Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.

Convento do Carmo da Bela Vista, São Paulo. 21 de janeiro – 2018

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Nos últimos três dias estive no Convento do Carmo de Mogi das Cruzes, São Paulo. Lá, convivi com os confrades- Frei Gabriel, Frei Marcelo de Jesus, Frei Marcelo Aquino- e os noviços neo-professos.

Depois da caminhada de um ano, os quatro jovens professaram nas mãos do Prior Provincial, Frei Evaldo Xavier, O. Carm, os Votos Evangélicos de Pobreza, Castidade e Obediência. Óbvio que tudo foi regado a emoção, carinho e amor à Espiritualidade Carmelitana Mariana e Eliana.

Eu também tive a alegria de presenciar no dia de hoje, domingo, a entrada de 10 jovens noviços para iniciar a caminhada 2018. Na cerimônia de abertura o seu mestre formador, Frei Marcelo de Jesus, O. Carm e o Padre Provincial, entregaram uma cruz para cada jovem; “Como vocês veem, na cruz não tem o Cristo, significa que todos vocês devem estar em seu lugar cada dia do noviciado”, afirmou o Frei Marcelo de Jesus, O. Carm.

Estar na cruz crucificado no lugar de Cristo? Ave Maria!... Tudo parece muito bonito e espiritual, afinal eles- os noviços- após serem revestidos pelo hábito carmelita ficaram de fato parecendo uns “santinhos”. Bem... Acho que a mensagem do confrade vai muito além de uma frase piedosa.

Ficar na cruz no lugar de Cristo é poder passar pelas noites escuras do noviciado, afinal eles são humanos e não anjos, como tal, vão ter que enfrentar o lado... Digamos, menos espirituoso de cada um.   

Ficar na cruz no lugar de Cristo é perceber que a vida no Carmelo vai além de um pedaço de pena morrom ou do romantismo dos encontros vocacionais. Não, não...  A nossa marca é profundamente marcada pelas vezes proféticas ao longo dos 800 anos, pela amorosidade e contemplação inserida na realidade concreta vivenciada pelos nossos santos e santos.   

Ficar na cruz no lugar do Cristo é perceber que o caminho da perfeição se constrói com o “feijão” e com o “arroz” diário e não com os pés nas nuvens esquecendo a realidade atual do Brasil profundamente marcada pela violência, consumismo, fome e desemprego.  

Ficar na cruz no lugar de Cristo é deixar de lado toda visão Carmelitana vazia e descomprometida e entrar no espírito “Vacare Deo”, ou seja, esvaziar-se de tudo que impede o encontro com Deus e ver a realidade com os olhos da fé mesmo quando todos só conseguem olhar o caos nós, carmelitas, “Devemos ver o mundo com Deus no fundo”, como dizia o Beato e Jornalista, Frei Tito Brandsma.

Ficar na cruz no lugar de Cristo é ter a coragem de caminhar rumo ao Monte Carmelo atravessando os desertos da vida, muitas vezes marcado pela incompreensão dos irmãos de comunidade e do próprio formador e, na brisa suave de Elias-nosso Pai e Guia- recarregar as nossas baterias.

Ficar na cruz no lugar de Cristo é não ter medo de olhar no espelho e enxergar o lado humano e limitado. Afinal, o período do noviciado vai muito além de belas orações ou ritos, ele acontece nas relações diárias pautada pelas experiências “santas” e “pecadoras” de cada noviço.

Enfim, toda aproximação com o sagrado- Cristo Crucificado- nos transforma em pessoas mais humanas. Impossível sentirmos a sua presença e sermos arrogantes, prepotentes, mentirosos, vaidosos e descomprometidos com os pobres que padecem nos becos, vielas e favelas desse imenso Brasil.

Ao finalizar o nosso olhar sobre os “Santos” e “Imaculados” noviços de Mogi das Cruzes, São Paulo, podemos afirmar que O NOVICIADO É UMA ESCOLA DE HUMANIDADE. Uma Boa caminhada para todos vocês e lembre-se! Ser carmelita é ser apenas humano, o resto é pura fantasia.