Por Ir. Davi Rufino, OTCarmo

 

O padre geral na sua fala, nos recorda os fundamentos da espiritualidade dos carmelitas, somos filhos da Virgem Santíssima. Nossa Senhora do Carmo, a roupa da qual nós nos revestimos nós chamamos de hábito do Carmo. É a veste de Nossa Senhora do Carmo.

Estamos vestidos como a Virgem do Carmo está no altar, portanto é o pilar primeiro, a dimensão mariana, a Virgem Santíssima, a regra que Santo Alberto deu aos carmelitas dizia que no centro de onde eles viviam existia uma capela essa capela e essa referência a capela indica duas coisas, em primeiro lugar é que o centro de Nossa Vida é Nosso Senhor Jesus Cristo, portanto a Eucaristia, os carmelitas tinham como centro de sua vida Nosso Senhor verdadeiramente presente na celebração eucarística. Mas a capela é dedicada segundo a nossa tradição à Virgem Santíssima, portanto o pilar primeiro nós somos marianos e o verdadeiro carmelita é filho de Nossa Senhora, o segundo pilar não de forma hierárquica, mas por sequência a Ordem nasce no Monte Carmelo no lugar onde vivia um personagem do Antigo Testamento, o profeta Elias. Nós somos filhos da Virgem Santíssima e filhos do profeta Elias.

A nossa tradição reconhece na capa da qual se reveste a Virgem Maria e nós com o nosso hábito como uma recordação de que nós somos herdeiros do profeta Elias, antes de subir aos céus arrebatado ele entrega seu manto para seu discípulo Eliseu que estava de joelhos suplicando o seu manto. Cada carmelita quando ingressa na Ordem Terceira, quando faz seus votos, seu compromisso, recebe do profeta Elias o seu manto.

Portanto são os dois fundamentos primeiros daquilo que nós somos, recordava nosso superior geral. É fundamental a natureza da Ordem Terceira. Alguém me fala: “Frei eu sou da irmandade do Carmo” “Eu sou da associação do Carmo”, eu frequento. Eu respondo você não é de irmandade, a Ordem Terceira do Carmo é irmandade? Não! Uma irmandade é algo com uma finalidade específica, a Ordem Terceira do Carmo é de uma natureza totalmente distinta. O que é ser irmão terceiro do Carmo? É ter somente uma devoção? É ter uma ação ou uma finalidade? Não! A Ordem Terceira do Carmo é um caminho de santidade. Alguém pergunta a vocês, você é membro da Ordem Terceira, você responde: “Sou”, a pessoa pergunta: “O que vocês fazem lá?” Vocês ajudam os pobres? Sim! Visitam os doentes? Sim! A pessoa responde eu sou da legião de Maria e visito os doentes, eu sou vicentino e ajudo os pobres, qual é a diferença? A Ordem Terceira do Carmo é tudo isso, é tudo o que fazem os vicentinos, a legião de Maria, é tudo o que é necessário neste mundo para ajudar o próximo e o irmão porque é um caminho de santidade.

O leque é imenso? É infinito, como são infinitas as necessidades do povo de Deus. E alguém pergunta, mas tem oração? Tem muita, óbvio. Mas padre eu sou do apostolado da oração e no apostolado nós fazemos adoração ao Santíssimo, nós rezamos para o Sagrado Coração, qual a diferença entre o apostolado e a Ordem Terceira? Sob o aspecto da oração nenhum, pois nós da Ordem Terceira também somos pessoas de oração, mas é distinto, pois somos de oração, mas não é como alguém que entra no apostolado porque você quando se reveste do hábito você se torna carmelita. Você deve ser como carmelita um homem, mulher, uma pessoa de oração constante.

Alguns perguntam frei. O que é ordem primeira, segunda e terceira? A nossa ordem que tem como fundamento a dimensão Mariana-Eliana, essa mesma Ordem podemos entender da seguinte forma para facilitar a compreensão, os frades carmelitas formam a Ordem Primeira, as monjas carmelitas formam a Ordem Segunda e os demais formam a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, não existe hierarquia, alguém pergunta, se tem de primeira, segunda ou terceira categoria, não existe, isso é nomenclatura de carne no açougue. Perante Deus não tem diferença nenhuma. Primeira, Segunda e Terceira significa o que? Status de vida. Portanto, o frade carmelita ingressa na Ordem primeira e abraça um estado de vida, ele vai se casar? Jamais! O frade vai morar em uma casa como vocês moram com seus empregos fora, pagando suas contas, com sua família, levando seus filhos na escola? De forma nenhuma, a vida deles é no convento, é distinta. Portanto ele abraça o estado de vida que nós chamados de vida religiosa.

A Ordem segunda, não significa que seja uma ordem de segunda categoria, mas por ordem de nascimento, primeiro nasceram os frades, depois as monjas. A Ordem segunda é constituída apenas pelas monjas de clausura que abraçam o estado de vida que não é dos frades nem dos membros da Ordem Terceira, portanto, são monjas, fazem votos e a partir do momento que ingressam na vida religiosa passam a morar no mosteiro. Renunciando a vida de família, poderia ser mãe estar casada com meninos, mas não. Elas escolhem ter filhos, não de seu ventre, mas filhos de natureza espiritual. É um estado de vida diferente. Essa expressão é muito importante para ajudar a entender.

O outro grupo da vida carmelitana com os mesmos pilares é a Ordem Terceira do Carmo, não são frades, nem monjas, mas quem? Os leigos, mas não só leigos é um erro gravíssimo dizer que é formada de leigos. Tem padre na Ordem Terceira? Sim! Padre é leigo? Não! A Ordem Terceira não é somente laical, a maioria é de leigos é verdade, mas são leigos e padres, portanto ela é secular. Senão cairia na incoerência ou na contradição dizendo que é uma ordem de leigos mas tem o padre que acabou de entrar, então ele virou leigo quando ele entrou? De forma alguma.

A natureza da Ordem Terceira é secular, ela reúne, congrega, recebe aqueles que não são por exclusão nem frades nem monjas, um bispo pode ser um irmão da Ordem Terceira? Pode? Tem bispo que é membro da Ordem Terceira? Tem vários. O bispo de Barretos é irmão da nossa ordem? É irmão terceiro como vocês? É. Vem essa dúvida, porque ele é bispo membro da Ordem Terceira, por que ele não é membro da Ordem Primeira, não vem essa dúvida? Porque ele não mora no convento. Ele não tem superior provincial, não tem prior, não tem as obrigações próprias da vida religiosa dos frades carmelitas, ele é secular. Portanto a natureza da Ordem Terceira é laical? É, mas é mais do que laical, é secular porque abrange é uma porta aberta para todos aqueles que dela desejam participar.

Eu já contei diversas vezes, tem uma história famosa do Papa João Paulo II, ele foi visitar a cúria geral do Carmo, o superior geral era um frei chamado John Marley e dizem que quando o Papa foi visitar nossa cúria ele celebrou missa na cúria geral, após a missa, o almoço, e dizem que durante o almoço ele pergunta ao geral: “Quantos são os carmelitas no mundo?” O geral responde: “Os carmelitas no mundo são cerca de 50.000 contando Ordem Primeira, Segunda e Terceira”, o papa João Paulo II corrigiu-o falando que não era verdade que o número correto era 50.001 pois o papa também era um carmelita.

Em síntese vocês carmelitas que se revestem do hábito, desta fita, do escapulário, vocês participam de que? Da espiritualidade da nossa Ordem, este pilar que dizíamos no início que é a Virgem Santíssima, é pilar na vida de quem? Na nossa! O pilar de Santo Elias, é pilar na vida de quem? Na nossa. E a partir desses dois fundamentos que nasce uma das maiores escolas de santidade da Igreja Católica. A nossa Ordem segundo alguns é a que mais tem santos e beatos, é obvio que não há uma estatística. Dizem que no tempo do Papa João Paulo II foi o pontificado que houve mais beatificações e canonizações foi a Ordem do Carmo.

É uma escola de santidade e vem a pergunta específica. Você irmão terceiro, você tem as preocupações cotidianas da sua casa? Seus vizinhos? Pagar conta? Despesa? Preocupação com família? Seguro de saúde? Preocupações de qualquer pessoa na vida cotidiana do mundo? Sim, são as preocupações normais do mundo, da vida laical e secular. Você é chamado a santidade por estes pilares como carmelita, revestindo do escapulário, do hábito e da capa e ao mesmo tempo manter e sanar os problemas e preocupações da vida cotidiana, portanto, como membro da Ordem você é carmelita no mundo, na sociedade, você é carmelita na sua casa, no seu endereço. E se reúne no sodalício do seu grupo da sua família. A Ordem Terceira do Carmo se constitui como uma família.

E vocês dizem, eu tenho minha família, tenho minha casa, é verdade! Como irmão e irmã terceiros vocês devem ser uma família religiosa, em termos práticos. Ouvi isso estes dias, tem irmãs que estão doentes e ninguém está visitando. Olha a preocupação, você não pensa nisso, se você vai apenas à missa em uma Igreja, estou aqui participando da missa e esse aqui do lado não me visitou, na Ordem Terceira tem essa preocupação. Por que é uma família! Se tem alguém doente você vai visitar, se ele está enfermo e não tem uma maça para ele comer, você vai visitar e levar algo para ele comer. Se ele é enfermo e doente e não tem ninguém que fique no hospital tomando conta, vocês têm que se reunir e tomar conta. Nós te acompanhamos ao hospital, não se preocupe.

É família e deve ser família e é muito importante frisar este ponto porque na prática muitos consideram a Ordem Terceira não como família, mas como uma associação. Eu vou lá, agora não vou mais não, mudou a priora eu não gosto dela, eu não vou não porque meu pai morreu e ninguém veio me dar os pêsames. Se é família você reclama, você fala. Existe uma falta de consciência, uma consciência maior daquilo que vocês são. Isso é um grave prejuízo. No caso daquela Ordem Terceira tem uma irmã que está na cama a dois anos, nunca houve nenhuma visita, um dia eu fui visitar com alguns irmãos, neste caso ela está na cama a dois anos e não recebeu nenhuma visita, porque? Porque não existe consciência de família. É consciência de associação, é achar que é associação. E a expressão que denota que é uma associação qual é? Eu vou lá! Esse mês eu não apareci não, porque não é família. Portanto é fundamental que em primeiro lugar tomando esses dois pilares vocês se constituam como família religiosa, com a seriedade das famílias religiosas, oração profunda, amizade

Existe diferença na Ordem Terceira? Claro que sim, mas se resolve como? Com diálogo, com amizade, naquele diálogo que chamamos de diálogo fraterno, perdoando, olhando nos olhos, resolvendo os problemas com seriedade. Tem um que tem um problema gravíssimo frei, como resolvo? Olha nos olhos e fala! E o evangelho dá a regra não dá? Se o seu irmão está pecando como corrigi-lo? Chama sozinho e conversa. Tem gente que fala, tem muito problema aquela pessoa, mas não vou falar não porque ela vai ficar com raiva de mim. Aí não fala na cara, mas fala por trás. Não fala olhando nos olhos, mas difama. Falou com o sodalício todo, pegou um na esquina e diz: “menino você não sabe o que está acontecendo aquela pessoa, Nossa Senhora é um problema grave. ” Mas você já falou com ela? Ah eu não vou falar não, por que ela vai ficar com raiva de mim. Eu que vou me expor e pagar o preço? Olha a deslealdade, você espalhou a má fama. Chama, eu posso até ficar com a má fama, mas eu vou falar com você eu te corrijo, seja sincero e autêntico, fale a verdade. E a verdade falada com amor pode até doer, mas é melhor do que não ouvir. A pior coisa que pode acontecer é você ficar sabendo que alguém está falando mal de você e você diz, nossa, mas aquela pessoa? Não pode ser, ela ri na minha frente, ela conversa comigo, me trata tão bem, acabei de falar com ela e porque ela não me falou. Isso é o que? É família.

O evangelho aconselha o que em primeiro lugar se o teu irmão peca chame-o e fala com amor e caridade se ele ouve a sua voz e não dá credibilidade o que fazer? Chama mais alguém, olha eu já falei e não mudou nada e é coisa grave, chama mais dois para conversar. E diz o evangelho que senão funcionar ainda sim, aí vai chamar o sodalício, que não precisa chamar o sodalício marcando uma reunião extraordinária, basta chamar a mesa para dizer o problema, o irmão está com problemas de alcoolismo, está fazendo dividas demais, tem problema de comportamento, isso é alerta, isso significa que estamos constituindo uma família de natureza religiosa, que não é no sentido técnico como os frades ou monjas.

Existem outros pilares? Obvio, claro que sim, todos os outros santos carmelitas, Santa Teresinha é modelo para nós? Claro! E vocês como irmãos agora retomando, os frades carmelitas tem as constituições da Ordem, as monjas tem as constituições das monjas, a Ordem Terceira do Carmo tem a regra da Ordem Terceira do Carmo. A vida de vocês como se organiza o sodalício, como se constitui é regido e determinado pela regra da Ordem Terceira do Carmo que se divide em duas partes, a primeira parte é a espiritualidade, portanto, na primeira parte não há indicações práticas, como é a votação, conselho, quem pode ser membro, formação. A primeira parte é a espiritualidade, portanto em toda a reunião e encontro, recomendo que leiam a primeira parte da regra. Cada irmão deve ter esta regra? Deve! A segunda parte é a parte de aplicação prática da regra, portanto na segunda parte como se rege a vida da Ordem Terceira, eleições, tempo de formação, postulantado, noviciado, profissão simples, perpétua, votos definitivos, tudo isso é determinado pela regra da Ordem Terceira do Carmo.

Abaixo da regra, que a traduz em termos práticos são os estatutos do sodalício, os estatutos regem a vida do sodalício aplicando no dia a dia, no cotidiano de um sodalício específico a regra da Ordem Terceira do Carmo. Em cada sodalício específico a vida é regida pelo estatuto. O estatuto deve refletir o que está na regra? Sim. Poderia ter um estatuto comum para todas os sodalícios, não é viável, vou dar um exemplo muito comum, algumas tem cemitério, outras não tem cemitério, nos estatutos onde tem cemitério ou Igreja ou outro patrimônio, nestes casos deve haver um artigo específico citando o manuseio desses patrimônios.

Algumas tem muitos irmãos ou são muito antigas e algumas aparecem uma vez por ano ou quando estão morrendo. Eu tinha uma prima que era da Ordem Terceira de Ouro Preto, o pai e a mãe estavam enterrados no cemitério da Ordem Terceira de Ouro Preto, ela foi no médico e o médico falou que a situação está ruim e a saúde não está boa. Ela me ligou desesperada dizendo que havia 30 anos que ela não pagava a mensalidade do Carmo e quer ser enterrada lá, como deveria proceder? Pagou 30 anos atrasados de uma só vez com medo de morrer e não ser enterrada junto dos pais. Como você faz com alguém que some e desaparece? Ou seja, os estatutos têm que se traduzir e aplicar a vida específica do sodalício e suas necessidades.

Relação entre a Ordem Terceira e a paróquia, a Ordem Terceira deve colaborar com a paróquia é óbvio, pode haver atrito. Pode ser que ocorra, mas o ideal é que haja harmonia com o padre da paróquia. Mas não se esqueçam de que vocês não são uma associação paroquial é diferente do apostolado da oração, legião de Maria, dos vicentinos, vocês são uma associação ligada a Ordem do Carmo. Quando um sodalício nasce, essa aprovação vem de onde? Do superior geral da Ordem do Carmo, portanto é uma associação da Ordem do Carmo, mesmo estando na paróquia nós somos da Ordem Carmelita. Deve existir diálogo? Claro, mas também a consciência de que somos membros da Ordem do Carmo, ligados sob a autoridade no Brasil e na província do delegado provincial e do padre provincial e em alguns casos no prior geral da Ordem do Carmo.

Na regra da Ordem Terceira atual, foi colocada uma norma específica da possibilidade de se constituírem comunidades de irmãos e irmãs terceiros, o único caso no mundo que deu certo atualmente está na Itália e se chama: “A família”, já ouviram falar? Os irmãos terceiros moram no mesmo edifício, de um lado moram os frades, do outro lado moram os membros da família. Eles fizeram pequenos apartamentos, cada família tem seus quartos, sala de televisão, sala de visitas, não tem cozinha, pois cozinham todos na mesma cozinha as refeições são comuns e como fazem essa refeição? As mulheres se dividem, cada semana uma delas se dividem para ser responsáveis pela cozinha. A roupa também é lavada em comum.

É bonito, mas também dá trabalho, pois lembro que no final do dia eu me recordo que estava lá no convento onde tem a família, os meninos chegaram da escola uma gritaria, uma correria ou seja, todos são criados juntos, tem eucaristia diária, participam da mesma todos os dias, todos eles e no final do dia após o jantar eles fazem uma oração de conclusão do dia. É bonito, interessante é rico, é a única experiência exitosa, quem no Brasil quiser, que passe alguns dias lá para conhecer; Nada impede, o problema que eu vejo nesta experiência é a forma, tem que começar muito bem feito, senão vai morar junto começa a brigar, tem atrito, ontem eu lavei e hoje você lavou mal, precisa haver muito diálogo e é muito difícil construir isso. Sentido de família religiosa. A ideia é linda, mas tem que ser bem preparada e sobretudo guiada, e eu recomendo vivamente que quem quiser, conheça.

É um problema nos dias atuais, muita gente está só. Eu não tenho família perto, eu não tenho quem cuide de mim, imagina você morar em um lugar onde você tem o irmão e a irmã terceira do lado? A refeição, o café? Você estando doente. Uma vez estava em um convento em Florença, uma monja me veio e falou que iria levar a sopa para outra irmã que estava doente e não estava podendo descer para o refeitório. Isso é importantíssimo sobretudo nos dias atuais. Os tempos atuais são tempos de muita e intensa convivência, mas de intensa e muita solidão. Nunca vimos gente tão só como agora, você anda na rua as pessoas estão sozinhas porque tem televisão, a companhia não é o vizinho é a televisão. Tem lugar que você vai que as pessoas falam, frei eu não conheço ninguém, cumprimenta só no elevador do prédio, mas não temos amizade. Porque? Solidão! E seria importante e muito bonita essa ideia, mas que seja preparada e muito bem-feita.

Bem, meu tempo acabou e estou viajando daqui a pouco, muito obrigado a todos, que Deus os abençoe e proteja. Fonte: https://otcarmo.org