*CARMELITAS: Contemplação, deserto e Eucaristia

Uma das características da espiritualidade carmelitana consiste na consideração da vida espiritual como algo que cresce e se desenvolve. Tomando como modelo a vida do Profeta (Elias) nos oferece ainda uma outra lição muito importante.

Como a vida natural, a vida espiritual tem necessidade de receber nutrição. A Sagrada Escritura nos diz que Elias, com a força do místico alimento que o anjo lhe levou, caminhou qua­renta dias e quarenta noites até o Monte Horeb (1Reis 19,8), onde pôde ver a Deus. A nossa vida espiritual e a nossa vida mística têm também a necessidade do alimento santo o qual Deus nos oferece no sacramento do altar.

Na escola do Carmelo, a vida místico-contemplativa é fruto da vivência eucarística. Para tal vivência da Eucaristia, fonte da nossa vida de oração, a vida de Elias nos oferece um ex­traordinário exemplo. O pão milagroso que Elias recebeu é uma perfeita imagem do alimento eucarístico, na força do qual ca­minhamos pelas sendas da vida.

O culto especial ao Santíssimo Sacramento não é pro­priedade do Carmelo, porém podemos afirmar que constituiu sempre uma parte relevante da tradição carmelitana. Os nossos conventos, em muitas oportunidades, foram verdadeiros centros de culto eucarístico. Santa Maria Madalena de Pazzi foi atraída ao Carmelo de Florença pelo fato de as monjas terem a licença para receber diariamente a comunhão, hábito não comum em seu tempo. Santa Teresa não conhecia maior alegria do que aquela de abrir uma capela ou igreja onde o Senhor pudesse habitar. A Regra prescreve que todos os membros da comunidade carmeli­tana participem diariamente do santo sacrifício na capela colo­cada ao centro do convento, acessível facilmente, e que as Horas Canônicas sejam recitadas diante do Santíssimo Sacramento.

Enquanto Ordem Mendicante, as igrejas e os conventos do Carmelo são simples e sóbrios na sua arquitetura mas, a or­namentação das igrejas e dos altares não sofre prescrição alguma de pobreza. Isto faz muita diferença entre as Ordens Mendicantes, como por exemplo aquela dos Capuchinhos, na qual a regra da pobreza se estende também ao santuário.

Esta é uma breve síntese da tradição eucarística do Carmelo; caminhamos com Elias na força daquele pão divino e porque desejamos chegar a viver em Deus na oração, devemos recordar o mandamento do Senhor: “Aquele que não comer a carne do Filho do homem e não beber o seu sangue, não terá a vida” (Jo 6,53). Como a comunhão de Elias no pão miraculoso do deserto o guiou no caminho até à contemplação de Deus no Horeb, assim a Eucaristia deve levar-nos à contemplação da face divina. Nas cavernas do Horeb Deus falou ao Profeta na voz de um brisa leve e suave. O Senhor não estava no turbilhão e nem mesmo no terremoto, mas no murmúrio suave (1 Reis 19,12). Após a comunhão também devemos contemplar sob as espécies eucarísticas, na profundidade do nosso espírito, Deus que está passando....

*Fonte: do livro A beleza do Carmo, cap. I.