In: A VIDA DE ORAÇÃO NO CARMELO. Redemptus Maria Valabek O.Carm (pág.94-119)

            Porque foi destinado trabalhar na formação dos estudantes e aspirantes à Observância de Touraine, João de São Sansão causou um profundo impacto na vida de oração, especialmente na segunda geração dos seus membros. O seu excepcional discípulo foi Domingos de Santo Alberto (1595-1634), que intuiu o verdadeiro espírito do mestre.

            É claro que para atingir a perfeição da verdadeira oração e conversação interna a alma despojada dos desejos terrestres deveria exercitar-se na amorosa, real/atual e continuada presença de Deus, satisfazendo fielmente tanto externamente quanto internamente a Divina vontade.” [1]

            Este exercício da presença de Deus, que se torna constante nos filhos de Deus e amigos, não é algo extremamente complicado, mas depende dos corações que estão inflamados com simples e generoso amor por ele.

            “ (Os noviços) deveriam ser advertidos/orientados para não ler muitos livros, mas estarem atentos a Deus em todo lugar e para caminhara diante dele com simplicidade de coração, frequentemente elevando-se  a si mesmos a ele por meio de aspirações amorosas... sempre tentando preservar em seus corações uma inflamada de amorosa lembrança Dele.” [2]

            Orar, então, não é nada mais que uma real atração por relacionar-se com o Senhor, que geralmente remanece/permanece/resta algo no nível da fé habitual. “Este estudo sobre oração não é nada mais que uma verdadeira, total, atual/real atenção a Deus e a uma amorosa expansão de todas as faculdades da alma em Deus, que então junta e une-as todas para Deus, que quase sempre, em cada hora e lugar, a alma fala com ele.”[3]

O primeiro nível de oração é meditação:

            “Desde o começo de sua conversão, sua alma é de certo modo rude e imersa em coisas materiais, cheia de fantasias e pensamentos do mundo, no começo você deve aplicar o seu espírito à meditação  dos divinos mistérios. Avaliar as causas e as circunstâncias com alguma consideração, assim para que depois você possa mover sua vontade para atos de dor, de amor e de agradecimento, de acordo com o tema de sua meditação.”[4]

            Neste estágio os temas das meditações deveriam ser a Paixão de Cristo, o valor da vida religiosa, os benefícios com os quais o Senhor nos cobre. Estas reflexões deveriam ser feitas em forma de diálogo com o Senhor, que em última  análise é uma ardente afeiçoada e amorosa adesão dão espírito humano, que está constantemente buscando novos motivos em vista de estar unido ao nosso Deus supremo.[5]

O segundo nível enfatiza a parte afetiva do diálogo:

            “Depois de haver praticado a meditação discursiva a partir de algum tema escolhido pela pessoal por algum tempo... a vontade irá experienciar o desejo de chegar mais perto das divinas realidades e ter uma viva lembrança e desejo de considerar-se a si mesma com elas {concern itself with them}. Agora é tempo de adotar uma forma mais simples de meditação, de diálogo mais simples... Visto que a este ponto a alma é enchida com o conhecimento de tudo o que pode ser dito, com um simples salto você se atirará em direção ao Nosso Senhor, falará como Ele num jeito amoroso, fazendo-lhe perguntas, respondendo-lhe, adorando-lhe, agradecendo-lhe e evocando inumeráveis atos de amor e resoluções para servi-lo, mantê-lo sempre presente, imitar suas virtudes, e tudo o mais”[6]

O terceiro nível é um simples olhar da fé:

            “Depois que você dispendeu algum tempo em conversa interior com do Deus encarnado em seus santos mistérios, você passará a uma conversação interior com Deus incriado a quem você conhecerá por um simples olhar da fé em todas as coisas, e mais intimamente em você mesmo. Isto acontece de uma maneira que você não imagina-lo estar mais no céu que na terra, mas mais próximo de você que você mesmo. Dando este tipo de fé por certo, seu exercício será manter uma conversação entre você mesmo e Deus, como uma conversa entre um bom filho e o seu pai ou um fiel amigo com o amigo, que vive, dorme e come no mesmo quarto, sempre presente um diante do outro. O assunto do seu diálogo será tomado basicamente do recíproco amor e desejo que cada um tem de não estar separado do seu amigo e desfrutar um do outro... Note-se que neste exercício há praticamente uma oração constante. A lembrança tida de Deus não é uma especulação ou meditação sobre o ser ou alguma perfeição de Deus, mas uma consideração, um esperar, um olhar afetuoso a Deus como o tesouro, o fim, o centro de nossos corações. É um pensamento tido com avidez, como os santos tiveram. Mesmo enquanto na terra, eles estavam já no céu ‘em pensamento e avidez’.”[7]

O quarto nível é significativo pelos desejos que ele evoca:

            “A alma a quem Deus mantém neste estado, porque ela está constantemente crescendo no amor, sentirá seu desejo se fome por Deus crescendo ao ponto de tornar-se impaciente. Tudo o que faz ou é capaz de fazer não será suficiente para expressar o seu desejo. Quando ela pensa estar com Deus em diálogos, seu desejo estará muito além do que ela explicita. Ela sentirá um enlanguecimento que a fará ela morrer por não estar capaz de fazer nada. Aqui a pessoa deve estar atenta para não força-la falar nem evocar muitos atos. É suficiente que ela faça conversões essenciaia (conversiens essentielles) com todo o seu ser. Estes são preticamente silêncio e sem muitas palavras formadas. ‘O Deus!’ Isto diz mais que um longo diálogo porque seu coração esta falando para o coração de Deus e os dois entendem um ao outro muito bem.”[8]

O Quinto nível:

            “ Como pode ser visto, através de tais efusões, a alma sente que ela tem praticamente uma presença contínua e lembrança de Deus, e se torna cada vez mais desejosa dele... pouco a pouco ela deve render-se a Deus, deixando para trás inclusive aquelas conversações essenciais que para produzir ela dispendeu seu esforço, e deixá-la no num nu desejo que ela sente por Deus. Este desejo é um ato pelo qual ela olha para Deus como o infinito tesouro que pode satisfaze-la. Assim, despojada do seu próprio jeito de atuar, Deus satisfaz seus desejos e os faz crescer incessantemente. Por esta razão, ela permanecerá sempre nele, olhando para ele, contemplando-o sem cessar. Este desejo é um amor atual/real como uma fome e sede insaciável de Deus, que causa uma lembrança experiencial e conhecimento Dele na alma... Este estado é os estado da verdadeira união íntima do espírito criado com o Incriado. Aqui o cume do espírito, o poder do amor e aplicado diretamente a Deus. Que é compreendido além de qualquer idéia ou sentimento... Ela afunda mais e mais dentro de um abismo sem fundo da Natureza Divina.”[9][10]

[1] Exercitatio spiritualis, cap.4; ed. J. BRENNINGER, O.CARM. in steggink, carmelitani, in Diz. Ist. Di Perf., II< col 498; S. BOUCHEREAUX, Dominique de Saint Albert, sa vie et sa correspondance avec Jean de Saint-Sanson, in AOC, 15 (1950) 3-167.  

[2] Exercitatio spiritualis, cap.6; ed. Brenninger, 45

[3] Ibid., cap. 1 ed. J. Brenninger, 24; cited by HEALY, Methods of Prayes, 163.

[4] Théologie mystique, in Études carmelitaines 22 (1937), 267.

[5] Exercitatio spiritualis, cap.1-2; ed. Brenninger, 24-25; cfr. HEALY, Methods of Prayes, 161.

[6] Théologie mystique, in Études carmelitaines 22 (1937), 267.

[7] Ibid.,268.

[8] Ibid.

[9] BRENNINGER, in Études carmél., 22 (1937), 268

[10] Théologie Mystique, ibid. For and overwiw of Ven. Dominic’s spiritual vision, cfr. EUGENIO TONNA, O.CARM., in Carmelus, 11 (1964), 44-80).