Frei Egídio Palumbo O. Carm .
A forma mariana da "koinonia" fraterna
A "sororidade" ("irmanidade"): a presença de Maria como Irmã na fé. Significa esta presença sintonia de vida com Maria na virgindade como coração puro, coração indiviso, que adere totalmente a Deus ("Institutio", Bóstio). Sintonia que também se exprime pelo mesmo caminho de fé feito de escuta da Palavra, de oração, de silêncio, de humildade (Baconthorp).
Esta presença significa ainda familiaridade no relacionamento, no diálogo construtivo, inspirado na caridade ("Institutio", Bóstio, Teresa de Lisieux).
A ternura: a capacidade de amar o outro profundamente sem apoderar-se dele. Os autores carmelitas vêem em Maria esta virtude espiritual enquanto Maria é ícone do rosto maternal de Deus, da sua profunda misericórdia, que se inclina sobre o homem (cf. o ícone da Virgem que cobre os carmelitas com o seu manto).
Refletida na vida de fraternidade, a ternura se desdobra em solícita atenção para com as necessidades do outro, em sustento, cuidado e proteção em tudo o que favorece a qualidade da vida. Somente quem experimenta a ternura de Deus refletida em Maria é capaz de se identificar com as situações da vida.
A forma mariana da dimensão contemplativa da vida
A profecia: Maria soube aprofundar-se no mistério do Filho, compreendê-lo e anunciá-lo aos apóstolos e aos que tinham acreditado (Bóstio, Teresa de Lisieux e Isabel da Trindade); o seu anúncio é fruto da procura de Jesus "na noite escura da fé" (Teresa de Lisieux).
Maria conquistou a capacidade de contemplação porque se tornou morada da Trindade, seu "puríssimo espelho". A presença desta mulher contemplativa faz-nos sentir Deus mais próximo; circunda e transfigura a nossa existência de acordo com as grandezas do Amor Divino que vemos nela refletidas (Miguel de Santo Agostinho), como pureza do coração, adesão total a Deus (Bóstio, Miguel de Santo Agostinho, Isabel da Trindade).
A fecundidade espiritual: quem se deixa habitar pela presença de Deus-Trindade, como Maria, adquire a capacidade de gerar Cristo na história dos homens (Tito Brandsma). Esta é a finalidade da nossa caminhada de fé junto com Maria.
A forma mariana da "diakonia" no meio do povo
A companhia na fé: a tradição do Carmelo vê Maria como uma mulher simples e humilde, capaz de caminhar com os homens e as mulheres de todos os tempos, mas de modo especial com os pobres: "Os pobres e os humildes são tão numerosos nesta terra, mas podem sem medo erguer os olhos para Ti. Tu és a Mãe Incomparável que vais com eles pelas estradas de todos" (Teresa de Lisieux).
Na luz do mistério de Maria, estar em companhia junto com os últimos significa identificar-se com os problemas do povo, com as suas angústias e exílios existenciais (Teresa de Lisieux: "Tu, ó Mãe, conheces todos os rigores do exílio")
A humanização do mundo: impressiona ver com quanta insistência as antigas lendas da Ordem salientam a atitude de proteção, de carinho, que Maria reserva à humanidade. Pergunto-me se esta insistência não está manifestando a consciência do Carmelo de querer edificar uma Igreja e construir um mundo mais de acordo com as medidas do homem? Não uma Igreja trancada no juridicismo rude dos "princípios", mas aberta e compassiva: como Maria. Não um mundo desligado e indiferente, e sim mais atento, que se identifique mais com os problemas da humanidade: como Maria.
A presença de Maria dá assim uma orientação mais humanizante à nossa "diakonia" apostólica (Edith Stein), porque tem em vista a conversão integral do homem para os valores que trazem dignidade à existência: solidariedade, mansidão, alegria simplicidade, paz, etc.
*0 CARMELO A SERVIÇO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO: Carisma, Espiritualidade e Missão - apontamentos. - Fraternità Carmelitana- Pozzo di Gotto - 1993. Tradução, Frei Pedro Caxito O. Carm. In Memoriam ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 )