mão em meu pênis. Resisti ao ataque e, uma semana depois, ele veio me dizer que eu havia ‘interpretado errado’. Abandonei o sonho de ser padre. Hoje sou casado, tenho uma filha de 3 anos. Minha mulher não sabe de nada.”
“O padre ofereceu um emprego e me chamou para tomar vinho”
“O padre Felipe Negro era novo na paróquia quando me mandou um ‘oi’ no Facebook. Eu tinha 16 anos. Ele começou a conversar comigo e perguntou se eu trabalhava. Venho de uma família pobre e estava buscando emprego. Felipe me prometeu que eu seria sua secretária. Um dia, sugeriu que fôssemos jantar. Ficava me perguntando se eu tomava bebidas alcoólicas e me oferecia coisas caras. Prometia celular ou roupas de marca se eu topasse um encontro. Concordei em jantar na sua casa, na esperança de arrumar o emprego. Fomos pegar uma pizza. Comemos e tomamos vinho. Ele não falou nada sobre o trabalho. Não aconteceu nada entre nós, e ele me levou de carro de volta para casa. O padre me chamava de ‘anjo’, ‘linda’ e ‘amor’. Dizia que queria repetir o encontro porque aquela tinha sido uma noite muito agradável. Foi aí que me dei conta de que a conversa não tinha nada a ver com emprego. Meus pais conversaram bastante comigo e disseram que o padre estava mal-intencionado. Senti muita vergonha e uma tristeza imensa. Agora somos só eu e Deus. Para a igreja não vou mais. Nunca mais vou ver um padre com bons olhos.”
Colaboraram Guilherme Novelli e Giulio Ferrari
Fonte: https://veja.abril.com.br
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