Frei Claudio Van Balen , O. Carm.

Orar é captar e deixar circular o Mistério em nossa pessoa. Orar é assumir a própria densidade existencial que insere no infinito. Orar é deixar-se impulsionar, conduzir, elevar e transformar por realidades cotidianas que nos fazem perceber que – nunca, donos de nós mesmos – pertencemos ao Transcendente. Pedir implica a missão de mediar a realização de objetivos que melhoram a vida e aperfeiçoam pessoas e relações. Pedir: gesto de confiança que nos abriga no amor de Deus.

Quem ora, cria em si o espaço adequado para assumir, expressar e aprofundar um olhar e uma atitude de confiante entrega frente ao que lhe acontece - na relação com Deus que o habita.

Pedir é recurso de criança insegura que busca amparo?

Pedir é súplica de caminheiro desejando chegar à meta.

Pedir, mais que iniciativa, é resposta de fé,  pertença a Deus.

Pedir é soltar energia para realizar o sonho que nos conduz.

Pedir é dispor-se a realizar o possível e acolher o surpreendente.

Orar pedindo é permitir Deus acontecer em nós.

Não raro, orar pedindo é a única coisa que resta fazer pelo outro, quando em uma situação difícil com desamparo e incerteza. Desejamos, então, que a bênção divina seja acolhida no que a pessoa é chamada a fazer e passar - em tudo o que outros lhe oferecem em bons cuidados. Na Liturgia, esta oração se reveste de caráter impessoal, o que pode implicar o risco de transferir responsabilidades nossas para a chamada Providência divina. Mas Deus não é solução mágica.

Quem ora - consciente da dádiva divina - se dirige confiante a Deus, acolhendo-o em si, mergulhando em  um silêncio que pacifica com tudo o que nos agita e mobiliza ou julgamos precisar e desejamos receber. Quem ora pedindo, penetra no cerne de seu coração, ofertando-se a Deus para assimilar melhor o que possui. Quem ora, abre o coração para que, em si, Deus possa irromper, manifestando-se como graça, energia, luz e paz. Não raro, confia orando, com mais autenticidade, quem evoca Deus sem o revestimento pomposo da religiosidade.

Tradição, acética, teologia e ritos religiosos não dão conta de competir com a eficiência de nosso viver cotidiano, capaz de nos despertar para o Inominável, presente na realidade. A oração-pedido

não aciona uma relação de causalidade sobre Deus, mas tem a ver com vivência mística. Ela possibilita que deixemos de ser reféns de fragmentação, envolvendo-nos pela Salvação, riqueza interior que liberta. Orar, pedindo, é um encontro consigo na verdade banhada pelo calor da fé.

Orar pelo outro ou em nome dele, visa suscitar abertura e receptividade. Isto significa que, recorrendo a Deus, desejamos partilhar a graça para, com novo vigor, solidarizar-nos em benefício do próximo. Quem ora, se aloja no Espírito que ondula em  nosso íntimo e do qual extraímos  algum dom até além do que pleiteamos. Ao orarmos pelos outros, colaboramos com a bênção que, também por nós, há de dignificá-los em sua vivência de fé com engajamento.

Ao pedir, partilhamos um ganho ou um sofrimento e sempre uma esperança na disposição de que a graça atuará para fecundar nosso ir e vir em relações solidárias. A oração– pedido – limiar de nosso encontro com Deus – inspira e move, interiormente, fazendo-nos  beneficiados do amor divino e discípulos da fé, na qual nos deixamos confirmar. Nesta oração, quem pede ganha, quem procura acha e quem bate, uma porta se lhe abre e um abraço o envolve. Nunca ela é em vão.

Na perspectiva da fé, a iniciativa cabe sempre a Deus. Nossa oração há de ser praticada como resposta à oferta divina. Tudo o que nos acontece há de ser avaliado a serviço de um desígnio divino, cuja amplidão e profundidade ignoramos no presente contexto histórico. No enredo de nosso viver, somos confrontados com a salvação que, na gratuidade, presenteia a graça. Em sua essência, nossa oração há de ser mais resposta que pedido, mais louvor que súplica.

Se orar é mergulhar dentro de si e ocupar-se com Deus a compenetrar tudo e todos, o fato de envolver outros em nossa oração há de servir como apoio, enriquecendo-os com a leveza da confiança e com o vigor de boa auto-estima, fortalecendo seu lidar positivo com problemas e desafios. Quem ora pelos outros, os ajuda - graças à fraternidade na fé - a concentrarem em si a força do Espírito que os habita e santifica, os ilumina e conduz, os sustenta e tranqüiliza na paz.

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Deus não aguarda que o informemos sobre tudo o que necessitamos. Ele só espera que, pedindo-lhe algo, nos façamos receptivos, dispondo-nos a acolher o que, de graça, nos é oferecido”.  (Sto Agostinho, Cartas XXX)

 Jildert