Frei Pedro Caxito, 0.Carm.
São João da Cruz (1540-1591), filho de Elias, pela vida e pelos escritos mostrou conhecer noites escuras pontilhadas de estrelas ou de trevas sem luz. E ensina a caminhar.
A Noite Escura "é o fim do narcisismo e da abstração, é disponibilidade para o encontro com o Outro e com os outros. É a constante adaptação do homem a Deus. Não é um breve período de crises, um intermezzo, mas uma situação permanente, porque nunca nós acabamos de nos adaptarmos à lógica divina, ao amor de Deus. Atitude crítica para consigo mesmo e perante a realidade; discernimento frente à história e dentro da história; uma consciência da relatividade das metas alcançadas, concedendo espaço para a novidade do Espírito. A noite é conseqüência do amor, é escola de amor. É o meio pelo qual se consegue uma nova consciência: tornamo-nos mais livres para Subir a Montanha sem que Nada se interponha
Há noite dos sentidos e há noite do espírito. Há um escurecer aos poucos, progressivo, até à plena noite e há um caminhar por um manso amanhecer até deslumbrar-se na claridade plena da luz do Sol. Noite Escura do crescimento e Noite Escura do envelhecimento. Noite Escura dos caminhos da libertação e Noite Escura das ânsias que nunca se realizaram. Noite Escura das estradas da Fé e Noite Escura das esperanças que teimam em se realizar. Noite Escura debaixo da carga da opressão e Noite Escura tenebrosa por sob o peso do aviltamento da pessoa. Noite Escura, que entenebrece a alma do artista e Noite Escura da arte, que se condói do seu genitor. Noite Escura do homem e da mulher e Noite Escura de todas as veredas do Universo em busca da Luz. Noite Escura pelo eclipse do Esposo Divino e Noite Escura, filha da debilidade da alma ou da falta de amor[1].
[1]. cf. Bruno Secondin em Carmelus Institutum Carmelitanum Roma 1993 vol 40 fasc. I pp. 172-198, sob o título San Giovanni della Croce - Riletture acculturate e attualità del suo Carisma