A atitude contemplativa para com o mundo em torno de nós, que nos faz descobrir Deus presente nas nossas experiências quotidianas, leva-nos a encontrá-Lo especialmente nos nossos irmãos. Assim, somos levados a valorizar o mistério das pessoas que nos são próximas e com as quais compartilhamos a nossa vida. A nossa Regra quer que sejamos acima de tudo "fratres"[1] e recorda-nos como a natureza das referências e das relações interpessoais, que caracterizam a vida da comunidade do Carmelo, se desenvolveu no exemplo inspirador daquela primitiva comunidade de Jerusalém[2]. Ser "fratres" significa para nós crescer na comunhão e na unidade[3], na superação das distinções e privilégios[4], na participação e na corresponsabilidade[5], na partilha dos bens[6], de um projecto comum de vida e dos carismas pessoais[7]; significa, também, amadurecer atitudes de atenção ao bem-estar espiritual e psicológico das pessoas, percorrendo os caminhos do diálogo e da reconciliação[8].
Estes valores da fraternidade são expressos e fortificam-se na Palavra, na Eucaristia e na oração.
Na Palavra escutada, rezada e vivida no silêncio, na solidão e na comunidade[9], especialmente na forma da "lectio divina", os Carmelitas são guiados, diariamente, ao conhecimento experiencial do mistério de Jesus Cristo[10]. Animados pelo Espírito e radicados em Jesus Cristo, permanecendo n'Ele dia e noite[11], inspiram na sua Palavra todas as suas opções e acções[12].
Inspirados pela Palavra e em comunhão com toda a Igreja[13], os "fratres" celebram juntos os louvores do Senhor[14] e convidam outros a partilhar a experiência da oração. Os "fratres", todos os dias, quanto possível, são chamados da solidão ou do trabalho apostólico à Eucaristia, fonte e cume da sua vida, a fim de que, em torno da mesa do Senhor[15], sejam «um só coração e uma só alma»[16], vivendo a verdadeira comunhão fraterna na gratuidade e no serviço mútuo[17], na fidelidade ao projecto comum e na reconciliação animada pela caridade de Cristo[18]. Como fraternidade contemplativa, buscamos o rosto de Deus e servimos a Igreja no coração do mundo ou, eventualmente, na solidão eremítica.
* CONSTITUIÇÕES DA ORDEM DOS IRMÃOS DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO (Aprovadas pelo Capítulo Geral celebrado em Roma no ano de 1995)
[1] Cfr Regra, cc. 2, 3, 5, 9, 11, 17, 18; e também Congr. gen. 1974, 120.
[2] Cfr Regra, cc. 7-11; Act 2,42-46; 4,32-36.
[3] Cfr Regra, c. 10, 11.
[4] Cfr Regra, cc. 1-3, 5, 17-18.
[5] Cfr Regra, cc. 1-3.
[6] Cfr Regra, cc. 3, 4, 9.
[7] Cfr Regra, c. 11.
[8] Cfr Regra, cc. 11, 12, 13.
[9] Cfr Regra, cc. 4, 7.
[10] Cfr Fil 3,8.
[11] Cfr Regra, c. 7.
[12] Cfr Regra, c. 14.
[13] Cfr Regra, c. 8.
[14] Cfr PC 6, 15; LG 11; PO 5.
[15] Cfr Regra, c. 10.
[16] Act 4,32.
[17] Cfr Regra, cc. 17, 18.
[18] Cfr Regra, c. 11.