Dom Frei Wilmar Santin, O. Carm. Bispo da Prelazia de Itaituba-PA.
O martírio também fez parte do dia-a-dia da vida dos carmelitas nas missões amazônicas. É verdade que não foram muitos, mas aconteceram. Não há em geral notícias detalhadas, mas há a informação do martírio.
Frei Francisco de Santo Anastácio
Deve ter sido o primeiro mártir carmelita. Não temos a data nem sequer o ano, mas foi antes da viagem de Frei Vitoriano Pimentel realizada em 1702, visto que este se refere duas vezes ao martírio de Frei Francisco de Santo Anastázio em seu relatório. Informa que o provincial Frei José de Lima “mandou para os Solimões por Missionários a Frei João Guilherme, e a Frei Francisco de Santo Anastázio, e matando o gentio tiranamente a este seu Missionário”. Na segunda menção precisa que o martírio foi na aldeia de Manutá[1].
Frei Francisco Xavier
Deste mártir só temos uma pequena informação: “En 1701, otro fraile, Francisco Javier, fue asesinado por los indios coxigueras en las islas de Solimões”[2].
Frei Matias de São Boaventura Diniz
Frei Matias foi martirizado em 1728. Assim nos conta o Barão de Marajó:
“Quando missionava uma aldêa de indios CAYUVICENAS, junto á foz do MATURÁ, affluente da margem esquerda do Solimões, entre MATURÁ e TONANTINS, no atual municipio de S. PAULO DE OLIVENÇA, ditos indios trucidaram a Fr. Mathias”[3].
Frei Raimundo de Santo Eliseu Barbosa
Foi martirizado em Moreira no dia 24 de setembro de 1754[4]. Mas deste martírio Baena nos dá alguns detalhes sobre como aconteceu e o motivo.
Participa do Rio Negro o Major Felgueiras aõ Governador um disforme motim dos Indianos da parte superior deste rio; os quaes conduzidos como uma alluviaõ pelo seu agitador o Indiano Domingos da Aldea de Dary descêraõ o rio, entráraõ talando armados a Aldea de Caboquena trucidaraõ o Missionario Carmelita Frei Raimundo de Santo Elyseu, e o proprio Principal Caboquena, e mais individuos, e abrazáraõ de todo a Igreja; d´aqui subiraõ para a Aldea dos Manáos, roubarão os sagrados vasos, reduziraõ a pequenas partes as Sagradas Imagens e o Sacrario, e incineraraõ a Igreja e a Povoação ... e tudo para fazer vingança de haver tolhido o Missionario ja citado o concubinato aõ sobredito Domingos concussor das tres Aldeias referidas”[5].
Frei Antônio de Andrade
Foi trucidado numa aldeia às margens do lago de Cupacá, em 1720[6]. Sobre o o episódio eis o que escreve Francisco X. R. Sampaio:
Diario de Viagem § XLIX. “Na parte oriental do lago Cupacá e proximamente à barra esteve em outro tempo huma povoação, composta da nações Achouari e Juma. O espírito de rebelião, proprio na incostancia natural dos índios, moveo a estes ultimos ao sacrilego attentado de matarem a seu missionario Fr. Antonio de Andrade, religioso Carmelita. Governava este Estado o Illmo. e Exmo. Bernardo Pereira de Berredo, (tão famoso pela elegante obra dos seus annaes historicos). Mandou este general castigar os índios júmas, e se extinguiu aquella aldeia[7].
*AS MISSÕES CARMELITAS NA AMAZÔNIA. Dissertação de Mestrado em História Eclesiástica.
[1] PIMENTEL, Relação da Jornada, em CARVALHO, Presença e permanência da Ordem, 182 e 185.
[2] SMET, Los Carmelitas, 26.
[3] BARÃO DE MARAJÓ, As regiões amazonicas, Lisboa 1895, 85. Citado por PRAT, Notas históricas, 292.
[4] Cf. PRAT, Notas históricas, 278.
[5] BAENA, Compêndio das Eras, 168.
[6] Cf. PRAT, Notas históricas, 291; REIS, História do Amazonas, 83.
[7] PRAT, Notas históricas, 252.