Frei Antônio Corniatti, OFMConv, de São Bernardo do Campo, São Paulo.

(As reflexões sobre a misericórdia são tiradas de um artigo de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009). Com adaptação de Frei Antônio Corniatti, OFMConv)

Dia 01 de Agosto (Quarta-feira)5ª reflexão (Tarde): A) Princípios derivados da Misericórdia para a Vida Espiritual-Religiosa

PRINCÍPIOS

A partir da "definição" da Misericórdia, tentemos deduzir alguns princípios que possam servir de orientação geral para normas mais particulares, e rapidamente tecer acerca de cada princípio algumas reflexões elucidativas.

No empenho e na busca do cultivo, cada vez mais clarividente, da Misericórdia é preciso conscientizar-se vivamente da necessidade e da importância decisiva da compreensão adequada do que seja na sua profundidade a essência da Misericórdia, para a melhoria e o crescimento qualificado na:

  1. a) Vida espiritual-religiosa
  2. b) Vida Fraterna
  3. c) Vida de trabalho e serviço.

 A) PRINCÍPIOS DERIVADOS DA MISERICÓRDIA PARA A VIDA ESPIRITUAL-RELIGIOSA

Princípio 1:

          Segundo a definição de misericórdia como a) Amor do Deus Uno e Trino em Jesus Cristo, como b) Espírito de Misericórdia e como c) Virtude da Misericórdia, todo o nosso ser como vocacionados à Vida Religiosa Consagrada não deve ser outra coisa do que acolhimento grato e a prontidão solícita para entrar na comunhão de intimidade absoluta e incondicional com Jesus Cristo, tornando-nos "existência cristiforme" (Cf. São João Paulo II, Vita Consecrata¸ nº 14), no Seguimento, imitando-O, identificando-nos com Ele através da doação total do nosso ser pelos votos de Virgindade, Pobreza e Obediência.

Essa conformidade com Jesus Cristo, que é a presença visível da intimidade do Amor entranhado da Vida Interna da Santíssima Trindade, é uma tarefa intensamente pessoal e vocacional, compromisso e incumbência para mais e mais nos doarmos e nos conformarmos ao "Amor que nos amou primeiro" (Cf. 1Jo 4,9-10.14-16.19) em Jesus Cristo, a misericórdia do Pai.

Con-formar-se é buscar compreender, conhecer, amar, identificar-se, deixar-se tomar e continuamente acolher em gratidão e solícita humildade, é dispor-se inteiramente a, como ao único e absoluto projeto de vida, ao único e absoluto sentido da vida.

Assim, se essa intimidade com o Amor da Santíssima Trindade em Jesus Cristo na existência cristiforme, no Seguimento, é vocação, nossa profissão, nosso projeto de vida consagrada, então, tudo que se refere à Vida Espiritual-religiosa, como por exemplo, oração, seja na execução particular ou coletiva, meditação, contemplação, reflexão, leitura espiritual, formação e estudos religiosos de espiritualidade, cultivo das virtudes, exercícios de devoção quer particulares, quer coletivos, a Eucaristia, o Sacramento da Reconciliação, enfim tudo isso e mais, deve ser pensado, realizado, vivenciado não como atos de "piedade" e "devoção" no sentido espiritualista, subjetivista, mas sim como momentos de uma busca intensa e tenaz de trabalho e estudo para criar todo um "corpo" de disponibilidade para em Jesus Cristo se adentrar cada vez mais na intimidade, na interioridade do amor do Deus Uno e Trino, revelado em e como Jesus Cristo.

Essa busca absoluta e incondicional do Amor do Deus Uno Trino, em Jesus Cristo, como tarefa e incumbência oficial da nossa Vida Religiosa Consagrada, se expressa nas formulações a nós usualmente conhecidas como, por exemplo, "Amar a Deus sobre todas as coisas", "Em tudo fazer a vontade do Pai".

                      Essa realidade realíssima e fundamental deve ser o princípio primordial que orienta todo o nosso ser, pensar, sentir e agir, nas buscas, nos empreendimentos, na assim chamada vida espiritual e vida religiosa consagrada.

Princípio 2:

          Segundo a definição da misericórdia como d) ideal objetivo do projeto de vida, como c) obras de misericórdia, como f) frutos de misericórdia, todos esses empreendimentos de busca expressam o trabalho de traduzir em objetivos, obras e merecimentos o Amor-Misericórdia do Deus Uno e Trino, revelado em Jesus Cristo, doado a nós como Espírito de Misericórdia, impregnando-nos como Virtude da Misericórdia e nos transformando em corpos misericordiosos.

Esse trabalho é de traduzir a realidade realíssima, absoluta da Vitalidade essencial e interna da Boa-Nova do Deus do Amor entranhado no Mistério da Santíssima Trindade, para a realidade, por um lado, fugaz, relativa e limitada da nossa vida cotidiana mortal, mas por outro lado, também concreta, palpável, cheia de resultados visíveis, de apelos e atrativos provenientes da opinião pública e do relacionamento social.

Aqui é necessário sempre de novo não perder de vista a compreensão clara de que todos esses empreendimentos de concretização empírica da misericórdia devem ser orientados, iluminados e alimentados pela busca incessante e apaixonada da Misericórdia como Amor do Deus Uno e Trino em Jesus Cristo. Pois, no momento em que negligenciamos a busca da Misericórdia no sentido essencial (Misericórdia como Amor de Deus, revelado em Jesus Cristo, Misericórdia como Espírito de Misericórdia e Misericórdia como Virtude da Misericórdia), imediatamente começamos a nos fragmentar e ficar confusos, deixando facilmente nos guiar pelos interesses e objetivos alheios ou até contrários à Misericórdia.

Para refletir:

1-Como eu entendo os princípios 1 e 2 derivados da Misericórdia para a Vida Espiritual-religiosa?

*CARMELITAS: RETIRO ESPIRITUAL ANUAL.

ORDEM DO CARMO – PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS

Data: 30 e 31 de Julho e 01 a 03 de Agosto de 2018. Início, 30 à noite. Término, 03 ao meio-dia.

Local: Casa São José - Belo Horizonte - MG

Assessoria: Frei Antônio Corniatti, OFMConv

Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço

Objetivo: Refletir a partir da misericórdia e suas implicações no dia-a-dia da vida consagrada