Frei Cláudio van Balen, O. Carm., do Convento do Carmo de Belo Horizonte-MG.

Em 1936, morre sua mãe, o que possibilita que sua irmã Rosa venha unir-se a ela, em Colônia. Há tempo, ela desejava ser batizada, mas resolveu poupar sua mãe desse sofrimento. O batismo acontece na véspera do Natal, na presença de Edith.  No ano seguinte, festa de 300 anos do mosteiro, a religiosa escreve: “Vamos ao encontro de grandes mudanças. Na expectativa das mesmas, temos como dever apoiar com nossa oração todos que já estão envolvidos na luta”.  Em 1938, 21 de abril, ela faz a Profissão Perpétua. Nesse ano, os alemães são convocados duas vezes para se pronunciar a respeito do Führer, mas Edith perdeu seu direito de voto. Na primeira votação, dois senhores se apresentam para colher informações sobre a ausência da Dra Stein. Ela assume sua condição de não ariana, e responde à priora que lhe pergunta o que decide fazer: “Se estes senhores apreciam tanto meu não, eu não o posso negar a eles”. 

Na segunda vez, a maioria das irmãs resolve omitir-se para não votar contra Hitler. Edith acha isso um absurdo. Uma delegação vem buscar os bilhetes das religiosas e elas são convocadas. No fim, a superiora tem de explicar a ausência de duas irmãs. Resposta: a irmã Ana é doente mental e não tem condições. E quando, insistindo, perguntam pela Dra Stein, a superiora responde: ”Ela não é ariana”. A declaração é anotada e os homens se despedem apressados. Edith resolve deixar o país. Na noite de 9 de novembro (Kristallnacht), em 1938, os nazistas vingam a morte de um companheiro, Ernest von Rath que, em Paris, é assassinado por um rapaz judeu,  Herschel Grynszpan, cujos pais tinham sido deportados. A explosão anti-semita resultou na profanação e destruição de todas as quase 1000 sinagogas do país que foram incendiadas. E 7.500 estabelecimentos comerciais de judeus foram saqueados e 30.000 judeus são brutalmente jogados em campos de concentração, sendo que milhares são assassinados. Livros judaicos são queimados e decretos raciais instituem a discriminação. Iniciou-se a destruição do judaísmo na Alemanha. Na sociedade e na religião, faltaram gestos de protesto.

O mundo está consternado e Edith carrega uma dor que a esmaga. “É a sombra da cruz que cai sobre meu povo”, escreve. Perseguir judeus é perseguir a humanidade de Jesus. “Ai da cidade, do país, das pessoas sobre quem a ira divina vai manifestar-se, devido a tantos crimes cometidos contra os judeus”. Ela tentou ir para a Palestina, o Carmelo de Belém, mas lhe negaram a permissão. Na noite de 31 de dezembro de 1938, ela foge para o Carmelo de Echt, na Holanda. Para lá, tinham fugido as irmãs alemãs nos anos de 1871-1878, durante a “Kulturkampf” de Bismarck contra os católicos alemães, e a maioria das religiosas ainda era alemã. No verão de 1940, sua irmã Rosa veio unir-se a ela naquela comunidade. Quando em setembro daquele ano, foi eleita a nova priora, esta a encarregou de escrever algo sobre São João da Cruz, por ocasião do 4o Centenário do grande Santo Carmelita.

Trata-se do livro “A Ciência da Cruz”, iniciado em 1941 e escrito de uma vez. Nele, ela apresenta um tipo de auto-biografia espiritual, registrando também seu protesto contra a ideologia racista do nazismo.

De fato, o que escreve nessas páginas tem tudo a ver com o que ela mesma está passando. No símbolo da cruz, morte e vida estão inseparavelmente interligadas; e Edith externa a certeza absoluta da vitória da luz sobre as trevas. Melhor ainda, transmite a convicção de que a luz surge das profundezas da escuridão, embora ela tivesse de esperar para completar corporalmente o que permaneceu incompleto no livro. Nunca ela insinuou encontrar-se em um esconderijo, atrás dos muros do mosteiro, dos quais disse com senso de humor: “Deus não se obrigou de deixar-nos para sempre ali dentro”. Em 1935, já respondera a uma amiga que ali a julgava segura: “Não tenha isto como uma certeza! Certamente eles vão me procurar aqui. E eu não acredito de forma alguma que vou ser poupada”. Na noite do domingo da Paixão, em 1939, ela escreve um bilhete para a Priora: Querida Madre: por favor, permita-me Vossa Reverendíssima me oferecer ao Coração de Jesus como instrumento eficaz pela paz autêntica: que o poder do mal se derrube e, se for possível, sem uma nova guerra mundial, que se possa instaurar uma nova ordem de coisas. Desejaria fazê-lo hoje”.