Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, In Memoriam (*30/111931 +11/06/ 2014)

 

Apesar das muitas variações que a mentalidade das diversas épocas teceu em torno do simbolismo do Escapulário, este permaneceu intacto quanto ao essencial. O Escapulário é sempre símbolo da proteção da Virgem Maria sobre aquelas almas que, de modo total e permanente, a Ela se consagram.

Precisamos mais a relação entre Maria santíssima e o seu devoto, simbolizada pelo Escapulário, podemos dizer que os Carmelitas sempre consideraram Maria como sua Mãe. Já as constituições de 1357, oferecem-nos um testemunho explicito desta tradição do Carmelo. (5) Entre as respostas que o frade há de dar às perguntas acerca da origem e do caráter da Ordem, encontramos uma, segundo a qual a Virgem Maria foi ao Carmelo para visitar seus filhos. Certamente, tudo isto não passará de lenda. Porém, haverá testemunho mais vivo desta consciência dos Carmelitas de serem filhos de Maria? Mesmo o P. Matias de S. João, apesar das suas tendências regalistas, não pôde deixar de dizer que o Escapulário “nos eleva à qualidade não apenas de servo e de doméstico da Virgem santa, mas também aquela de seu irmão e de seu filho adotivo.” (6) E, finalmente, o nosso tempo ouve ainda ressoar a exclamação de S. Teresa de Lisieux, como que confirmando a tradição mariana do Carmelo.

A nossa consagração total à Virgem Mãe como filhos seus, simbolizada pelo Escapulário, é certamente a forma ideal da piedade mariana. Não é, pois, sem razão que Pio XII concede à devoção do Escapulário uma certa primazia. Isto justifica-se mais ainda porque a devoção do Escapulário tem o dom de intensificar e facilitar a nossa vida mariana. Não falamos agora do simbolismo do Escapulário, como fruto específico da mentalidade medieval. Antes somos de opinião que, como tal, ele terá pouco valor prático para o homem moderno, principalmente no Novo Mundo, cuja história desconhece o regime feudal. A espontaneidade é uma das qualidade indispensáveis ao símbolo. Ora, o simbolismo do Escapulário é de tal plasticidade, que deixa largo espaço para as preferências do ambiente e do indivíduo.

Devemos lembrar-nos que o Escapulário, como hábito carmelitano, é uma veste. A índole mariana desta veste provém do caráter mariano da Ordem do Carmo. Tal índole consolidou-se pela tradição multissecular da Ordem, segundo a qual a própria Virgem Maria entregou o Escapulário ao sexto prior geral, como sinal de predileção. Não é, pois, de admirar que o Escapulário já bem depressa, veio a ser chamado “hábito mariano” ou “ veste de Maria.” E cremos que o Escapulário, considerado sob este aspecto, conserva viva uma profunda significação, também para o mundo moderno.

Poderíamos comprar o Escapulário com um uniforme, que indica a função e a dignidade da pessoa que a veste. Poderíamos, ainda, pensar no papel fundamental da veste que é o de proteger o homem contra a concupiscência e as inclemência do clima. Facilmente pode-se relacionar estas condições com a proteção que a Virgem Maria exerce sobre aqueles que trazem o seu  hábito.

A força simbolizante do Escapulário, como veste mariana, pode atingir maiores profundezas. Como nenhuma outra, a verte está intimamente ligada a toda a personalidade do homem. A sagrada Escritura oferece-nos disto muitos exemplos. Na profecia de Isaias ouvimos cantar a Igreja, a Esposa de Cristo: “Rejubilo-me no Senhor...porque me revestiu do hábito da salvação”. (8) E quando S. Paulo quer exortar aos fiéis de levar uma vida realmente cristã, ele exclama repetidas vezes: “Revesti-vos do homem novo”.  (9) Não será difícil transferir estas comparações para o simbolismo do Escapulário. Quando nos revestimos da veste de Maria, queremos simbolizar com este gesto a nossa consagração à Mãe de Deus, que é também nossa Mãe. Esta entrega total atingirá o mais íntimo do nosso ser. Toda a nossa vida encontrará a sua inspiração em Maria e será assim profundamente Cristã. Sendo o Escapulário símbolo de uma vida mariana, compreende-se melhor o motivo do seu uso constante e ininterrupto.

No nosso mundo atual, que apresenta um aspecto assaz triste, presenciamos uma renovação da piedade mariana. Feliz presságio! O nascimento de Maria marcou o início da nossa salvação. Deus quis que a figura da Virgem se destacasse na história da salvação do mundo e de cada um de nós em particular. Cumpre-nos a nós tomar consciência viva desta verdade e, por conseguinte, introduzir Maria na nossa vida pessoal. Seja o, Escapulário o símbolo da realização deste intento!

*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.