Frei Emanuele Boaga, O. Carm.
Uma história espiritual, não se constrói exclusivamente, por mãos humanas, ainda que nela se deva empenhar totalmente o ser humano. A aventura espiritual é o resultado, apesar de não ser sempre compreensível e visível, da ação de Deus na vida de pessoas e de comunidades, ao longo dos tempos. Sua construção envolve dois parceiros em cada um dos momentos críticos, decisivos ou gozosos de seu caminho.
É Deus que vai suscitando, alimentando, conduzindo, fazendo sempre renascer sua criação:
Fendeu rochedos pelo deserto
e deu-lhes a beber em caudais de água.
Da PEDRA fez brotar torrentes
e as águas desceram em mananciais;
da rocha fez jorrar torrentes,
fez correr a água como rios. (SI 78,15).
Outro parceiro é o ser humano que, situado no tempo e no espaço, vai atuando, abrindo pistas, descortinando horizontes novos, entrevistando novos céus e novas terras, e pondo-se a seu encalço de mil formas ... em busca da Jerusalém celeste, mesmo quando ignore esta meta...
Assim acontece com a nossa história: a história do nosso Carmelo! Nascido no Monte Carmelo situado na terra do Senhor (Palestina), revela, ao longo de sua caminhada a PRESENÇA do SENHOR e o esforço de pessoas decididas a construírem o coração humano -templo santo que deve se tornar a habitação de Deus.
Cada Carmelita, cada Comunidade Carmelitana, cada geração, em cada canto do mundo, tem importante papel nesta construção, seja contribuindo para seu início, expansão e consolidação, projetando-a nas diversas épocas, seja conservando-a devidamente, renovando-a... garantindo-lhe futuro.
A Família Carmelitana se compõe de três Ordens clássicas, conforme a estrutura característica entre os Mendicantes (Fraternidades de vida apostólica, ou seja que vivem a imitação da vida dos Apóstolos no seguimento do Senhor Jesus Cristo). Em particular temos:
1 Ordem: formada pelos padres ou religiosos (os frades);
II Ordem: formada pelas monjas de estrita clausura;
III Ordem: formada por grupos variados: Congregações religiosas (as irmãs), Institutos seculares (leigos consagrados), a OTC (os terciários) e outros movimentos leigos.
Cada um destes grupos, segundo a sua própria índole, inspira-se na Regra do Carmo e é unido ao Carmelo por vínculos de amor fraterno, de espiritualidade, de esforço comum na busca do Reino de Deus e sua Justiça, em comunhão dos bens espirituais.
Podemos representar graficamente a Familia do Carmelo com o seguintes esquema:
As Ordens são grupos que vivem na osmose carismática, desenvolvendo o espírito da Regra, em seus valores e estruturas de vida. Quanto à Ordem III é preciso fazer uma distinção. Há a Ordem III Regular, aquela cujos membros vivem em conventos, fazem os votos religiosos, seguindo a orientação do Direito Canônico e do Direito Próprio (Constituição) e têm a organização da própria vida orientada pelas estruturas da mesma Regra (vida de oração, de fraternidade, vivendo em comunidade; de diaconia, no serviço aos irmãos). E comum, orientam a caminhada espiritual pelos valores e estruturas adaptadas da Regra do Carmo. A Ordem III Secular tem a formação voltada para a vida secular, com o desenvolvimento de uma espiritualidade que deve levar à encarnação de Deus nas suas estruturas de trabalho, família, lazer. Têm também os compromissos de vida orientados pela Regra do Carmo, porém levando-se em conta sua índole secular. Os votos são permitidos, mas não com as mesmas exigências e compromissos propostos aos religiosos.
Os inscritos nas Confrarias têm orientação própria à sua vida de simpatizantes do Carmelo, assumindo alguns dos valores da Família Carmelitana, especialmente a veneração e imitação de Nossa Senhora, através do uso e difusão do Escapulário.
O espírito com que foram criadas no mundo antigo estas três Ordens, e que devemos retomar espiritualmente, é o de comunhão, tal como existe no seio da Trindade e não de hierarquia, como podem sugerir os números colocados para distinção da missão de cada Ordem. Assim todos devem viver, não com espírito de superioridade ou em busca de status, mas cada categoria deve procurar compreender, aprofundar e ser fiel à própria especificidade, compreendendo e respeitando as demais, comungando, partilhando, sendo solidário no mesmo ideal. O Prior Geral deve ser o elo de unidade em toda a Família.
*DO LIVRO; COMO PEDRAS VIVAS.... para ler a HISTÓRIA e a VIDA do CARMELO. Roma 1989.