Dom Frei Francisco de Sales, O. Carm.
A vocação: a experiência do Deus Vivo.
Toda experiência vocacional tem sua origem e princípio em um movimento amoroso plantado por Deus no coração humano que se transforma numa inquietação gerada pela consciência da presença daquele que vive e age na vida e na história das pessoas, impelindo-as a uma resposta generosa que envolve a construção de um ideal. Os primeiros Carmelitas viveram esta experiência quando, mergulhados num contexto um tanto ‘medíocre’ de vivência da fé, buscaram dar vazão a um desejo incontido de radicalidade, e se fizeram peregrinos do absoluto, tentando dar sentido à vida através da incessante busca da face do Deus vivo. Movidos por este desejo de fidelidade radical ao evangelho, eles peregrinaram para a Terra Santa, com o intuito de lá encontrarem o Senhor da terra, descobrirem os seus caminhos, trilharem suas veredas (Sl.24,4), construindo assim o sentido de plenitude para suas vidas dispersas.
O movimento que eles integraram, chamado Peregrinatio Ierosolimitana, tinha como foco principal a busca de um contato quase físico com as fontes mais genuínas da fé, simbolizadas nos lugares marcados pelos feitos e acontecimentos narrados nas Escrituras Sagradas, especialmente aqueles da vida de Jesus. Nestes espaços, eles descobrem a face do Deus vivo e encontram a razão para a inquietação que os movia num processo de êxodo e transformação, cuja meta era a conformação com Cristo na sua vida, paixão, morte e ressurreição. “A terra de Jesus é o espaço que acolhe a epifania do único Deus, o Pai, revelado e manifestado no Filho Salvador, pela potência do Espírito Santo” (Carlo Cicconetti, in Simboli Carmelitani, p. 73).
O Monte Carmelo foi o espaço referencial para o qual os primeiros carmelitas se sentiram convocados a fazer a experiência de encontro com o Deus vivo. É uma realidade carregada de simbolismo e significados, com o poder de revelar a natureza da dinâmica do propósito de vida por eles abraçado e de conferir ao grupo uma identidade: O Monte é um jardim onde a vida é exuberante, memorial do jardim primaveril, no qual o ser humano, moldado à imagem e semelhança do Criador, goza de sua familiaridade;
É o lugar no qual, a beleza, com seus matizes e cores, revela-se como via para a redenção do ser humano, feito íntegro para a experiência do belo; É solo profético, marcado pela presença e ação do Profeta Elias, ícone do homem apaixonado por Deus, que vive em sua presença e se deixa consumir de zelo pela causa do Senhor e que se transforma em modelo e guia para a vida de santidade que eles buscavam viver; É um memorial do caminho de ascensão para Deus, símbolo da longa jornada empreendida pelo peregrino até à íntima união com o Senhor.
*Congresso da ALACAR