“Não há membro da IGREJA que não deva alguma coisa ao CARMELO”. (Thomas Merton).
Frei Emanuele Boaga, O. Carm
Da experiência dos Carmelitas de cada época e do ensino dos Mestre, brotam alguns valores a respeito da CONTEMPLAÇÃO E DA ORAÇÃO que formam o PATRIMÔNIO da tradição carmelitana.
Brevemente se pode sintetizar assim este patrimônio:
CONTEMPLAÇÃO
É mergulho no Mistério de Deus que “colocou sua tenda no coração do homem. Portanto, CONTEMPLAÇÃO e ORAÇÃO
É fazer uma profunda EXPERIÊNCIA de DEUS REAL e VIVO, ainda que as vezes obscura, em todas as dimensões humanas.
É a capacidade de encontrar a DEUS que nos amou primeiro.
ESSÊNCIA DA VERDADEIRA ORAÇÃO
É um relacionamento de amizade com Deus e consiste sempre em “sair de si para encontrar o “Outro”.
MORTE E CRUZ
A oração está associada com os temas da Morte e da cruz. Por isso, o caminho da Oração Carmelitana passa pela “noite purificadora dos sentidos”, pela solidão pela aridez que faz morrer o egoísmo e leva a sair de si para encontrar o CRISTO.
DESERTO
É essencial à contemplação;
É o despojamento, o situar-se na verdade e sem ilusões diante de Deus;
É atitude de pobreza radical que tudo espera de Cristo;
É atitude de silêncio para escutar a Palavra do “Outro”, é experiência da própria limitação e da necessidade de Deus na nossa vida;
É convicção forte, ainda que obscura, que Ele nos busca mais do que O buscamos. Jesus procura o homem primeiro.
ESPIRITO SANTO
A Oração é dom do Espírito. É Ele que atua eficazmente na Oração e nos transforma quando na docilidade a Ele deixamo-nos conduzir. Ele nos leva às formas mais elevadas de oração, como fruto da fidelidade e acolhida de seus dons.
PRESENÇA DE DEUS:
É preciso viver a presença de Deus no próprio coração, nos irmãos, na vida. É preciso experimentá-lo por meio de abertura para a realidade e para os sinais dos tempos que revelam sua presença.
PALAVRA de DEUS
A contemplação e a oração se nutrem pela FAMILIARIDADE com a Palavra de Deus, ouvida
No silêncio e na solidão do próprio coração,
No dialogo comunitário e fraterno
Na realidade.
FORMAS DE ORAÇÃO
Ainda que não se reduzam as formas concretas, a oração e a contemplação necessitam delas como meios indispensáveis para crescerem. Entre estas formas ocupa lugar privilegiado a oração litúrgica e a “Lectio Divina”.
ENVOLVIMENTO DO HOMEM TODO,
A vida de oração requer o envolvimento do homem todo e, portanto, o crescimento da pessoa com a integração de sua afetividade na oração. Além disto, a oração exige uma contínua verificação do próprio relacionamento com os outros, com a realidade, com a vida. Deve exprimir-se através das obras de virtude, como sinais de amor a Deus. A contemplação deve conduzir-nos através do encontro com o ABSOLUTO de DEUS a realização de seu plano de AMOR para os irmãos e o mundo, portanto, deve levar-nos ao COMPROMISSO.
INSPIRAÇÃO ELIANO-MARIANA
A inspiração Eliana-Mariana reforça as dimensões de nossa contemplação-compromisso:
Maria - a Virgem da Encarnação, mulher de escuta amorosa e de fé.
Elias - o homem de contemplação encarnada na realidade humana, à procura da FACE do DEUS verdadeiro
ORIENTAÇÕES GERAIS PARA LEITURA DE UM TEXTO
1º - A imagem de Deus que cada um de nós tem se reflete na maneira concreta como fazemos oração e como falamos da Oração. Esta imagem pode ser diferente nas várias épocas.
2º - Todo ser vivo toma seus elementos do ambiente e assimila os elementos que lhe convém. Esta osmose é também presente na vida do Carmelo.
3º - No caminho histórico da Ordem o mesmo valor vem encarnado de maneiras diversas com ênfases, acentuações, enfraquecimentos, etc. É preciso, num discurso de valores, verificar quais são os valores que se encarnam no contingente e até que ponto, em cada época ou situação o contingente permite ao valor a encarnação no contexto histórico concreto.
4º - Um texto espiritual deve ser lido dentro do próprio contexto particular e geral, isto é, de acordo com a ideia global do livro, do autor e do ambiente. É necessária a atenção a figura literária, ao estilo do autor, a simbologia e a outros princípios de leitura hermenêutica.
5º - É necessário, enfim, ter presente a ambiguidade dos termos e o significado próprio da palavra tal como o Autor lhe confere:
CONTEMPLAÇÃO = Aspecto intelectual atitude do homem total diante de Deus- forma superior de oração
AÇÃO = Disposição para atuar atividade externa.
ORAÇÃO = Atitude orante formas e formulas de oração.
SILÊNCIO = Vazio interior falta de rumor
SOLIDÃO - Lugar silencioso, sem barulho situação interior.
ALMA E CORPO = Elementos da pessoa humana relacionados muitas vezes de modo dualista, dicotômico.
AFETIVIDADE = Sentimento tudo aquilo que se refere ao coração num preciso contexto antropológico
MUNDO - Realidade criada
Realidade interior - Realidade externa. Lugar de contra-valores. Etc. etc. etc.
SUGESTÕES PARA A REFLEXÃO
1- Qual é a imagem de Deus e a experiência de oração que transparece no texto; Procurar os elementos positivos e negativos
2- Como os valores fundamentais da Tradição Carmelitana estão expressos no texto? Em particular, qual ou quais?
3- A realidade do ambiente e o compromisso apostólico com o povo transparecem no texto? Como? Se não, por que?
4-E nossa Oração; Qual é a imagem de Deus que oferece e anuncia HOJE? Que formas concretas de vivência desta imagem procuramos?
5- Nós, como Carmelitas precisamos denunciar os falsos ídolos da religiosidade na Igreja e no mundo. Quais? Como?
*A ORAÇÃO NA VIDA CARMELITANA. Reflexões e textos de autores carmelitanos sobre a Comunhão com Deus e a Oração no Carmelo.
Textos preparados por Frei Emanuele Boaga, O.Carm. Para Encontros de espiritualidade Carmelitana das Irmãs Carmelitas da Divina Providência. JULHO - 1986 - Rio Janeiro.