Frei Boaga O. Carm.
Analisando a vida dos Mendicantes, como aprece das muitas fontes que se referem ao momento de sua plena evolução, é possível colher toda uma série de características que podem ser resumidas como segue:
15 Evangelho e Vida Apostólica:
- Nas respectivas legislações (cf. as Regras de S. Francisco e Dominicanos) a impostação da vida Religiosa é segundo um modelo evangélico apostólico:
- Modelo evangélico porque é um consciente, constante e perseverante discipulado de Cristo encontrado no seu Evangelho, na sua palavra, na sua humanidade.
- Modelo apostólico enquanto qualificado a própria existência (opções, atos, etc) em sintonia com os exemplos dos Apóstolos. Esse modelo Evangélico – Apostólico de Vida é a base da “Conversão”, que os Mendicantes entendem fazer para edificar a própria Vida Religiosa e são base comuns a cada verdadeiro seguimento de Cristo.
- A vida Religiosa assim vem caracterizada do tema dda imitação dos apóstolos. Este tema apresenta dois aspectos:
- A insistência sobre a unanimidade dos apóstolos no cenáculo e sobre a sua total comunhão de bens (primitiva comunidade apostólica).
- A presença da missão dos Apóstolos enviados dois a dois por Jesus, a pregar por toda a Galiléia.
- No curso da Vida Religiosa por e ter modelo (a Vida Apostólica). Poe-se a ênfase sobre um outro desses aspectos acima. Assim em breve temos:
- O primeiro Monaquismo Egipciano apresenta os dois aspectos do modelo de vida Apostólica (aspectos Comunitário e Apostólico).
- Toda corrente monástica (S. Bento, etc). Poe a ênfase sobre o primeiro aspecto e, portanto, apresenta a Vida Religiosa mais como Vida em Comum de bens materiais e unidade de Oração.
- A reforma dos Cônegos Regulares (séc XII) descobre praticamente os aspectos apostólicos, vividos, porém na própria Igreja ou comunidade. Portanto, os Cônegos Regulares têm uma vida comum com orientação pastoral.
- Finalmente, os Mendicantes se referem aos dois aspectos do modelo de Vida Apostólica com interpretação da vida comum como Fraternidade, pobreza Coletiva e Pregação Itinerante.
17 Fraternidade
- A Vida Comum, segundo o modelo dos Apóstolos está estruturada entre os Mendicantes como fraternidade que exige não somente comunhão, mais ainda uma chamada divina , na qual esta em memória a mesma denominação de “frades” (os discípulos são chamados de frades = irmãos em Atos 1,15). Portanto, a fraternidade está construída sobre a base Evangélica.
- A encarnação da relação interpessoal de um frade ou outro conduz os Mendicantes a caracterizar sua própria fraternidade Mendicante:
- A Igualdade Econômica dos Irmãos (Todos estão despojados de seus próprios bens ao ingressarem na Ordem); com isso se faz a superação da distinção de classes na sociedade Feudal e também das classes criadas pelo comércio no sistema comunal (regime de corporações).
- A Igualdade Humana: A Fraternidade está aberta a todos e portanto não existem Conventos reservados só aos nobres ou com a maioria nobres, assim como naquele tempo acontecia. Essa abertura, então, conduz ao fenômeno de agregação à Ordem com desenvolvimento de formas originais de oblação (raiz do surgimento da 2ª e 3ª Ordem).
- A Igualdade Jurídica dos Frades: Ou seja, todos gozam do mesmo e único título de irmãos (Frater). A distinção jurídica entre clérigo e leigo não impede ao início donde – se busca distinção – o exercício dos direitos na comunidade (eleições, cargos); em seguida, na clerizalização, entre os séculos XIII-XIV, e neste contexto nascem os impedimentos e as privações de diretos.
- A Igualdade de vida: A existência concreta dos irmãos está motivada e conduzida com inspiração na fraternidade. A fraternidade é também o lugar da Vida em Comum. O Convento é o lugar de convergência de todos e isto é bem expresso na sua estrutura arquitetônica, ao menos nas primeiras gerações. Mendicantes. Esta estrutura de fato expressa-a idéia de comunhão, de vizinhança (proximidade) e de fraternidade.
18 Pobreza.
- A pobreza voluntária individual e coletiva está entendida pelos Mendicantes não so como meio de libertação e de contestação da potência a riqueza, fontes da não-fraternidade na Igreja e no mundo daquele tempo, mas, porém como um meio privilegiado para dar testemunho do Evangelho na própria Vida.
- É notário como o ideal da pobreza voluntária nos séc. XII e XIII estão ligados a devoções da humanidade de Cristo. Conseqüência disto é o desejo de imitação de uma vida em dependência e humildade do pobre para condividir a situação de Cristo por Ele aceita para a pregação de Reino. Os Mendicantes, portanto, fazem da pobreza não só uma disposição moral ou um elemento do edifício espiritual, mas ainda uma condição social da própria pregação.
- O estilo e clima da pobreza nas várias Ordens Mendicante podem ser expressa através de algumas palavras muito densas de sentido e de fascínio para eles que concebiam essas palavras como expressão da própria convicção e motivação:
- Minoritas: Opção pelos pobres e humildes de vida.
- Humilitas: humildade, abnegação, respeito.
- Comunio: Comunhão de bens e comunhão fraternal.
- Fraternitas: Igualdade de direitos e comunhão.
- Servitium: Uso social dos bens.
- Labor: Trabalho manual como meio de sobrevivência.
- Pra uma plena compreensão da pobreza que inspira os Mendicantes, vejamos a relação da mesma pobreza com:
- O Monaquismo do tempo. Naquele tempo o ideal de pobreza era a pobreza individual e não coletiva. A abadia, autônoma na sua realidade, impulsionava a um sistema de autarquia que tinha a necessidade da propriedade e se desenvolvia como um sistema feudal. Daí a riqueza dos mosteiros. Os Mendicantes renunciam a cada forma de posse também coletiva e recusam cada renda neste fato está uma divisão precisa da posição monástica. Não faltam autores (Guglielmo de Sto Amore) que considerem herético esta renúncia de posse porque “a Igreja não é fundada se não tem posse.”
- O Renascimento do comércio e o surgir da economia monetária são a nova característica da sociedade daquele tempo. Neste contexto a não utilização do dinheiro põe uma pergunta necessária sobre o sentido desta opção feita pelos Mendicantes. É de precisar que a motivação da opção da pobreza Mendicante não é sempre as mesmas. É suficiente aqui lembrar:
- Francisco de Assis vive numa região que está entre as principais regiões que gozam da nova realidade comercial, a sua opção de Pobreza Mendicante conduz a situar-se fora das classes sociais nas quais até aquele momento era-estruturada a sociedade feudal; a mesma opção da pobreza põe S. Francisco, porém, fora da nova distinção e das classes sociais criadas pelo dinheiro e pelo novo sistema comunal. S. Francisco com a sua pobreza pretendi propor um novo tipo de sociedade seja: a sociedade Fraterna na qual todos se situam no mesmo plano, seja econômico, seja humano, solidário uns com os outros e animados por atitude evangélica da confiança no Pai Celeste. A pobreza neste contexto é parte viva do ideal.
- Os Dominicanos e os Agostinianos vêem no contexto do tempo a pobreza mais como meio de apostolado, e como uma tática para influir melhor sobre os heréticos, os movimentos laicais, e desenvolver a ministério pastoral.
- O capitulo Pobreza conhece na realidade viva dos mendicantes, já desde o início, uma ontologia de admiráveis experiência e exemplaridades inspirastes, e também de tristes prevaricações.
- As conseqüências da opção da pobreza Mendicantes são:
- A coleta da esmola, não praticada por monges e não permitida aos clérigos.
- O trabalho manual quer, porém, depois da disputa feita nos primeiros anos da história dos Mendicantes não é obrigatório como conseqüência da pobreza (cfr. Sto. Tomás de Aquino); é assim a opção primitiva do trabalho manual, desde o lugar outras atividades culturais, artísticas, etc.
- O impulso para a urbanização (os conventos se situam na cidade para garantir-se a sobrevivência, com distancia determinada um dos outros).
19 Pregação Itinerante.
- Pregação: é o meio privilegiado pelos mendicantes e também é o fato do tempo para a reforma da Igreja e para a renovação da vida cristã e social. Nas correntes reformistas já no séc XII está ligada à pobreza e a itinerância, aqui está o trinômio que é estandarte da época.
- Initinerância: é andar onde se fez necessária a pregação. Esta contraposta a estabilidade monástica. Portanto, o vagar de um lugar ao outro esta em função do serviço da pregação mais do que a ascese em si mesma. A conseqüência da itinerância é a certeza da hospedagem (exemplarmente forte e nisto está a experiência inicial dos franciscanos) e a mendicância, com a assimilação aos pobres, excluídos da época.
- O processo de clericalizão advindo das intervenções papais conduz, portanto, os Mendicantes a uma determinada estabilidade pondo um limite assim à sua itinerância. A clericalização, ademais conduz os Mendicantes a privilégios, a pregação doutrinal, e aos ministérios pastorais; na família Franciscana permanece ainda largo espaço a pregação exortativa.
20 Clericalização:
- Os Dominicanos são clérigos desde o início. Para as outras Ordens Mendicantes se verifica prontamente um lento e progressivo processo de clericalização que geralmente não acha oposição seria dentro das mesmas Ordens. Salvo a exceção dos Franciscanos, os quais, porém, estão orientados nesta linha de clericalização desde a sua aprovação feita no ano de 1209.
- Se trata de um processo provocado por vários fatores, entre os quais tem primeiro lugar a política segunda pelo papado romano, de fato os Papas determinam este processo como meio para a reforma da Igreja juntando precedente reforma gregoriana, e por isso para uma nova orientação pastoral. As conseqüências da clericalização estão indicadas nos pontos anteriores.
21 Isenção e Ministério Pastoral
- Os Mendicantes são favorecidos pelos Papas com muitos privilégios; entre eles, o privilégio da isencçao da Igreja-conventual, etc. Os Mendicantes, assim chegam a desenvolver um novo tipo de apostolado ou de ministério pastoral que se adapta à nova situação da cidade, suprindo ao mesmo tempo as lacunas do clero secular e dos monges.
- A pastoral até aquele tempo estava baseada sobre um conceito de Igreja no qual os Bispos e Párocos tinham o próprio poder imediatamente de Cristo; daqui o princípio “Igreja Própria e Próprio Sacerdote”. Ademais, a estrutura eclesial-local (diocese, paróquia) tinham como base o beneficio e o ministério pastoral; o dizimo e os direitos de estola porque segundo a tradição e o direito: “A Igreja não está fundada se não está fundada senão se não esta dotada”.
- A novidade introduzida neste esquema pastoral pelos Mendicantes é:
- A isenção dos Bispos e dos Párocos, obtida dos Mendicantes pelo Papa e sustentada por uma concessão da Igreja piramidal, cujo vértice está o pontifício romano que doa o poder aos Bispos e Párocos. Assim é desvalorizado ao mesmo tempo o poder do Pároco e ainda do Bispo; aqui surge às acusações aos Mendicantes de serem Párocos universais.
- A fratura da estrutura tradicional pastoral diocesana através do acréscimo e da isenção de outra “estrutura universal”(Igreja-Convento). Se trata de uma estrutura mais elástica, mais sabia, mais vizinha ao povo (ao menos em algum período), com respeito a estrutura tradicional diocesana.
- As atividades pastorais estão orientadas de modo diverso em relação ao passado e não mais limitadas somente à missa e aos sacramentos na Paróquia; tem-se a difusão de confraternidade e de associações, etc.
- Com respeito à atividade paroquial, as primeiras gerações dos Mendicantes, mostram-se geralmente contrarias; tal atividade, porém está prontamente assumida pelos conventuais e pelos carmelitas ao fim do séc XIII.
- A gratuidade dos ministérios pastoral feito pelos Mendicantes está três novidades: a isenção do Bispo, a gratuidade dos ministérios feitos pelos Mendicantes.
- A conseqüência de tudo é afastar os fieis da Igreja própria e do Sacerdote próprio; isto é, causa polemica contra os Mendicantes, o que será visto em seguida.
22 Centralização e Participação
- Ordens Centralizadas: Aprofundando o impulso à centralização segundo a obra do movimento de CLUNY e de CHITEAUX, em forma federativa e em seguida misturada pelas Ordens Militares, os Mendicantes assumem a figura de um corpo único fortemente centralizado.
Na base está a fraternidade local, mas todas as fraternidades dependem de um único superior, mestre, ministro, e prior-geral da ordem; a divisão em Províncias é puramente, em sentido administrativa (isto é, não são autônomas, ainda que tenham costumes a normas próprias).
O frade neste corpo centralizado está disponível á comunidade local, provincial e geral e demais, a cada tipo de atividade.
A estrutura centralizada, portanto, oferece certas utilidades para o ministério pastoral (através da mobilidade dos Frades) e responde às exigências do papado para as necessidades mais urgentes da igreja.
- Participação: A centralização não as opõe à participação que busca no sistema capitular a todos níveis o meio privilegiado de expressar-se. É forte nesta linha a influência dos fatores sociais da inspiração que provem da fraternidade evangélica.
23 Urbanização:
- O ingresso na cidade (urbanização) não se dá na origem dos Mendicantes (exceto no caso dos Dominicanos), mas é presente em seguida a clericalização e a causa da atividade pastoral. Em prática é forte a urbanização depois do ano 1240, e se desenvolve melhor na segunda metade do séc XIII, em modo inevitável (isto conduzirá ao conventualismo)
- As motivações podem ser várias:
- De Ordem econômica, isto é, para garantir através da coleta de esmolas a possibilidades de sobrevivência. Assim nas fundações estão presentes e se seguem critérios demográficos e econômicos a grandeza, a riqueza, a importância e os números das cidades. Em conseqüência disto surge ema tipologia de cidade naquele tempo caracterizada pela presença de quatro, três, dois e uma das Ordens Mendicantes maiores (Dominicanos, Franciscanos, Agostinianos e Carmelitas).
- De ordem pastoral. Disso já discorre anteriormente quando se falou da criação de estruturas típicas dos Mendicantes na pastoral e na reforma da Igreja.
- De ordem cultura. Aqui está o ingresso na universidade e a vida dos Mendicantes como resposta a um desafio cultural do tempo.
- A urbanização dos Mendicantes tem frutos:
Antes de tudo comporta um desvio em alguns conceitos da Vida Religiosa: Fuga e Fundações.
- No monaquismo e até aquele tempo a fuga comporta em sair da sociedade civil e a fundação estimulava por sua vez a fundação de uma cidade de Deus na sociedade.
- Através dos Mendicantes a fuga não é mais do consórcio civil, mas do poder e da posse, permanente, digo, permanecendo dentro da cidade dos homens, escolhendo a condição dos menores (dependência e trabalho mendigado à sociedade).
- A fundação se opera na cidade e se faz pedra para a construção da sociedade. Assim o ideal tem propostas e através de um gesto de fraternidade e comunhão tendo a ser proposta para todos e assim envolve todos os cidadãos.
- Da cidade os Mendicantes trazem:
- Muitas vocações
- Os meios para viver
- O impulso e o estimulo para o estudo
- E através do contato com as pessoas trazem motivo para agir como força de paz e de união entre as continuas opostas facções citadinas.
- A urbanização dos Mendicantes, com a mutua integração entre eles e a cidade, conhecem porém ainda efeitos colaterais. Entre eles aqueles derivados pela sua mendicância. Eles pregam que dinheiro era uma das formas de opressão ao povo. Em virtude de própria mendicância eles aceitavam com realismo para viver, as esmolas dos benfeitores. Daí surge uma contradição implícita que ao mesmo tempo vem a diminuir a força da pobreza absoluta. Esta contradição, porém, conduz através do tempo a justificar as atividades comercias e no compromisso de questões sociais como é o caso dos Franciscanos a identificar toda uma série de praticas não usuária (monte Pio – Banco para os pobres).
24 Conclusão
As características aqui enumeradas mostram sob vários aspectos como os Mendicantes constituem uma síntese das várias reformas e dos vários movimentos eclesiais (monásticos, eremíticos, cônegos e laicais) presentes na Igreja desde a época gregoriana em diante. Os Mendicantes colhe os fermentos presentes na Igreja e na sociedade os coagulam, os purificam em chave eclesial e lhe redistribui na vida da Igreja mesma como resposta ao desafio do tempo, criando assim, uma forma de vida nova na qual concilia a pobreza individual e coletiva com a vida apostólica, no sentido novo de pregação e trabalho para os homens.