Frei Henrique Esteve, 0. Carm.
1- MEIO DE VIDA INTERIOR E SINAL DE CONSAGRAÇÃO AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA
Há sete séculos, quando a Ordem Carmelitana atravessava um perigo muito grave, apareceu a Virgem Santíssima ao Geral, São Simão Stock e lhe entregou o S. Escapulário, dizendo: “Este será para ti e todos os Carmelitas o privilégio; quem morrer vestido com ele não sofrerá o fogo eterno”.
Tal foi a origem da devoção do Escapulário, que mais tarde se desenvolveu com o “Privilégio Sabatino”, tornando-se, a par da devoção do S. Rosário, uma forma universal da devoção mariana.
Para ser aceita e universalmente compreendida, a devoção não podia deixar de ter o seu fundamento próprio. De acordo com o pensamento do “Motu Proprio Sacrorum Antistitum” de Pio X (1910) sobre a origem histórica das devoções privadas, como p. e. o Sagrado Coração de Jesus, todas elas conservam o seu valor relativo, dependente dos diversos elementos que podem ser considerados sob a luz de uma crítica, que exclua qualquer dúvida prudente. Mas quanto a seu aspecto doutrinal tem valor mais absoluto em virtude da sua conexão com a prática da religião, enquanto se podem resguardar a fé e os costumes: coisas essas que estão confiadas pela Vontade divina ao Magistério da Igreja.
Ocorrendo o 7º Centenário da entrega do S. Escapulário, é oportuno evidenciar o seu valor interno afim de que os fiéis possam melhor conhecer o seu alcance e com maior fruto aproveitar das graças anexas a esta devoção e conseguir assim a ajuda eficaz na obra da própria salvação e um motivo seguro para agradecer e glorificar a sua celeste doadora.
2 – ESTRUTURA DA DEVOÇÃO DO S. ESCAPULÁRIO
Antes de qualquer outro assunto, tratemos da estrutura em que repousa a devoção do S. Escapulário. Tem ela um objeto material. É aquilo que cai diretamente sob os nossos sentidos, i. é. o Escapulário, que deve se usado constantemente até à morte, como parte principal do hábito carmelitano. Na sua forma reduzida (o bentinho) para o uso cômodo dos fiéis, vem este constituir uma agregação à Ordem mediante a imposição litúrgica que dele se faz.
Esta parcela do hábito carmelitano (digno de todo o respeito por ser o hábito da Ordem por excelência) considerada em si mesma, como simples pedacinho de lã bem pouca coisa significa. No entretanto, pela devoção que ele rememora, o seu significado é bem mais profundo, por isso que constitui a sua verdadeira natureza: por parte do homem que o veste, é uma perfeita consagração a Maria Santíssima de modo permanente, total e filial; por parte da Mãe de Deus indica proteção que se concretiza nas duas grandes promessas feitas por Nossa Senhora a quem usasse devotamente o S. Escapulário: a perseverança final e a liberação do Purgatório, especialmente no primeiro Sábado depois da morte.
Podemos, portanto afirmar, que o Escapulário é o hábito de uma Ordem eminentemente mariana e que evoca de um modo concreto pelas promessas que encerra, as prerrogativas da verdadeira devoção a Nossa Senhora.
Universalmente reconhecido como símbolo e meio de consagração, é o Escapulário do Carmo um sinal de aliança pelo qual Maria Santíssima, unindo-nos a Si, nos tem como filhos e irmãos, assegurando-nos a Sua maternal proteção em troca da nossa fidelidade ao Seu amor de predileção.
3 – ORIGEM CANÔNICA DA DEVOÇÃO
Após estas explicações gerais, apliquemo-nos a estudar algumas questões de ordem particular. Na origem canônica do Escapulário, na sua forma reduzida para o fácil uso dos fiéis, encontramos o próprio hábito da Ordem, do qual o Escapulário é parte principal e um como distintivo. Daqui se conclui, que o primeiro efeito da devoção e o fundamento dos seu privilégios consiste numa incorporação ou agregação à Ordem; incorporação essa que pode admitir vários graus mais ou menos íntimos, para usufruir os seus valores e bens espirituais.
Esta doutrina, aliás tem muita afinidade com o Corpo Místico de Cristo na sua Igreja. As Ordens religiosas nesse Corpo Místico representam vivamente o espírito de santidade expresso nos três conselhos evangélicos, pobreza, castidade e obediência, que encarna o ideal da perfeição pela profissão religiosa. Por isso, os que emitem os votos religiosos exercem a sua influência nos membros da Igreja com o holocausto da vida, plenificando segundo a doutrina de São Paulo, aquilo que faltava à Paixão de Cristo. Finalmente, a união da caridade e da graça, que participamos como fruto da Comunhão dos Santos especialmente quando estamos em graça, participamo-la muito mais largamente entre os religiosos e os fiéis.
Esta mística concepção encontramo-la também na devoção do Escapulário e a teremos certamente na mais alta consideração, quando teológicamente esclarecemos o seu verdadeiro e pleno sentido. O que melhor se compreenderá, quando compreendermos o Escapulário no seu verdadeiro espírito, i. é. no ideal da vida religiosa do Carmelo, da qual ele é a mais viva e palpitante expressão.
4 – VALOR RELIGIOSO: ESPIRITUALIDADE EM GERAL
O valor religioso do Escapulário deriva da sua íntima conexão com a vida da Ordem: a sua espiritualidade é idêntica à da Ordem, da qual ele é expressiva insígnia. Tenhamos, portanto, presente o seu significado ou simbolismo para bem o compreendermos.
Quanto ao seu valor, como tantos outros ritos da Igreja, depende da matéria, mas não está na matéria, por ser ele de ordem eminentemente espiritual; para bem compreendê-lo, devemos colocá-lo (de maneira secundária e subordinada naturalmente) dentro do plano da economia da Redenção. Assim como esta depende do mistério da Encarnação, pelo qual a Igreja incorporada em Cristo e continuadora da Sua obra redentora tornou-se um SACRAMENTO de salvação, assim também o Escapulário se tornou na Igreja dependente dela um sinal de salvação.
O hábito religioso de fato em última análise não significa outra coisa do que o voto de um cristão que, se consagrando a Deus, se despojou do velho homem e se revestiu do novo, criado à semelhança de Deus. Desta maneira como que renovando o batismo, vem participar daquele caráter sacramental, para que seja apreciado em toda a sua plenitude: o que aliás não implica senão no desejo de conservar a Redenção como veste de inocência, de imortalidade e de glória, veste essa despojada por causa do pecado.
Neste sentido o Escapulário significa, - mais ainda, estabelece – um estado religioso, e pelo mistério da Igreja traz uma certa dignidade, pela qual todas as ações chegam a possuir um novo valor moral.
5 – ÍNDOLE MARIANA E IMPORTÂNCIA PRÁTICA
Além deste valor religioso em geral, o Escapulário possui uma índole particularmente mariana, que o destaca entre todos os outros hábitos e o seu ideal consiste nesse valor. Estes dois motivos, valor religioso e mariano, não se excluem, mas antes se completam íntima e mutuamente. Realmente, a devoção mariana completa a devoção religiosa cristã, do mesmo modo como a Virgem Santíssima associada a Cristo completou a sua obra salvadora.
A índole mariana do Escapulário provém da índole mariana da Ordem. O CARMELO É DE FATO TODO MARIANO. Trazendo ele na sua origem o espírito do Patriarca e Profeta Elias, espírito que é a contemplação divina através da pureza do coração até o perfeito amor de Deus e do próximo, foi ele fundado entre as demais Ordens que se desenvolve na Igreja, para ter a sua própria razão de existir na glorificação e no culto do amor de Deus. Razão esta porque desde a mais remota antigüidade é conhecida como a ORDEM DOS IRMÃOS DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO, e nisto repousa toda a glória, toda a confiança da Ordem.
Tal como a Ordem, é o habito carmelitano todo mariano. Por sua própria natureza o Escapulário se tornou o símbolo e meio de devoção a Nossa Senhora. E dizendo DEVOÇÃO, não nos referimos a UMA DEVOÇÃO QUALQUER, mas queremos entender aquela verdadeira e perfeita devoção devida a Maria, a mais possivelmente unida à que se deve a Deus. Da mesma maneira que a vida da Ordem é toda consagrada ao serviço de Nossa Senhora, aquele que por imposição do hábito se associou à Ordem deve ter a intenção de consagrar-se totalmente a Maria e por intermédio d’Ela a Deus.
E na verdade, é tão íntima a conexão que existe entre os caráteres da devoção mariana e a do Escapulário, que este logicamente se apresenta como um símbolo típico daquela. Por ser Maria Santíssima Mãe de Deus e nossa Mãe espiritual associada ao Redentor, a Igreja lhe dedica um culto especial, culto que está entre o que devemos aos Santos e o que devemos a Deus. É o culto de HIPERDULIA. Na prática, este culto é expresso pela consagração, que é a oferta permanente, total íntima e filial de nós mesmos a Maria.
Nenhum objeto de piedade simboliza tão perfeitamente esta propriedade da verdadeira devoção mariana como o Santo Escapulário, que é a veste de Maria. Realmente, uma veste sagrada, que toca intimamente a pessoa, designa de maneira muito mais perfeita aquele caráter íntimo da consagração mariana, do que p. e. uma imagem, um distintivo uma medalha ou uma libré, que tocam a pessoa de modo menos íntimo.
Mas o Escapulário, em virtude ainda de sua história que o interpretou desde a antigüidade como meio universal da íntima devoção mariana, constitui ainda um admirável instrumento de particular proteção da parte da Santíssima Virgem por esta razão o distintivo, que nos recorda a nossa consagração a Maria.
Daí se evidencia a sua importância: a consagração, de fato, não consta somente de uma fórmula, mas consiste naquela convicção íntima de pertencer permanentemente a Maria Santíssima e de depender totalmente d’Ela. Isto se simboliza de uma maneira perfeita pelo S. Escapulário que, continuamente usado sobre a própria pessoa, é figura do jugo suave e leve de Cristo, é como um escuto em todos os perigos e sobretudo na hora da morte. O Escapulário, de fato, nos recorda continuamente Maria, alimenta a convicção íntima de sermos propriedade d’Ela, lembrando-nos a aliança contraída com Ela pela qual nos sentimos sob a Sua proteção.
6 – O ESCAPULÁRIO E O VALOR DA DEVOÇÃO MARIANA
O Escapulário fomenta tanto mais esta consagração mariana, porquanto mostra a todos du’a maneira concreta e patente, por meio de grandes promessas de Maria Santíssima, o valor imanente da Sua devoção. Com efeito, estas promessas, falando doutrinariamente, não são outra coisa senão a aplicação prática do famoso princípio: NENHUM DEVOTO DE MARIA SE PERDERÁ ETERNAMENTE, ou daquele outro princípio: A DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA É SINAL DE PREDESTINAÇÃO.
Certamente por mostrar de modo concreto este valor, é que o S. Escapulário excita a máxima confiança na Santíssima Virgem, de quem é próprio velar com solicitude especial pelos Seus devotos. Ela é tão poderosa, que todo aqueles que estão sob o Seu patrocínio, podem ter esperança firmíssima e ilimitada de obter a salvação eterna.
É verdade, que a esperança teológica não exclui o temor resultante da fragilidade humana. No entanto, este temor é abundantemente recompensado pela consideração do motivo sobrenatural da salvação que é, em nosso caso o poder, a misericórdia e a fidelidade da Bem-aventurada Virgem.
Daí a devoção do S. Escapulário supõe aquela singularíssima dignidade de Maria, pela qual Ela é colocada acima de todas as coisas criadas, tendo-as todas debaixo de Si, na atual ordem de salvação. Considerando devidamente esta Sua dignidade de Mãe de Deus, não é de se admirar, que à devoção do Escapulário por Ela entregue estejam anexas tão grandes e divina promessas, já que as mesmas logicamente promanam desta devoção. O contrário seria antes de se estranhar, pois pelo Escapulário de fato nos unimos tão intimamente a Nossa Senhora, que Ela vem a ser a nossa única Patrona e Senhora, Mãe e Rainha, e finalmente ainda a nossa irmã, como é chamada constantemente na tradição carmelitana.
Assim integrados nesta Família de Maria e colocados debaixo da Sua proteção, pouco nos importa que este privilégio tenha sido obtido e divulgado por S. Simão Stock, que dirigiu à Nossa Senhora a conhecida súplica FLOR DO CARMELO..., mas o que muito importa, é que revestidos desta veste mariana até à morte, procuremos continuamente preservar no Seu santo serviço.
7 – VALOR CRISTÃO DO ESCAPULÁRIO: SUA SIMPLICIDADE E PROFUNDEZA
De outro lado, é digno de menção como o S. Escapulário, consagrando-nos à Bem-aventurada Virgem nos conduz como que pela mão à própria essência do Cristianismo, de tal maneira que também relativamente ao Escapulário se pode dizer: AD JESUM PER MARIAM.
Embora esta devoção em si mesma seja sobremodo simples, todavia, sob esta simplicidade, que considerada superficialmente pode parecer desprezível à primeira vista, se esconde uma certa profundeza maravilhosa, pelo fato que a uma tão simples estejam ligados tão grandes valores espirituais: esta simplicidade vem a ser precisamente um critério de sobrenaturalidade.
Em primeiro lugar, o Escapulário favorecendo muitíssimo a esperança na vida eterna, apoiando-se nas promessas de Maria, imprime de fato à nossa existência uma direção profundamente cristã. E é isto o que realmente constitui a essência do Cristianismo: O Evangelho ou a boa nova da salvação por meio de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que vencendo a morte nos abriu as portas da eternidade. Por isso, em união com a fé e a caridade deve ser alimentada também a esperança pela qual seremos salvos: para que prelibando a felicidade do futuro reino celeste, vivamos para Deus em Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Outra coisa que se deve notar em relação ao Escapulário, é a gratuidade da salvação, que se afirma por meio do Escapulário. Com efeito, atribuindo-a antes de tudo ao patrocínio de Maria, se ressalta o caráter fundamental do Cristianismo, enquanto este Cristianismo é antes religião de amor e de graça do que de estrita justiça. Não que o Escapulário exclua as boas obras ou os méritos, para cuja aquisição antes ele impulsiona com as obrigações que impõe; mas porque de modo particular inculca a necessidade de graça, que cura e eleva a natureza ferida pelo pecado original, desde o primeiro instante da nossa elevação até ao seu remate com o inefável dom da perseverança final.
Daí que esta devoção, enquanto nos mostra a bondade de Deus e de Sua Santíssima Mãe para conosco, alimentando uma esperança solidíssima, nos mostra igualmente também a nossa fraqueza e defectibilidade, favorecendo assim a nossa humildade. Considerada assim a devoção do S. Escapulário na sua essência, pode-se chamá-la com toda razão: a devoção da esperança e da humanidade. Por isso se explica a sua grade influência na salvação das almas. De fato desde que a predestinação depende da perseverança final que, segundo a lei ordinária de Deus, se concede somente em virtude da oração perseverante, humilde e confiante. Parece claro como o Escapulário, que até à morte trazemos sobre nós, favorecendo os sentimentos de compunção e confiança na intercessão de Maria nossa Mãe, nos ajuda finalmente a alcançar este mesmo dom, como se o obtêm pela oração constante.
De resto não compreenderia o sentido pleno da devoção e das promessas do Escapulário, quem olvidasse a sua eficácia salvadora. Associando-nos de fato pela consagração à vida da Bem-aventurada Virgem, ele nos admoesta continuamente a imitá-la na Sua imaculada pureza, pela qual foi predestinada “ab aeterno” para dar Deus ao mundo e reconduzir o mundo a Deus. Por isso, pelo escapulário vivemos com Maria, em Maria e por Maria.
8 – O ESPÍRITO CATÓLICO DO ESCAPULÁRIO: SUA UNIVERSALIDADE NA IGREJA
Não é, pois, de admirar-se que o Escapulário do Carmo juntamente com o Rosário se tenha tornado em quase toda parte uma forma universal da piedade mariana. Assim como realmente o Rosário ofereceu a forma ideal a consagração, que lhe é devida.
Esta universalidade é atestada pela história. Basta qualquer exemplo, já que esta verdade por si é evidente. Em 1953 José Falcone, de Piacenza, escrevia na sua “Crônica Carmelitana”: “Hoje em dia a Espanha floresce; ali não se vê casa onde não se encontre usado o hábito do Carmo para gozarem as infinitas indulgências carmelitanas... Não parece a Espanha juntamente com Portugal um grande convento carmelitano? Todos querem estar cobertos com esta arma desejada, que os torna intrépidos nas doenças corporais e espirituais. Em toda a Espanha há conventos carmelitanos e inúmeras associações carmelitanas. Na Itália e especialmente na Sicília, no Reino de Napoles e na Lombárdia vêem-se inúmeros confrades assíduos e de mui grande devoção. Em Piacenza, somente no nosso catálogo os confrades passam de 10.000 entre homens e mulheres, seculares e frades de outras Ordens, padres seculares e monges regulares de diversas Ordens. A Alemanha, alta e baixa, conta um número incalculável de confrades, mas muitos foram malogrados por danados hereges. A França se destaca na religião; mas oprimida e agravada vem hoje sendo trabalhada pelos inimigos sacramentários.”
Assim também em época menos remota escreve o Padre Dominicano Petitot, aludindo â última aparição de N. Snra. em Lourdes, realizada em 16 de Julho de 1858: “Antes de se iniciarem as peregrinações a Lourdes, não houve em toda a Cristandade título mais em evidência do que o de NOSSA SENHORA DO MONTE CARMELO. Na época de Bernadete em todas as famílias cristãs a maior parte das crianças levava o Escapulário sobre o peito.” (Les apparitions de Notre Dame à Bernadete, Paris 1934, pg. 93).
A devoção do Escapulário começou a propagar-se especialmente no fim do século XVI, no tempo da contra-reforma, quando esta devoção era apresentada como sinal do verdadeiro espírito católico contra hereges e fautores das heresias. Naquele tempo os protestantes e jansenistas, juntamente com numerosos sábios, sob o pretexto de exaltar a devoção a Cristo, combatiam o culto mariano na Igreja, não sem grande dano paras almas. Em tais condições foi o Escapulário conservado por quase todos como meio e manifestação concreta da devoção mariana na Igreja, do mesmo modo que pouco depois a devoção ao Sagrado Coração de Jesus parecia quase encarnar o culto a Nosso Senhor.
Sem mais a devoção do Escapulário exprimia otimamente a doutrina da Igreja acerca de Nossa Senhora e o culto que lhe é devido. De modo particular, esta devoção patenteava praticamente a Sua mediação universal, sobre a qual se apoia a nossa consagração. Realmente, as duas promessas do Escapulário para a hora da morte e depois no purgatório, não são outra coisa senão uma esplêndida aplicação desta mediação universal: por aumentar a fé, na qual não pouco influi a nossa devoção.
9 – A DEVOÇÃO DO ESCAPULÁRIO NA SÉ APOSTÓLICA
Esta universalidade é especialmente confirmada pelos testemunhos da Santa Sé. Este fato se deve ressaltar tanto mais, porquanto, como narra Guilherme de Sanvico na sua “Cronaca”, escrita mais ou menos em 1291, já a própria Virgem Maria comunicou (a S. Simão Stock), que os irmão voltassem sem receio ao Sumo Pontífice Inocêncio IV, porque dele receberiam um salutar remédio “ (Anal. O. Carm. III, 311).
10 – O ESCAPULÁRIO E A RESTAURAÇÃO DO ESPÍRITO CRISTÃO
Sendo assim, parece que a devoção do Escapulário é muito apropriada para favorecer o espírito cristão, como de fato o tem favorecido em tempos passados. É evidente de quão grande importância é a devoção a N. Snra. na vida da Igreja. Basta para isso rememorar os fatos históricos do Catolicismo, fatos de maior ou menor esplendor em proporção com a maior ou menor devoção à Mãe de Deus. E pela natureza das coisas nem poderia ser de outro modo.
Com efeito juntamente com o S. Rosário nenhuma outra forma de devoção mariana se apresenta tão perfeita como aquela do S. Escapulário. Daí resulta que esta devoção se presta não pouco para a restauração do espírito cristão.
A sua antigüidade já consagrou o seu valor simbólico e a sua grande simplicidade assegura a sua universalidade. Com toda a certeza, a devoção do Escapulário é tal, que não prejudica a nenhuma outra devoção, dando, porém, à vida uma orientação geral mariana, faz com que as outras devoções sejam abraçadas com mais intenso fervor.
CONCLUSÃO
De modo especial, pois, parece o Escapulário do Carmo responder na prática à necessidade presente de exprimir, isto é, por um sinal certo e permanente, a já realizada consagração do gênero humano ao Imaculado Coração de Maria, afim de que, tendo sempre presente tal consagração, a Virgem seja verdadeiramente para nós aquela Estrela do mar que através das borrascas desta vida, nos leve finalmente com segurança àquele porto da eterna salvação, para o qual tendemos.