Frei Antônio Corniatti, OFMConv, de São Bernardo do Campo, São Paulo.

(As reflexões sobre a misericórdia são tiradas de um artigo de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009) Com adaptação de Frei Antônio Corniatti, OFMConv)

Dia 31 de Julho (Terça-feira)

2ª Reflexão (manhã): A) Misericórdia como o Amor de Deus Uno e Trino, revelado em Jesus Cristo

Textos:

"Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Misericórdia, o Deus de toda consolação" (2Cor 1,3).

"Deus que é rico em misericórdia é aquele que Jesus Cristo nos revelou como Pai" (Ef 2,40).

"E nós temos reconhecido o amor de Deus por nós, e nele cremos. Deus é amor: aquele que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele" (1Jo 4,16)

Deus é Amor (1Jo 4,16). Misericórdia é Amor que é o próprio Deus, tornando-se visível, desvelando-se em Jesus Cristo. Jesus Cristo é, pois, a revelação do que é e como é o amor de Deus.

Por isso, se quisermos realmente compreender quem é e como é Deus que é Amor, e o que é e como é o Amor que é Deus, devemos ouvir, acolher, seguir a Jesus Cristo, sim pensar, sentir, agir e ser como Jesus Cristo. Por isso, Ele é "caminho, verdade e vida" (Jo 14,6-7).

Na medida em que nesse Seguimento de Jesus Cristo, imitando a sua forma de vida, nos tornamos existência "cristiforme", começamos a compreender que a Misericórdia tem a sua origem e fonte na fornalha de Amor do Mistério da Santíssima Trindade. Como, na fornalha, sentimos e vemos o fogo, a sua chama, saindo e irradiando brilho e calor, sentimos e "vemos" através das chamas, do seu brilho e calor, a sua origem, a sua fonte insondável, sentimos e "vemos" como deve ser a intensidade, força e veemência da profundidade oculta da fornalha.

Jesus Cristo é brilho e calor, o esplendor que sai da fornalha do Amor de Deus, é o vir de encontro do fogo do Amor divino em nós. Esse Amor de Deus que vem ao nosso encontro, em e como Jesus Cristo, é Misericórdia. Mas, Misericórdia nos conduz, nos faz "sentir e ver" o que é e como é o Amor de Deus nele mesmo, na sua intimidade a mais íntima, na sua ternura a mais terna, na sua abissal imensidão, profundidade da bondade, benignidade e generosidade (Cf. Ef 3,14-19; Rm 11,33-36), no arcano insondável do "amor entranhado" que é a Santíssima Trindade, o interior, o âmago do Deus de Amor (Cf. São João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Vita Consecrata, cap.I).

Assim, Jesus Cristo é a manifestação visível da Bondade e Benignidade da Santíssima Trindade. No mistério da sua intimidade com o Pai, na comunhão com o Espírito Santo, através da sua humanidade, no seu próprio ser, na sua própria existência na carne mortal, pelas palavras e obras, pelos ensinamentos e exemplos, pelo testemunho corpo a corpo da absoluta e incondicional doação aos homens na oblação da cruz, nos revela como é esse amor entranhado que é o âmago do abismo do Mistério da Santíssima Trindade, quando Ele se derrama sobre nós em e como Jesus Cristo, seu Filho.

Esse Amor de Deus Uno e Trino, a bondade difusiva de si, isto é, "a Caridade é paciente, a Caridade é benigna, não é invejosa; a Caridade não é orgulhosa, não se ensoberbece; não é descortês, não é interesseira, não se irrita, não guarda rancor; não se alegra com a injustiça, mas se compraz com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo tolera" (1Cor 13, 4-7).

O amor de Deus Uno e Trino, assim "voltado para fora", assim tornado visível e assim se doando à humanidade, nos criou, se nos deu no seu próprio Filho Jesus Cristo, se entregando a nós de uma forma tão absoluta e incondicional, sim apaixonadamente, até a morte na Cruz. O Amor do Deus Uno e Trino, assim "externado", isto é, fora de si pelo Amor, assumiu em Jesus Cristo Crucificado todas as nossas culpas, se condenou, se culpou em nosso lugar, nos desculpando, para assim nos resgatar, e nos reconduzir à salvação, à realidade originária, nos fazendo renascer a cada um de nós como seu próprio filho, cada vez como filho único, singular em Jesus Cristo.

Esse amor entranhado do Deus Uno e Trino, revelado em e como Jesus Cristo é Deus da Misericórdia, a Misericórdia, origem e fim do sentido da vida dos Frades da Ordem Carmelita.

Para refletir

 1-No que chamo de minha vida, que lugar ocupa Jesus Cristo? [Não é para dar testemunho. É para ver o que é existencialmente Jesus para mim]

 2-Como entender o relacionamento íntimo, pessoal, com o Deus de Jesus Cristo como boa nova?

 *CARMELITAS: RETIRO ESPIRITUAL ANUAL.

Data: 30 e 31 de Julho e 01 a 03 de Agosto de 2018. Início, 30 à noite. Término, 03 ao meio-dia.

Local: Casa São José - Belo Horizonte - MG

Assessoria: Frei Antônio Corniatti, OFMConv

Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço

Objetivo: Refletir a partir da misericórdia e suas implicações no dia-a-dia da vida consagrada